sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Agent Hellfire mostra o metal brasileiro 'made in Alemanha'

 Nelson Souza Lima - especial para o Combate Rock

O título acima deixa uma série de questionamentos. Tento de novo. Uma das boas novidades do thrash metal brasileiro chega das terras germânicas. Piorou, né? Então vou explicar. 

O Agent Hellfire é um grupo criado por três brasileiros lá no país europeu e que, recentemente disponibilizou nas plataformas digitais o EP "The Omen", trazendo três "fucking" singles.

Os responsáveis pela façanha são os curitibanos Adans Aldani (vocal/baixo) e Gus Mansur (guitarra) e o paulistano Victor Munhoz (bateria). 

Radicados em Berlim há alguns anos, fazem um som influenciado pelas bandas da Bay Area, berço do Thrash californiano, assim como grupos alemães e também brasucas, dentre eles o Sepultura.

Provavelmente a pergunta mais feita pro trio é como três caras saídos do Brasil formaram uma banda lá no Velho Continente. De acordo com Adans Aldani, residente na Alemanha desde 2012, "queria começar um projeto, mas mesmo depois de alguns testes, nunca senti a vibe certa".

A coisa começou a tomar corpo a partir das conversas com Victor Munhoz, que já morava no país europeu desde 2011 e da chegada de Gus Mansur dois anos atrás.

"Por sorte, conheci o Victor em um bar, que curtia metal e tocava. Em 2018 o Gustavo se mudou pra Alemanha e, como já nos conhecíamos do Brasil, falávamos sobre montar uma banda por aqui. No começo de 2019, chamamos o Victor para fazer um ensaio e a energia foi praticamente instantânea. Começamos a procurar salas de estúdio para ensaiar regularmente e assim nasceu a Agente Hellfire", atesta o vocalista.

Sobre as várias influências no som da banda Aldani diz que ao comporem não pensam diretamente nisso. "Já estão presentes na nossa essência. A partir desse ponto, criamos nossa identidade, com características clássicas do heavy metal, thrash e afins. Na verdade, fazemos música que a gente realmente ache boa, independente se possa soar com uma banda ou outra", diz.

Agent Hellfire (FOTO: DIVULGAÇÃO)



Abaixo você confere um bate-papo bem legal feito com os caras feito por e-mail:


Combate Rock - Primeiro, claro, e curiosidade absoluta. Como três brasileiros criaram a banda na Alemanha? Já se conheciam no Brasil? Há quanto tempo estão na Europa? Enfim, como foi formar a Agent Hellfire?

Adans
: Desde que cheguei à Alemanha, oito anos atrás, queria começar um projeto, mas mesmo depois de alguns testes, nunca senti a vibe certa. Por sorte, conheci o Victor em um bar e descobri que ele já morava na Alemanha desde janeiro de 2011, curtia metal e tocava, mas a ideia de ter uma banda com ele ainda não existia. Esta ideia só veio a tomar forma quando o Gustavo se mudou para a Alemanha em 2018 e, como já nos conhecíamos do Brasil, falávamos sobre montar uma banda por aqui. No começo de 2019, chamamos o Victor para fazer um ensaio e a energia foi praticamente instantânea. Começamos então a procurar salas de estúdio para ensaiar regularmente e assim nasceu a Agent Hellfire!

CR- Vocês são de qual lugar do Brasil? Já haviam tentado a música aqui?

Victor: Nasci e cresci em São Paulo e me mudei pra Cotia aos 13 anos, quando conheci o Bruno Zito, guitarrista do Muqueta Na Oreia. Aos 14, comecei as aulas de bateria e tive algumas bandas de escola. Entre uma banda e outra, a de maior destaque no Brasil foi o próprio Muqueta Na Oreia, em que toquei até meados de 2009.

Gustavo: Sou de Curitiba, nascido e criado por lá! Desde pequeno acabei me envolvendo com música. Na minha adolescência tinha uma banda com alguns amigos de infância e por meio deles conheci o Adans. Então, acabei entrando para o grupo em que ele era o vocalista. Fora isso, ao longo dos anos participei de outros projetos, não apenas no thrash metal, mas também no progressivo.

Adans: Eu também sou de Curitiba e tinha algumas bandas de garagem com amigos, mas nunca havia realmente tentado ser músico. Era mais por diversão. Na banda em que o Gus tocava comigo, chegamos a fazer alguns shows na cidade, gravamos uma demo e um single, mas acabei deixando a banda quando me mudei para a Europa.

CR- Na Alemanha estão se virando como? Uma vez que a pandemia está mais aguda em países europeus que em outros lugares. Com recorde de contaminação pela Covid-19 quebrando recordes?

Victor:
Por conta da pandemia, nós estamos aproveitando o tempo sem shows para compor e trabalhar no nosso estúdio. Financeiramente falando, cada um de nós tem um emprego fixo.

CR- Vocês estão na Europa, mas o som da Agent Hellfire tem maiores influências da Bay Area, berço do thrash na Califórnia. Mas de alguma forma o Thrash alemão tá presente no som de vocês e os conterrâneos do Sepultura também foram influência . Como dosar isso para fazer o som de vocês?

Victor:
No nosso processo de criação, a gente não pensa diretamente nas influências, porque elas já estão presentes na nossa essência. A partir desse ponto, criamos a nossa identidade, com características clássicas do heavy metal, thrash e afins. Na verdade, fazemos música que a gente realmente ache boa, independente se possa soar com uma banda ou outra.

CR- Vocês estão seguindo um caminho que vai na contra-mão da maioria das bandas. Ao invés de saírem do Brasil pra ganhar a Europa estão em sentido contrário. Que visão da Europa vocês têm de como os brasileiros vão receber o som do grupo, pois apesar de não termos som pesado rolando nas nossas rádios o público "thrasheiro" é fiel.

Adans:
Já que a gente é do Brasil, nada mais natural do que levar o nosso som à terra natal. O nosso background vêm do Brasil, conhecemos a cena, o público, os bares... No final das contas, nós somos thrashers brasileiros e fiéis às nossas raízes. Até mesmo as bandas que os metaleiros curtem no Brasil não são necessariamente as mesmas que os metaleiros daqui curtem. Por exemplo, nós achamos meio surreal quando os alemães não conhecem Helloween, Sodom ou Destruction. Quanto à nossa expectativa, esperamos que os headbangers brasileiros curtam o nosso som e que logo possamos nos encontrar por aí.

CR- A banda oficialmente existe há um ano e tá lançando o EP "The Omen", que significa o presságio. De que forma suas canções podem servir de um alento para o público?

Adans:
Como toda forma de arte, esperamos que o nosso som contribua de uma forma positiva para a vida das pessoas que estão ouvindo. Trazemos nas nossas composições mensagens relevantes e esperamos que o público fique motivado e aberto a mudanças, frente ao cotidiano caótico que estamos presenciando, principalmente nos últimos anos.

CR- São três singles no EP (lançado somente nas plataformas digitais): "Prometheus", "Pay to Live" e "Fateless". "Prometheus" traz uma letra inspirada na poesia de Lord Byron, um dos mais famosos poetas britânicos do final do século XVIII. A letra é impactante como a poesia de Byron. Byron seria um grande letrista thrash metal?

Adans: O thrash metal, além das letras obscuras, também teu seu lado de questionamento. Principalmente político, e isso definitivamente não é algo novo. Por exemplo, Sepultura já falava sobre massacre, o Kreator já abordou homofobia e nazismo, o Testament, a legalização da cannabis e falou sobre seguidores cegos da religião. Uma das raízes do thrash é o debate. Muitos poetas como Lord Byron, Pablo Neruda e William Blake tem trabalhos que precisam ser analisados, que não são "poesias de amor". Alguns poetas falavam sobre opressão, "amor proibido" ou tragédias criadas ou negligenciadas pelas autoridades. Ao meu ponto de ver, muitos poetas poderiam ser thrashers, sim.

CR- Por sua vez, "Fateless" foi inspirada no mito de Pandora, que ao abrir uma caixa dada pelos deuses liberou todos os males que assolam a humanidade. Como buscam tantas referências literárias para suas canções. Elas são compostas em trio?

Gus:
O Adans é um talento para escrever letras! Mas eu também dou sugestões quando acho que algum tema específico se encaixa com o riff que compus na guitarra, como foi no caso de Fateless. Também após o Adans fazer o esboço da letra, todos acabamos lendo e mudando uma coisa ou outra, seja para dar um sentido melhor ou para encaixar melhor na melodia.

CR- A pandemia paralisou todas as atividades culturais e shows. Com a Europa restringindo ainda mais os eventos e circulação de pessoas vocês vão divulgar com lives e bate-papos virtuais?

Gus:
Até então não temos isso em vista, mas quem sabe, em um futuro próximo, a gente consiga fazer uma live. No momento, estamos mais focados em entrevistas para promover este EP, fazer o nosso nome circular pela cena com essas novas músicas até começarmos aos palcos.

CR- Um recado para o público brasileiro que em breve vai conhecer o som do Agent Hellfire.

Gostaríamos de pedir aos headbangers brasileiros que apoiem bandas novas e do underground, pois, assim como nós, elas estão mantendo o metal relevante e atual. Agradecemos às pessoas que já ouviram o nosso EP, estão acompanhando o nosso trabalho e nos enviaram mensagens de apoio e incentivo. Compartilhem e acompanhem a nossas redes sociais, falem da gente para os seus amigos, pois estamos muito orgulhosos em levantar e fincar a bandeira do metal brasileiro aqui na Alemanha. Muito obrigado pela oportunidade e pelo espaço em poder apresentar o nosso trabalho. Keep thrashing!

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