quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Ego Kill Talent: turnês digitais para pavimentar o recomeço

  Marcelo Moreira

Ego Kill Talent (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Um mundo a seus pés, ou aos nossos pés, sem sair de casa. O futuro chegou mais depressa? Se esse é o futuro que nos aguarda, ficaremos cada vez mais saudosistas, e esse sentimento começa a ficar mais exacerbado com a profusão de lives nas redes sociais. Será que as turnês digitais vão bastar?

Para a banda brasileira Ego Kill Talent, é apenas um novo começo. Abalroado com a pandemia de coronavírus bem no momento de uma nova decolagem para o exterior, o quinteto foi um dos agrupamentos que aproveitaram de forma bem-sucedida, dentro do possível. Planos alterados, mais á obra.

"A vida mudou e mudamos juntos. Nossos planos eram ambiciosos, com turnês no exterior ao lado de grandes nomes, como Metallica. O trabalho neste momento é diferente e queremos estar bem preparados para a volta", afirma o baixista Theo Van der Loos.

Com forte presença no exterior graças a uma administração eficiente, a banda mergulhou de cabeça nas chamadas turnês digitais. Foi assim em outubro último com a Live On A Flat Screen (assista aqui). 

Apresentações como estas aproximam ao máximo o público de um encontro presencial sem que precise se deslocar. Claro que longe do ideal, já que a essência da música é a interação com o público. 

Loos reconhece a força das circunstâncias, e e entusiasta da máxima que diz que as oportunidades que são oferecidas precisam ser aproveitadas. 

Por isso, após ser transmitido em rádios americanas, da Alemanha e da Espanha, agora, o show do quinteto traz na produção o reforço da empresa americana Danny Wimmer Presents - descrita como a maior produtora de festivais independentes dos EUA (assista aqui).

"A gente quebrou a cabeça pra pensar em um formato de turnê digital pra fazer nossa música viajar pelo mundo, mesmo que a gente não consiga estar fisicamente nos lugares. Já estamos indo pro terceiro país nas rádios, além de todo mundo poder acompanhar no YouTube", conta o baixista. 

No mundo analógico, o Ego Kill Talent também segue eternizando performances e lança o EP Live at the Drive-in (ouça aqui) - registro que compila a participação do grupo no Spotlab Sessions, evento promovido pelo Instituto Bob Burnquist para arrecadar fundos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus.

  Composta por seis faixas, a tracklist conta com um registro audiovisual, com data de lançamento prevista para 20 de novembro. A primeira vez dos artistas tocando no palco "The Call", música que compõe The Dance (ouça aqui) - EP lançado no final de junho e primeiro da trilogia The Dance Between Extremes - já está disponível (assista aqui).  Integram a banda ainda Jonathan Dörr (vocal), Jean Dolabella (bateria e guitarra), Raphael Miranda (bateria e baixo) e Nipe Boaventura (guitarra e baixo).  

"É incrível ver nosso trabalho chegando a tantos lugares, apesar do caos todo. Tá sendo uma experiência e tanto usar vários formatos diferentes", diz o vocalista.

Sem shows presenciais e com possibilidades mais restritas, em determinados casos, os integrantes da Ego Kill Talent fizeram o possível para manter uma rotina de trabalho em meio à pandemia, que ensejou uma série de reflexões.

Eloquente e didático, Theo Van der Loos, que estudou psicologia e é um apaixonado pelo próprio ser humano, relata que a pandemia explicitou, de forma contundente, como a vida é dinâmica e, ao mesmo frágil. "As  coisas são passageiras, nada vem fácil. Com isso, dá para fazer uma analogia com o nome do grupo. Com essa efemeridade, apostar no ego talvez não seja o melhor caminho. E as mudanças pelas quais estamos passando comprovam isso".

Embora frustrado, o baixista compreende o que está em jogo e categórico a respeito da retomada das atividades ditas normais por parte de uma banda que estava em ascensão no exterior. "Não vejo chance de uma volta tão cedo de shows e atividades normais da banda. Os exemplos são mais do que evidentes sore o poder destrutivo da doença e não há como pensar em se apresentar onde quer que seja. A Europa passa por uma grave segunda onda de contaminação, o que deixa os planos cada vez incertos."

Em uma hora de conversa com o Combate Rock. Loos destacou a importância do apoio que os cinco músicos estão dando um ao outro em tempos de confinamento. Cada um busca como pode resolver questões do dia a dia, mas o contato é constante. 

É um conforto emocional que se torna raro em um mundo competitivo que atropela muitas vezes o bom senso . Cada um tem atividades pessoais que servem para amenizar os impactos do isolamento, o que não quer dizer que isso resolva a questão - ou questões.

E a questão do ego e do nome da banda volta à questão. "O isolamento nos faz questionar uma série de coisas, a respeito de ganhos e perdas e de como lidamos com imensa carga emocional. O ego faz a gente sofrer por conta de sua própria natureza, o que leva a uma série de reflexões de todo o tipo. Se há algo que possamos absorver e aprender neste período, é a necessidade de fazermos essa reflexão e dialogar conosco, digamos assim."

Rindo do clichê que utilizou, Loos demonstra otimismo e resiliência. "Não há como não recorrer a essa frase: voltaremos mais fortes - temos de voltar mais fortes e confiantes. Não se trata de recuperar tempo, mas de pensar em termos de recomeço e de aproveitar novas oportunidades."

Nenhum comentário:

Postar um comentário