Marcelo Moreira
John Lennon, em desenho de autoria do guitarrista brasileiro Edú Marron (FOTO: REPRODUÇÃO) |
Um gênio da música, ferino e mordaz, mas também inseguro e imaturo. Competitivo, mas generoso e ciumento. Provavelmente nenhum astro do rock teve a vida e o caráter tão dissecado quanto John Lennon. E, provavelmente, nenhum concentrava tantas contradições explícitas quanto ele.
Existe um consenso entre intelectuais e especialistas, digamos assim, de quem Lennon foi o grande gênio de nosso tempo. Paul McCartney, eterno parceiro/rival, talvez não concorde, mas há fortíssimos indícios de que pode ser verdade.
A sua morte o transformou em um semideus? Será que os cinco tiros disparados por Mark Chapman, o fã insano que o assassinou em 8 de dezembro de 1980, tiveram força para tanto?
John Lennon ainda é um personagem gigantesco 40 anos depois de sua morte. Se ela o redimiu não se sabe, mas o ex-beatle tornou-se muito maior do que era em vida - e ele já era gigante mesmo enclausurado no apartamento cuidando do pequeno Sean.
Ele se tornou um símbolo, algum que certamente ele não queria. Um símbolo não, vários: símbolo do rock, da rebeldia, da resistência, do engajamento político dentro do rock, de compositor genial, de cantor extraordinário, de guitarrista intenso...
No ano em que deveria completar 80 anos de idade - e que também marca os 40 anos de seu assassinato -, ainda permanece a aura de gênio incompreendido, polêmico e rebelde, quase como uma síntese do que muita gente entendia ser uma "persona rock", em contraposição ao astro milionário e acomodado - ironicamente, exatamente como Lennon em seu período final de vida.
O ex-beatle sempre intrigou críticos e biógrafos por conta de sua volatilidade emocional. Indecifrável para uns, inconstante e instável para outros, o mais exposto dos quatro músicos da maior banda de todos os tempos para estar em um permanente estado de busca de sentido para a vida. Parecia estar constantemente pedindo ajuda, como imortalizou em "Help", uma da canções que o definem.
O artista político e polêmico, como se mostrou no começo dos anos 70, ou o ser humano contraditório e instável emocionalmente, esgotado mentalmente e cada vez mais distante dos Beatles e da família, como na fase final da banda?
Pouquíssimos roqueiros simbolizaram o gênero musical como ele, e de forma tão amplo. Lennon era gigante e intimidador, como narram vários de seus colegas contemporâneo.
Na monumental biografia "John Lennon", o escritor Philip Norman menciona o depoimento de Mick Jagger, dos Rolling Stones, a respeito de um encontro qualquer com o ex-beatle. "John parecia nunca relaxar. Algo parecia sempre incomodá-lo, ou intimidá-lo. Estava sempre alerta e a gente nunca sabia o que esperar dele. Isso, de fato, era muito intimidador."
Na persona competitiva, não bastava ser o melhor e ficar claro, para todos, de que era o melhor. Era preciso martelar o tempo esse mantra, o que o obrigava a tentar se superar sempre a cada música, a cada disco, a cada entrevista. Isso explica, de certa forma, as duas entrevistas que deu para a Rolling Stone e à Playboy, em um intervalo de quase dez anos, onde detona muitas das músicas que compôs com Paul McCartney para os Beatles. Conviver com Lennon era um estresse constante.
De certa forma, McCartney endossa essa tese em "Many Years From Now", a sua autobiografia. Entre várias declarações e interpretações a respeito da personalidade do amigo, insinua que o atrito constante e o estresse quase permanente eram parte do segredo da genialidade do ex-companheiro.
diante do vulcão criativo e do estresse permanente, é um exercício interessante pensar em como seria Lennon aos 80 anos de idade: ranzinza? Mordaz? Implacável?
O que ele diria sobre o prêmio Nobel de Literatura dado a Bob Dylan? O que diria sobre a imensa fortuna acumulada por McCartney? Ou sobre a "imortalidade" dos Rolling Stones e do messianismo de Bono e o U2?
O ex-beatle é uma figura que faz falta ao mundo do entretenimento e certamente seria o maior agitador do rock, chacoalhando-o e deixando todo mundo na defensiva.
O Lennon de 2020 certamente não deixaria barato o desmonte da indústria fonográfica e a completa absorção do rock pelo sistema.
John Lennon certamente foi o grande artsta de nosso tempo, e seu assassinato o canonizou, de certa forma. Não importa. O rock só é o que é, graças, em parte, ao trabalho do ex-beatle. Infelizmente, o mundo ainda precisa, e muito, de John Lennon.
No ano em que deveria completar 80 anos de idade - e que também marca os 40 anos de seu assassinato -, ainda permanece a aura de gênio incompreendido, polêmico e rebelde, quase como uma síntese do que muita gente entendia ser uma "persona rock", em contraposição ao astro milionário e acomodado - ironicamente, exatamente como Lennon em seu período final de vida.
O ex-beatle sempre intrigou críticos e biógrafos por conta de sua volatilidade emocional. Indecifrável para uns, inconstante e instável para outros, o mais exposto dos quatro músicos da maior banda de todos os tempos para estar em um permanente estado de busca de sentido para a vida. Parecia estar constantemente pedindo ajuda, como imortalizou em "Help", uma da canções que o definem.
O artista político e polêmico, como se mostrou no começo dos anos 70, ou o ser humano contraditório e instável emocionalmente, esgotado mentalmente e cada vez mais distante dos Beatles e da família, como na fase final da banda?
Pouquíssimos roqueiros simbolizaram o gênero musical como ele, e de forma tão amplo. Lennon era gigante e intimidador, como narram vários de seus colegas contemporâneo.
Na monumental biografia "John Lennon", o escritor Philip Norman menciona o depoimento de Mick Jagger, dos Rolling Stones, a respeito de um encontro qualquer com o ex-beatle. "John parecia nunca relaxar. Algo parecia sempre incomodá-lo, ou intimidá-lo. Estava sempre alerta e a gente nunca sabia o que esperar dele. Isso, de fato, era muito intimidador."
Na persona competitiva, não bastava ser o melhor e ficar claro, para todos, de que era o melhor. Era preciso martelar o tempo esse mantra, o que o obrigava a tentar se superar sempre a cada música, a cada disco, a cada entrevista. Isso explica, de certa forma, as duas entrevistas que deu para a Rolling Stone e à Playboy, em um intervalo de quase dez anos, onde detona muitas das músicas que compôs com Paul McCartney para os Beatles. Conviver com Lennon era um estresse constante.
De certa forma, McCartney endossa essa tese em "Many Years From Now", a sua autobiografia. Entre várias declarações e interpretações a respeito da personalidade do amigo, insinua que o atrito constante e o estresse quase permanente eram parte do segredo da genialidade do ex-companheiro.
diante do vulcão criativo e do estresse permanente, é um exercício interessante pensar em como seria Lennon aos 80 anos de idade: ranzinza? Mordaz? Implacável?
O que ele diria sobre o prêmio Nobel de Literatura dado a Bob Dylan? O que diria sobre a imensa fortuna acumulada por McCartney? Ou sobre a "imortalidade" dos Rolling Stones e do messianismo de Bono e o U2?
O ex-beatle é uma figura que faz falta ao mundo do entretenimento e certamente seria o maior agitador do rock, chacoalhando-o e deixando todo mundo na defensiva.
O Lennon de 2020 certamente não deixaria barato o desmonte da indústria fonográfica e a completa absorção do rock pelo sistema.
John Lennon certamente foi o grande artsta de nosso tempo, e seu assassinato o canonizou, de certa forma. Não importa. O rock só é o que é, graças, em parte, ao trabalho do ex-beatle. Infelizmente, o mundo ainda precisa, e muito, de John Lennon.
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