sábado, 19 de dezembro de 2020

Jornalismo e feminismo na defesa da mulher: uma denúncia que lava a alma

 Marcelo Moreira



O jornalismo se mostra essencial em uma sociedade democrática nos pequenos casos, nas pequenas violações de direitos no dia a dia, muito mais do que nos frequentes escândalos de corrupção e abusos de poder, como temos vistos nestes tempos bolsonaros sombrios.

Aliás, o jornalismo de verdade está enfrentando uma série de dilemas por conta de mudanças de hábitos de consumo, evolução tecnológica e ataques constantes de forças conservadoras, extremistas e de caráter antifascistas.

E justamente esse sentimento fascista, que aflorou em parte da sociedade com ascensão do nefasto Jair Bolsonaro, que tem colocado em xeque vários pilares democráticos e de convívio civilizado. 

São inúmeros os atentados à democracia, que envolvem práticas racistas, preconceitos de todos tipo e disseminação generalizada de ódio, sempre com a participação de elementos nocivos de direita e da extrema-direita.

Portanto, é mais do que salutar e necessário que ocorram denúncias de abusos como a que foi feita pela jornalista Mariana Kotscho, do portal Papo de Mãe, atualmente hospedado no UOL.

Ex-repórter da TV Globo e da TV Cultura e à frente do Papo de Mãe há mais de uma década, Mariana é filha de um dos maiores jornalistas que surgiram neste país, Ricardo Kotscho. Mais ainda, é uma referência na defesa dos direitos humanos e das mulheres.

Ela divulgou, em princípio sem divulgar nomes, um vídeo em que um juiz de vara de família na cidade de São Paulo pisoteia as leis e despreza a Lei Maria da Penha, dizendo que "está nem aí para essa lei e para medidas protetivas a favor de mulheres vítimas de abusos e agressões por parte dos homens".

Uma vergonha imensa para a Justiça e para a sociedade. A repercussão foi tão grande nas redes sociais e na imprensa que foi impossível segurar a onda: o nome do ser que perpetrou tais afirmações é Rodrigo de Azevedo Costa, da Vara da Família da Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo.

Entre outras barbaridades, o juiz vomita que já tirou muitas vezes a guarda de filhos de mães que não comprovaram ser vítimas de agressões ou abuso. Ou seja, inverte totalmente o ônus na questão: a culpa é da mulher que apanha. "Sabe se lá o que aconteceu para ela apanhar..."

O conservadorismo criminoso, aquele da pior espécie, que pune vítimas e legitima as injustiças sociais de todos os tipos, ressurgiu das trevas e dos esgotos para implantar uma ampla cultura de retrocessos e de perpetuação de privilégios.

Feminismo? Nomeiem da forma como lhes convier. O fato é que, graças ao feminismo e ao empoderamento feminino, as mulheres conseguiram direitos fundamentais, que vão da possibilidade de votar ao de não estar sujeito a violência física e sexual sem que houvesse punição aos agressores.

A denúncia de Mariana Kotscho, do Papo de Mãe, é um dos capítulos mais importantes do jornalismo recente no Brasil e tem o mérito de, infelizmente, esgarçar o tecido social que ainda tolera a violência contra a mulher, inclusive a institucional, e evidenciar que o caminho para a igualdade e a civilização ainda é muito longo e cheio de obstáculos.

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