Marcelo Moreira
Nem o desespero justifica apostar na morte, mas ainda assim sindicatos de bares, hotéis e restaurantes estão ameaçando e ajuizando ações contra as novas e necessárias medidas de restrição ao funcionamento da atividade econômica.
A situação é bem grave e os índices de ocupações de UTIs nas regiões do Estado de São Paulo variam de 70% a 95%. Alguém aí disse que a pandemia tinha acabado? Que as festas e as aglomerações estavam liberadas?
As restrições para aumentar o isolamento e o distanciamento social vão afetar e muito a continuidade dos negócios na área do entretenimento, da arte, da cultura e da gastronomia, como ocorreu ao longo do ano.
Infelizmente são medidas que precisar ser adotadas para frear o avanço do vírus e que haja leitos de hospital e de UTI para todo mundo.
Festas, bares, restaurantes e praias são os locais preferidos para a disseminação do vírus, mas a imbecilidade faz parte do DNA do povo brasileiro, que faz questão de ignorar a pandemia e as orientações dos especialistas em saúde.
É uma emergência mundial de saúde pública em proporções nunca vistas, e a economia terá que ficar em terceiro plano. Show de rock? Quem sabe a partir de maio, quando efetivamente houver vacina para a maioria - terá no primeiro mundo; aqui, pouco provável.
A devastadora pandemia, de forma lamentável, não vai poupar bandas e negócios no setor de entretenimento. Algumas já anunciam hiatos mais longos par se recompor, enquanto outras correm desesperadamente contra o tempo para se reinventar e buscar alternativas para manter a roda girando.
Boteco Adoniran depois da reforma, mas antes da pandemia: uma perda sentida para as artes e cultura do ABC e da Grande São Paulo (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK) |
O índice de mortalidade de bares é altíssimo no Brasil. Entre os que eram dedicados à música, a destruição parece ser maior. Nos últimos tempos, no ABC, duas casas importantes foram derrubadas pela crise e pela pandemia.
O Ace of Spades, antigo Black Label Society, chegou a ter dois espaços abertos ao mesmo tempo na esquina onde por onde reinou por mais de 15 anos, entre o Jardim Bela Vista e a Vila Gilda, em Santo André. E isso não faz muito tempo. Hoje o local original está sendo demolido e reformado.
Mais doído ainda foi o anúncio de encerramento temporário das atividades do Boteco Adoniran, em São Bernardo, em ponto nobre da cidade. O local era a casa do samba no ABC, título que dividia, com orgulho, com o também ótimo Botequim Carioca, em Santo André.
O Adoniran, bar temático dedicado à memória do famoso sambista paulista Adoniran Barbosa, com sua decoração extraordinária, encerra uma trajetória de nove anos. Crise econômica, pandemia e dívidas bancárias exauriram os proprietários. O bar não funciona mais e há a possibilidade de ser vendido, com ou sem a marca, em 2021.
O Adoniran quase foi a casa do blues no ABC nesta segunda década do século XXI, quando alguns projetos quase vingaram para receber bandas e músicos do estilo às terças e quartas-feiras.
A ideia era seguir, ao menos em parte, a tendência inaugurada pelo Si Señor, restaurante mexicano de rede que tinha uma unidade na mesma rua, a avenida Kennedy, via que fica entre a Chácara Inglesa, o Jardim do Mar e o bairro Anchieta.
O blues na casa mexicana durou quase um ano e meio e deixou muitos órfãos do blues na região. A unidade do Si Señor acabou abandonado a avenida e se refugiando em um shopping da cidade.
O que sobra então para os amantes da música boa ao vivo? Como resistir à avalanche de contas com medidas cada vez mais restritivas - e necessárias - para conter o vírus?
Em São Paulo, muitos bares discretos, mas interessantes, que disseminavam o jazz, o blues e o rock alternativo, também fecharam ou mudaram radicalmente para se adaptar os novos tempos.
Bar sem aglomeração parece algo estúpido e impossível, mas será desse jeito que teremos de encarar os novos tempos. Quem diria que agora músicos empresários terão como meta manter ambientes com cada vez menos pessoas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário