Marcelo Moreira
UFO no auge, com Pete Way (baixo, aparece duas vezes, à esq. e em baixo), Phil Mogg (em cima) e Michael Schenker (dir.) (FOTO: DIVULGAÇÃO/REPRODUÇÃO) |
Michael Schenker é um músico que carrega no rosto e no corpo as marcas dos excessos e das glórias do rock. Refeito e recuperado, sendo vigiado de perto pela atual mulher, tem saboreado uma rara estabilidade e sucesso neste século.
Quando tocou em São paulo, em 2012, no surpreendente Stones Music Bar, em São Paulo, diante de 500 testemunhas, deixou todo mundo de queixo caído.
Quando saía do bar, tarde da madrugada, um grupo de fãs cansados de esperar chegaram devagar e reverência e apenas disseram em uníssono. "Obrigado", em inglês e alemão.
O guitarrista se surpreendeu e ficou sem jeito, mas abriu um sorriso quando um gaiato gritou: "Nunca existiu UFO sem Michael Schenker". "Foi a melhor época da minha vida. Raras vezes toquei tão bem quanto naquele período", disse o músico nos cinco minutos em que conversou com fãs e jornalistas.
Ele se referia ao período de 1972 a 1979, quando foi o grande destaque de uma banda inglesa que variava de quarteto a quinteto, dependendo da época.
E pensar que o alemão só se tornou o guitarrista principal porque Bernie Marsden, que mais tarde tocaria no Whitesnake, perdeu o voo para uma série de shows na Alemanha - o Scorpions era a banda de abertura...
Faz 50 anos que o UFO surgiu de fato para o mundo com um álbum tosco e gravado meio às pressas, que que se tornou um clássico do rock pesado dos anos 70 e transformou a banda em grande atração no Japão.
Antes do rock pesado por excelência, o UFO ganhou m rótulo de space rock ainda em 1969, quando finalmente adotou o nome oficialmente. Alguns temas sobre outros mundos e outras vidas ali, historinhas de terror aqui, tudo sobre uma base de blues sujo e muito alto.
É uma daquelas bandas que podem ser chamadas de botequeiras por excelências, embora não se encaixe diretamente na tosqueira do chamado pub rock - e também estava longe do rock progressivo, já que os primórdios do grupo mostravam pouca afinidade com a música grandiosa de um Yes ou um King Crimson.
Inapelavelmente massacrado na Inglaterra, o primeiro disco foi um sucesso na Alemanha e no Japão, assim como o segundo disco, "UFO 2", ainda tentando encontrar o seu lugar no mundo e tateando naquilo que insistiam ser o tal space rock.
A falta de definição a respeito da carreira, a despeito do sucesso interessante no exterior, foi determinante para que a formação inicial - Phil Mogg (vocais), Pete Way (baixo), Andy Parker (bateria) e Mick Bolton (guitarrista) - logo esfarelasse, fazendo com que houvesse imensa dificuldade em manter um guitarrista.
Ninguém imaginava que o acaso faria com que um moleque de 17 anos acabasse assumindo o posto e se tornando uma lenda da guitarra no rock - será Schenker agradeceu a Marsden por isso?
Guitarrista solo dos Scorpions, foi abordado por desesperados Mogg e Way antes daquele fatídico show na Alemanha em 1972. Era a banda de abertura e o nome de Michael foi recomendado pelo dono do bar onde tocariam.
Michael e o irmão, Rudolph, também guitarrista e dono do grupo, aceitaram dar uma força aos ingleses que fechariam a noite. O garoto precisou de apenas uma hora para pegar o principal do repertório, mesmo sem falar uma linha de inglês.
O show foi trágico, do ponto de vista da qualidade esperada de uma banda inglesa que fazia sucesso momentâneo, mas os ingleses ficaram encantados e obcecados pelo menino prodígio alemão. Após o show, tomando muitas cervejas, o convite para entrar no UFO foi formalizado, inclusive com embarque imediato de volta a Londres.
O próprio menino pôs freio à ansiedade inglesa e ficou de pensar, sinalizando que estaria disposto a encarar o rojão - e isso enquanto um desesperado Bernie Marsden, sem saber que estava demitido, continuava tentando chegar à Alemanha...
Menos de duas semanas depois Schenker ostentava o cargo de guitarrista do UFO e elevaria o patamar da banda, musical e comercialmente, fazendo da banda uma das mais importantes do rock pesado dos anos 70.
São 50 anos de rock pesado com inspiração bluesy e inspiração para milhões de bandas e moleques aspirantes a heróis da guitarra.
idas e vindas depois de 1979, a mais importante passagem do alemão pela banda depois disso foi em 1995, com o ótimo disco "Walk on Water". Pena que durou pouco por conta da instabilidade do guitarrista alemão e de sua eterna rixa com o cantor Phil Mogg.
Sem muito brilho, o UFO continua na ativa e com um certo revezamento de guitarristas neste século, entre eles o extraordinário Vinnie Moore. O grupo ainda divulgou como fará para substituir Pete Way, que morreu no começo deste ano - outro ex-integrante, Paul Raymond (guitarrista e tecladista), também partiu em 2020.
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