domingo, 3 de janeiro de 2021

Legião Urbana inaugurou, há 35 anos, o rock brasileiro 'messiânico e engajado'

 Marcelo Moreira



Foi uma estreia impactante, mesmo que as guitarras não estivessem na "cara", e não fossem exatamente as protagonistas daquele som que, de alguma forma, remetia ao pós-new wave inglês daqueles anos 80.

A Legião Urbana era uma banda diferente de tudo naquele rock nacional oitentista em polvorosa e explodindo na metade da década em que tudo parecia mudar para melhor.

Há 35 anos, o hit "Será?" parecia resumir todos os anseios de um juventude sufocada pelo esfarelamento de um regime militar asqueroso, mas anda dominante. Será que ainda teremos um futuro?

E eis que a Legião Urbana chega em 1986 com seu primeiro LP indicando algum caminho, não necessariamente o mais indicado. Mas quem é que teve a coragem necessária para botar a cara a tapa naquele momento?

Enquanto uns escancaravam o pop reclamando de usar óculos, outros se preocupavam em invadir a praia dos outros. Outros tentavam chamar a atenção bradando "me chama", enquanto ali e aqui contemporâneos via m flores em você, se preocupavam com olhar de quarenta em tantos e corriam para todos os lados.

Será que teríamos algum furo sem ter que se esconder? Será que teríamos de gritar pela polícia, aquela para quem precisa, para quem precisa de polícia? Será que teríamos de escolher e esconder os erros a mais?

A estreia da Legião Urbana foi contundente, ainda que não tenha conseguido manter as altas expectativas por conta de certa megalomania que atingiu a banda, por conta de seu sucesso avassalador e das necessidades de mercado.

Se a poesia urgente e juvenil de Renato Russo fez sentido naquele momento em que o rock nacional explodia e se tornava a voz de uma juventude carente e necessitada de esperança e perspectiva, por outro lado escancarava a falta de direção e uma estética um pouco mais definida. 

A música e a temática da Legião Urbana em seu primeiro álbum demonstravam a encruzilhada em que a cultura jovem pop se encontrava, em que havia um imenso campo para ocupar, ao mesmo tempo em que faltavam referências mais sólidas para embasar uma cena que pudesse ser a base para uma cultura pop que sinalizasse um caminho.

O primeiro álbum da Legião Urbana é importante por sinalizar uma das possíveis trilhas que o rock nacional poderia escolher, assim como "Selvagem?", dos Paralamas do Sucesso, "Mudança de Comportamento", do Ira!, e "Cabeça Dinossauro", dos Titãs.

Ok, o disco faz parte de um momento de inocência e infância do rock nacional, mas apontava para alguns futuros e alguns caminhos.

O primeiro disco da Legião Urbana é história e marcou a história. Provavelmente não esteja na lista os melhores do gênero, mas colocou em perspectiva pensamentos conflitantes e questionadores do que estava para acontecer. 

Renato Russo se achava um poeta e um intelectual, embora Cazuza fosse mais contundente e mais elegante e sofisticado. Só que o brasiliense conseguiu ir além e atingir, com simplicidade, o coração de uma juventude sedenta por espaço para se manifestar com liberdade. 

Legião Urbana teve o grande mérito de ser a banda mais competente em se conectar com a juventude de sua época e de perpetuar essa conexão com pelo menos dua gerações seguintes, ainda que suas letras, em muitos casos, sejam, infantis e simplórias.

Renato Russo e sua banda conseguiram se eternizar e as bases de seu sucesso estão escancarados no primeiro álbum, lançado em janeiro de 1986.

Nenhum comentário:

Postar um comentário