Marcelo Moreira
Peter Frampton (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Protagonizar a maior história de ascensão e queda dentro do rock. Esse foi o maior mérito do guitarrista inglês Peter Frampton, segundo um sarcástico aspirante a crítico de música da revista Rolling Stone cujo nome se perdeu na história.
Não bastasse a injustiça e o evidente exagero, a afirmação joga no lixo o rico legado que o músico deixou em mais de 50 anos de carreira.
Hoje aposentado por conta de uma doença degenerativa descoberta há não muito tempo, Frampton saboreou em 2020 várias homenagens por conta de seus 70 anos de idade.
A imensa maioria das pessoas o conhece por conta dos hits de FM "Show Me the Way" e "Baby, I Love Your Way". Quem sabe, desconfiam que ele é o autor de "Breaking All the Rules", um hit gigantesco que levantou sua carreira nos ano 80.
Quem bom seria se pessoas mais atentas se dispusessem a ouvir sua atuação na banda Humble Pie, na qual tocou e cantou entre 1969 e 1971 ao lado de outro gigante do rock, Steve Marriott (ex-Small Faces).
Guitarrista prodígio e disputado no final dos anos 70, Peter Frampton estava insatisfeito no Herd e suas limitações pop. Foi quando viu no vulcão sonoro Marriott, de saída de sua banda de sucesso, a chance para mudar a carreira e virá-la no avesso.
No Humble Pie, então com 20 anos de idade, Frampton despejou riffs e mais solos de extrema qualidade em canções encharcadas de blues, soul e rock pesado, como "As Safe as Yesterday", que também nomeava um LP, "Natural Born Boogie" e muitas outras pancadas.
A vida correu muito rápido e as divergências com o amigo e mentor Marriott surgiram na mesma velocidade. Ainda muito jovem, decidiu pela carreira solo, em um passo arriscado naquele final de 1971.
Os próximo três anos foram de aprendizado e de reconhecimento entre os pares e a crítica especializada, enquanto seus discos encalhavam nas prateleiras.
E eis então que "Frampton Comes Alive", o álbum duplo ao vivo de 1975, explode de vendas e o transforma em um astro venerado e milionário, com direito a "framptonmania" no Japão e em outros lugares.
Foram quatro anos de loucura e superexposição, com mais alguns bons discos lançados, mas jamais algo parecido, em vendas, com o icônico disco ao vivo.
As modas iam e vinham, e uma delas o derrubou: o punk rock, que devastou mercados e carreiras. "Breaking All the Rules", sucesso monstro de 1983, deu um alento, mas o guitarrista nunca mais recuperou o prestígio que o disco ao vivo lhe deu.
A carreira continuou, lançando coisas excelentes, mas sem o devido apelo comercial. Tocou com David Bowie e com muitos outros amigos, e se contentou em ser uma lenda musical em vida, fazendo pequenas turnês nos Estados Unidos e na Europa. Aliás, hoje é cidadão americano e mora há mais de 30 anos na América.
Peter Frampton chegou aos 70 anos de idade consagrado, a ponto de se dar ao luxo de convidar grandes amigos para gravar "All Blues", uma coleção extraordinária de blues onde desfila toda a sua elegância e destreza. É um CD inusitado para quem estava se aventurando pela música instrumental, como no excelente álbum "Fingerprints", que merece ser conhecido e ressuscitado.
Se Frampton quebrou muitas das regras e recordes, saboreou também o gosto amargo do desprezo, mas não do ostracismo. Manteve a dignidade da guitarra feroz e incendiária que lhe caracterizou nos anos 70 e continua representando o que de melhor o rock produziu em todos os sentidos. Frampton continua bem vivo.
Post sensacional e enquanto bebo doses de gin tônica (meu drink mais amado, ever) na madrugada, me delicio ouindo Frampton. O duplo ao vivo de 1975 foi um marco na carreira dele e na minha formação roqueira (rsrs), pois escutava o disco sem parar nos meus 14-15 anos de idade. Parabéns e grato por nos trazer lembranças tão bacanas de um rocknroll que nunca mais irá voltar.
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