Marcelo Moreira
Cena do filme 'Easy Rider', onde motoqueiros encarnavam a transgressão e o verdadeiro espírito de liberdade (FOTO: REPRODUÇÃO)
"Quando chegou a 40 parei de contar. Tive vontade de vomitar."
O que era uma mera curiosidade antropológica se transformou em um domingo estragado e pavoroso para o guitarrista de rock amador e jornalista ocasional com passagens por duas instituições de ensino de renome no Rio de Janeiro.
Ele queria ver in loco, na Barra da Tijuca, o tipo de fauna excêntrica que se reuniria em uma "motociata" (carreata de motocicletas?) convocada por fascistas em apoio ao presidente nefasto Jair Bolsonaro em uma manhã ensolarada de domingo.
O evento fascista, uma procissão de motociclistas, continha de tudo, desde imbecis juramentados que queriam apenas se divertir a dejetos humanos que pediam intervenção militar e fechamento do Congresso, o que é ilegal.
Ou seja: o ser desprezível que está na Presidência da República participou, de novo., de uma manifestação ilegal.
O meu amigo jornalista e músico, que pediu para não ser identificado, avistou dezenas de tiozões com suas motocas possantes e caras, vestidos a caráter como "easy riders" e quase todos ostentando algum adesivo ou "patch" com alusões ao rock nas jaquetas. Reconheceu ao menos três músicos ou empresários cariocas ligados à música entre os participantes.
Contou 40 desses tipos inomináveis na "motociata", mas imagina que deveria haver muito mais. Quase todos de classe média alta para cima, que odeiam pobres e que relevam a fartura de denúncias contra o bolsonarismo.
Falam abertamente a favor de milícias e fazem piadas chulas contra a ex-vereadora Marielle Franco, morta há três anos, e contra os "vagabundos" assassinados por policiais militares e civis em favelas do Rio.
"Não resisti e perguntei a um desses idiotas aquilo que você sempre coloca em seus textos: como pode alguém que se diz roqueiro e amante da liberdade apoiar políticos e ideologias que atentam contra a democracia e que pregam o ódio? A resposta é de uma pobreza mental que ofende: 'direitos humanos e liberdade de opinião são coisas de esquerda'."
O (des)governo bolsonada está esfarelando há pelo menos um ano e meio e a cada dia a incompetência e as políticas criminosas ficam mais evidentes, assim como o derretimento de sua popularidade.
O desespero toma conta das hostes fascistas a cada denúncia de corrupção e desmandos que atingem o Palácio do Planalto e os filhos vadios e incompetentes. E o desespero torna essa gente fascista cada vez mais perigosa.
Se antes não achávamos que seriam capazes de produzir tamanha destruição, hoje está claro que a depredação institucional e o aparelhamento criminoso do Estado são projetos desse grupo que está no poder. E parte do mundo do rock compactua com esse tipo de coisa.
A cada manifestação bolsonarista mais e mais roqueiros conservadores e cúmplices do genocídio saem do armário e explicitamente apoiam o presidente bolsonada.
Com as seguidas pesquisas que indicam Luiz In´cio Lula da Silva cada vez mais forte para ser presidente em 2022, o desespero aumenta e o mundo conservador do rock partiu para a linha de frente na defesa do indefensável bolsonarismo.
Para eles, especialmente os tiozões da extrema direita que adoram posar de adoradores de rock e dos Allman Brothers, defender a liberdade é apoiar o extermínio de pobres e de qualquer opositor que ouse criticar o mundo idílico da zona sul e compactuar com "coisas demoníacas, como clamar por direitos humanos e pela liberdade de ofender a família e Deus", seja lá o que queiram dizer com isso.
Motoqueiro defendo a família e a propriedade? "Pois é, ouvi isso em uma rodinha em que tinha um motoqueiro com um logo tipo grande do Motorhead no braço esquerdo..."
Apesar de algumas polêmicas envolvendo Lemmy Kilminster a respeito de sua coleção de objetos de guerra e nazistas, o seu Motorhead jamais apoiou qualquer tipo de fascismo ou ideias vinculadas à extrema-direita. Até isso essa gentalha nojenta está conseguindo fazer - conspurcar a memória de um ídolo do rock e a trajetória de uma banda fantástica...
"Nós entendemos que não precisa necessariamente ser de esquerda pra ser roqueiro, mas o rock é um estilo transgressor, e por isso não combina com autoritarismo e fundamentalismo. Alguns roqueiros no Brasil adotaram esse discurso, e tem vários que vão vestir a carapuça", diz Tico Santa Cruz, vocalista dos Detonautas Roque Clube.
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