Marcelo Moreira
Uma banda brasileira de blues com um baterista que canta. É um trio, em que o guitarrista é considerado um dos nomes mais importantes do blues nacional. Ao final de uma apresentação muito i importante, alguém chega para o trio e solta no ar, de forma displicente: "O B.B. King adorou o que viu, assistiu a apresentação inteirinha."
Paralisados, os músicos demoram a perceber o que tinha acontecido. Assim como Duane Allman certa vez ficou paralisado quando viu Eric Clapton na plateia de um show dos Allman Brothers em Miami, como seria a reação de Marcos Ottaviano se tivesse visto, do palco, B.B. King vendo e curtindo o seu som?
Essa é apenas uma das passagens memoráveis que o Blue Jeans viveu em seus mais de 20 anos de carreira como um dos grupos fundamentais do blues nacional.
Ottaviano, Andrei Ivanovic (baixo) e Junior Moreno (bateria e vocais) fizeram história nos anos 90 liderando com a Blue Jeans a segunda geração do blues brasileiro, ao lado dos cariocas do Big Allanbik.
Com louvor, levaram adiante a cena em que brilharam Celso Blues Boy, André Christóvam, Blues Etílicos e Nuno Mindelis e mostraram que era possível fazer blues rock com qualidade altíssima fora dos Estados Unidos. Não à toa sempre foram venerados por fãs europeus.
"Come Back Home", o principal trabalho da banda, está completando 20 anos de seu lançamento e finalmente chegou às plataformas digitais como uma forma de marcar a data. E isso precisa ser bastante celebrado.
O Blue Jeans marcou época porque conseguia reunir o que de melhor era possível apresentar em relação a artistas não americanos: a reverência ao tradicionalismo, o virtuosismo e precisão instrumental e o molho típico das influências brasileiras, além do sempre recomendado feeling para se tocar blues, algo que B.B. King percebeu de imediato quando o trio abriu três de suas apresentações em São Paulo.
O álbum que faz aniversário ainda teve a presença de convidados ilustres, como Flávio Guimarães (gaita, dos Blues Etílicos), Ari Borger (piano e teclados) e Bocato (trombone).
Não há como não há como não se emocionar com a linda "Can't You See What You're Doing to Me", dedicada ao mestre Albert King; ou com a pegada tradicional na mais do que tradicional "Five Long Years". O mesmo precisa ser dito a respeito do inspirado registro de "Never Maker a Move to Soon", dedicada a B.B. King.
Ottaviano brilha particularmente em "Come Back Home" e "Into the Same Old Blues", com fraseados limpos e cristalinos, solos faiscantes e um cabedal monstruoso de influências que acabam por forjar um estilo praticamente único. Conseguiu ser intenso, rápido e claro como poucos instrumentistas do gênero fora dos pântanos da Louisiana ou do Mississippi.
A chega de "Come Back Home" às plataformas digitais é uma das grandes notícias de ano devastado pela pandemia de covid-19 que nos obriga a manter o confinamento social.
Em 2018, Marcos Ottaviano concedeu uma longa entrevista ao jornalista e produtor cultural Eugênio Martins Junior, do blog Mannish Blog, que foi reproduzida pelo Combate Rock. O guitarrista fez vários comentários a respeito das gravações de "Combe Back Home". Leia a seguir alguns trechos destacados:
"Esse disco sempre foi muito elogiado. O Martin Salzman, que foi empresário do Buddy Guy e do Magic Slim, disse que a gente tinha a linguagem do blues por causa desse trabalho. Gravamos em 2002 e até hoje é um som atual. Tem balada que parece até pop, mas com qualidade, influenciou muita gente."
"O Ricardo Coutinho, empresário de Campinas, já falecido, nos chamou para tocar, como você fez com a gente e o Magic Slim em 2007, mas na hora do jantar ele disse que não era empresário, disse que era fã da banda e que achava que a gente tinha de gravar e bancou o novo disco. E ainda disse que a gente poderia pagar como pudesse. Acabamos pagando pouca coisa do disco. Era virou um irmão e não era o que ele queria e nem precisava."
Nenhum comentário:
Postar um comentário