quarta-feira, 30 de junho de 2021

Titãs comemoram de forma tímida os 35 anos de 'Cabeça Disnossauro'

Marcelo Moreira




A comemoração parece tímida para aquele que é considerado o melhor e maior álbum de rock feito no Brasil. "Cabeça Dinossauro", dos Titãs, faz 35 anos anos e será reeditado em CD para marcar a data. Um CD simples, sem bônus e sem livreto especial. Muito pouco para celebrar uma data tão importante.

Em 2012, quando dos 30 anos de fundação dos Titãs, o álbum ganhou uma edição especial, com CD duplo, onde o segundo disco trazia bônus das gravações, como versões demo, e um encarte mais recheado, com informações sobre o contexto do surgimento do álbum.

Talvez seja reflexo dos tempos sombrios e tristes em que vivermos, em que faltam estímulos e incentivos para que artistas e produtores se arrisquem mais.

Ok, parece estranho que a banda opte por relançar o disco em CD, uma mídia que está em franca decadência. Por outro lado, faz sentido em que se invista em um, "cartão de visitas" diferente para as novas gerações, até como símbolo de uma era importante da música nacional.

Membros e x-membros da banda lembraram a data nas redes sociais, mas foi só. Mistura fervorosa e iconoclasta de pop rock e rock pesado, "Cabeça Dinossauro" é agressivo como nunca e violento ao extremo para chacoalhar uma cena acostumada à iro ia fina ou escrachada de bandas paulistas ou o romantismo ensolarado dos grupos cariocas.

É forte, é tenso e destruidor. Conseguiu ser acessível mesmo com porradas na cara, como "Porrada" e "Polícia", além dos surtos psicóticos como "Estado Violência", "Igreja" e "AA UU". 

Político sem ser militante, ativista sem ser panfletário, pop sem fazer concessões, insano sem perder a consciência, o disco deixou claro que aquela geração não ia passar em branco.

O álbum tem um climão punk com toques de hardcore e de metal. Atingiu o grande público com um agressividade nunca antes vista na música brasileira, para desespero dos punks e metaleiros de verdade. 

É o maior símbolo da redenção de uma geração da pós-ditadura que ainda estava inconformada com os resquícios e heranças terríveis do nefasto período em que os militares empestearam a sociedade e destruíram possibilidades de melhora de vida da população. 

"Cabeça Dinossauro" foi uma das poucas obras contundentes que lembraram aos jovens que eles teriam um mundo difícil pela frente, com uma série de obstáculos quase intransponíveis, como a ignorância coletiva predominante, baixíssimos índices de educação e um povo indolente sempre nada disposto a progredir. É totalmente atual nos dias de hoje, pra desespero de uma parte da sociedade que tenta resistir ao fascismo e aos retrocesso.

 

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