sábado, 24 de julho de 2021

Como novo álbum, Detonautas querem se transformar em uma 'ideia em movimento'

 Marcelo Moreira 



Uma ideia em movimento, muito mais do que apenas uma banda de rock que luta contra o sistema. Os Detonautas Roque Clube assumiram a vanguarda do ativismo e do protesto nestes tempos de trevas no Brasil e mostram a indignação com propostas para o incerto futuro. Muita pretensão?

"Os Detonautas sempre foram uma banda com mensagem e forte envolvimento social. mais do que nunca, agora é hora de se posicionar. Assumimos esses riscos e não nos arrependemos. Não somos vanguarda, mas queremos ser ouvidos e achamos que temos uma mensagem relevante a divulgar", disse o vocalista Tico Santa Cruz em entrevista ao Combate Rock.

Um ano de trabalho pesado em plena pandemia deu origem ao "Álbum Laranja", novo disco da banda que não é exatamente inédito. Oito das 11 músicas já tinham sido lançadas como singles durante a pandemia; duas são inéditas e uma é uma versão acústica de um dos singles - "Carta ao Futuro", o primeiro a ser lançado. 

Entre ameaças de morte e diversas lives para expor ideias e debater, Santa Cruz mostra enorme paciência e engajamento para informar e esclarecer. Tem mais consciência jornalística do que muitos jornalistas famosos.

É uma tarefa inglória, mas ele se recusa a encarar dessa forma. "O diálogo é crucial para que possamos superar esses tempos sombrios e preservar a democracia. A extrema-direita é autoritária e deprecia o debate. Não há outro caminho senão o do debate e da conciliação para extirpar o que causa danos."

O cantor reconhece que  posicionamento político se e o da banda renderam uma exposição que possivelmente os Detonautas nunca tiveram, mas rechaça qualquer acusação de oportunismo, mesmo porque estiveram na dianteira dos protestos e do ativismo desde antes da posse do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"Essa conscientização social que buscamos faz parte desse conceito de ideia em movimento. 'Álbum Laranja' é uma oportunidade para expandir o debate e levar informação. Não tenho a pretensão de ser líder do que quer que seja, mas reconheço que o raio de ação aumentou e as possibilidades se expandiram", diz Santa Cruz.

A banda se manteve muito ativa na pandemia e conseguiu se equilibrar na questão financeira, tanto que manteve a equipe de colaboradores em todos os níveis e os serviços que contrataram. 

Engajou-se também em diversas ações sociais de auxílio a famílias carentes e na arrecadação de fundos para entidades que prestam assistência social e manteve o fôlego para seguir com a gravação de singles e videoclipes. 

A fase é tão prolífica que ais dois projetos musicais estão em andamento, um deles um álbum pronto que está na iminência de ser lançado até o final do ano, e outro, mais grandioso e ambicioso, que deve surgir em 2022. Em meio a esse surto de atividade, sobra tempo até mesmo para que o cantor se aventure como palestrante.

"Diante de lives que fiz e participei neste período de pandemia, seja entrevistando ou sedo entrevistado, surge essa chance de fazer algo nesse sentido. Estou conversando com institutos de educação para viabilizar algo neste sentido, seja de forma presencial ou virtual, mas ainda está em fase de planejamento. Terei de receber um projeto pronto, pois não poderei me dedicar á produção desse tipo de evento. Mas é algo que me atrai", afirma Santa Cruz.

As canções inéditas de "Álbum Laranja" são Clareira", "Bandeira do Brasil" e "Carta ao futuro", esta em versão acústica). No disco, duas são as participações especiais: Gabriel, o Pensador e Gigante no Mic.

O nome e a cor da capa já são provocativos por conta das notórias mentiras preferidas pelo presidente nefasto e seus asseclas, fazendo alusão ao laranjal que toma conta do governo federal em vários assuntos e áreas. Ninguém se responsabiliza por nada, nada é o que parece e as explicações para os escândalos são as mais estapafúrdias.

"Kit Gay", "Político de Estimação'', ''Mala Cheia", e "Micheque" são alguns dos nomes das canções que já dão o tom do que esperar do "Álbum Laranja".

São músicas lançadas com temas que abrangem interesses do povo brasileiro, seja com temática social ou política, como os últimos lançamentos durante o período de isolamento social.

"Carta ao Futuro" é um exemplo. Seu videoclipe é uma animação que conta, de maneira lúdica, o sentimento dos brasileiros diante do obscurantismo negacionista que tomou conta do país. 

O desastre na gestão da saúde em plena pandemia, as alegorias fascistas e as tentativas de golpear e enfraquecer a democracia são retratadas e simbolizadas por zumbis que aterrorizam Brasília, acompanhados de um forte aparato repressivo e seitas obscurantistas.

Já "Micheque" chega com tom bem humorado e faz contundente sátira sobre o episódio do envolvimento de Michelle Bolsonaro com os R$ 89 mil em cheques depositados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama. 

Queiroz é o miliciano que estava alojado no gabinete do então deputado estadual Flavio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio Janeiro e que supostamente administrava o dinheiro de salários que os funcionários do deputado eram obrigados a devolver para a formação de um caixa paralelo. "Bandeira Brasileira", música inédita, mostra uma mistura de rock com ritmos nacionais.

Como nem tudo são trevas também há espaço para o otimismo no "Álbum Laranja". "Fica Bem" é, nas palavras de Tico Santa Cruz, "uma música que fiz no início da quarentena. Cheguei a postar nas redes sociais uma versão violão e voz, no mesmo dia em que criei. As pessoas gostaram tanto que resolvemos gravar com a banda completa. Emociona, arrepia e faz chorar de alegria".

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