Marcelo Moreira
Amy Winehouse (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Houve quem apostasse que a cantora inglesa Amy Winehouse não sairia viva da turnê brasileira de 2011. Os excessos etílicos e com drogas em um ambiente mais permissivo e festivo seriam os ingredientes que decretariam o seu fim por aqui.
Foi difícil, mas a moça sobreviveu à caipirinha e à bajulação surreal e voltou a Londres para morrer meses depois, isolada e decadente, em um quarto desarrumado e sem glamour, Fez questão de repetir Janis Joplin e desaparecer aos 27 anos vitima de seus inúmeros vícios.
Uma cantora extraordinária e uma aberração pop, virou o monstrinho preferido da imprensa sensacionalista encantada com as presepadas da diva e ávida por transformá-la em estrela do reality show da própria vida desregrada.
Era o personagem que rendia as melhores manchetes desde que Kurt Cobain, do Nirvana, se matou em 1994. Fornecia sólido material para a necroimprensa, que fazia "bolão" de apostas para decretar quando seria a sua morte.
Sob muitos aspectos, Amy foi a Elis Regina de seu tempo e de seu país. Não tão culta, nem tão genial, mas igualmente explosiva e passional, fatos que faziam sua música estourar e sua interpretação ser maximizada como o que realmente foi, uma diva.
Apesar dos excessos e da vida embriagada, mostrava-se uma garota solitária e imersa em uma melancolia que atraía até quem não apreciasse sua música. Canalizava o peso de sua existência para a garganta, a voz e a interpretação, tocando fundo quem se dispusesse e escutar aquela mulher que sentia as toneladas nas costas, que exalava tensão e devoção, ao melhor estilo de Billie Holiday.
Cada ação ou comportamento extremo da cantora parecia seguir um roteiro pré-determinado em que o final obrigatoriamente tinha ser infeliz, de preferência trágico. ele fez questão de segui-lo à risca, autossacrificando-se para delírio das massas. Mais uma drogada rebelde que nos deixa em paz, diriam os abutres.
Mas o fato que insiste em martelar nossas cabeças é que quem apostava incessantemente que a diva do soul e do rhythm and blues inglês não duraria muito ganhou.
Amy parece ter feito tudo direitinho para entrar no panteão dos astros que esperaram a idade “cabalística” de 27 anos para morrer. Ingressou no seleto grupo de Brian Jones (Rolling Stones, morto em 1969), Janis Joplin e Jimi Hendrix (1970), Jim Morrison (The Doors, 1971) e Kurt Cobain (Nirvana, 1994).
Se toda as mortes, exceto a de Cobain, aparentemente foram acidentais, a de Amy Winehouse, encontrada morta em seu apartamento, parece ter sido o ato final de uma existência pautada pela autodestruição.
Se não programou a própria morte, de forma lenta e progressiva não se deu ao trabalho de evitá-la ao longo de ao menos sete anos de excessos de vários calibres.
De certa forma, Amy repetiu o comportamento errático e cambaleante de Janis Joplin. Vulcões de energia no palco, cantavam como poucas as dores de uma existência pauta pela tristeza e pela solidão.
Nunca esconderam isso nas entrevistas e pareciam fazer questão de pautar seus shows pela expiação extrema de seus pecados em público, dando uma dimensão épica, mas ao mesmo tempo humana, ao sofrimento.
O problema é a comparação termina por aí. As duas cantoras chegaram aos 27 anos em um período de baixa. Só que Janis, quando morreu, ainda era uma usina potente de rock e blues, e usava o seu sofrimento e seus monstros internos como motor para continuar na ativa, ainda que com a adição de toneladas e litros de aditivos.
Já Amy absorveu da pior maneira o seu sofrimento: não soube lidar com ele, assim como não soube lidar com a fama e o constante assédio. Acabou travada.
Esse sofrimento, em vez de fortalecê-la e empurrá-la, se tornou o ingrediente que correu de vez sua autoestima e a amarrou no pé de cama, impedindo que continuasse em frente.
Se ambas eram depressivas, Amy desde sempre manifestou tendências suicidas e autodestrutivas, ao contrário de Janis Joplin – pelo menos aparentemente.
A história decide se a cantora inglesa se tornará um mito. Na verdade, como Janis Joplin, ela se tornou um mito, mas a comparação, neste quesito, lhe é desfavorável. Apesar de talentosa, não tinha o carisma da texana.
Amy angariou a fama muito mais pelas polêmicas e encrencas do que, infelizmente, pelas performances no palco ou pelos álbuns que lançou – bons, mas nenhum extraordinário.
A diva inglesa não suportou o peso de sua personalidade errática e contraditória ao extremo. Queria se divertir, mas não soube como fazer isso; queria vencer e ter todo o sucesso do mundo, mas não conseguiu driblar o vazio de sua existência fora dos estúdios e dos palcos.
Foi apenas mais uma menina talentosa que viu várias vezes o chão sumir debaixo dos pés e que flertava constantemente com o inferno. Só que para ela o acerto de contas chegou bem antes da hora.
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