quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Burrice e medo da cultura pop impediram o encontro entre Pelé e os Beatles

 Os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo, nas palavras de John Lennon, mas não eram páreo para o maior e melhor esportista de todos os tempos. Eles quiseram conhecer o "Rei", mas havia uma ditadura e muita burrice no meio do caminho.

Curiosamente, a maior conexão entre o rock e o melhor jogador de futebol de todos os tempos nunca passou de uma vontade, e um lado, e a completa ignorância, do outro.

Pelé, que morreu aos 82 anos de idade nesta quinta-feira (29), era provavelmente o ser humano mais conhecido do planeta em 1966 - mesmo jogando no Brasil. Elvis Presley já tinha perdido o brilho roqueiro e se tornado um mediano ator de filmes esquecíveis. 

Os Beatles eram o grande fenômeno pop daquele tempo, mas não tinham como concorrer com aquele homem negro cujo apelido se tornaria adjetivo e substantivo e superaria até mesmo marcas como Coca-Cola. Pelé tinha se tornado um ser global e globalizado antes de o termo existir - um ícone inacreditável, inatingível e admirável,

Calhou de o Brasil ficar sediado em Liverpool na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. A seleção brasileira, bicampeã, era a maior atração do certame e Pelé, o "Rei", o "deus da bola", estava em busca de uma consagração definitiva, já que quatro anos antes, no Chile, tinha disputado apenas uma partida e abandonado o campeonato por causa de uma lesão muscular.

Hospedados no "quintal" dos Beatles, os jogadores brasileiros foram blindados de tal forma que pareciam ser eles os grandes astros pop inatingíveis. Nem mesmo os fabulosos Beatles, os artistas mais impressionantes e admirados do planeta, poderiam chegar perto.

Eles tentaram chegar perto, mas foram repelidos por uma conjunção de burrice suprema - os chefes da delegação negaram m encontro entre músicos e jogadores alegando que não poderia haver "distração" - e ideologia política tosca, já que a ditadura militar brasileira, ainda não tão dura, já tinha profundas restrições a qualquer coisa que fosse muito "popular". E músicos cabeludos famosos, adorados e incontroláveis, com opiniões próprias, certamente não eram bem vistos por generais toscos - e muito burros.

Pelé e os jogadores brasileiros, é claro, jamais souberam do interesse dos Beatles em conhecê-los - estavam dispostos até mesmo fazer um concerto improvisado e particular na concentração, como diria Pelé anos depois. Estavam tão blindados e afastados do mundo exterior que mal conseguiam telefonar para as famílias no Brasil.

Segundo Pelé contaria muitos anos depois, a decisão de barrar os Beatles teria sido da chefia da delegação brasileira, alegando que não queriam as tais "distrações". Uma alegação ridícula, já que o Brasil foi muito mal naquela copa, sendo eliminado ainda na primeira fase com duas derrotas e apenas uma vitória, contra a frágil Bulgária.

"Só fiquei sabendo dessa história lá nos anos 70, quando fui estudar inglês em uma escola internacional em Nova York. John Lennon estudou japonês na mesma escola por algum tempo e me contou que não deixaram os Beatles se aproximar", disse Pelé em várias entrevistas. "Eles gostavam de futebol e vibraram quando o Brasil caiu no grupo de Liverpool, a terra deles. Queriam muito nos conhecer. Quando voltei ao Brasil e pergunte sobre o assunto a alguns conhecidos, soube que a chefia da delegação não autorizou o encontro."

Mesmo não havendo motivos para duvidar da palavra do "Rei", o fato é que, quando ele contou isso á imprensa, no final dos anos 80, já não havia mais dirigentes vivos que chefiaram aquela delegação de 1966.

Funcionários menos graduados da então CBD (Confederação Brasileira de Desportos) afirmaram desconhecer o "incidente". Lennon, por sua vez, foi assassinado em 1980 e, ao que se sabe, não contou a história para ninguém. Ao que se sabe, até hoje ninguém perguntou a Paul McCartney ou Ringo Starr sobre a veracidade da tentativa de encontro.

Mesmo ignorando completamente a possibilidade do encontro, essa foi a situação mais próxima que Pelé teve com o rock, do qual nunca foi fã.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Pitty e Nando Reis, Cássia Eller e Victor Biglione: duplas mistas embelezando o rock e o blues

 Duas duplas mistas embarcando em aventuras inéditas, inóspitas  e interessantes trouxeram um ar de novidade neste final de 2022 - ainda que separados por mais de 30 anos em relação a suas produções, ambas lançadas quase ao mesmo tempo.

Pitty e Nando Reis resolveram se juntar no ano passado para uma turnê muito bem-sucedida que transbordou para o estúdio, rendendo cinco músicas reunidas no EP "Pittynando - As Suas, As Minhas e as Nossas". 

Já o guitarrista Victor Biglione, argentino radicado no Brasil desde sempre, finalmente resgatou as gravações "perdidas" que realizou com Cássia Eller no começo dos anos 90 e as lançou como forma de homenageá-la por conta da data em que ela faria 60 anos. São oito clássicos do blues norte-americano interpretados de uma forma ingênua e com um acento brasileiro inconfundível.

A união de Pitty e Nando foi uma das boas ideias do ano, ainda que aparentemente os mundos fossem opostos, mas não conflitantes. A veia roqueira mais visceral da cantora baiana casou muito bem com o pop classudo e sofisticado do ex-Titãs que costuma namorar com uma MPB mais moderna.

"Na Sua Estante" é o melhor exemplo do bom entrosamento da dupla, em que melodias elegantes e arranjos muito bem elaborados dão um ar de rock inglês dos anos 80. Ficou muito bom, com Pitty explorando áreas de sua voz e interpretação que surpreendem. É um pop sóbrio, que passa longe da breguice e que esbanja sofisticação.

"Pittynando" é um rock que transpira Bo Diddley, em uma batida típica de rock dos anos 50 misturado com blues da melhor estirpe. Música para dançar e curtir numa festa bem animada.

O bom gosto se mantém em "Temporal", que tem uma boa letra e arranjos estupendos de cordas, mas sem a exuberância de "Na Sua Estante", apesar da estrutura imponente da primeira parte. 

O mesmo pode ser dito da versão de "Os Cegos do Castelo", dos Titãs, que teve uma produção sutil que acentuou a delicadeza da interpretação da dupla, mas que ficou reverente demais e pouco acrescentou. A coisa melhora bastante em "Luz dos Olhos", com um dueto esperto e guitarras funkeadas/grooveadas que impõem um balanço irresistível e revelado a boa química entre os dois artistas.

O EP é a demonstração de que o projeto deu muito certo. O entrosamento e os bons resultados no estúdio estimulam a continuidade da parceria.

O blueseiro Biglione venceu a resistência própria e editou finalmente "In Blues", creditado como "Cássia Eller & Victor Biglione". 

São dez canções registradas sem muito polimento, mas de forma bastante satisfatória a ponto de mostrar uma cantora bastante à vontade em um gênero que dominava - sua versão de "I've Got a Feeling", dos Beatles, é sensacional.

A união entre os dois artistas é de uma felicidade estupenda, já que a guitarra bluesy de Biglione pareceu talhada para a interpretação encharcada de malícia, sensualidade e malandragem de Cássia, como em "Hoochie Coochie Man", tremendo clássico na voz de Muddy Waters.

Era para ser só blues, mas os dois inventaram de inserir um jazz com cara de Brasil na versão totalmente suingada de "Got to Get You Into My Life", dos Beatles, uma paixão mútua e que recebeu arranjos inteligentes e bastante criativos. 

"Same Old Blues" e "When Sunny Get's Blue" caminham por outra vertente, a de um blues mais tradicional e e elegante, oferecendo um panorama mais rico em termos de arranjos e sonoridades mais "vintage". Cássia brilha principalmente na primeira. Na segunda, incorpora uma diva americana em uma interpretação jazzística que remete os anos 30 do século passado.

 Os dois artistas flertam com o rock na interessante "If Six Was Nine", de Jimi Hendrix, em versão reverente, mas com bom gosto. Em "I Ain't Supertitious", de Willie Dion, o resultado é melhor, com Cássia mais solta e abusando  de sua versatilidade vocal.

Curiosamente, foi a versatilidade e o talento de Cássia Eller que engavetaram o projeto. A gravadora dela na época, a PolyGram, não queria deixá-la "estigmatizada" como cantora de rock, o que efetivamente ela era. 

De acordo com pessoas que trabalharam com ela, a cantora não se opôs ao arquivamento e nunca considerou o seu lançamento enquanto esteve viva. Ela morreu no final de 2001, aos 39 anos, sem deixar instruções a respeito de tais gravações. 

Em entrevista ao jornal O Estado de Minas, Biglione disse que foi procurado pelo filho da cantor, Francisco, para que resgatasse as gravações para lançá-las no dia do aniversário de 60 anos dela, em 10 de dezembro.

O guitarrista lhe contou que gostaria de gravar rock, blues e jazz. "Acho que sua voz encaixa perfeitamente nesse projeto, topa.? E ela ali, muito tímida e na dela. Disse que o repertório seria com canções dos Beatles e Jimi Hendrix, entre outras feras."

Cássia topou. Victor Biglione tinha data no Circo Voador, e os dois ensaiaram dali a três dias. "Cheguei ao estúdio com a banda completa, tal como está no disco, dois teclados, metais, guitarras... Quando ela abriu a boca, ‘comeu com farinha’, negócio impressionante", relembrou o músico no jornal mineiro.

Participaram do projeto Ricardo Leão (teclados), Marcos Nimrichter (órgão), André Gomes (baixo elétrico), Nico Assumpção (baixo acústico), André Tandeta (bateria), Zé Nogueira (sax-alto e soprano), Chico Sá (sax-tenor), Zé Carlos Ramos (sax-alto), Bidinho (trompete) e Serginho Trombone (trombone). 

Mais do que merecido, "In Blues" é o melhor tributo que poderia ser feito a Cássia Eller. Ouça "Prison Blues"  e se emocione com a alegria que ela demonstrou ao cantar com vontade, acrescentando "estripolias" vocais e tentando subverter a estrutura da música.



https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/2022/12/10/interna_cultura,1431631/disco-inedito-com-victor-biglione-marca-os-60-anos-da-cantora-cassia-eller.shtml

Rockfield, a fazenda que recebeu alguns dos maiores astros do rock em meio a porcos e galinhas

 Do site Leitura Fílmica

O documentário "Rockfield: A Fazenda do Rock" revela para o grande público o inusitado estúdio de ensaio e gravação no interior do País de Gales - foi uma das atrações do In-Edit 2021 de São Paulo (Festival Intrnacional de Documentário Musicais) e é atração rotineira no canal BIS (120 da net-Claro).

Apesar de este ser o décimo documentário de Hannah Berryman, é a primeira vez que ela aborda um tema relacionado à música. Talvez por isso ela consiga se isolar de qualquer afetação pela presença de artistas famosos, evitando cair em tietagem ou uma seleção de material voltada para a fama e não pela relevância. Como resultado, mantém o foco sobre o proprietário do estúdio, e extrai daí a emoção de uma história que atravessa décadas com altos e baixos.

No início, só havia mesmo uma fazenda, como contam os irmãos Kingsley Ward e Charles Ward. Porém, eles contam que se encantaram com o rock de Elvis Presley, aprenderam a tocar, e gravaram uma fita que levaram à produtora EMI no início dos anos 1960. Então, ao conhecerem como um estúdio funcionava, resolveram comprar alguns equipamentos para gravar suas próprias músicas. Logo, pegaram o jeito e inauguraram o que eles chamam de primeiro estúdio de gravação residencial da história. Em outras palavras, era um estúdio com instalações para os músicos dormirem no local.

War Pigs: o início com o Black Sabbath

Em 1968, após investirem em equipamentos mais robustos, receberam a banda Black Sabbath. Com contam Ozzy Osbourne e Tony Iommi, eles guardam ótimas lembranças dessa passagem pelo Rockfield, onde ensaiaram as músicas do segundo disco, “Paranoid”. Outros artistas se seguiram, como Hawkwind, Queen, Rush etc. Assim, a década de 1970 foi muito próspera para o Rockfield.

Robert Plant, ex-vocalista do Led Zeppelin, utilizou o estúdio no início da década de 1980. Segundo seu depoimento, a canção “Big Log”, de seu segundo álbum solo, foi criada ali. O filme conta vários episódios curiosos que rolaram na primeira metade dessa década, como a presença de Iggy Pop e David Bowie, que contaram como o Simple Minds nos backing vocals de uma gravação.

Uma trilha sonora composta para o documentário diferencia os tons cômicos e tristes do longa. Nos cômicos, há até a utilização de animação. Já os tristes veêm nos depoimentos, e aconteceram na segunda metade da década de 1980, quando o uso de instrumentos eletrônicos, sem a necessidade de estúdios, quase decretou a falência do Rockfield.

O reerguimento

Então, a partir de 1989, com a residência longa de 14 meses do The Stone Roses, a situação financeira se estabilizou e surgiu uma nova onda de guitar bands. Entre eles, o Oasis e o The Charlatans, que gravaram seus depoimentos para o documentário. Aliás, esta última banda marca um fato triste, o acidente com o tecladista que morreu quando retornava de uma ida aos pubs da cidade mais próxima, Monmouth.

Mais recentemente, o Coldplay esteve no Rockfield, e lá o seu tecladista Chris Martin conta como surgiu a inspiração para o hit “Yellow”. Como ele afirma, a proximidade à natureza que o Rockfield proporcionava criou o ambiente certo para o nascimento da composição.

Enfim, emotivo, diversificado, informativo e rico em material exclusivo, Rockfield: A Fazenda do Rock é um documentário que precisa ser conhecido por quem aprecia esse gênero musical.

Ademais, confira a incrível e extensa lista de artistas que utilizaram as instalações do Rockfield nos créditos finais.

Ficha técnica:

Rockfield: A Fazenda do Rock (Rockfield: The Studio on the Farm) 2020, Reino Unido, 91 min. Direção: Hannah Berryman. Com Kingsley Ward, Charles Ward, Ann Ward, Lisa Ward, Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Dave Brock, Robert Plant, Jim Kerr, Charlie Burchill, John Leckie, Liam Gallagher, Paul Arthurs, Chris Martin.

Cantor Johnny Gioeli cantará no Brasil em 2023

Uma coisa rara no rock internacional nos dias de hoje: um artista de porte estreando no Brasil. O americano Johnny Gioeli (Axel Rudi Pell, Hardline, Crush 40, Gioeli-Castronovo, Brunette, Killerhit, Phaze) virá pela primeira vez ao país para se apresentar em São Paulo  (10 de fevereiro) e Curitiba/PR (11 de fevereiro). 

Ao lado de Bruno Luiz (guitarra, StormSons, Command6), Bento Mello (baixo, Sioux 66 e Nite Stinger) e Gabriel Haddad (bateria, Sioux 66), o experiente vocalista fará um repertório com músicas de Axel Rudi Pell, como "Bad Reputation", "Rock the Nation" e "Carousel", e Hardline, como "Rhythm from a Red Car", "Takin' me Down", "Dr. Love", "Hot Cherie", entre outras.

Em São Paulo, o evento será realizado no Legend Music & Bar e contará com abertura do Nite Stinger. Já em Curitiba, o evento ocorre no Hard Rock Café.

"Fiquei muito honrado com o convite, porque eu gosto muito do trabalho do Johnny Gioeli. Acho o 'Double Eclipse' um discaço e também curto bastante o Axel Rudi Pell. Já vi ambas as bandas ao vivo, ele tem uma presença incrível e a voz dele está absolutamente em dia! Vai ser sensacional e estou muito empolgado, porque também farei a jornada dupla abrindo o show de São Paulo com uma das minhas bandas, o Nite Stinger", declarou o baixista Bento Mello.

 Após passarem por bandas como Phaze, Brunette e Killerhit, Johnny e seu irmão, Joey Gioeli (guitarra), criaram o Hardline em 1991 – completavam o supergrupo o baixista Todd Jensen (ex-Doro e David Lee Roth), o guitarrista Neal Schon (Journey, ex-Bad English) e o baterista Deen Castronovo (Journey, Wild Dogs, Ozzy, Cacophony e outros).

O álbum de estreia, Double Eclipse, saiu em 1992. No entanto, ainda que ostente o caráter de clássico para 9 entre 10 fãs de hard rock, se tivesse sido lançado alguns anos antes, seria aquele tipo de disco presente na prateleira de milhões de fãs de rock.

Amparado pelo single do cover "Hot Cherie", que já tinha feito sucesso nas mãos do autor, Danny Spanos, o grupo até sentiu o gostinho do sucesso.

 Antes mesmo do lançamento, em 28 de abril de 1992, o Hardline estava tocando em grandes arenas com o Van Halen na "For Unlawful Carnal Knowledge Tour" e também fez shows com Mr. Big e Extreme pela América.

 No entanto, a primeira fase carreira do Hardline se encerrou no final de 1992. Anos depois, o grupo voltou à ativa com outra formação e lançou os álbuns "II" (2002), "Leaving the End Open" (2009), "Danger Zone" (2012), "Human Nature" (2016), "Life" (2019) e "Heart, Mind and Soul" (2021).

Anos depois da separação do Hardline, Gioeli tentou criar outro grupo com seu irmão Joey, o Jiz Rivets, mas então foi convocado por Axel Rudi Pell para substituir Jeff Scott Soto em sua banda. A estreia se deu em "Oceans of Time" (1998) e, desde então, já gravou quase 20 registros ao lado do guitarrista alemão. 

Além disso, Gioeli é responsável pela voz do Crush 40, onde grava trilhas de games ao lado do guitarrista japonês Jun Senoue. O vocalista, que iniciou sua carreira como baterista, também gravou em 2018 os álbuns "Set the World on Fire" com o projeto Gioeli-Castronovo e seu disco solo, "One Voice".

Serviço – São Paulo:
Atrações: Nite Stinger e Johnny Gioeli
Data: 10 de fevereiro (sexta-feira)
Local: Legend Music & Bar
Endereço: Rua Inácio Pereira da Rocha, 367 - Vila Madalena
Horário: a partir das 20h (abertura da casa)
Ingressos online: https://showpass.com.br/evento/435/J0HNNY_GI0ELI_

Serviço – Curitiba/PR:
Data: 11 de fevereiro (sábado)
Local: Hard Rock Café
Endereço: Rua Buenos Aires, 50 - Batel
Horário: a partir das 20h (abertura da casa)
Ingressos online: https://showpass.com.br//evento/434/J0HNNY_GI0ELI_

Geoff Tate, ex-Queensryche, fará em janeiro shows em São Paulo e Rio



Do site Roque Reverso

Geoff Tate fará dois shows no Brasil em janeiro de 2023. O ex-vocalista do Queensrÿche vai se apresentar em São Paulo e no Rio de Janeiro, trazendo na íntegra dois álbuns de sua antiga banda: “Rage for Order”, de 1986, e o clássico “Empire”, de 1990.

Em São Paulo, o show será no Tokio Marine Hall no dia 20 de janeiro. Antes, no dia 19, ele tocará no Rio de Janeiro na casa Solar de Botafogo.

Essas apresentações de Geoff Tate, na verdade, deveriam ter acontecido em agosto, mas tiveram que ser adiadas por motivos de saúde do cantor, que precisou passar por um procedimento cardíaco.



Os ingressos para a apresentação na capital paulista podem ser adquiridos no site da Evetim ou na bilheteria do Tokio Marine Hall.

Os valores inteiros por setor são os seguintes: Camarote (R$ 320,00), Frisas (R$ 280,00), Cadeira Alta (R$ 240,00), Pista Vip 1º Lote (R$ 320,00), Pista Vip 2º Lote (R$ 360,00), Pista 1º Lote (R$ 180,00), Pista 2º Lote (R$ 200,00) e Pista 3º Lote (R$ 220,00).

Para a apresentação no Rio, os ingressos estão sendo vendidos no site Bilheto. Os valores inteiros por setor são os seguintes: Pista (R$ 400,00) e Camarote/Mezanino (R$ 500,00).

Nome de grande importância no heavy metal, Geoff Tate tem uma importância gigantesca para a história do Queensrÿche, banda norte-americana da qual foi integrante de destaque desde os primórdios. Para quem não se lembra, o vocalista teve uma saída mais do que tumultuada do grupo, com fatos importantes ligados ao Brasil, no mesmo Tokio Marine Hall, nome atual do Tom Brasil.

Só para recordar, a relação entre vocalista Geoff Tate e os demais membros do Queensrÿche foi se desgastando com o tempo até chegar ao limite na véspera do grande show que o grupo realizou em São Paulo em abril de 2012. Na ocasião, poucas horas antes de a banda se apresentar no HSBC Brasil (nome do Tom Brasil na época), Tate agrediu com socos Scott Rockenfield e Michael Wilton, depois de saber que os membros não o queriam mais no Queensrÿche.

Após o ocorrido, o vocalista foi para um lado e os demais membros caminharam para o outro. Numa situação de conflito ambas as novas bandas formadas usaram o nome de Queensrÿche, a ponto de o vocalista vir tocar no Monsters of Rock de 2013 com uma formação que chegou a ser denominada como Geoff Tate’s Queensrÿche.

Depois de uma briga judicial sobre o nome Queensrÿche, Tate e os outros membros chegaram a um “acordo amigável”. De um lado, os membros remanescentes ficaram com o nome do grupo e compraram as contribuições feitas pelo ex-vocalista no Queensrÿche. Por outro, entre outros pontos do acordo, deram o direito a Tate de ser o único a executar alguns dos álbuns clássicos do grupo em sua totalidade.

Em 2015, Geoff Tate e sua nova banda, o Operation: Mindcrime, lançaram o disco de estreia “The Key”. Em 2016, lançaram o álbum “Resurrection”. Em 2017, foi a vez do lançamento do disco “The New Reality”, que completou a trilogia e finalizou a história do grupo, fazendo com que o vocalista seguisse posteriormente em carreira solo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Valorizar a Lei Rouanet resgata a cultura e ajuda a unir o país

 Gasto ou investimento? Austeridade ou insensibilidade? Planilha ou "irresponsabilidade"? Manutenção de "privilégios" ou "democratização" do acesso à cultura?

Debates e dilemas tão antigos ressuscitaram nest fim de ano com estapafúrdia tentativa de "criminalizar" o combate á fome e à miséria no Brasil, que voltaram com tudo nos últimos quatros anos, repleto de depredação institucional, discriminação e descalabro administrativo.

E é claro que sobraria para a cultura na disputa entre neoliberais e progressistas. Afinal, ampliação de verbas para diminuir a fome e melhorar a saúde, a educação e a cultura é gasto ou investimento? 

O simples fato de fazermos tal pergunta deveria envergonhar qualquer ser humano, mas fascistas (muitos deles travestidos de neoliberais ou ortodoxos) em geral desprezam o ser humano e sempre acham uma maneira de criminalizar o dinheiro destinado ao âmbito social.

A Lei Rouanet voltou ao debate depois de ser estraçalhada e inviabilizada pelo nefasto governo do nefasto Jair Bolsonaro. Tornou-se um aríete contra a "gastança" de dinheiro público e o "privilégio" de artistas "sustentados por dinheiro público".

Com a queda-de-braço do governo eleito e o atual Congresso sobre furo do tal teto de gastos, a retomada dos preceitos originais da Lei Rouanet ficou em segundo plano por mais que a nova ministra da Cultura, a cantora Margareth Menezes, faça o possível para restituir o que mundo bolsonarista podre destroçou.

Podre também é o mundo paralelo em que vivem gestores e editorialistas de jornais e TVs vinculados a grandes grupos de comunicação. 

A Folha de S. Paulo, por exemplo, depois da envergonhada posição contra o bolsonarismo na eleição, voltou á posição indesculpável de defensora do capital neoliberal ao colocar a pecha de "gasto" em todo e qualquer investimento social mais do que necessário para diminuir a pobreza e a miséria absoluta. Vamos manter as contas do azul, mesmo que milhares e milhões passem fome e morram...

O mesmo jornal investiu em editorial contra a Lei Rouanet e a volta do Ministério da Cultura, jogando no mesmo saco de lixo todo tipo de renúncia fiscal - as necessárias e as fisiológicas, que atendem a poucos privilegiados, os mesmos defendidos pela maioria dos veículos de comunicação.

A Lei Rouanet, surgida durante o governo de Fernando Collor, tornou-se um dos instrumentos mais eficientes para disseminar e democratizar a cultura, ampliando o escopo das atividades e as possibilidades de acesso a recursos antes totalmente fora do alcance de muitos agentes culturais.

São discutíveis os tão alardeados "ajustes" que muita gente boa, mas "isentona", insiste em exigir em relação ao mecanismo de incentivo à cultura. 

É evidente que toda política pública está passível de revisão e aprimoramento, mas os tais "ajustes" nunca passaram de "desculpa" atacar qualquer política pública de estímulo à educação e atividades culturais. 

E é bom frisar: a indústria cultural gera mais de 7 milhões de empregos, tanto ou mais do que a indústria automobilística, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Partindo do pressuposto de que a Lei Rouanet é mais do que necessária - e encerrando essa discussão -, é hora de acabar de vez com a ideia nojenta de que investimento social em cultura, incluindo a renúncia fiscal, é gasto. Não existe sociedade organizada e desenvolvida sem investimento em cultura.

A ministra Margareth Menezes precisa promover, de forma urgente, a retomada dos tetos anteriores de captação de verbas por meio do mecanismo de incentivo , em seguida, iniciar estudos e discussões para ampliar o acesso às possibilidades da Lei Rouanet para pequenos e médios projetos.

As grandes produções artísticas sempre tiveram acesso a esses mecanismos e é bom que seja assim -ainda que surjam críticas a uma certa "seletividade" na aprovação de projetos. É justamente neste momento que a discussão sobre as verbas para pequenos e médios empreendimentos ganha relevância, até para calar os "pragmáticos" das contas públicas insensíveis, os chamados "cabeças de planilha".

O aprimoramento da Lei Rouanet e ampliação do acesso aos seus benefícios e incentivos passa, obrigatoriamente, pela ressignificação do próprio mecanismo e de ampliar o seu efeito democrático.

Em recente artigo publicado na mesma Folha de S. Paulo, o ator Odilon Wagner, membro do Fórum Brasileiro pelos direitos Culturais e diretor de entidades sindicais relacionadas ao teatro, foi muito feliz ao vaticinar que "a Lei Rouanet é um mecanismo de sustentação da cultura nacional e um potente indutor econômico.

"É primário não perceber que se trata de investimento em atividade que gera emprego, impacta vários setores da economia, forma, inclui e divulga o Brasil no mundo. É um erro culpar a cultura e seus mecanismos de financiamento pelos desequilíbrios e descontroles sobre a concessão indiscriminada de subsídios por sucessivos governos", escreveu o ator.

Superada essa fase de revitalizar, reforçar e ampliar as possibilidades da Lei Rouanet, é obra de avançar e discutir em outro patamar: como a atividade cultural, em termos nacionais, pode ajudar ou contribuir na formulação de políticas públicas? Até que ponto pode ajudar na redução das desigualdades sociais, no combate à fome, amenizar a insegurança alimentar e participar dos esforços de criação de empregos?

Odilon Wagner quer mais debates, mas explica que as perspectivas de trabalho são ótimas e imensas, mas também urgentes. "Temos de aproveitar as grandes chances que temos para incluir jovens sem trabalho e que não estudam em um mercado abrangente. Temos de aproveitar uma característica ímpar da cultura, que é a extraordinária capacidade de unir a nossa sociedade a partir da diversidade de povos, ideias, manifestações culturais e religiões."



O terrorismo sepulta as ilusões fascistas de roqueiros imbecis

 Até a véspera deste Natal, os maiores legados do destrutivo governo do nefasto Jair Bolsonaro (PL) eram a fome, a morte e a depredação institucional generalizada. Agora podemos incluir o terrorismo na lista - algo, aliás, bastante esperado a julgar pela deformação de caráter que predomina no mundo bolsonarista fascista.

Foram quatro anos tentando iluminar os caminhos de artistas e amantes das artes que chafurdam no esgoto fascista a respeito da orientação pavorosa e criminosa deste governo infame e das "correntes" de extrema-direita que tentavam sustentar tal situação.

Igualmente pavorosa era a observação da predominância da estupidez de parcela expressiva de músicos e roqueiros em geral sobre a destruição em massa de nossa sociedade - e com aplausos dessa gente.

Esperava-se que, ao menos, com o sepultamento do bolsonarismo, alguma razão desse as caras e reduzisse a vergonha de artistas imbecis que apoiaram o esgoto direitista. 

Seria muito pedir aos idiotas que relativizavam a depredação da cultura e batiam palmas para a censura refletir a respeito de uma "ideologia" que privilegia o ódio, o preconceito, o racismo, a homofobia e o racismo?

Sim, era demais. Nem mesmo o terrorismo praticado e assumido pelos dejetos humanos bolsonaristas foi capaz de movimentar os artistas idiotas que apoiaram o fascismo. O silêncio dessa gente nefasta sobre os explosivos apreendidos em Brasília é de tal maneira ensurdecedor que causa muita, mas muita vergonha.

Uns poucos músicos imbecis ousaram vomitar nas redes sociais que a prisão de um terrorista bolsonarista era coisa de "gente infiltrada" ou "armação" da esquerda. Mesmo esses poucos voltaram para o bueiro depois que mais informações sobre o terror vieram à tona.

Onde estão aqueles seres execráveis que se dizem roqueiros que tanto atacaram e aplaudiram o torpedeamento da democracia? Onde estão os reacionários que sempre acusaram a esquerda de fomentar a violência e terrorismo?

Neutralizado, por hora, o perigo fascista, é hora de apontar os dedos para quem apostou no caos e torceu pelo afundamento democrático. 

Como o boicote é um instrumento eficiente nas democracias, é hora de identificar as empresas golpistas que apoiaram tentativas de golpe e de atentados terroristas; é hora de identificar "comentaristas" e "veículos de comunicação" que insuflaram crimes de todos os tipos contra a democracia; é hora de identificar os estabelecimentos comerciais que deram suporte para a difusão de ideias de ódio e preconceito; é hora de identificar artistas que pediram a volta da censura e compactuaram com a depredação institucional e bani-los, de alguma forma, do ambientes culturais.

Mais do que nunca, é hora de se afastar de qualquer pessoa que votou em candidatos bolsonaristas. É hora de se livrar dessa gente que tem deformação de caráter e que não hesitou em mergulhar fundo nas trevas - como relativizar a existência da democracia e tolerar uma ditadura militar.

A superioridade moral de quem defende a democracia e políticas progressistas (quase sempre pessoas de esquerda) é inquestionável e isso ficou escancarado com a existência de terroristas apoiados pelo undo bolsonarista lixo. 

É fundamental que seja implantada uma "política" de saneamento em todos os ambientes e patamares para que a vida fique menos tóxica e mais suportável - e isso passa pelo banimento e perseguição de bolsonaristas e do bolsonarismo. 

A recuperação completa de nossa sociedade só ficará completa com a extinção de tudo o que estiver relacionado ao bolsonarismo e ao fascismo.

Elegância e sofisticação: Andy Summers e sua guitarra chegam aos 80 anos



Um guitarrista eclético, elegante e sofisticado, que deu um charme todo especial a um trio pop que se tornou a grande sensação musical da primeira metade dos anos 80 depois que o punk rock perdeu o vigor.

Andy Summers chega aos 80 anos de idade com um dos mais respeitados guitarristas de sua geração, transitando por uma série de gêneros e mostrando que The Police foi apenas um período curto de sua vida, por mais que tenha sido o seu auge.

“One Train Later” – a edição brasileira é da Editora Neutra, com ótima tradução, mas que manteve o título em inglês – é a biografia recomendada do músico publicada em português, ainda que seja uma autobiografia que termina quando da separação do Police, em 1983.

Quem diria que ele seria um azarão do rock inglês, amigo de todo mundo e de todos, mas que ficou para trás em relação á fama e fortuna até que um baterista norte-americano e um professor de ginásio o resgatassem do underground para formar um trio que mudaria a cara da música pop.

Amigo de Eric Clapton, Eric Burdon e Jimi Handrix, entre outros astros, só estourar mesmo em 1978, aos 36 anos de idade, ao lado de dois músicos mais jovens (era dez anos mais velho do que Sting e Stewart Copeland, seus companheiros no Police) e com experiências de música e de vida bem diferentes.

O livro vale pelo período de vida Summers entre 1964 e 1977, quando o guitarrista penou por bandas obscuras e bandas outra famosas, mas em decadência.

Mesmo com um humor sarcástico e autodepreciativo – ele não poupa amigos, ex-amigos, ex-namoradas e ex-qualquer coisa -, é interessante ver o quanto foi difícil a sua caminhada, principalmente quando ele adentra aos anos 70 casado e pobre, tendo que dar aulas de guitarra para ganhar alguns trocados na Califórnia.

Pouca gente sabe de seus anos de penúria, mesmo tendo tocado em uma versão de The Animals, com o então amigo Eric Burdon, e com o Soft Machine, de Kevin Ayers.

Sua virada de jogo serve de inspiração a forma como perseverou na música em busca do sonho do estrelato – ou, ao menos, de uma forma de viver dignamente de música, ainda que em bandas de menor expressão ou como apoio a astros.

Quando se esperava que a coisa iria mudar, assumindo o posto de guitarrista de Neil Sedaka e depois de Kevin Ayers (ex-Soft Machine, curiosamente o músico que ajudou na demissão de Summers desta banda), nada acontecia, para sua exasperação e frustração.

Foram precisos maia alguns anos de vacas magérrimas em Los Angeles e Londres para que houvesse uma luz pequenina no final do túnel.
Enquanto isso, reconhecido como ótimo guitarrista por músicos amigos e empresários, como Eric Clapton e Robert Fripp (King Crimson), aproveitou para estudar ao máximo e criar o próprio estilo.

Culto e inteligente, apaixonado por literatura e religiões orientais, além da música brasileira, agregou muita informação aos seus trabalhos e frequentemente era o farol intelectual das bandas com as quais tocou.

Ao contrário do que todo mundo pensa, a formação do Police não representou a grande mudança para Summers, ao menos no começo.
Ele, Copeland e Sting finalmente resolveram se juntar em 1977 após alguns desencontros, mas tiveram de ralar muito para conseguir contratos e gravar os primeiros álbuns, enquanto tocavam em espeluncas e para pouca gente em plena efervescência punk.

O estilo de tocar guitarra ficou mais refinado, só que bem mais contido no Police por conta da ideia de aderir ao movimento punk.
 
O som do trio era rápido e veloz, mas rapidamente as canções autorais de Sting mostravam um lado melódico e pop de alta qualidade. Foi então que o som da banda se delineou com as assobiáveis “Roxanne” e “Can’t Stand Losing You”, que deram a partida para o estrelato ao trio.

As relações tensas desde sempre foram suportáveis até que Sting resolveu partir para a carreira solo. Finalmente estabelecido, Summers levantou a cabeça e partiu para o jazz, para o blues e para a música instrumental, com destaque para os álbuns em parceria com Robert Fripp.

Entrou tempo para degustar várias obras de música brasileira, especialmente da bossa nova, fazendo do Brasil a sua segunda casa. Admirador de Roberto Menescal e Nara Leão, gravou discos por aqui e teve uma rápida e interessante parceria com Fernanda Takai, a vocalista do Patu Fu.

Andy Summers é um personagem muito interessante da música pop e representou todos os elos possíveis que fazem o rock ser um gênero musical fascinante e aglutinador, ao contrário do que muitos querem dar a entender. A guitarra elegante e sofisticada de Summers emprestou ao rock uma qualidade extraordinária.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Entre a pretensão e o experimentalismo, King Crimson é dissecado em ótimo documentário



A frase continua mais atual do que nunca e sempre atribuída ao guitarrista Robert Fripp: “não fazemos musicas para os pés, mas para a cabeça”. Apesar do pedantismo e da arrogância, o líder do King Crimson tinha muita razão em proferi-la, se é que algum dia o fez.

A pretensão erudita/acadêmica sempre esteve associada, ainda que, no começo, fosse apenas experimentalismo. Mas então entrou em cena o silêncio, o King Crimson cresceu. Virou cult, embora com muito prestígio e com menos espectadores do que o desejado.

É essa relação entre rock, erudição e silêncio que permeia o ótimo documentário “In the Court of the Crimson King”, que chegou aos circuitos comerciais dos Estados Unidos no começo do ano e que será uma das atrações do In-Edit 2022 – Festival Internacional de Documentários Musicais, em exibição única em São Paulo.

Dirigido, escrito e filmado por Toby Amies, tem o grande mérito de finalmente entrevistar de forma completa Fripp, seja na residência dele, seja nos bastidores de shows realizados nos Estados Unidos e na Europa.

É uma obra complexa, em que mistura uma tentativa de decifrar o que é o som do banda, contar rapidamente sua história e mostrar como os músicos se relacionam, com entrevistas com todos os integrantes da formação de 2018 – com as últimas palavras do tecladista e baterista americano Bill Rieflin, que morreu de cãncer em 2020.

É um documentário conceitual, digamos assim, que foge do padrão cronológico ou daquele que foca apenas um aspecto/era de um artista pra tentar mostrar o seu trabalho.

Amies teve acesso total aos bastidores e viajou com o grupo por várias cidades, registrando ensaios, conversas animadas, discussões técnicas e o trabalho dos roadies na disposição dos instrumentos e nos reparos a guitarras e baterias.

É bastante instrutiva a passagem em que os três bateristas – Jeremy Stacey, Pat Mastelotto e Gavin Harrison discutem uma passagem intrincada de uma música, com partituras na mão. Como se fosse jogadores de futebol combinando jogadas, precisam decidir o que fazer e como agir nas partes em que a percussão é predominante no show.

Como filme-conceito, abusa de enquadramentos inusitados e procura não editar falas complexas sobre temas igualmente complexos, principalmente quando Fripp fala, com sua figura que mistura cientista maluco com professor de química, impecavelmente vestido, ás vezes, com terno e gravata.

É Fripp que conduz a narrativa que tenta explicar o que é o som do King Crimson, inclusive com a valorização do silêncio como forma de acrescentar elementos diferentes a determinadas composições.

Amies teve a inteligência de amarrar as falas conceituais com depoimentos de ex-integrantes, muitos deles até hoje desafetos do chefão Robert Fripp, como o percussionista Jamie Muir e o tecladista Ian McDonald (que fundou a banda junto com o guitarrista mas que acabou sendo expelido meses depois, ainda em 1969, por divergências criativas).

Praticamente ninguém se recusou a dar depoimentos entre os que passaram pelo grupo. Adrian Belew, o guitarrista e vocalista entre 1981 e 2008, deu depoimentos interessantes a respeito de sua interação musical com Fripp e como o experimentalismo ditou os rumos da banda nos anos 80. Belew hoje não tem boa relação com Fripp, mas não deixou isso transparecer no filme.

O mesmo ocorre com Bill Bruford, o baterista que foi do Yes e que entrou no grupo em 1972, ficando até o começo dos anos 2000. Hoje aposentado e fora da música, comentou como a tensão e a permanente inquietude dos músicos empurraram o King Crimson aos limites da inovação, “ainda que isso tenha cobrado preços altos e atingido circunstâncias à beira do insuportável”.

Trata-se de um bom resumo da história da banda e uma bela tentativa de explicar o que é a música inusitada e única do King Crimson. É um filme diferente, é um documentário conceitual, que usa o King Crimson para discutir questões sensoriais que envolvem a música.

Um dos méritos é conseguir fazer o Robert Fripp dizer coisas que raramente ele fala em público. Tem até uma tensão entre ele o vocalista, Jakko Jakszyk, em que eles divergem sobre as performances ao vivo.

O roteiro também é bem feito, mistura as questões conceituais com fatos históricos da banda, sempre com um ex-integrante e desafeto falando. Tem coisas legais sobre a importância do silêncio no tipo de música que a banda faz. É abrangente e não se limita apenas ao King Crimson em termos musicais.

No entanto, não é muito didático, pois a linguagem e o contexto são para iniciados (com bom conhecimento de música e de rock, e não necessariamente da banda) ou fãs incondicionais da banda.

Quem tem um conhecimento superficial de música ou de rock vai encontrar dificuldades para encarar os 90 minutos e entender a importância da banda ou a profundidade da discussão.

Não é um documentário comum, o que é legal e, a mesmo tempo, pode ser um defeito. Como disse um jornalista britânico, é um filme sombrio e cômico para quem se pergunta se vale a pena “sacrificar tudo por apenas um único momento de transcendência”.

Talvez não seja aquele documentário comemorativo dos 50 anos de existência da banda que muitos fãs esperavam, mas certamente é um trabalho à altura da genialidade e do espírito experimental e inovador do King Crimson.

O epitáfio do King Crimson aparece em trilha sonora de fantástico documentário

Inclassificável e indescritível. Com essas duas palavras na cabeça, um diretor de cinema encarou o desafio de filmar e entrevistar músicos e especialistas para decifrar o enigma King Crimson e tentar identificar como funciona o processo criativo do grupo inglês.

O resultado, como era de se esperar, foi um documentário desafiador e complexo, mas que fez jus aos 53 anos de existência do combo experimental e vanguardista que mistura rock, jazz e muito mais.

O filme de Toby Amies sobre uma das bandas de rock mais duradouras, mas ao mesmo tempo indescritível, fornece uma visão única sobre o processo de trabalho de uma banda diferente e diferenciada em turnê. 

"In the Court of the Crimson King: King Crimson at 50 (Music from the Film Soundtrack and Beyond)" é a trilha sonora estupenda de um filme excelente. Chega neste fim de ano às lojas e nas plataformas de streaming em quatro CDs que abrigam 40 músicas, quase todas em versões ao vivo, incluindo "In the Court of the Crison King" registrada no Rock in Rio 2019 - erroneamente informando que é de 2021.

Além das entrevistas com integrantes atuais e ex-integrantes, o documentário procura extrair as contribuições artísticas e o processo evolutivo de uma turnê extensa e complicada de uma banda igualmente complicada. 

Já a trilha sonora registra pedaços importantes de apresentações realizadas entre 2014 e 2021, bem como músicas da fase áurea, como "The Mincer", gravada em Zurique em 1973. 

O produtor e empresário da band, David Singleton, observou sobre o filme: "Toda a vida está aqui, não apenas música e certamente não apenas rock". 

Robert Fripp, o guitarrista fundador e "dono" do grupo, tenta por diversas vezes descrever que tipo de som seu grupo faz e oferece declarações espantosas, hilárias e instigantes, o que e possível observar em várias das músicas registradas nesta trilha sonora.

Toby Amies, em entrevista ao jornal inglês The Guardian, afirmou que não sabe se conseguiu descrever 9u lassificar o som do King Crimson. "'In the Court of the Crimson King' não é um filme que quer dizer ao público o que pensar, mas apresenta vários pontos de vista diferentes sobre o processo criativo e o que significa acompanhar esta banda mais incomum."

Ele acredita que conseguiu dar a impressão de que "tudo é complicado, mas também de como a experiência do King Crimson é incrivelmente recompensadora, tanto para os músicos quanto para os fãs, e a trilha sonora é a mais completa tradução desse estado de coisas".

O documentário e a trilha sonora em quatro CDs servem como um belo epitáfio de uma das aglomerações mais incríveis do rock e da música pop. Robert Fripp anunciou que o King Crimson havia "passado do som para o silêncio" nas redes sociais após sua data final no Japão em dezembro de 2021. 

É uma clara sinalização de que o grupo chegou ao fim depois de cinco décadas, tornando este lançamento ainda mais comovente como um registro único da formação mais duradoura da banda. 

King Crimson foi uma banda, de certa forma, popular, mas jamais populista; atípica, mas altamente instigadora, experimental e revigorante. Improvável, mas absolutamente genial. 

Os quatro CDs desta trilha são uma excelente porta de entrada para os mais jovens ou para quem não conhece se deliciar com o experimentalismo progressista e vanguardista do King Crimson.

CD1
1. Introductory Bellscape – Live 06-07/11/18 *
2. 21st Century Schizoid Man (edit) – mixed by Steven Wilson 2019
3. Moonchild (including cadenzas) – Live in Philadelphia, 23/09/19 **
4. Cat Food – from Cat Food EP Alt. mix by David Singleton
5. Lizard: i Prince Rupert Awakes Recorded at Wessex Studios, 1970, Keith Tippett piano
ii Bolero iii Dawn Song iv Last Skirmish v Prince Rupertʼs Lament – Live in Rome 23/07/18 * [exc I, prev. rel]
6. The Letters – Live in the studio, Tring, 2018 *
7. Sailorʼs Tale – Live in the studio, Tring, 2018 *
8. Easy Money – Live in Oakland 05/09/19 **
9. Larksʼ Tongues in Aspic Part Two (Fripp) – Alt. mix by Steven Wilson 2012

CD2
1. Fracture – Live in the studio, Tring, 2018 *
2. Fallen Angel – 2009 remaster by Robert Fripp & Simon Heyworth
3. Discipline – Live in the studio, Tring, 2018 *
4. Cadence and Cascade – Live in the studio, Tring, 2018 *
5. The ConstruKction Of Light – Live In Nijmegen, 22/06/19 **
6. Peace – Live in Vienna 01/12/16
7. Matte Kudasai (alt. intro) Recorded at Island Studios, 1981
8. The Mincer – Live in Zurich, 1973, completed at Air Studios, 1974
9. A Scarcity of Miracles – Live in Japan 2015
10. Radical Action Suite – Live in the studio, Tring, 2018 *
Radical Action I / Meltdown / Radical Action II / Level Five
11. Peace a Theme – mixed by Steven Wilson 2022 *

CD3
1. Drumzilla – Live in Los Angeles 06/08/21 *
2. Waiting Man – Live in Frejus 27/08/82
3. Seizure – Live in San Francisco, 01/11/98
4. The Talking Drum – Alt. mix by Steven Wilson 2012
5. Indiscipline – Live in Del Ray Beach 23/07/21 **
6. Exposure – Mixed by Steven Wilson 2021
7. VROOOM – Live in Toronto 20/11/15
8. Coda: Marine 475 -Live in London 01/07/96
9. Darts – 2022 remaster by Marian Hafenstein at Possible Studios, Berlin **
10. Requiem (Extended version) – mixed by Steven Wilson 2013

CD4
1. Walk On: Rio – Live in Rio de Janeiro 06/10/19 *
2. Larksʼ Tongues in Aspic Part One – Live in Stuttgart 16/06/19 ***
3. Breathless – Live in Poland 2018
4. One More Red Nightmare – Live in Sandy 03/08/21 ***
5. Epitaph – Live in Rio de Janeiro 06/10/20 *
6. Frame By Frame – Live in Nashville 27/09/19 ***
7. Pictures of a City – Live in Osaka 02/12/21 ***
8. Red – Live in St. Augustine 24/07/21 ***
9. The Court Of The Crimson King – Live in Rio de Janeiro 06/10/21 *
10. Starless – Live in Tokyo 08/12/21 *

* = Previously unreleased, ** Previously Available via download at DGM Live/Cassette only
release, *** Previously available in a different mix/master at DGM Live. All asterisked material new to CD.

Cinco anos sem Mário Linhares, do Dark Avenger, um persistente batalhador do metal nacional



Mario Linhares tinha um sorriso fácil e uma conversa boa demais, mas nunca escondeu um agudo senso de urgência. Sabia que tinha deixado o seu Dark Avenger por muito tempo na geladeira nos anos 2000, e também sabia que era um afortunado por ter se curado de um câncer.

No melhor momento da carreira, aclamado como grande compositor e vendo elogios internacionais chegarem, Linhares se preparava para um grande salto quando passou mal e morreu há cinco anos na sua Brasília de adoção, em razão de um edema pulmonar agudo.

Persistência e paixão eram, provavelmente, as duas características que definiam aquele que era o melhor compositor de obras conceituais do rock brasileiro. 

Os temas e as letras das músicas do Dark Avenger nunca foram fáceis, e Linhares, o compositor, nunca fazia concessões. Perfeccionista e culto, não abria mão da profundidade dos assuntos abordados, a ponto de ser admirado por músicos e produtores internacionais.

Isso ficou claro em viagem que fez à Europa para divulgar "The Beloved Bones: Hell", o último trabalho, quando foi recebido com muita pompa por representantes de gravadoras na Itália. 

O cantor e compositor era persistente porque sempre acreditou no Dark Avenger e no seu trabalho conceitual, na força dos temas e das letras. Nas redes sociais se mostrou meio ranzinza de vez em quando com o que considerou "rumo errático para as trevas" em relação à cultura musical atual – a era das bundas rebolantes e dos realities shows estéreis e sem conteúdo.

Entretanto, em nenhum momento deixou de acreditar no próprio trabalho e no talento de sobra que existe no rock e no metal do Brasil, a começar pelo seu próprio trabalho, defendido com uma paixão comovente.

O cantor era tão apaixonado pelo que fazia e tinha tanta consciência da boa qualidade de seu trabalho que não hesitava em comprar brigas e tretas para explicitar seus pontos de vista – quando não para tentar impô-los nas discussões. 

Essa passionalidade lhe rendeu alguns reveses e broncas homéricas de muita gente boa e importante do meio roqueiro brasileiro, mas que não o fizeram recuar ou ceder – no máximo, refletir e contornar algumas situações.

 A morte de Mario Linhares interrompe uma trajetória de luta tenaz pela cultura e pelo trabalho diferenciado dentro do rock nacional. 

Perseverante ou teimoso? A resposta está em "The Beloved Bones: Hell", trabalho de extremo bom gosto e uma das obras mais importantes do metal brasileiro neste século.

Uma parte do legado de Linhares pode ser observada no trabalho mais recente da banda de metal progressivo Caravellus, liderada pelo guitarrista Glauber Oliveira, o principal parceiro de Linhares no Dark Avenger e em outros projetos.

Vinte anos sem Joe Strummer, do Clash: o rock perdia um de seus maiores símbolos

 O menino filho de diplomatas se sentia parte do mundo, mas não se encaixa naquele lugar em que os pais chamavam de "pátria". A Inglaterra já era um país cosmopolita, mas havia algo que deslocava o jovem na hostil Londres dos anos 60 e 70. Sabia que queria ser artista, mas a sua insatisfação e "inadequação" ao mundo atrapalhavam a sua escolha.

E então veio o movimento punk, e o jovem Joe encontrou a sua razão de viver depois de ver shows de Ramones e outras bandas furiosas em espeluncas londrinas. 

Sua banda sem futuro, 101ers, desapareceu quase que instantaneamente para dar lugar a The Clash. O movimento ganhava a sua principal banda e seu principal mentor intelectual ainda em 1976. 

Joe Strummer, vocalista e guitarrista do Clash, morreu há 20 anos em consequência de um ataque cardíaco. Já não era mais a liderança punk que tinha embalado sonhos de inúmeros moleques e garotas por toa parte. Tinha voltado a ser um artista underground om sua banda Mescaleros e afirmava que estava confortável naquele papel. Desapareeu precocemente, aos 50 anos de idade. 

The Clash foi a banda que definiu o punk inglês, indo além da iconoclastia ás vezes estéril dos compatriotas dos Sex Pistols, que se mostravam delinquentes e desajustados, mas com boa dose de marketing e um comportamento ultrajante bastante calculado - tanto que não durou dois anos.

Qando Strummer se uniu a Mick Jones (guitarra e vocais) e Paul Simonon (baixo), estava claro que eram desajustados e, até certo ponto, delinquentes. Mas eram também contestadores e nada alienados. Queriam que The Clash tivesse m propósito e praticamente deram visibilidade ao rock engajado como nunca antes havia acontecido.

Havia um propósito, e Strummer orientou a produção de conteúdo com viés político de esquerda e de protesto - como não admirar uma banda que lança um álbum triplo com o nome de "Sandinista", o movimento esquerdista que derrubou a ditadura de extrema-dieita da Nicarágua em 1979? (Moimento que, infelizmente, foi desvirtuado ao longo do tempo e que hoje não passa de uma ditadura fétida...)

Os vocais não tinham polimento, mas eram urgentes e criaram uma "linhagem" de artistas que abusavam dos berros, do sarcasmo e da ironia. Ele e Jones debochavam de uma sociedade elitista, classista e capitalista, principalmente depois que a primeira-ministra ultraliberal Margaret Thatcher assumiu o governo britânico, em 1979.

A seu modo, o Clash se tornou uma máquina de matar fascistas, parafraseando o artista folk americano de protesto Woody Guthrie. Abraçou as causas antifascistas e antirracistas e mergulhou fundo som jamaicano, indo do reggae ao ska, do dub a outras manifestações da música negra, como forma de combater o racismo e as práticas sociais discriminatórias contra negros africanos e caribenhos, paquistaneses, indianos e latino-americanos.

É difícil encontrar uma canção importante da banda que não seja política - "White Riot", "London Calling", "London's Burning", "Spanish Bombs", "Rock the Casbah"... E tinha a veia pop por excelência, como "Should I Stay or Shoud I Go", "Train in Vain", Lost in the Supermarket"... E tinha o experimentalismo, como o terceiro disco de "Sandinista", recheado de sons eletrônicos e tentativas de brincar com o dub jamaicano.

Como toda boa banda punk, The Clash se autoconsumiu e implodiu em poucos anos. As contradições entre ser um artista famoso e líder d um segmento e ver uma gravadora faturar alto - e seus bolsos, vazios - causou um racha na banda em 1983. 

O quarteto queria ser melhor remunerado, com razão, mas os integrantes discordavam quando ao destino do dinheiro e ao direcionamento artístico naquele momento em que o punk estava quase extinto.

 O baterista da formação clássica, Topper Headon, tinha saído após imensas brigas, e Mick Jones seria expulso logo em seguida, destruindo a mística que ainda envolvia grupo. a banda vira um quinteto, em 1984, mas sem gás e sem criatividade - o motor furioso não funcionava sem a guitarra de Jones.

"Cut the Crap", de 1986, foi o último suspiro e então The Clash morreu para sempre. Supostas tentativas de reativar a banda teriam ocorrido, mas Jones e Simonon nunca se interessaram. Strummer criou os Mescaleros, Jones o Big Audio Dynamite e Simonon zanzou por vários projetos.

Aparentemente, os membro voltaram a ter contato nos anos 90, principalmente depois que Strummer reconheceu que foi injusto ao expulsar Jones da banda. 

Politizado e engajado, Joe Strummer era considerado um intelectual do rock e transformou o Clash em uma potente máquina de propaganda progressista a favor dos direitos humanos e da democracia. Será sempre um dos símbolos maiores do movimento punk.

Arembepe, a meca da contracultura baiana, fialmente é retratada em livro

 Nelson de Souza Lima - especial para o Combate Rock

Localizada a pouco mais de 50 quilômetros de Salvador, Arembepe, foi chamada de a "Meca da Contracultura" no final dos anos 60. A referência com a cidade saudita não é à toa: se todo muçulmano tem que ir ao menos uma vez na vida a Meca, todo amante da liberdade e das energias telúricas precisa conhecer a cidade do litoral baiano. 

Em bom tupi-guarani, Arembepe quer dizer "a terra que nos envolve" e faz todo o sentido quando percebemos o impacto que a região teve, sobretudo, na década de 70. Era um tempo sombrio no Brasil pois vivíamos o auge da ditadura militar, com repressão e zero direitos. E foi então que o mundo descobriu Arembepe. 

E esse anseio por liberdade levou centenas de viajantes, mochileiros e piradões à cidade que estava em sintonia com às capitais do mundo como Londres e Nova York. 

O santuário ambiental ainda pouco explorado e a ligação com a natureza, além da vibração astral, atraíam cada vez mais gente em busca de liberdade, igualdade e vida em comunidade. 

Foram tempos de magia e energia que levou anônimos e famosos a conhecer Arembepe. E não foram poucas as personalidades que se encantaram com o paraíso natural - Janis Joplin, Wally Salomão, Glauber Rocha, Roman Polanski, Jack Nicholson e José Simão, entre outros.

Muitas histórias e relatos deliciosos sobre a vida em Arembepe estão no livro "Arembepe, Aldeia do Mundo", da Editora Máquina de Livros - em 200 páginas mostra a transformação da cidade litorânea desde o final dos anos 60 até nossos dias. 

Escrita pelos jornalistas Claudia Giudice, Luiz Afonso Costa e Sérgio Siqueira, a obra traz capítulos curtos os quais apresentam personagens marcantes que viveram ou que passaram algum tempo na região.

No capítulo "Discos Voadores", temos os relatos supernormais de banhos nus no rio Capivara, além da visão de objetos voadores não identificados. Entre aqueles que afirmam terem tido visões alienígenas estão a musa Sandete Ferrão, o escritor José de Jesus Barreto, a espanhola Camino Mazzano e o mineiro Cândido de Alencar. 

Segundo Sandete Ferrão, "o dia mais inesquecível foi quando vi um disco voador. Certeza!!! Eu estava vindo de Arembepe para a aldeia. Tinha ido na Tia Deja buscar querosene. Era fim do dia, bem na hora do pôr do sol. Até hoje não consigo definir aquela luz, de tão forte e bonita. Ela entrou dentro de uma casa, perto da aldeia. Eu estava sozinha e ela, a luz, dançava para mim. Juro que não tinha usado nada. Nem maconha, nem ácido. Foi minha experiência inesquecível".

O último relato do livro é do escritor Conrad Kottak, que faz uma avaliação de como Arembepe mudou ao longo dessas mais de cinco décadas. Apesar de haver casas que ainda resistem ao tempo, a expansão imobiliária e urbana é notória. Mas o impacto maior se faz presente na tecnologia. 

De acordo com Kottak, "70% dos arembepeiros adultos possuem telefones celulares. Eles usam smartphones para trocar informações com amigos, familiares e para negócios. Observamos uma forte divisão geracional entre comunicação por voz (por pessoas mais velhas) e mensagens de texto (por pessoas mais jovens). A maioria tem opiniões positivas sobre os telefones celulares, citando seu valor em fornecer informações sobre amigos e parentes dispersos". 

Enfim, "Arembepe, Aldeia do Mundo" é um livro saboroso para se conhecer um pouco deste paraíso baiano, que apesar do tempo, ainda mantém sua vibe positiva e mágica.

Ficha técnica

Título: Arembepe, aldeia do mundo - Sonho, aventura e história do movimento hippie

Autores: Claudia Giudice, Luiz Afonso e Sérgio Siqueira

Editora: Máquina de Livros

Preços: R$ 58 (impresso) e R$ 38 (e-book)

Páginas: 200

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Um desentendimento entre gênios, e Jeff Beck, sem saber, mudou a sua carreira

 Era para ser uma colaboração entre gênios, coisa corriqueira entre os grandes da música. Jeff Beck, o estupendo guitarrista britânico, voaria até os Estados Unidos a pedido do amigo e admirador Stevie Wonder, e colocaria ua genialidade em uma nova canção e, mais tarde, em outras de um álbum. E, por conta de uma decisão de produtores e empresários, os dois quase romperam - só que, sem saber, o "incidente" mudou a carreira do guitarrista.

Isso ocorreu há 50 anos e se tornou uma história bem bacana que demonstra como é possível extrair de uma desavença algo maravilhoso, mas que só tomaria forma três anos depois. A história foi lembrada pelo jornalista André Barcinski no site Revista Lado B - https://revistaladob.com.br/ha-50-anos-stevie-wonder-deu-um-presentinho-a-jeff-beck/?fbclid=IwAR00OLIgxa64Yt5Iy3hu45c9CezDVWcjUbhiW_ilYNpzXcNpUA3ToQvnS_Y.

Depois do fim da primeira encarnação do Jeff Beck Group, em 1969 - uma banda de blues que tinha rod Stewart nos vocais e Ron wood no baixo -, o guitarrista mudou tudo e mergulhou na soul music, no funk e no jazz com outra formação entre 1970 e 1972. E resolver mudar tudo de novo.

Desde 1968 ele mantinha amizade com dois integrantes do Vanilla Fudge, banda americana dos primórdios do hard rock e do hard blues. Ele realente admirava o baixista e vocalista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice e prometeu que um dia fariam algo juntos.

Ninguém botou muita fé, mas um dia Beck encontrou os dois nos Estados Unidos, em 1971, e reafirmou a intenção de tocar com os dois. Nascia então Beck, Bogert & Appice, uma banda de rock pesado que tomaria forma no começo de 1972, mas demoraria um pouco finalmente voar. - https://combaterock.com.br/beck-bogert-appice-o-subestimado-rock-pesado-de-jeff-beck-completa-50-anos/

O grupo faria sucesso e quase catapultaria o trio para o topo se não fosse a inconstância de Beck e sua sede de fazer coisas novas sem se importar muito com os companheiros de banda, fossem eles quem fossem.

Ainda em fase de entrosamento com os novos músicos, Beck foi convidado por Stevie Wonder a participar do disco "Talking Book". Durante as gravações, o guitarrista adorou uma das canções selecionadas, "Superstition", clássico absoluto do rock e da soul music/funk.

Com a fase era boa e havia fartura de material, Wonder concordou em "dar" a música a Beck para ser incluída no primeiro disco de Beck, Bogert & Appice, que só seria lançado em 1973. E assim foi feito.

Os dois artistas não contavam com a astúcia e percepção aguda de produtores e empresários de Wonder: "Superstition" era maravilhosa e potencial hit mundial.  Decidiram lançar a canção em compacto simples, descumprindo o acordo com Jeff Beck, e incluí-la em um álbum de Stevie Wonder a ser lançado rapidamente, antes da versão do britânico.

Surpreendido e desiludido, o guitarrista pensou em tirar a canção de seu disco com o trio e ameaçou romper a amizade com o amigo americano - e fez chegar a ele  sua intenção.

Conciliador e boa praça, Stevie Wonder mandou diversos recados ao amigo inglês e aplacou a fúria dele com mais promessas: entregava a ele os esboços de duas canções, quase tão geniais quanto "Superstition" - são os tais "presentinhos" que Barcinski cita no texto.

Wonder demorou u pouco par finalizar "Thelonius" e a maravilhosa "'Cause We've Ended As Lovers", e faz com que Beck acompanhasse o progresso do trabalho. 

Hiperativo e esperto, percebeu o potencial das novas canções e resolveu guardá-las na gaveta, pois já mirava novos projetos além de Beck, Bogert & Appice. Na verdade, tinha se desiludido como hard rock e com a ferocidade da "cozinha" dos então amigos e planejava novas mudanças.

Pouco mais de um ano de trabalho e apenas um álbum, Beck praticamente abandonou Appice e Bogert durante as gravações do segundo álbum, no começo de 1974, e começou a entabular conversas com George Martin, que produziu quase todos os discos dos Beatles. 

Com base nas duas canções que recebera de Wonder, decidiu mergulhar na música instrumental e no jazz quase puro, influenciado por um amigo de longa data, o inglês John McLaughlin na virada dos anos 60/70.

Jeff Beck não sabia, mas as duas canções presenteadas por Wonder para reparar uma quebra de promessa mudaram a sua carreira de forma definitiva. Elas se tornaram dois dos três carros-chefe do álbum Blow by Blow", o seu primeiro totalmente instrumental e totalmente jazz, lançado em 1975. 

Por muitos anos foi o seu maior sucesso comercial e é considerado o seu melhor trabalho. Beck só tem a agradecer a Stevie Wonder pela guiada na carreira, e tudo por causa de uma desavença or conta de um acordo desfeito por culpa de empresários e produtores. 

O guitarrista jamais imaginou que aquelas sessões de gravação em 1972 transformariam totalmente  sua vida musical. 
 

Black Pantera vai atrás da juventude com som pesado e engajamento social

O Pantera original tietou os "discípulos em um festival gigante onde outros gigantes se apresentaram. Escalados de última hora para tapar um buraco - a banda de metalcore americana Motionless in White cancelou o show por motivos de saúde de um integrante - o trio mineiro Black Pantera abriu o Knotfest em São Paulo e foi elogiadíssimo.

O show foi tão poderoso que Phil Anselmo, o único membro da formação clássica do Pantera na formação que tocou no festival -, fez questão de cumprimentar os três rapazes negros que fazem uma mistura de hardcore e thrash metal com letras politicas e engajadas.

É a coroação de um período intenso de ascensão da banda no mercado nacional e internacional - não é á toa que ótimo trabalho de 2022 dos músicos se chama "Ascensão", mais irado e mais contundente do que o anterior, "Agressão".

O engajamento em campanhas antirracistas, antifascistas e pelos direitos humanos não passou incólume em um período de forte polarização política no Brasil. A canção "Fogo nos Racistas", do mais novo disco, causou a ira de pessoas conservadoras de todos os ambientes, incomodadas com o que consideraram uma "incitação ao ódio e á violência".

A banda tem a resposta pronta para esse tipo de acusação: "Todo dia morrem negros em todos os cantos do Brasil. Somos alvos prioritários da violência. E quando reagimos somos nós que incitamos a violência? A canção usa metáforas para isolar os racistas e mostrar que eles é que estão do lado errado da história", diz o baixista Chaene da Gama. "É uma linguagem figurada para que deixemos os racistas se queimarem sozinhos por conta de seu racismo."

O posicionamento da Black Pantera chama atenção em geral por se tratar de algo incomum no rock nacional, que praticamente se calou nos últimos anos de embates políticos mais intensos.

O ativismo e a virulência na defesa de posições alinhadas à esquerda, mas em defesa da democracia, atraíram um público jovem aos shows e ao consumo de seus produtos, mas não é um público exatamente roqueiro.

Se o rock deixou de falar a linguagem do jovem no geral neste século, o trio mineiro parece estar reparando essa lacuna à base de um som muito pesado e de uma mensagem poderosa.

Aclamados como grande novidade no rock nacional depois de aparições igualmente elogiadas em festivais como Rock in Rio e Lollapalooza, o grupo saboreia a ótima repercussão da foto do trio ter surgido em telões da Times Square, em Nova York, em uma campanha antirracista mundial protagonizada por artistas negros de várias partes do mundo.

A agenda abarrotada da banda de Uberaba (MG) forçou uma mudança de planos, diminuindo o tempo disponível para novas composições e gravações, mas ainda está na mira gravação de um documentário e de um show para comemorar os dez anos do Black Pantera em 2024.

Os três músicos encamparam o lema de Thaíde, importante rapper paulistano, a respeito do engajamento e do ativismo do grupo que tanto causam polêmica e incomodam conservadores em geral: "Estar vivo é um ato de resistência; sobreviver é um ato de resistência. Isso é um ato político poderoso dentro de uma sociedade em que o racismo ainda e forte e a desigualdade racial joga os negros na pobreza. Portanto, a simples existência da Black Pantera é um formidável ato político. e será sempre assim", diz Chaene.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Pink Floyd lança superpacote de álbuns ao vivo gravados em 1972

Uma onda de lançamentos de bandas clássicas de rock inunda o mercado neste final de 2022 para desfalcar a contas bancárias de todas as maneiras. Beatles, Paul McCartney, Queen, Kiss, Bruce Springsteen, Guns N' Roses, Tom Petty e alguns outros colocaram caixas suculentas - e muito caras - com material inédito e raro.

O lançamento da vez é do Pink Floyd, que revisitou um material relativo ao tempo de gravação e divulgação de músicas de clássico álbum "The Dark Side of the Moon" . São 18 álbuns ao vivo que já estão em plataformas de streaming.⁠⁠

Até então, os registros desses shows que aconteceram entre 23 de janeiro de 1972 e 9 de dezembro de 1972 não haviam sido disponibilizados oficialmente.⁠ Mesmo assim, quase tudo já havia chegado ao mercado em forma de gravações "piratas", os famosos bootlegs, com som precário e qualidade ruim de som, geralmente.

O material é importante porque a banda demorou bastante para gravar "The Dark Side of the Moon", mas decidiu testar o repertório ao vivo antes do lançamento, que ocorreu em março de 1973.⁠ Muitos fãs se surpreenderam ao ouvir músicas inéditas ao vivo, coisa raríssima entre as bandas de primeiro escalão.

Entre as apresentações presentes nos discos estão as quatro noites do grupo no Rainbow Theatre de Londres, em que eles tocaram de 17 a 20 de Fevereiro de 1972.⁠

Além do material dos shows, o Pink Floyd disponibilizou uma compilação de cinco músicas, intitulada "Alternative Tracks 1972", incluindo demos raras e remixes de “Time”, “On the Run” e algumas outras.

Há cerca de um ano, os responsáveis pelo espólio do Pink Floyd colocaram no mercado registros raros da década de 70 nos serviços de streaming. ⁠

De acordo com a imprensa inglesa, o baú de raridades da banda inglesa de rock progressivo ainda contém diversas gravações ao vivo de épocas diferentes, especialmente do começo dos anos 70 e também da época em o grupo trabalhava no álbum "Animals", de 1977.

Knotfest consagra Slipknot e reverencia a majestade do Judas Priest

 Flavio Leonel - do site Roque Reverso


A cidade de São Paulo foi palco de uma grande festa do rock pesado no domingo, 18 de dezembro. Na primeira e super aguardada edição do Knotfest Brasil, o público que esgotou os ingressos disputados disponíveis para desfrutar a experiência idealizada pelo grupo norte-americano Slipknot viveu grandes e marcantes momentos, especialmente pela qualidade dos shows, que eram o ponto central do festival, a despeito das demais atrações além da música.

No evento, que teve duração de longas 12 horas, os destaques ficaram com as atrações mais aguardadas: o lendário grupo Judas Priest reinou soberano e mostrou que, apesar dos mais de 50 anos de carreira, tem ainda muito a proporcionar para fãs novos e antigos; o Slipknot, como headliner e curador, saciou a vontade do público gigante presente; e a reunião de homenagem ao Pantera empolgou quem esperou décadas para ver algo real da banda ao vivo.

Conforme a organização do festival, o público total do evento foi de 45 mil pessoas, apesar de a sensação de quem esteve presente fosse de algo superior a algo em torno de 60 mil pessoas, num verdadeiro mar de gente no gigante Sambódromo do Anhembi.

No mesmo espaço do Knotfest Brasil, foi possível verificar a convivência pacífica e harmoniosa de públicos que tinham diferenças não somente na idade, mas também em relação ao estilo musical.

Havia no local senhores já de barba branca presentes para ver o lendário Judas Priest, mas também garotas saídas recentemente da adolescência para ver, por exemplo, o grupo britânico Bring Me the Horizon.

Também foi possível transitar sem problemas desde o groove metal do Pantera, até o som menos denso do próprio BMTH, o thrash metal do Sepultura, passando pelo hardcore do grupo brasileiro Oitão e chegando até o som misturado do Mr. Bungle do sempre alucinado e ótimo Mike Patton.

Acertos e erros

Quem acompanha o Roque Reverso há mais de uma década, sabe que este veículo de imprensa, como manda o bom jornalismo, não tem medo algum de colocar dedos nas feridas. Aqui são feitos elogios quando há motivos para isso e críticas quando há detalhes que não podem passar sem citação.

Jornalismo não é fazer assessoria de imprensa para banda ou evento, tampouco propaganda de marketing com elogios com medo de ficar em listas de “personas não gratas” de assessorias de imprensa. Portanto, críticas são importantes para até melhorar futuras edições de um festival que se mostrou, em sua maior parte, com muito mais pontos positivos do que negativos.

Entre os pontos negativos não pode jamais passar batido o fato de os organizadores terem escolhido um dia de final de Copa do Mundo para realizar o evento. Se há um evento no qual é possível saber com antecedência as datas de realização, este evento é a competição esportiva mais importante do planeta.

Poucos dias antes do festival, ainda havia dúvida sobre os horários, já que não era possível saber se a Seleção Brasileira estaria na final. 

Os organizadores escaparam de uma grande enrascada, já que, se o Brasil estivesse na final da Copa, fatalmente shows não seriam realizados no horário da final e, com o grande número de bandas participantes, seria necessário um desafio de logística para encaixá-las num menor espaço de horário.

Com o Brasil de fora da final, ficou mais fácil para a elaboração da grade de horários, mas, mesmo assim, foi grande o número de pessoas que chegou no Sambódromo do Anhembi após o término da disputa entre Argentina e França, que foi considerada por muitos como a melhor final de Copa dos últimos anos. 

Um telão grande foi instalado para que o jogo fosse visto, mas quem gosta de futebol sabe que nem sempre é possível apreciar uma partida com a mesma atenção quando se sabe que uma banda boa, como o Trivium, está tocando. Muitos perguntavam se não haveria condições de o festival ter sido no sábado, o que facilitaria até mesmo para a maioria dos fãs trabalhadores que precisavam levantar cedo para trabalhar na segunda-feira.

Perto das 16 horas, já praticamente no meio do festival e logo após o encerramento da Copa, havia filas gigantes para entrar no Sambódromo do Anhembi. 

Foi, na verdade, uma repetição do que aconteceu no início do festival, já que, quando a banda brasileira Black Pantera começou sua apresentação (pouco depois das 11 horas), as filas para entrar eram enormes, fazendo com que muitas pessoas perdessem não somente o começo do show como a apresentação inteira.

A ideia de 12 horas consecutivas de shows é bacana e bastante usada em todos os grandes centros do planeta, mas uma solução para dar mais espaço entre os horários dos shows e evitar correrias entre os palcos seria a divisão do evento em dois dias. Outros pensaram na ideia já bastante usada no Brasil de um palco ao lado do outro, mas, neste caso, a disposição do Sambódromo, em linha reta, impediria uma acomodação do grande número de pessoas.

Houve quem reclamasse da distância entre os dois palcos, mas, neste caso, há exemplos de caminhada bem maior em festivais paulistanos, como é o caso do Lollapalooza, no Autódromo de Interlagos. Talvez, para o formato do Knotfest, o circuito automobilístico cairia como uma luva, proporcionando não apenas novas grades de horário como até novos palcos.

Erros à parte, vale muito aqui citar um gigantesco acerto do Knotfest Brasil: o som durante os shows. Fato indispensável para uma boa apresentação de rock pesado, foi sensacional ouvir as bandas nitidamente e com um som alto. No show do Judas Priest, por exemplo, as pancadas podiam ser sentidas no corpo em várias partes da Pista, além de o som ser bem ouvido por todo o espaço.

Outro elogio vai para a ausência da famigerada Pista Vip. No Knotfest, este detalhe evitou que fãs de carteirinha ficassem longe do palco. Com isso, a participação do público foi quente na maior parte dos shows, sem aquela sensação de fã turista de Pista Vip, que muitas vezes deixa alguns shows mornos na frente, enquanto as rodas de “mosh raiz” acontecem na Pista Comum.

No mais, as atrações foram bem escolhidas e a mesclagem de bandas distintas agradou a maior parte do público.

Judas Priest soberano


O Judas Priest já é figurinha carimbada em shows no Brasil. Desde que veio ao Rock in Rio de 1991, o grupo britânico retornou diversas vezes ao País, tendo São Paulo como grande local de shows. Os anos passam, o Judas Priest já passou dos 50 anos de carreira, mas, como um bom vinho, sempre traz boas apresentações.

Com o vocalista Rob Halford comandando o show como se fosse um culto ao heavy metal, o grupo deu no Knotfest Brasil mais uma aula de como é uma verdadeira apresentação da vertente mais pesada do rock.

Com clássicos de várias épocas da carreira, o Judas trouxe mais um show digno e com um som, como já foi dito mais acima, poderoso e impactante, como manda o bom e velho heavy metal.

Com o som alto do Judas, é quase impossível encontrar alguma pessoa que esteve perto do palco que não tenha saído com o ouvido “diferente” após a apresentação.

Outro detalhe que não pode passar sem ser citado: a produção recheada de detalhes do palco. Desde o início grandioso com “The Hellion/Electric Eye” até a entrada já no bis de Rob Halford com sua famosa moto em “Hell Bent for Leather”, tudo ali explica o que é o Judas Priest e o próprio heavy metal. Uma verdadeira aula do estilo que é seguida por outras bandas até os dias de hoje.

Quanto aos clássicos, além dos já citados, não podem e não ficaram de fora hits históricos, como “You’ve Got Another Thing Comin'”, “Metal Gods”, “Painkiller”, “Breaking the Law” e “Living After Midnight”, esta última a faixa final da apresentação.

O set list foi idêntico ao executado pelo Judas Priest dias antes em apresentação também na capital paulista na casa de shows Vibra São Paulo. Mas houve quem dissesse que o show do Knotfest Brasil foi melhor justamente por causa do som alto, que foi algo muito marcante e que, se fosse verificado num local fechado, explodiria a casa de shows.

Pantera pesado e empolgante

Momento bastante aguardado tanto por quem era favorável quanto por quem não aceitava a ideia, a reunião em homenagem ao Pantera foi, goste ou não, um dos grandes momentos do Knotfest Brasil. Com apenas o vocalista, Phil Anselmo como componente da formação clássica da banda, já que o baixista Rex Brown pegou covid-19 e foi obrigado a deixar a turnê sul-americana, o grupo que se apresentou em São Paulo conseguiu deixar um “sabor importante” de Pantera na boca dos fãs presentes.

Com som ótimo e peso na medida certa, o show foi capaz de trazer uma homenagem digna à banda que colocou o heavy metal de cabeça para baixo nos Anos 1990.

Sim, não há possibilidade de comparação como o que São Paulo presenciou em 1995 e principalmente em 1993, quando a passagem avassaladora que o Pantera realizou no saudoso Olympia entrou para os grandes momentos dos shows de rock no Brasil.

Os irmãos falecidos Dimebag Darrell e Vinnie Paul não voltarão mais e isso é ponto que faz qualquer tipo de tentativa de montagem jamais ser chamada de Pantera. Mas como bem disse o jornalista Renato Alves, do site Metal Station, na resenha do show realizado dias antes no Vibra São Paulo, não foram colocados para substituí-los dois “Zé Manés”.

Para os lugares dos irmãos foram escolhidos, respectivamente, nada menos que o guitarrista Zakk Wylde e o baterista Charlie Benante, do Anthrax. Quem conhece a história desses sujeitos sabe muito bem da seriedade de ambos e, principalmente, da categoria de cada um.

No show no Knotfest Brasil, o que foi visto foi muita seriedade e competência dos músicos. Derek Engemann, da banda Cattle Decapitation, também substituiu muito bem Rex Brown e facilitou as coisas para Phil Anselmo, que, obviamente, mostrou que continua sendo um grande frontman.

A despeito das declarações horrendas e abomináveis, além de posturas que fez no passado, não há o que discutir sobre a performance musical de Anselmo. Desde as vindas dele ao Brasil recentemente com o Down, já foi possível constatar que a qualidade vocal do sujeito ainda é gigantesca.

Durante o show no Knotfest Brasil, Anselmo comandou a plateia do jeito que quis e confirmou o vocal de qualidade. Tudo isso somado à performance de alta categoria dos demais músicos resultou num grande show de homenagem ao Pantera.

Estavam ali diversos clássicos do heavy metal. Desde a abertura com “A New Level” e “Mouth for War”, passando por faixas como “Becoming”, “I’m Broken” e “5 Minutes Alone”, além de “This Love” e “Fucking Hostile”, tudo ali deu o sabor de Pantera que o público precisava.

As melhores performances ficariam ainda para o final, com os fãs animadíssimos e participativos com “Walk” e a banda impecável no fim com “Cowboys From Hell”. Um show de alta qualidade e que, sem dúvida, ficou na memória dos fãs.

Slipknot sacia a vontade dos fãs

Quem vai uma vez ao show do Slipknot sempre tenta voltar de novo. É aquela sensação parecida com algumas de perigo na vida, como um salto de paraquedas, que o indivíduo muitas vezes precisa sentir a emoção novamente.

No Knotfest Brasil, o Slipknot era o headliner e isso já era um atrativo. Com mais um show elogiável, o grupo norte-americano entregou o que o gigantesco público buscava.

O mar de gente na Pista durante o show do Slipknot chegava até a assustar. Não era possível se locomover facilmente com todo aquele espaço entupido de gente.

Desde sua criação em 2009, o Roque Reverso já havia feito a cobertura de três vindas do grupo ao Brasil.

A primeira e de experiência mais espetacular, foi a do show que o Slipknot realizou no Rock in Rio de 2011, quando tocou na Noite do Metal com o headliner Metallica e o grande Motörhead e deixou o Brasil inteiro impressionado com a apresentação mais brutal, insana e perturbadora daquele festival.

A segunda cobertura do Roque Reverso foi o grande show que o grupo realizou no Monster of Rock de 2013 em São Paulo.

A terceira cobertura do Roque Reverso foi a vinda, em 2015, da banda para ser headliner do Rock in Rio de 2015 e para mais um show em São Paulo, desta vez sem ser num festival, em mais uma apresentação marcante na Arena Anhembi.

De antemão este veículo já avisa que a apresentação de 2011 no Rock in Rio jamais será igualada novamente. Eram outros tempos, aquele show representou um momento histórico da banda para 100 mil pessoas num dos maiores festivais do planeta e ainda havia o saudoso Joey Jordison na bateria.

Longe de dizer que o atual baterista Jay Weinberg não seja competente. Ele foi um dos pontos altos do show. Mas ainda assim a presença ou não de Jordison é algo que só quem já viu ao vivo sabe o que significa.

Quem sempre dividiu com Jordison as atenções continua firme e forte no Slipknot. O sensacional vocalista Corey Taylor tem uma capacidade de comandar a plateia que é algo fora do comum. Se, no Rock in Rio de 2011, esta capacidade até assustou este jornalista, no Knotfest, ele apenas colocou em prática o que tem de melhor.

Com muitos hits da carreira no set list, o Slipknot fez mais uma vez bonito. Obviamente, “Before I Forget”, “Psychosocial” e “Duality” foram pontos altos da apresentação que ficaram na mente de quem esteve no evento.

“Spit It Out” e seu momento apoteótico, com o público sendo orientado por Taylor a se ajoelhar e pular, também é daqueles momentos de fazer quem não conhece o Slipknot de boca aberta.

“Surfacing” fechou o show com alta classe. Mas não há como não sentir falta da bateria giratória de Jordison. Quem viu pela primeira vez sempre quer novamente, do mesmo jeito que assistir inúmeras vezes a uma apresentação do Slipknot.

No geral, a banda fez mais um show de categoria, condizente com a condição de curador e headliner do festival.

Rita Lee, 75 anos: ousadia, irreverência e inteligência no rock nacional

A discrição não combina muito com Rita Lee, a musa do rock paulista e paulistano. Seu recolhimento ao descanso depois de mais de 50 anos de carreira ganhou nova justificativa com o tratamento bem-sucedido contra um câncer no pulmão. 

Ver Rita se tornou um privilégio, e só foi possível por meio de uma ótima exposição no MIS (Museu da Imagem e do Som) no ano passado e começo deste ano sobre a carreira fascinante da cantora da "cantora que não tinha voz".

Completando 75 anos neste final de ano, Rita Lee faz falta por sua ousadia, uma irreverência e sua inteligência. Ainda que por vias tortas, é uma ilha de lucidez em um mar de ignorância agravado pelos tempos bolsonaros de triste memória. Seu sorriso sarcástico e sua fina ironia sempre foram armas contra a estupidez. Sua música sempre foi um porto seguro para o bom gosto.

Mas Rita Lee não sabe cantar e sua voz é pequenina, ainda dizem os ignorantes. Ela é só a maior cantora de rock que já nasceu no Brasil, para desespero dos detratores. 

Ela brinca com essas "máximas" em sua autobiografia que virou best seller. Até pode ser verdade, mas que liga par isso?  

Inteligente, matreira, malandra, cáustica, ingênua, detalhista, meticulosa, oportunista. Já a chamaram de todos os adjetivos possíveis, e o que sobra de tudo isso? 

Uma obra de respeito e uma personalidade poderosa. Assim como os guitarristas ambicionam serem reconhecíveis no ato por seu timbre e estilo de tocar, muita gente sonha em ser ouvida imediatamente quando fala ou se manifesta de alguma forma.

É o caso de Rita: quando ela fala, temos de ouvir. Esqueça o folclore em torno da cantora e as anedotas que ela mesma contou de forma saborosa em seu primeiro livro. Rita tem autoridade que o rock lhe conferiu e a história referendou. 

Chutada dos Mutantes em 1972, foi estratégica e cirúrgica ao elaborar sua carreira musical a seguir e acetou em cheio. O tempo mostrou que ela estava sobrando na banda e que sua trajetória extrapolou o máximo que o quarteto tinha alcançado.

Há quem pense que ela ficou maior do que os Mutantes. Pode até ser que os números digam isso, mas o fato é que a banda optou por ser cult, e ela, por ser pop. Alguém venceu? 

Música não é e nem nunca foi uma competição, mas a moça se deu bem, muito bem, talvez muito melhor do que todos imaginavam – e, dependendo do parâmetro e do ponto de vista, muito melhor do que os ex-companheiros.

Os 75 anos de irreverência de Rita s]ao um legado imenso de inteligência e bom gosto dentro do rock e do pop – deu uma cara para esses gêneros no Brasil, abrindo uma avenida de influência para todos os artistas que vieram a seguir.

 A divertida Santa Rita de Sampa soube como poucos como navegar em águas turbulentas e perigosas ao mesmo tempo em que entregava tudo bem feito e redondinho.

Apostou na ousadia quando isso era pecado, zombou da repressão com elegância em tempos de medo e trevas e mostrou o caminho quando tudo parecia encalacrado. 

Rita também criou um feminismo debochado sem os dogmas e as amarras da ideologia. Mostrou como curtir a vida em meio a terremotos e como sobreviver aos descaminhos.

Sobrevivente, ajudou a ensinar a nossa geração a gostar de rock, a aumentar o som e a confrontar a caretice com descontração e esperteza maliciosa. Existem poucas coisas tão rock'n'roll. Existem poucas pessoas como Rita. Que saibamos reverenciá-la e cultuá-la.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

No ritmo de Messi: um pouco do rock argentino para embalar a festa

 A festa foi linda, e uma injustiça esportiva foi sanada com a vitória argentina na Copa do Mundo do Catar em 2022, Lionel Messi finalmente ergueu a taça que tanto ambicionava e virou um deus concorrente a Diego Maradona, morto em 2020.

O rock argentino não teve muita repercussão nos últimos anos e não embalou essa conquista importante do futebol sul-americano, já que a cumbia e o reggaeton aparecem no topo da preferência so jovens argentinos na atualidade.

Em homenagem ao triunfo na Copa do Mundo, vamos aqui listar, rapidamente, alguns nomes relevantes do rock argentino para ajudar a embalar a felicidade dos vizinhos por conta de algo que era tão esperado e ansiado.

- Fito Paez - Nome máximo do pop rock portenho, com conexão histórica com Os Paralamas do Sucesso, tem uma carreira longa e consolidada na América Latina e uma sensibilidade aguçada para identificar temas e melodias fantásticas e conectadas ao gosto do público latino. Como instrumentista, é reconhecido como um dos músicos mais influentes deste século na Argentina.

- Aeroblus - Rock clássico com muita influência do blues e sotaque brasileiro com a presença do baterista brasileiro Rolando Castelo Júnior, que é nome fundamental da Patrulha do Espaço. Na verdade, a banda foi formada na zona sul de São Paulo. A lenda argentina da guitarra Pappo e o baixista Alejandro Medina estavam morando no bairro de Campo Limpo, em uma chácara, e convidaram Castelo para algumas jams, e o power trio s formou em 1977. A química foi tão forte que os três resolveram levar o projeto adiante, mudando-se para Buenos Aires, onde gravaram o seu primeiro e único álbum. O único disco lançado pela banda (Aeroblues - 1977), foi um marco do rock dos anos 70.

- Pappo - Como artista solo, Pappo ganhou reconhecimento internacional, embora sua passagem pela Inglaterra tenha sido discreta e não tenha rendido grandes emoções. No entanto, é considerado o melhor guitarrista de rock da história do rock argentino, indo do blues ao heavy metal com facilidade e proficiência. É um dos pioneiros do rock argentino, ao lado de gente como Luis Alberto Spinetta. Morreu em 2005, aos 55 anos, após um grave acident de motocicleta.

- Rata Blanca - Banda que foi uma das mais expressivas do hard rock e heavy metal argentino. Fundada em 1986 pelo guitarrista Walter Giardino, está na estrada até hoje, com alguns hiatos, mas sempre preservando o peso e a qualidade do som. O vocalista Adrian Barilari, que entrou em 1989 e foi e voltou algumas vezes, mantem sólida carreira solo.

- Barilari - Com uma carreira solo consistente e passages brilhantes pelo Rata Blanca, Adrian Barilari mostra competência extrema ao transitar entre blues, o rock e heavy metal. Hoje é um nome fundamental do rock argentino e é um habitual colaborador de bandas brasileiras, como The Giant Void.

- Beto Vasquez Infinity - Guitarrista e produtor, criou o projeto Infinity coo forma de explorar as possibilidades das conexões entre rock e teatro. Com alta qualidade, seus trabalhos se equivalem ao Avantasia, do alemão Tobias Sammet, vocalista do Edguy. Por estar na América do Sul, infelizmente o trabalho é subestimado.

- Attaque 77 - O grande nome punk argentino, é quase tão antigo quanto o Rata Banca. A banda foi fundada em 1987 com influências de Clash e Bad Religion, mas evitou cair na fusão com hardcore. Purista e amplo reconhecimento internacional, manteve a integridade e, ainda hoje, tem o respeito da comunidade internacional por onde toca.

- Café Tacvba - Rivaliza com o Soda Stereo como a banda argentina mais famosa e bem-sucedida do rock. Bem ao estilo da música local, o rock é só a base do som, que incorpora diversas influências que os tornaram astros em países como Chile, Peru, Colômbia e Venezuela, por exemplo. Sua música foi influenciada em grande parte pela música folclórica da população indígena do México, mas também por outras bandas mexicanas e do Estados Unidos.

- Los Fabulosos Cadillacs - Nome forte do pop argentino dos anos 80, começou como uma banda de ska e punk para depois abraçar diversos gêneros musicais. É uma das mais premiadas da América Latina, com inúmeros Grammys latinos no currículo. Mesmo com décadas de carreira, a banda ainda conserva influência de Specials e Madness.

- Luis Alberto Spinetta - Considerado  maior nome do rock argentino, foi um compositor extraordinário e um dos artistas mais politizados do país. Integrou as bandas Pescado Rabioso e Spinetta Jade, entre outras, e teve uma carreira importante como poeta, contista e articulista. Também era bom guitarrista, embora não seja tão conhecido como instrumentista. Oito de seus álbuns foram incluídos na lista dos top 100  elaborado pela edição argentina da revista Rolling Stone ("I Almendra", "Pescado 2", "Kamikaze", "El Jardin de los Presentes", "Almendra II", "La la la con Fito Páez", "Invisible" e "Bajo Belgrano)". Morreu em fevereiro de 2012, aos 62 anos, em razão de um câncer no pulmão.

- Ilia Kuryaki and the Valderramas - Duo formado por filhos de astros do rock local em 1990 - Dante Spinetta, filho de Luis Alberto Spinetta, e Emmanuel Horvilleur, filho de Eduardo Marti. Foram pioneiros em misturar rock, pop, hip hop e funk latino e obtiveram muito sucesso na década de 1990, com sua música sendo bastante requisitada para trilhas de cinema. O nome esdrúxulo da banda mistura um personagem do filme/seriado "O Agente da U.N.C.L.E.", de muito sucesso nos anos 60, e um famoso jogador de futebol colombiano, Valderrama, excelente tecnicamente e conhecido por ostentar grande cabeleira.

- Soda Stereo - Banda criada em 1982 que se tornou o maior fenômeno pop do país, tornando-se o nome mais conhecido do rock argentino no exterior por muito tempo. Foi recordista de vendas em quase todos os países da América Latina, além de vender bastante na Espanha. Uma de suas principais músicas, "De música ligera" foi eleita uma das melhores de todos os tempos do rock latino- e ganhou uma versão do Capital Inicial, com o nome "À Sua Maneira".

- Gustavo Cerati - Vocalista da banda Soda Stereo, seguiu carreira solo após o fim da banda em 1997 - houve uma breve turnê comemorativa da banda anos depois. É considerado um dos músicos mais influentes do rock latino-americano. Durante uma apresentação em Caracas, na Venezuela, sofreu um forte AVC, ficando em coma durante quatro anos. Morreu em 2014.

- Charly Garcia - Outro gigante do rock argentino, é cantor, tecladista, compositor e ótimo letrista. Foi durante muito tempo colaborador dos Paralamas do Sucesso.

- Los Espiritus - Não é uma banda nova, mas ganhou mais destaque a partir de 2015 fazendo um som calcado no blues, mas com bastante energia e resvalando na psicodelia. É um sexteto formado por músicos de alta qualidade, com um trabalho de guitarras bastante elogiado. em algumas músicas, guarda algumas semelhanças com os brasileiros Boogarins.

- Eruca Sativa - Power trio poderoso que flerta com o hard rock, stoner rock e com o pop. É formada por duas mulheres, Lula Bertoldi nas vozes e guitarras (irmã de Marilina Bertoldi, que tem sólida carreira solo como cantora pop), Brenda Martin nos baixos e um homem, Gabriel Pedernera, na bateria.

- Él Mató a un Policía Motorizado - Quinteto punk que ganhou notoriedade nos últimos anos pela fúria e por forte crítica social. ,Combina punk e noise rock com competência e apostando bastante em guitarras distorcidas e muitas vezes mais pesadas do que o normal, esbarrando no hardcore.

 

Maneskin é uma boa novidade dentro ro cok atual

 De vez em quando a discussão reaparece: qual é o futuro do rock? Quem representa o futuro do rock no momento em que ele deixou as emissoras de rádio e virou underground?

Pelo menos é uma discussão mais aceitável o que aquela que decreta a morte do gênero musical. A banda muito citada anos atrás era a inglesa Muse, um trio que utiliza muita tecnologia para fazer uma música mais acessível e com acento pop.

A bola da vez é a italiana Maneskin, que foi atração no Rock in Rio 2022, e no programa "Fantástico", da Rede Globo. Abusando de elementos dançantes e eletrônicos com uma base de música pesada, a banda faz sucesso cantando em inglês e em italiano.

Não chega a ser uma grande novidade para quem já ouviu muitas coisas na vida, mas a suposta transgressão e o visual carregado de maquiagem andrógina está encantando uma legião de fãs mais jovens - e não necessariamente de rock.

A procura por Maneskin faz a molecada redescobrir gente como David Bowie e até Kiss, que sempre representaram uma transgressão maior e mais profunda dentro da música pop.

Assim como nos intermináveis debates a respeito da banda americana Greta Van Fleet, o ponto positivo no surgimento do quarteto italiano é que ele reacendeu o interesse pelo rock e o recolocou nas manchetes novamente.

Os radicais reclamaram do som muito pop e comercial - que abanda assume sem preconceitos. Também questionam os "adereços" extramusicais, como o visual estranho utilizado para chamar a atenção. 

E aí recorremos ao mesmo David Bowie e seus inúmeros personagens. Reciclagem? Cópia?

A banda foi formada em 2016 por Victoria De Angelis (baixo) e Thomas Raggi (guitarra), ambos estudavam na "Scuola Media Gianicolo", no bairro romano de Monteverde, tempo depois juntaram-se Damiano David (vocais) e Ethan Torchio (bateria). 

O nome da banda "Måneskin" significa "clarão da lua" ou "luar" em dinamarquês, e surgiu em conversas onde Victoria, que é filha de mãe dinamarquesa e pai italiano, teve de dizer palavras aleatórias naquela língua.

Embora aquela palavra tenha sido a escolhida como nome, não tem muita relação com o tipo de música que fazem. Os maiores sucessos da banda são "Zitti e Buini" e "I Wanna Be Your Slave"

Para um público que se acostumou a consumir música de forma diferente e não dar mais valor ao que ouve ou a artista que executa as canções, o interesse despertado pelo Maneskin é saudável e propõe uma renovação de público, que consegue ter acesso a sons novos que vão além do rap, do funk carioca e do sertanejo. A banda italiana é uma boa notícia para o undo do rock.