sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Karina Menascé, da Allen Key e Mercy Shot: no melhor dos dois mundos

 Era um show bastante esperado, com grande público e uma performance elogiada por todos no lançamento do primeiro CD do grupo. Ao final, inventaram uma jam session com amigos e músicos diversos - mas só homens no palco.

A cantora não pesou duas vezes e foi lá garantir o seu lugar. Imponente, nem precisou falar nada. Apenas olhou e assumiu um dos microfones. Ninguém deu um pio. A noite estava ganha.

Karina Menascé ri com certa malícia quando conta a história e completa: "Eu me garanto e posso dizer que dou 'pau' em todo mundo que estava no palco. Cantava mais do que todo mundo e mostrei isso."

Era o lançamento do álbum "Brace For Impact!", da banda Mercy Shot, e a cena de empoderamento da moça foi só mais uma etapa de um processo de consolidação de uma carreira que começou a decolar a partir de setembro de 2021, quando "The Last Rhino", disco da banda Allen Key, foi lançado.

Cantora, pianista, professora de canto e compositora de muitos recursos, Karina é uma das novas vozes do rock pesado brasileiro e dá visibilidade a um movimento que só cresce ao menos desde 2015 - o das garotas e mulheres que assumem a dianteira de um ressurgimento do rock para além de algumas fronteiras do underground.

Desde que o então trio Nervosa, ainda com Fernanda Lira no baixo e vocais, aumentou seu prestígio internacional, os portões se abriram para que a fúria delas avançasse  passos largos com Crypta, The Damnnation, Eskröta, Sinaya, Melyra, Vandroya, Aetherea, Weedevil, Lâmmia, Ema Stoned e muitas outras.

Mercy Shot e Allen Key estão na lista e fazem parte da nova onda de mulheres desbravando os palcos e "dividindo" a vocalista - por mais que o termo seja inadequado. 

Como diria o técnico de futebol sábio, é problema positivo quando você tem dois craques ou mais para uma posição ou várias. Karina Menascé saboreia a excelente receptividade dos dois discos com sua voz. Os elogios têm sido fartos e os shows, bastante concorridos, por mais que sejam "projetos" distintos.

Allen Key é uma banda mais antiga e é capitaneada por Karina e o parceiro musical Victor Anselmo, que a criaram e a formataram. Faz um metal moderno e agressivo, com guitarras com afinações mais baixas e vocais mais versáteis, sendo que os arranjos de piano são um grande diferencial. É possível identificar ecos de Evanescence, Halestorm e até Nightwish, todas bandas com mulheres musicistas excelentes nos vocais.

Na Mercy Shot a onda é outra. A música transita entre o metal tradicional e o power metal, sem muito espaço para experimentalismos: é rock pesado mais direto, sem tantos arroubos instrumentais, com óbvias influências de Helloween, Blind Guardian e Stratovarius, entre outras bandas. Os vocais de Karina são fortes e têm certa agressividade, mas sem tantas variações.

"Eu consigo virar a chave, são dois projetos distintos, embora consolidados e com prestígio em alta", analisa a cantora. "É maravilhoso ver o retorno positivo diante do nosso esforço e estou fascinada pelos dois grupos." 

Diante dos bons resultados, o dilema se aproxima: como conciliar as duas bandas, principalmente quando elas estão se dando bem? "É uma preocupação saborosa, mas não deixa de ser uma preocupação. Só poderei saber como enfrentar eventuais conflitos quando eles aparecerem."

Por enquanto, a Allen Key já tem uma agenda em movimento para  final deste ano e começo de 2023, com shows e a finalização de um segundo álbum. Já a Mercy Shot ainda não definiu com antecedência seus próximos passos. "Na Allen Key eu cuido de tudo; na Mercy Shot em sou apenas uma integrante, como os outros. Outras pessoas cuidam de todas as coisas."

Nas composições, vocalista é quem escreveu todas em "The Last Rhino". "São a minha realidade, elas têm um caráter mais pessoal, eu me exponho mais. É quase um livro aberto sobre a minha vida. Basta ler as letras da Allen Key para entender um pouco da minha vida. É meu diário", revela Karina.

Para a Mercy Shot ela também escreveu letras, mas sem tato envolvimento com a parte instrumental. Menos confessionais, os temas abordados são diferentes. "A temática de 'Sink and Thrieve' faz analogia entre o mar sendo a vida, enquanto a capitã da embarcação é a pessoa que declama a poesia da letra. Já o 'monstro' é representado pelas emoções da personagem, que constantemente está tentando 'afundar' a protagonista. Estes elementos estão estampados na capa do single", explicou Karina.

No caso de "Arise", a cantora escreveu a letra em um momento complicado da vida, quando estava passando por muito medo e frustração. "Eu me sentia numa luta constante comigo mesma. Como estava muito triste, quis transmitir isso na letra. É uma música muito forte e é meio como se fosse uma salvação, uma redenção."

Ela celebra a boa exposição que as duas bandas estão tendo e o bom momento das mulheres no rock nacional, embora reconheça que é preciso avançar muito mais. 

"Percebo que as coisas estão mais favoráveis, mas vejo muito machismo, misoginia e preconceito em nosso meio", diz Karina. "Não me vejo como uma desbravadora, mas sinto orgulho de poder representar uma série de possibilidades para muitas meninas que querem mergulhar no rock e no metal. Temos de avançar muito, mas quero mostrar que é possível buscar um espaço no mundo roqueiro majoritariamente masculino. Gostaria de ver o dia em que bandas com mulheres não percam oportunidades por causa dessa tipo de preconceito cretino contra as meninas."

Máquinas de 'matar' fascistas: as novas canções engajadas para demolir as ameaças à democracia

"Estado Violênia/ Me Deixe em Paz!!!!!!!!!" O grito da música dos Titãs apinda soa perfeito e necessário como alerta ao perigo das eleições presidenciais e gerais de 2022. São grandes as chances de o presidente fascista e nefasto ser apeado do poder, mas toda campanha e todo o protesto é bem-vindo para a escorraçar a ultradireita.

Uma série de lançamentos dos últimos dias no rock e no metal mostram a face do engajamento contra as ameaças à democracia e às instituições praticadas pelas gangues fascistas a serviço do bolsomerdismo.

Muita gente saudando o lançamento de "This Machine Still Kill the Fascists", da banda norte-americana de celtic punk Dropkick Murphys. O título, 'Essa Máquina Ainda Mata Fascistas", faz alusão ao cantor folk americano de folk Woody Guthrie, que escreveu no corpo de seu violão, nos anos 40, a célebre frase "Essa Máquina Mata Fascistas". Artista engajado, Guthrie sempre foi perseguido e acusado de ser comunista, quando na verdade lutava pela redução da desigualdade social e da pobreza.

A banda nunca negou suas origens irlandesas e sempre esteve na vanguarda da música de protesto atual na América do Norte. o novo disco é um alento, semiacústico e com letras ótimas e interessantes, muitas delas remetendo ao cancioneiro de protesto, em perfeita homenagem a Woody Guthrie - e que se adequa ao momento de trevas que domina o Brasil. Não é um disco temático, mas é simbólico e, sim, "mata" fascistas.

No Brasil, as lendas Dorsal Atlântica e Ratos de Porão desferiram as maiores porradas no autoritarismo e no fascismo que domina parte da sociedade brasileira - respectivamente, "Pandemia" e "Necropolitica". São álbuns fundamentais e que se tornaram clássicos nacionais instantaneamente.

João Gordo, dos Ratos de Porão, também vai para em uma participação especial na canção "A Queda", da banda de thrash/death metal The Troops of Doom, que tem como um dos guitarristas Jairo Guedz, ex-Sepultura. A cacetada sore as seitas evangélicas e religião em geral é devastadora.

Os mineiros da banda de metal extremo Drowned não tiveram puder ao serem mais do que explícitos na pesadíssima "Hail, Captain Genocide", uma homenagem ao nefasto Jair Bolsonaro. É outro ataque devastador ao presidente incompetente e incapaz que exala o odor da morte e da corrupção.

Dá para dizer que foi uma inspiração para os paulistas da Overdose Nuclear, banda de death metal furiosa que acaba de lançar a canção "Messias Genocida". Sem meias palavras e sem economizar na violência sonora, enumera todos os "pecados" do presidente deplorável e as consequências de suas políticas depredatórias em nossas vidas.

Entre as bandas punks, mais pancadaria. Statues on Fire, nome forte do punk de protesto da Grande São Paulo, acaba de lançar "We Shall Overcome", uma agradável canção de inspiração "1977" com um recado contundente, ainda que generalizado. É um libelo importante contra as forças que defendem o autoritarismo.

Do Rio de Janeiro vem a California 55, que envereda por um poppy punk assemelhado ao emocore. "Sua Própria Lei" aborda as tentativas de políticos de ultradireita de torcer e distorcer leis e medidas em benefício próprio, com cansamos de ver no lamentável mandato de Jair Bolsonaro. Não precisaram ser explícitos ou fazer citações diretas.

Se Bolsonaro falou metaforicamente em "fuzilar a petralhada", então embarquemos na campanha de disseminação das músicas que "matam fascistas". Faz bem para a alma, para a mente e para a democracia - e vai ajudar a demolir o autoritarismo, o fascismo e as ameaças democráticas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Order of Destruction: evolução e identidade em surpreendente novo álbum

 Julio Verdi - do blog Ready to Rock'n'Roll

No cenário do rock brasileiro, o thrash metal sempre foi muito prolífero. Desde os anos 1980, inúmeras formações desenvolveram suas carreiras, muitas até em nível internacional, e lançaram álbuns que ficaram marcados como obras eternas da música pesada nacional. 

E muitas dessas bandas buscaram moldar sua sonoridade própria dentro dos moldes agressivos que o estilo necessita. Assim acontece nos dias de hoje com a banda paulista Order of Destruction (nativa de São José do Rio Preto/SP). Após lançar em 2017 seu primeiro EP, “Disobey”, a banda lança agora em 2022 seu primeiro full lenght, intitulado “Still We Rise”.

O álbum revisita as estruturas principais do thrash metal, como peso, rapidez e agressão. Sua sonoridade vai se constituir de elementos que vão remeter o ouvinte a produções eternizadas por nomes como Slayer, Kreator, Testament e nossa instituição mais clássica do segmento, o Korzus.

Entretanto, o grupo não abre mão de insight de bandas mais contemporâneas como Machine Head e Warbringer. Entre as modelagens das composições existe o tempero próprio da banda, como linhas vocais bem peculiares e a referências a sonoridades brasileiras.

Além da salutar busca por uma sonoridade com uma forte marca pessoal, João Gallo (vocal/guitarra base), Guilherme Henrique (guitarra solo), Airam (bateria) e João Lavinas (baixo – no álbum o baixo foi registrado por Renato Montanha, do Maestrick), conseguiram conceber um álbum com um forte impacto na qualidade sonora. A captação da bateria soa a perfeição, além do caprichado esmero nos arranjos das guitarras.

“Still We Rise”, a faixa título abre o trabalho com aquele dedilhado climático crescente que a gente sabe que vai cair na pedrada. E rifferama pesada que mescla palhetadas e bases tradicionais a licks melódicos e passagens percussivas da bateria. A levada vocal que o Slayer promovia, mas com o timbre mais limpo de João.

“The Nun” vem na cadência rápida, que remete a algumas faixas do Sepultura, do “Arise”. Alternando momentos rápidos e pesados, numa ode à mais linda agressão que o estilo pede. Em sua metade, as percussões começam a flertar com elementos brasileiros.

A primeira faixa em português, “Tirania”, vem com pegadas rápidas e com groove, não impedindo que não nos recordamos de algumas faixas na língua pátria que o Korzus produziu. A solução final, onde o refrão se repete em cadências vez mais aceleradas dá a faixa um desfecho cativante.

“No Excuses”, entre bases pesadas e pegadas quebradas da bateria, a faixa se mostra mais densa do que rápida. “Wreckage”, com suas palhetadas cavalgadas, é bem slayerana. E o pau come veloz em algumas passagens. Uma das mais pesadas faixas do disco, com até levadas blast beats no final.

Em seguida, “This is Brazil”, a faixa com a sonoridade mais polêmica do álbum. Ao longo dela, muitas referências a ritmos nacionais são inseridas na agressão pesada característica da banda. 

Começa com um trabalho de cordas com referências ao pagode de viola (modelo antigo de cancioneiro sertanejo), a seguir riffs pesados tomam conta (com boa dose de efeitos nas vozes). Baixão martelando saudavelmente. 

Aos 3 min, uma referência a baião, com cordas e percussão (que parece brincar um pouco com maracatu), conversando com o distorcido baixo. Ao final uma leve gravação parecendo um tributo a músicas interioranas. Não sei a avaliação dos puristas, mas a bandas ousou modular essa alquimia de estilos brasileiros a seu som pesado.

A seguir, uma bela surpresa, uma música instrumental, “Snakes Nest”, mais cadenciada, com um excepcional esmero no trampo de guitarras. E que pegada no trabalho de bateria.

A segunda faixa em português vem a seguir, “Santa Ignorância”, com uma ótima concepção do refrão – vai ser bem recebida ao vivo, com certeza. Riffs cortantes no início, batera à velocidade da luz. Me remete ao um álbum seminal para o metal brasileiro, “Signo de Taurus” (do Taurus, de 1986). 

Outra excepcional variação das peças da bateria. Ao final o combo batera e baixo sozinhos por alguns instantes oferecem um clima bem banger.

E o álbum fecha com “We're Completly Fucked”, uma bela nominação para uma música thrash. Bases variadas entre licks melódicos e palhetadas certeiras, numa outra pedrada que fecha o disco com a sensação de querermos ouvi-lo novamente.

Não se pode prever até onde “Still We Rise” vai levar o Order of Destruction. Agora será quase impossível alguém negar que a banda atingiu um nível de evolução latente desde o EP “Disobey” (que já mostrava um poder sonoro impactante). 

Não só na técnica dos músicos, mas também em sua capacidade de composição. Aliado a uma produção que mostrou um poder de arranjos de banda pesada veterana, o Order concebeu um grande e contagiante álbum de thrash metal, um dos melhores momentos do estilo nos últimos anos. 

E a banda está ainda no seu primeiro full álbum. Não fugiria do óbvio ao dizer que a banda tem todas as condições de ser abraçada e aplaudida por fãs dos estilos mais pesados no metal no mundo todo.

O Ready to Rock conversou com o guitarrista João Gallo sobre o álbum, a banda e seus planos futuros.

Ready to Rock - “Still We Rise” saiu depois de 5 anos do EP “Disobey”. É nítida a evolução musical de vocês enquanto músicos e compositores. Você, de dentro da banda, como sente essa evolução?

João Gallo -
Sinto como algo natural, não foi algo forçado, mas o fato de sempre estarmos atentos ao nosso próprio trabalho e buscando extrair o melhor da nossa criatividade acabou nos conduzindo à uma maturidade um pouco maior. Desde o EP tivemos muitas experiências como banda e individuais também, o que acabou fortalecendo o coletivo da banda.

RR - O novo álbum tem uma qualidade sonora fantástica. Onde foi gravado, quem produziu e mixou?

JG -
Tudo foi feito no “Gabriel do Vale Estúdio”, em Araraquara. A produção foi feita pela banda e os toques finais vieram do Gabriel, mas ele nos deixou completamente livres para explorarmos tudo o que tínhamos vontade, e isso foi fundamental para a obra. Ele tem um ouvido e uma sensibilidade muito ímpar nesse gênero, caminha a passos largos para ser um grande nome do metal no Brasil, porque a qualidade da mix e master dele estão tranquilamente no padrão gringo, além de ser um baita cara legal e fácil de se lidar, se tornou um amigo.

RR - O elemento “brasilidade” se mostra presente em meio a algumas músicas, como “The Nun” e “This is Brazil”, sem, no entanto, desviar a proposta pesada do thrash da banda. Qual a importância desse elemento para a música do Order?

JG -
Nós nunca quisemos fazer mais do mesmo no metal, e de uns anos pra cá - pelo menos desde 2018 - eu e o Airam nos voltamos muito para a parte cultural do país. Ele é um baita fã de Sepultura, uma banda que sempre olhou com carinho pros elementos do Brasil, e eu passei a pesquisar muito sobre Viola Caipira e elementos do interior do Brasil. Como nosso meio de expressão artístico é a música, seria impossível não colocar esse elemento no “Still We Rise”, estando tão ligados ao tema.

RR- Em “This is Brazil” existe o levante dos elementos musicais da cultura brasileira. A música também foca o lado social do país?

JG -
Sim, a proposta dela é realmente mostrar o contraste que o Brasil tem, por isso a intro é tão particular. A letra tem o intuito de dar ênfase ao quão bom esse país pode ser, e o quanto a gente pode perder por não dar valor a isso. Não existe nenhuma pegada política nela, a questão é 100% cultural. Existem pelo menos uns 4 países diferentes do Norte ao Sul do país, e isso pra gente é magnífico, queremos passar essa mensagem. A gente sempre vai lutar pra enaltecer as coisas boas que temos aqui.

RR - A banda revisita grandes fórmulas do passado glorioso do thrash (em temas como “Wreckage” e “We're Completly Fucked”), mas com uma roupagem moderna. Será sempre a maravilhosa essência da banda, certo?

JG
- Sim! Quanto a isso não há dúvidas, como dito antes, a gente não quer soar como uma banda que faz mais do mesmo. Existem muitas coisas incríveis que podemos usar hoje em dia e que as pessoas classificam como “moderno”, então juntar isso com as inspirações oitentistas que temos é realmente uma virtude que pretendemos carregar sempre.

RR - Pelo que foi informado no evento de audição para imprensa/produtores, a faixa “No Excuses” foi composta em viola. Como foi a transição para a guitarra e qual diferencial nessa forma de compor?

João Gallo / Guilherme - É verdade! A música foi composta 100% na viola caipira, e o Guilherme precisou “sair da caixa” pra trabalhar nela. Foi algo totalmente diferente compor uma linha de guitarra totalmente livre seguindo uma linha de viola, foi um desafio interessante, mas gostamos bastante do resultado.

RR - Renato Montanha, do Maestrick, gravou o baixo no disco. A banda procura algum integrante fixo para este posto?

JG
- Não, o nosso baixista continua sendo o João Lavinas. Existe hoje uma dificuldade momentânea para que ele esteja presente e, por isso a gravação precisou ser feita pelo Montanha, que fez um trabalho simplesmente absurdo. O fato do Lavinas residir no Rio de Janeiro e cuidar de alguns negócios familiares pode sim gerar algumas dificuldades no momento, mas ele continua como baixista da banda, e caso ele não consiga comparecer para shows ao vivo, nós também temos amigos baixistas que cumprem a função com maestria e podem substituí-lo, como João Pedro Castro (Hardwired Metallica tributo), Felipe Fróes (Asylum) e o próprio Renato Montanha (Maestrick).

RR - Como foi a produção do clipe “Still We Rise”?

JG -
A produção foi simples, queríamos algo com pouca cor e em algum lugar fechado. A parte de encontrar o barracão foi de longe a mais complicada, parece fácil, mas é uma tarefa muito difícil. De todos os clipes que fizemos até hoje, os maiores problemas sempre foram relacionados ao local. O clipe foi dirigido, gravado e editado pelo Arthur Nunes, que também é baixista da Fucknation System of a Down tributo. Foi somente o terceiro clipe que ele gravou, e ficamos super confortáveis com ele, é um cara que tem um baita futuro.

RR - O disco será lançamento de forma independente ou existe contatos com algum selo aqui no Brasil?

JG -
O disco será lançado de forma independente, existem alguns contatos se iniciando, mas nada concreto, pode ser que tenhamos novidades no futuro.

RR - Parece haver uma dificuldade em prensar o disco físico, por conta dos prestadores de serviços dessa área. Como a banda pretende resolver esse impasse.

JG -
Realmente existe uma dificuldade em produzir o CD em mídia física, talvez as conversas com selos que nós iniciamos possam ajudar a resolver esse problema, mas no momento o que estamos fazendo é focar em outras vias de merchan, como mais modelos de camisetas por exemplo.

RR - Sabemos que no Brasil, a grande totalidade das bandas de thrash ainda (e talvez sempre) vivenciam o universo do underground. Como você vê a dimensão da cena thrash hoje em dia no país?

JG -
A cena é simplesmente imensa, temos contatos por todo o Brasil, e a qualidade das bandas também é muito impressionante. É um pouco triste o fato de nem sempre as bandas terem a visibilidade que merecem, pois existem bandas muito boas no Brasil, e não só nas capitais. Nós estamos no noroeste paulista, e só nessa micro região já existe um universo incrível de bandas competentes que tem qualidade para figurar no cenário nacional.

RR - “Still We Rise” transita entre as várias épocas do thrash mundial, mas também detém uma marca bem pessoal da banda. Até onde esse diferencial, em sua visão, pode levar a banda?

JG -
Essa pergunta é muito difícil de ser respondida, pois ao mesmo tempo que os nossos sonhos são gigantes, nossos pés também estão bem seguros no chão. Não posso ser hipócrita e dizer que não espero que esse trabalho e esse diferencial não nos levem a lugares mais altos, festivais relevantes e etc… Pois reconheço o esforço que colocamos e achei o resultado muito incrível. Se eu estivesse de fora, conseguiria enxergar o Order junto com bandas como Crypta, John Wayne, etc… São referências pra nós, estão num degrau que desejamos chegar um dia.

RR - O disco, em minha visão, tem todo potencial pra agradar ao público no exterior. Tem alguma estratégia em vista para essa projeção internacional?

JG -
O fato de sermos 100% independentes no momento gera um pouco de dificuldade para levar o álbum ao grande público do exterior, mas temos estratégias de tráfego que pretendemos colocar na prática e assim, mostrar as 9 músicas para o mundo todo.

RR - Quais músicas do novo álbum a banda tem a intenção de executar ao vivo? Talvez o álbum todo?

JG -
Estamos prontos para tocar o álbum todo! Nós estamos ensaiando todas as músicas do álbum pelo menos desde Julho de 2022. É um álbum rápido em termos de duração, são 40 minutos, então é possível tocá-lo ao na íntegra nos shows. É claro que existem alguns desafios logísticos para músicas com instrumentos acústicos, pretendemos tocar os instrumentos sempre ao vivo, mas mesmo que a estrutura não permita esse tipo de coisa, ainda faremos as músicas mesmo que com o recurso do VS para as partes acústicas, estamos prontos para qualquer cenário.

Sem medo dos clichês, Marenna mergulha fundo no hard rock e lança grande álbum

 Sabe aquele álbum que o Bon Jovi está devendo há anos, mas continua empacado? Uma banda brasileira fez o serviço direitinho e completo e foi além. 

Hard rock competente e diversificado, "Voyager" é o novo disco da banda gaúcha Marenna, liderada pelo cantor veterano rodrigo Marenna e que há anos lança um trabalho melhor do que o outro, como uma colaboração extremamente interessante com o guitarrista carioca Alex Meister.

O álbum novo do Marenna é competente até mesmo para replicar os velhos clichês hard de sempre, que remissão direta aos anos 80, mas com um frescor e uma empolgação que, em muitos momentos, chega a ser contagiante.

As músicas são mais pesadas do que o que se convencionou chamar de hard rock oitentista, com arranjos certeiros e um trabalho de guitarras estupendo, que já começa rendendo ótimos frutos na abertura, "Breaking the Chains", talhada para tocar no rádio - como se ainda existissem emissoras de rádio rock que tocassem rock de verdade, e não os mesmos clássicos de sempre.

As guitarras são o motor também de "Out of Line" e "Gotta Be Strong", que completam a trinca matadora de abertura. São músicas simples e boas, bem agradáveis de se ouvir e que surpreendem pela facilidade com que grudam no cérebro.

"Voyager", a faixa-título, tem uma levada típica dos bons tempos do Rainbow, podendo largamente ser direcionada a uma propaganda de TV de automóveis ou esportes, com um refrão forte e bem elaborado. E dá-lhe clichê hard, mas o bom gosto impera. Sem abusar dos agudos em excesso, Rodrigo Marenna se sai muito bem.

Para quem gosta de Whitesnake e Bon Jovi, a autoexplicativa "I Ain't Stranger to Love" cai perfeitamente. É mais cadenciada, com bom trabalho de guitarras bluesy que lembra "Is This Love?" e alguma balada recente cometida por Jon Bon Jovi.

"Perfect Crime" já remete a Motley Crue, perigosa e desafiadora, com refrão que caberia perfeitamente no hard mais acessível de uma banda como a canadense Triumph. E tome mais clichê!

Poison? Também tem, com "We Are United", como seu climão country e um refrão muito bom, que certamente impele o ouvinte, nos shows a cantar a plenos pulmões. Concorre com a faixa-título como a melhor deste trabalho bem executado e bacana de se ouvir.

É um disco bastante honesto e sem receio de críticas por conta da falta de novidades ou de mergulho profundo nos clichês do gênero. Era para soar exatamente como soa, como um autêntico disco de hard rock bem feito.

"Trinta meses depois, o álbum está pronto, sendo que é o nosso melhor trabalho até agora. Não consigo descrever a felicidade de ver o resultado extremamente positivo", declarou o cantor.

 "Voyager" foi gravado à distância, parte em Caxias do Sul e parte em Porto Alegre durante toda a instabilidade do cenário de pandemia entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2022. 

"Acredito que consegui reunir as melhores músicas e trabalhar com o melhor time de profissionais, de forma mais eficiente e viável possível mesmo tudo sendo feito a distância. O resultado superou todas nossas expectativas, que são as melhores para esse lançamento. Motivação pessoal, planejamento, boa comunicação e um relacionamento fluido, livre de egos, deram espaço para o que temos nestas 12 faixas", comentou Marenna.

Equilibrando metal tradicional e contemporâneo, Mercy Shot estreia com grande álbum

Uma escolha bem difícil: um metal tradicional com os pés nos anos 80, com timbragens modernas, ou um metal mais moderno, com afinações mais baixas e um som mais bruto, próximo de bandas mais atuais com mulheres nos vocais?

Para a cantora Karina Menascé, a coisa é bem simples: ficou com o melhor dos dois mundos. Por que escolher se consegue se equilibrar entre as suas duas bandas com coração? E então temos a sua voz marcante e poderosa nas bandas Mercy Shot e Allen Key, que estão com trabalhos novos no mercado.

Pianista e compositora elogiada, Karina está dedicada neste momento à divulgação do ótimo "Brace for Impact!", a estreia em álbum da Mercy Shot. Candidato forte nas listas de melhores do ano de 2022, o disco surpreendo pelo peso das guitarras e pelas boas referências metaleiras dos anos 80.

Com um pique invejável, Karina mostrou versatilidade e desenvoltura em canções bem feitas e com possibilidades mais abrangentes. No metal mais moderno do Allen Key, seus vocais seguem um padrão mais definido, com mais agressividade, mas sem grande amplitude. No Mercy Shot, com outra pegada, parece mais solta, transitando entre canções mais rápidas é melódicas.

A formação da banda ainda tem Flavio Pintinha e Fabrizzio Hanoi (guitarras), Andrews Einech (baixo) e Roger Katt (bateria). Lanado pela Canil Records, o material foi gravado e produzido por Wagner Meirinho no estúdio Orra Meu! (SP) - a mixagem e masterização foram realizadas no estúdio Loud Factory (SP), por Meirinho e Tiago Assolini.

"Brace for Impact!" foi antecipado por alguns singles, começando por "Sink and Thrive", que também ganhou um clipe gravado nas dependências do Museu Histórico da Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, em Guarujá, litoral de São Paulo.

O trabalho de guitarras é o diferencial deste álbum. Há um equilíbrio entre os riffs que remontam ao estilo europeu germanizado, mais reto, de bandas como Accept e Rage, com algo mais intrincado, à la NWOBHM (new wave of british heavy metal). Essa dualidade explode de cara na faixa-título, após a bela introdução.

As melodias fluem fáceis e se tornam bem agradáveis mesmo em temas mais densos e pesados, como em "Sink and Thrive", com seus riffs poderosos, em e "For Nothing in This World", mais cadenciada e com um baixo pulsante e serve quase como uma guitarra base.

"Gift" é um vigoroso hard rock que evidencia a versatilidade da Mercy Shot e da própria cantora, que se deu bem em uma música com padrão mais accessível, digamos assim. Karina se mostra confortável e bem à vontade em meio a riffs bem construídos.

Já em "Massive Heart", a indefectível balada, os arranjos de piano e a o tom dramático dos vocais chamam a atenção para aquela é uma das três melhores canções do disco. a introdução pode erroneamente indicar um metal sinfônico, mas é apenas um recurso criativo para introduzir uma balada épica. Há ecos de Evanescence, mas principalmente de metal tradicional, remetendo a Saxon e Magnum.

Outro destaque são as letras introspectivas e metafóricas, quase sempre de autoria da cantora. "A temática de 'Sink and Thrieve' faz analogia entre o mar sendo a vida, enquanto a capitã da embarcação é a pessoa que declama a poesia da letra. Já o 'monstro' é representado pelas emoções da personagem, que constantemente está tentando 'afundar' a protagonista. Estes elementos estão estampados na capa do single", explicou Karina.

Em outras canções, ela retrata situações do cotidiano, relacionamentos, saúde mental e também nas artes que ilustram tanto as capas dos singles quanto o próprio álbum, que traz um conceito pós-apocalíptico, tema abordado na faixa-título.

O mais recente single e vídeo, após "Sink and Thrive", "Enemy and Ally" e "For Nothing in This World", é "Arise", que integrou o repertório do show de lançamento do disco, ocorrido no último dia 23 de setembro no La Iglesia (SP).

"No caso da faixa 'Arise', escrevi a letra em um momento da minha vida que estava passando por muito medo, bastante frustração e me sentia numa luta constante comigo mesma. Como estava muito triste, quis transmitir isso na letra. É uma música muito forte e é meio como se fosse uma salvação, uma redenção", disse a vocalista.

Outra persona

“The Last Rhino” é o primeiro álbum da banda Allen Key e que foi lançado há um ano. É um hard rock moderno que esbarra no stoner, com nítidas influências de Halestorm e Evanescence, pois evidencia o talento da cantora e pianista Karina Menascé.

Nesta banda ela toca piano com mais constância e coloca sus vocais com mais evidência, em um desfile de canções pesadas com temas soturnos e reflexivos, embora as mensagens passem um certo otimismo e esperança. 

É diferente do que chegou ao mercado no ano passado. Allen Key não teve medo de ousar e enveredar por uma sonoridade mais identificada com um rock que abusa de afinações mais baixas e timbres mais pesados de guitarras quando isso já era dado como algo fora de moda. 

Produzido, mixado e masterizado por Wagner Meirinho no estúdio Loudfactory, na capital paulista, "The Last Rhino" contém oito músicas com peso e melodias versáteis e cativantes, além do vocal potente e de timbre único de Karina.

 As faixas de “The Last Rhino foram compostas em diversos momentos da Allen Key, algumas desde quando apenas Karina e o guitarrista Victor Anselmo na formação. Completam o time Pedro Fornari (guitarra) Felipe Bonomo (bateria) e William Moura (baixo).

A vocalista é quem escreveu todas as músicas. “São a minha realidade. Basta ler as letras da Allen Key para entender um pouco da minha vida. É meu diário”, revela Karina.

Habilidosa, conseguiu bons resultados na faixa-título, que é um dos destaques, onde as guitarras distorcidas criam um clima incômodo e urgente. 

"Love You More é mais sentimental, com uma pegada mais intimista, mas sem largar o peso, enquanto que "Straw House" e "Illusionism" mergulham fundo no heavy mais tradicional com arranjos que reforçam o clima denso e com pegada forte.

"Nossa música tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas tudo com lógica, que dá precisão e pontualidade à composição", afirma a cantora. 

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Banda The Killers fará show em Brasília em novembro

 Do site Roque Reverso

O grupo The Killers anunciou mais uma data para show no Brasil no último bimestre deste ano. A banda norte-americana tocará em Brasília, no dia 14 de novembro, na Arena BRB Mané Garrincha.

Além da badalada atração internacional, o público da capital federal terá como bandas de abertura três nomes brasileiros: o veterano Capital Inicial, os Raimundos e a revelação Jovem Dionísio.

A vinda do The Killers a Brasília acontece dias depois de o grupo se apresentar em São Paulo. No dia 12 de novembro, ao lado do Twenty One Pilots, a banda está escalada como atração principal do festival GPWeek, que ainda terá o Hot Chip, The Band Camino e a banda brasileira Fresno.

Depois do Brasil, a turnê do The Killers seguirá para a Nova Zelândia e Austrália.



Para o show de Brasília, os ingressos começam a ser vendidos a partir do dia 30 de setembro, às 10 horas, no site da Eventim.

Antes, no dia 28, no mesmo horário e no mesmo site, haverá uma pré-venda para clientes BRB.

Os valores da entrada inteira por setor são os seguintes: Pista (R$ 560,00), Pista Vip (R$ 880,00), Cadeira Inferior (R$ 640,00) e Cadeira Superior (R$ 240,00). Há a opção de meia-entrada em todos estes setores mencionados.

A classificação etária é de 14 anos. Pessoas com idade entre 5 anos a 13 anos somente poderão entrar acompanhados dos pais ou responsáveis legais. Não será permitida a entrada de crianças menores de 5 anos no evento.

Roger Waters investe novamente contra os 'porcos fascistas'

 Roger Waters é um artista corajoso, ainda que inconsequente e impulsivo. Tem o grande defeito de achar que esta sempre certo e que é um farol do rock. Entre suas virtudes, está o discernimento para abraçar quase sempre as causas certas pelos motivos certos.

Como artista corajoso, o ex-baixista e vocalista do Pink Floyd não se furta a cutucar líderes mundiais e religiosos antes, durante e depois de turnês. 

É um ardente defensor dos palestinos em sua perpétua e inglória luta contra Israel; é um defensor ferrenho da democracia e da justiça social; propaga ideias bem avançadas de redução da desigualdade social. Por outro lado, apoia e justifica as ações fascistas e autoritárias de países como Rússia e China. 

Surpreendeu o mundo ao tomar partido contra a Ucrânia, culpando esse país por sofrer a invasão da vizinha Rússia. Foi além ao dizer que a China tem razão ao ameaçar e intimidar a ilha independente de Taiwan - considerada uma província rebelde pelos chineses. São dois equívocos monstruosos e inexplicáveis do músico inglês.

É essa figura contraditória e impulsiva que transparece em interessante entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo e publicada nesta quarta-feira na coluna de Monica Bergamo.

Waters desfila seus equívocos, mas acerta grandiosamente ao investir contra o extremista Jair Bolsonaro (PL), candidato á reeleição no Brasil - com grandes chances de ser derrotado já no primeiro turno.

"Bolsonaro é um porco fascista convicto", dispara o músico de forma contundente. "Esperamos que as pessoas tenham aprendido a lição e comecem a aprender que a falsa promessa 'eu sou o homem forte, cuidarei de você', enquanto ferra os outros, não vale nada na realidade."

No caso do Brasil, com uma lucide impressionante, o músico inglês se mostra bastante informado sobre a situação do país e culpou diretamente o governo Bolsonaro pelo desastre na vacinação da covid-19 - são 687 mil mortos desde 2020, atrás somente dos Estados Unidos.

Ciente do descalabro político-administrativo que o atual governo representa, assinou um manifesto internacional que pede a preservação da democracia no Brasil encabeçado pelo escritor e pensador americano Noam Chomsky. Na entrevista, ele vai além: "Manter a democracia significa eleger Luiz Inácio Lula da Silva e levar adiante as ideias e posições encampadas por gente como a vereadora assassinada Marielle Franco".

Roger Waters é uma ave rara em um meio artístico onde músicos expressivos perderam a vergonha de demonstrar ignorância ao criticar vacinas e campanhas de isolamento social por conta de um vírus mortal.

Posiciona-se claramente quando seus pares pensam apenas nos próprios bolsos - são vários os que fizeram shows na África do Sul, na época do odioso apartheid, do regime racista, e que fazem shows em Israel, que a cada ano acirra a opressão contra os palestinos em gaza e na Cisjordânia.

Seus ataques a Bolsonaro são extremamente importantes porque reforça a visão negativa e antidemocrática que predomina no exterior obre o Brasil. E serve de mais pressão para que o nefasto presidente seja apeado do poder.

Entre equívocos gigantescos e acertos estrondosos, que Roger Waters continue servindo de inspiração político-social dentro do rock - mesmo que continue se achando um dos "faróis" da humanidade.

Tim Maia, 80 anos: flertes com o rock foram poucos, mas intensos

Marcelo Moreira e Mauricio Gaia

Tim Maia conheceu a gênese do rock and roll bem de perto. Adolescente, morou nos Estados Unidos no fim dos anos 50 e aprendeu toda a arte da música negra, em todos os sentidos, na Costa Leste. O rock não lhe chamou muito a atenção, mas ficou impregnado em sua alma.

Ele faria 80 anos neste dia 28 de setembro. Muita gente graúda afirma que, tivesse optado pelo rock, teria sido um dos maiores de todos os tempos, principalmente se tivesse permanecido nos Estados Unidos - da mesma forma que muita gente acredita em relação a Elis Regina, a maior de nossas cantoras.

A maior voz masculina do Brasil era um fanático pela música brasileira, a quem emprestou a "alma" (soul music) da música negra americana. Inigualável e talentoso além da conta, intimidava a concorrência e fazia com que qualquer música ficasse "fácil" de cantar e em versões tão definitivas que ninguém se atrevia a interpretá-las depois. 

Trovejante, irascível, generoso, inteligente e fenomenal. Os adjetivos são muitos, assim como a quantidade de presepadas que protagonizou por conta do gênio difícil. Sabia que era bom e utilizava seu prestígio para arrancar o que pudesse para engordar a conta bancária, na hilária prosa de um de seus amigos, o escrito e jornalista Nelson Motta.

Sendo assim, agia como um rockstar quando decidia atrasar a entrada no palco ou, simplesmente, não aparecer. O cacife era grande, mas minguou com o tempo à medida em que as presepadas iam se sucedendo.

Mais versátil e aberto a experiências musicais diferentes com o passa do tempo, pretendia voltar a gravar em inglês quando de sua morte, em 1998, aos 56 anos de idade. Cogitava escolher um repertório que incluía versões de grandes nomes da música negra norte-americana, segundo pessoas próximas, e o rock estava no radar.

Durante a carreira, a soul music sempre esteve presente, cm um acento pop irresistível. Entretanto, teve um rápido flerte com o pop de inspiração menos comercial e accessível e que esbarrou no rock.

Sim, o síndico teve uma fase mística. Tim Maia foi um exemplar cantor pop brasileiro, transitando por vários gêneros musicais com bastante competência. 

Inquieto e extremamente criativo, decidiu dar uma guinada artística por conta de uma mudança radical na sua filosofia de vida, abrindo as portas para a religiosidade. Foi o início de sua vida "racional", 47 anos atrás. 

No final de 1974, Tim Maia estava no auge da sua fama até o momento e acabara de ser contratado pela gravadora RCA Victor para gravar um álbum duplo, um privilégio para poucos artistas naquela época.

De repente, em um "repentino" surto religioso, ele se converte à Cultura Racional, uma obscura seita do subúrbio do Rio de Janeiro.

E então passa a abolir drogas e exageros mundanos e convence toda a sua banda a aderir a viagem rumo ao "Caminho do Bem". As bases já gravadas do disco recebem letras que divulgavam apenas os preceitos da seita e o álbum é lançado em dois volumes de forma independente por um selo criado por ele mesmo, a SEROMA (SEbastião ROdrigues MAia).

Assim começa a história de um dos períodos mais controversos, mas ao mesmo tempo um dos mais criativos de toda a sua carreira. Durou pouco, dois disco e menos de dois anos, mas representou um ponto alto em sua carreira.

terça-feira, 27 de setembro de 2022

saxon lança clipe da música ‘black is the night’

Do site Roque Reverso

O Saxon lançou o clipe da música “Black Is The Night”. A faixa faz parte do mais recente álbum do veterano grupo britânico de heavy metal. “Carpe Diem” chegou oficialmente ao público em fevereiro.
O clipe contou com direção de Ted Lindén.

“Black Is The Night” é uma das boas faixas do álbum, que já teve, por exemplo, as músicas “Remember The Fallen” e “Carpe Diem” com vídeos oficiais liberados pela banda.

O clipe de “Remember The Fallen”, por sinal, trouxe imagens dos membros da banda tocando separados em estúdio intercaladas com cenas que remetem ao surgimento da pandemia e ao que o mundo presenciou na sequência.

Durante a pandemia, o Saxon aproveitou os momentos de isolamento para produzir material inédito ou fazer versões interessantes de grandes clássicos do rock.

Já em 2021, havia lançado o álbum de covers “Inspirations”, que trouxe versões da banda para nomes importantes do rock, como os Rolling Stones, Deep Purple, Led Zeppelin e Motörhead, entre outros.

“Carpe Diem”, por sua vez, é o 23º disco de inéditas da carreira do Saxon.

A produção do disco é de Biff Byford e Andy Sneap, que também foi o responsável pela mixagem e masterização do trabalho.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Andreas Kisser lidera festival em homenagem à mulher Patrícia

 

É como se fosse um ato ecumênico daqueles que reúnem todas as religiões em prol de uma iniciativa elogiável. A dor da perda criou um dos eventos mais inusitados e diversificados do entretenimento nacional.

O Patfest é uma homenagem a Patricia Kisser, mulher do guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, que morreu em razão de um câncer no cólon há dois meses, aos 52 anos. 

Será um grande show na Audio, em São Paulo, no dia 28 de setembro, reunindo alguns dos amigos do casal e que representam parte expressiva da música po brasileira, indo do rock ao sertanejo, da MPB ao samba. Como produtora cultural e empresária, trabalhou com artistas de vários estilos e modalidades de artes.

No elenco estão nomes de artistas amigos da família Kisser e que “estavam sempre nas playlists da Pati”, explicou Andreas Kisser ao apresentar a iniciativa.

Devem participar a cantora Sandy, seu irmão, Junior Lima, a dupla Chitãozinho e Xororó, João Gordo (Ratos de Porão), Céu, Nando Reis, Pitty, Dinho Ouro Preto (Capital Inicial), Esteban Tavares, Beto Bruno (ex-Cachorro Grande), badauí (CPM22), Marcos e Bellutti e muitos outros, 

O dinheiro arrecadado será destinado para a ONG Comunidade Compassiva, que atua em comunidades periféricas no Rio de Janeiro e em Minas Gerais prestando apoio a pessoas doentes em situação de vulnerabilidade e que estão em quadros irreversíveis. 

O valor dos ingressos (acesse aqui) será 100% revertido para a entidade, que foi uma escolha de Andreas. O evento também contará com apresentação do projeto Os Pitais, grupo do qual o guitarrista participa e que leva música a hospitais e instituições beneficentes. 

Em recente entrevista sobre a morte da mulher, Andreas Kisser disse que o festival também tem o papel de romper tabus sobre os temas da morte e do luto: “A gente precisa falar da morte de uma forma mais leve e não ver como uma punição, mas como parte da vida. Entendendo isso, a gente pode ter uma vivência muito mais intensa e significativa. O festival tem a bandeira de trazer essa discussão para a sociedade, ela não deve ficar somente entre médicos”.

Serviço:

Patfest @ Audio, SPData: 28 de setembro (quarta-feira)Horário: a partir das 20hLocal: AudioEndereço: Av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca, São PauloIngressos: https://www.ticket360.com.br/ingressos/25665/ingressos-para-patfest-com-sandy-dinho-ouro-preto-badaui-andreas-kisser-ch-x-e-mais 

domingo, 25 de setembro de 2022

Jazz de Stefano Moliner se destaca em feira roqueira de vinil no ABC

 Nem o vento frio foi capaz de parar o quinteto em pleno parque municipal, que brindou os espectadores om o melhor do jazz ao cair da tarde. Era um corpo estranho em meio a uma festa dedicada ao rock and roll, só que a banda saiu bem maior do que entrou.

Stefano Moliner Quintet continua divulgando o excelente disco "Apotheosis" e "brincou de fazer música da na 2ª Feira do Vinil, que encheu o Parque da Juventude Cittá di Maróstica, no centro de São Brnardo do Campo (SP).

O público ainda chegava para ver as bandas de rockabilly e psychobilly quando o baixista Moliner e seus amigos começaram em ritmo de jam e preencheram o parque com música de extrema qualidade.

Egresso do heavy metal, o veterano baixista se apaixonou por outros gêneros ainda nos anos 90 e não prensou duas vezes em cair de cabeça no jazz, mas sem largar de vez o rock pesado. De vez em quando ainda participa de tributos ou de gigs com amigos pela Grande São Paulo.

"Apotehosis" é o segundo disco instrumental de sua carreira e aborda o jazz de forma moderna, mas dividindo o protagonismo com os companheiros. Seu baixo tem som grande e "gordo", liderando com sabedoria a banda que é impecável.

O curto show de 40 minutos não foi o suficiente para mostrar o que é o seu quinteto, mas serviu de introdução para um novo mundo para muitos jovens ansiosos por celebrar o som dançante dos Kães Vadius e da Irmandade do Blues.

A banda Joe and the Wet Rags teve a difícil missão de suceder o jazz hipnotizante e teve bom resultado. Seu rockabilly encharcado de clássicos do gênero remeteu, é óbvio, a Stray Cats e Brian Setzer Orchestra e ajudou a encher a ampla pista do parque. Nem as crianças conseguiram ficar paradas. Houve clássicos os Beatles rearranjados e uma versão bem gostosa do clássico "Shakin' All Over".

A veterana banda Kães Vadius agradeceu o aquecimento e encheu ainda mais o parque com seu psychobilly cheio de sarcasmo e bom humor. na comemoração dos 37 anos de atividade, aproveitou para celebrar e chamar ao palco três ex-integrantes que participaram da formação original/inicial.

Foi uma grande festa e o melhor show do evento. Com domínio completo do palco e um repertório enxuto com hits, colocou todo mundo pra dançar ao som de "Notícias populares", "Festa do Horror" e "Morcego louco".

Para terminar o evento bacana, um novo ressurgimento da Irmandade do Blues, uma instituição brasileira que andava sumida nos últimos anos, notadamente desde que o guitarrista Edu Gomes saiu.

Outro ás do instrumento, marcos Ottaviano (ex-Blue Jeans) andou colaborando em alguns shows, mas a Irmandade hoje é um trio, com Vasco Faé (guitarra, voz e gaita), Sílvio Alemão (baixo) e Fernando Loia (bateria).

No show deste domingo, o convidado especial foi o cantor e gaitista Marcio Maresia, que mesclaram canções em inglês e português, com destaque para "A Rede", de Maresia, "I Gota Woman" e a maravilhosa versão blues de "Eu Só Quero Um Xodó", de Dominguinhos.

Claro que os duetos/duelos de guitarra e de guitarra/gaita de Faé com Edu Gomes fazem falta, mas a Irmandade do Blues se irou bem como um trio, soando um pouco mais pesada do que o habitual.

Com blues, jazz e rockabilly, a festa/feira do vinil foi um sucesso na tarde fria de 25 de setembro, em um ambiente quase que totalmente apolítico e uma boa escolha de atrações e repertórios. 

O jazz toma conta do Sesc SP em outubro

 Eugenio Martins Júnior - do blog Mannish Blog

Ao longo de três semanas, de 5 a 23 de outubro, o jazz ocupa sete unidades do Sesc SP: Guarulhos, Jundiaí, Piracicaba, Pompeia, Presidente Prudente, Ribeirão Preto e São José dos Campos. É o Sesc Jazz que chega à sua quarta edição, com 20 atrações nacionais e internacionais, atividades formativas e programação online, que exploram a diversidade musical da cena contemporânea ligada à memória afrodiaspórica, a tradição, a vanguarda e o território.

A programação se abre para múltiplas escolas e tradições e suas poéticas sonoras, conectando continentes, por meio de nomes consolidados no cenário artístico internacional, sem renunciar do espaço para artistas de gerações mais recentes.

Referências mundiais como a flautista norte-americana Nicole Mitchells, o pianista congolês Ray Lema, o cornetista Rob Mazurek com sua Exploding Star Orchestra, também da cidade de Chicago, Estados Unidos, coabitam a grade de atrações com artistas jovens como o coletivo londrino Kokoroko, liderado pela trompetista Sheila Maurice-Grey, o pianista sul-africano Nduduzo Makhathini e a cantora, percussionista e multiartista Dobet Gnahoré, da Costa do Marfim.

A presença feminina, aliás, se apresenta de forma bastante contundente nesta edição, que recebe vozes expressivas, como a da cantora peruana Susana Baca e a da brasileira Alaíde Costa, que dividirá o palco com sua conterrânea Ilessi, em um encontro geracional voltado à música negra brasileira das últimas décadas. Além das pianistas Macha Gharibian, armênia radicada na França e Kathrine Windfeld, da Dinamarca.

A tradição da música brasileira também tem grande visibilidade durante as três semanas do Sesc Jazz com projetos significativos, como a retomada do álbum Quarteto Negro, que completa 35 anos em 2022, com três de seus integrantes originais: Zezé Motta, Djalma Correa e Jorge Degas, além do clarinetista Ivan Sacerdote completando a formação, que contava, em sua versão original, com Paulo Moura, falecido em 2010. 

Outro álbum lembrado nesta edição é Lágrima / Sursolide Suite, de Lelo Nazário, lançado há 40 anos. Laércio de Freitas e Airto Moreira, por sua vez, são festejados em vida, por meio de dois espetáculos-homenagem inéditos que se debruçam sobre suas obras e reúnem nomes importantes da cena instrumental brasileira.

Um outro ponto de atenção desta edição são os concertos das Orquestra Afrosinfônica e Orkestra Rumpilezz, ambas da Bahia, em um interessante contraponto aos projetos de Chicago, presentes nesta edição, com propostas estéticas similares de diálogo entre campos musicais distintos. 

A primeira, liderada pelo maestro Ubiratan Marques, apresenta repertório coadunando o conceito de música de concerto às expressões afro-brasileiras tradicionais e contemporâneas. 

A segunda, celebra o legado de seu maestro fundador, Letieres Leite, falecido em 2021, por meio do universo artístico de outro valor da música brasileira: Moacir Santos, que neste espetáculo terá parte do repertório de seu álbum de estreia, "Coisas", revisitado pelo grupo soteropolitano, por meio de seus arranjos singulares.

Atrações:

Andre Christovam (BRA) - Com mais de 30 anos de estrada, seu trabalho artístico propõe a compatibilidade rítmica entre os elementos musicais brasileiros e influências advindas do blues. É autor de dois discos - Mandinga (1988) e Banzo (2002) -, que se tornaram referências e alçaram André Christovam como um dos principais nomes do blues do Brasil.

Dobet Gnahoré (Costa do Marfim) - Dobet é cantora, percussionista, compositora e dançarina. Defensora do Pan-africanismo, a Marfinense canta em várias línguas: bété, fon, baoulé, lingala, malinké, mina, bambara, swahili, xhosa e wolof, evocando as feridas, as riquezas e esperanças do continente africano. Vencedora do Grammy de 2010, apresenta uma mistura de sonoridades pan-africanas, urbanas e tradicionais.

Abajur (FRA/BRA) - é o encontro surpreendente e explosivo entre sons e ritmos brasileiros de Jussara Marçal, Lello Bezerra, Clara Bastos e Maurício Takara e o complexo material criativo da cena europeia dos franceses Nicolas Pointard e Christophe Rocher, do Nautilis Ensemble

Especial Laércio de Freitas Moderno e Eterno (BRA) - Moderno e Eterno é o registro de parte de um legado de Laércio de Freitas, que corria grande risco de se perder. Os shows vão contemplar algumas facetas de um dos mais importantes compositores, pianistas e arranjadores do Brasil, não à toa chamado de gênio por Radamés Gnattali e declarado por Cristovão Bastos como seu ídolo

Exploding Star Orchestra (EUA) - é uma das muitas faces musicais do compositor e cornetista de Chicago Rob Mazurek. Paralelamente ao seu trabalho solo, desenvolveu esse projeto que conecta ensembles de Chicago e de São Paulo, com uma sonoridade mais eletrônica e batidas modernas.

Ilessi e Alaíde Costa (BRA) - Encontro musical entre Ilessi, cantora e compositora carioca, que acolhe diversos modos de manifestação da música brasileira: o tribal, o sofisticado, o experimental, o sentimental, o velho e – preferencialmente – o novo, e Alaíde Costa, também carioca que, com mais de 81 anos de idade e 60 de carreira, é uma das principais cantoras vivas da história da MPB.

Kathrine Windfeld (DIN) - Compositora, arranjadora e pianista dinamarquesa apresenta show com Kathrine Windfield em formato quarteto (Ribeirão Preto) e com sua big band (Pompeia e Jundiaí). Em 2014, Aircraft, seu primeiro álbum com KWBB, lhe rendeu o prêmio de Melhor Nova Artista do Ano, no prestigiado concurso Danish Music Award, em que concorreu ainda nas categorias “Álbum do Ano” e “Melhor Compositora”.

Kokoroko (Reino Unido) - Parte da efervescente cena de jazz inglesa, o coletivo londrino Kokoroko, atualmente formado por Sheila Maurice-Grey, Cassie Kinoshi, Richie Seivwright, Onome Edgeworth, Ayo Salawu, Tobi Adenaike-Johnson, Yohan Kebede e Duane Atherley, apresenta um repertório que destaca a relação entre a música e a cultura africana.

Lelo Nazário (BRA) - Compositor, arranjador, pianista, produtor e diretor musical, apresenta o show Passado Presente: 40 anos de carreira solo, que passeia pelo repertório dos álbuns Lagrima..., Se..., Simples, Africasiamerica e Projeto MI², acompanhado por velhos companheiros que estiveram ao seu lado nestes projetos: Zeca Assumpção, Rodolfo Stroeter, Teco Cardoso e Nenê.

Macha Gharibian (FRA) - Pianista francesa, Macha Gharibian é também cantora, compositora, arranjadora e assina a produção dos seus álbuns. Apresenta em seus trabalhos uma fusão das influências de sua ascendência armênia e vivências em Paris e Nova York.

Mariá Portugal (BRA) - Baterista, cantora, compositora e produtora musical, Mariá Portugal, também conhecida por seu trabalho na banda Quartabê, apresenta show com repertório baseado em seu álbum Erosão, lançado em 2021, primeiro trabalho solo da artista. Partindo da canção, a improvisação acústica e a manipulação eletrônica, o álbum apresenta o cruzamento entre essas três vertentes musicais.

Nduduzo Makhathini (África do Sul) - O pianista sul-africano une em seu trabalho espiritualidade, cultura zulu e as tendências modernas do jazz com grande sensibilidade. Ativo também como educador e pesquisador, Nduduzo equilibra sua expressividade inventiva com as referências de sua ancestralidade.

Nicole Mitchell´s Black Earth Sway (EUA) - Nicole Mitchell é flautista e compositora. Emergiu da cena musical de Chicago dos anos 1990 e é representante da cultura afro-americana experimental. Na banda Black Earth Sway, é acompanhada pelas musicistas Coco Elysses, Alexis Lombre e JoVia Armstrong.

Orquestra Afrosinfônica (BRA) - Liderada pelo maestro Ubiratan Marques, a Orquestra Afrosinfônica apresenta uma amálgama da sonoridade afro-brasileira com a linguagem da música de concerto, explorando a fronteira entre música popular e erudita. O conceito de "afrosinfônico" nasce da elaboração de arranjos orquestrais associados a manifestações identitárias da cultura popular brasileira de matriz africana.

Orquestra Rumpilezz (BRA) - Criada em 2006 pelo maestro Letieres Leite, a Orkestra Rumpilezz tem em sua base a percussão de matriz africana, apresentada com roupagens harmônicas influenciadas pelo jazz moderno. Em formato de big band, o grupo apresenta um repertório que explora o universo percussivo afro baiano em um diálogo musical único.

Quarteto Negro (BRA) - Depois de 35 anos de seu lançamento, o álbum Quarteto Negro é revisitado por três de seus integrantes originais: Zezé Motta na voz, Djalma Correa na percussão e Jorge Degas no baixo. Para substituir Paulo Moura, falecido em 2010, Ivan Sacerdote é o convidado.

Ray Lema Quinteto (Congo) - O pianista e compositor Ray Lema sempre teve interesse em vários estilos musicais, o que o levou a percorrer caminhos que misturam o avant-garde jazz com influências da Europa Oriental, a musicalidade da África Ocidental e as tradições congolesas.

Susana Baca (Peru) - Cantora e pesquisadora da cultura afro-peruana, Susana Baca representa em sua obra um recorte da afrolatinidade. Ganhadora do prêmio Grammy Latino nos anos de 2002 e 2020 e ex-ministra da cultura do Peru, a cantora apresenta tradições afro-americanas que passam por ritmos como a marinera e a cumbia.

Tradição Improvisada (BRA) - O projeto apresenta a improvisação do jazz em contato com a música regional. Nasce do encontro dos músicos Thomas Rohrer, Panda Gianfratti e Maurício Takara com Nelson da Rabeca (In Memoriam) e Dona Benedita, mestres da cultura popular alagoanos.

Tributo a Airto Moreira (Fingers) (BRA) - Sob a batuta de Pichu Borrelli, os músicos Annette Camargo, Libero Dietrich, Lael Medina, Danilo Moura, Manoel Pacífico e Jica Thomé executam na íntegra o álbum Fingers (1973), de Airto Moreira. O show conta com a participação de Filó Machado.

Serviço Sesc Jazz:

De 5 a 23 de outubro de 2022
Programação disponível em: SESCP.ORG.BR/SESCJAZZ e nas redes sociais do @sescsp e unidades participantes


A venda de ingressos, será realizada em ambiente on-line a partir de 21/09, quarta-feira, 12h pelo site e aplicativo Credencial Sesc SP e presencialmente nas bilheterias do Sesc SP a partir do dia 22/09, quinta-feira, 17h, - Limite de 4 (quatro) ingressos por pessoa.


Unidades que realizarão shows do Sesc Jazz 2022:


Sesc Pompeia l Rua Clélia, 93 l (11) 3871-7700
Horário de funcionamento: terça a sábado: 10h às 22h. Domingos e feriados: 10h às 19h.
Horário da bilheteria: terça a domingo: 14h às 19h


Sesc Guarulhos I R. Guilherme Lino dos Santos, 1200 I (11) 2475-5550
Horário de Funcionamento: terça a sexta, das 9h às 21h30; sábado, das 9h às 20h; domingos e feriados, das 9h às 18h.
Horário de bilheteria: terça a sexta: 9h às 21h, sábado: das 9h às 20h. domingos e feriados: 9h às 18h


Sesc Jundiaí I Av. Antônio Frederico Ozanan, 6600 I (11) 4583-4900
Horário de funcionamento: terça a sexta, 9h às 22h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 19h
Horário da bilheteria: terça a sexta, das 9h às 21h30; sábados e domingos, das 10h às 18h30


Sesc Piracicaba I R. Ipiranga, 155 I (19) 3437-9292
Horário de Funcionamento: terça a sexta das 13 às 22h; sábados, domingos e feriados das 9h15 às 18h15
Horário da bilheteria: terça a Sexta: 13h30 às 21h30; sábados, domingos e feriados: 9h30 às 17h45


Sesc Ribeirão Preto I R. Tibiriçá, 50 I (16) 3977-4477
Horário de Funcionamento: terça a sexta, das 13h às 22h; sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 18h30
Horário da bilheteria: terça a sexta, das 13h às 21h30; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h.


Sesc São José dos Campos I Av. Dr. Adhemar de Barros, 999 I (12) 3904-2000
Horário de Funcionamento: terça a sexta, das 7h às 22h; sábados, domingos e feriados: das 10h às 19h.
Horário da bilheteria: de terça a sexta-feira, das h às 21h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30


Sesc Presidente Prudente I R. Alberto Peters, 111 I (18) 3226-0400
Horário de Funcionamento: terça a sexta, das 8h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 9h às 18h.
Horário da bilheteria: terça a sexta, das 8h às 19h30 ; sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h30 .

Red Hot Chili Peppers traz single que faz homenagem a Eddie Van Halen

 Do site Roque Reverso


O Red Hot Chili Peppers trouxe na sexta-feira, 23 de setembro, mais uma amostra de seu novo álbum, o segundo neste ano, que será lançado oficialmente em outubro. A música “Eddie” foi liberada para audição e, como o próprio nome indica, faz homenagem ao lendário guitarrista Eddie Van Halen, que morreu em 2020.

A música é a segunda amostra do álbum “Return of the Dream Canteen”, cuja data oficial de lançamento é o dia 14 de outubro.

Antes de “Eddie”, o Red Hot havia apresentado aos fãs a música “Tippa My Tongue”, que veio acompanhada de um clipe em agosto.

“Às vezes, não percebemos o quão profundamente afetados e conectados estamos com os artistas até o dia em que eles morrem. Eddie Van Halen era único”, escreveu o vocalista do Red Hot, Anthony Kiedis. “No dia seguinte à sua morte Flea entrou no ensaio com uma linha de baixo emocional. John, Chad e eu começamos a tocar juntos e logo com todos os nossos corações, uma música em sua homenagem sem esforço se desdobrou”, acrescentou.



E completou: “Foi bom estar triste e se importar tanto com uma pessoa que tinha dado tanto para nossas vidas.”

“Return of the Dream Canteen” chegará poucos meses depois do disco “Unlimited Love”, que foi lançado em abril e marcou o retorno do guitarrista John Frusciante, integrante da formação clássica do Red Hot.

Ele voltou ao grupo em dezembro de 2019 no lugar do guitarrista Josh Klinghoffer, que havia entrado justamente em seu lugar em 2009.

“Return of the Dream Canteen”, tal qual “Unlimited Love”, conta, na produção, com o mago Rick Rubin, que já trabalhou com o Red Hot em alguns dos álbuns mais importantes da carreira do grupo, como “Blood Sugar Sex Magik” (1991) e “Californication” (1999), entre outros discos lançados pela banda.

O disco que chega em outubro será o 13º álbum do Red Hot e contará com 17 faixas, de maneira idêntica ao anterior.

O primeiro show da banda A Chave do Sol faz 40 anos


O domingo 25 de setembro é uma data importante para o rock nacional: o primeiro show da banda A Chave do Sol, pilar do rock e do hard rock do Brasil, capturando a essência do gênero que se desenvolveu com tudo na segunda metade dos anos 70.

Coube a um músico e ex-integrante da banda relembrar o fato em um texto legal postado nas redes sociais. Luiz Domingues, que além de músico é um blogueiro conceituado, explica tudinho:

Amigos: neste domingo, dia 25 de setembro há uma efeméride importante para A Chave do Sol, banda pela qual eu atuei ao lado de valorosos companheiros e com orgulho, por cinco intensos e inesquecíveis anos.

Foi exatamente no dia 25 de setembro de 1982, um sábado, que a nossa banda realizou o seu primeiro show e daí, convencionamos demarcar como a data de fundação oficial do grupo, embora tenhamos realmente iniciado as atividades por volta de julho do mesmo ano, com os ensaios preliminares.

A banda foi fundada com o firme propósito de exercer a música autoral, mas como também estabelecemos a meta de irmos rápido para os palcos, não houve tempo hábil para criarmos um repertório suficiente para tal no curto prazo e assim, nos primeiros shows, tivemos o suporte de um repertório formado por alguns clássicos do Rock internacional e nacional, oriundo das décadas de 1950, 1960 e 1970, ou seja, a nossa base afetiva de influências.

É importante frisar que o nosso saudoso cofundador, Rubens Gióia, foi o criador do nome da banda, por se tratar de uma idealização que ele teve em sua imaginação desde a sua tenra infância e já por volta de 1968, ele tinha em mente tal denominação. E quando atingiu a adolescência, esboçou esforços para a banda existir concretamente desde 1977, e a partir de 1978, até 1981, aproximadamente, chegou a realizar apresentações sazonais mediante apoio de outros companheiros, a usar tal nome, como o guitarrista Dedé e o baterista Silvio Sisudo entre outros). Todavia, como não houve uma continuidade ordenada e tampouco ficou coletado algum material para registrar tais esforços, consideramos a nossa formação a partir de 1982, como a oficial da fundação da banda, por conta da periodicidade do trabalho, a constituir o compromisso formado mutuamente.

Rubens e eu, Luiz Domingues, iniciamos os trabalhos e logo convidamos o baterista Edmundo Gusso, que chegou a realizar um ensaio conosco, todavia, ele não pode assumir o compromisso e assim, convidamos José Luiz Dinola para fechar o Power-Trio básico que formatou a nossa banda e posteriormente, contamos com cinco vocalistas ao longo da nossa carreira para configurar a formação da nossa banda como um quarteto.

E assim, com esse trio base, logo nos primeiros ensaios nós compusemos em parceria a nossa primeira música, o tema instrumental: "18 horas", que ficou bastante celebrado em nossos shows e esta foi a primeira música própria que apresentamos no primeiro show, ao lado dos clássicos que eu já mencionei.

Convidamos um vocalista que já era uma grande estrela no cenário do Rock brasileiro, há bastante tempo na ocasião, na persona de Percy Weiss. Ele gostou tanto da química que forjamos nessa apresentação que a seguir participou de um segundo show, alguns dias depois, no entanto, apesar dessa empolgação mútua ali gerada, Percy já estava comprometido com outros trabalhos e não pode se fixar em nossa banda como membro oficial, que pena.

Nesse primeiro show em específico, ficamos honrados e empolgados em realizar a nossa estreia em um palco que fora na década de setenta, um dos mais requisitados e badalados de São Paulo, aliás com repercussão nacional. Nos anos 1970, ali funcionara o histórico "Be Bop a Lula", casa que protagonizara shows com os maiores nomes do Rock nacional da ocasião. Infelizmente, nos anos 1980, a casa não tinha mais o mesmo glamour e nem mesmo o mesmo nome, ao se chamar então "Café Teatro Deixa Falar", embora a sua proprietária fosse a mesma pessoa, a simpática e acolhedora Dona Sabine, um senhora francesa, que nos ajudou muito nesses primeiros tempos de vida da nossa banda, haja vista que ali também foi o nosso espaço de ensaios nos primeiros meses de nossas atividades.

É óbvio que o Percy não gostou nada do seu nome ter sido grafado erroneamente na filipeta que foi produzida para divulgar esse primeiro show. Ele chegou a brincar com esse fato em publicação que fez nesta mesma rede Facebook, pouco antes de falecer, infelizmente, em 2015. Através da entrevista concedida ao programa "Vitrola Verde" do valoroso comunicador, Cesar Gavin, Percy Weiss falou com carinho de sua rápida passagem pela nossa banda.

Contamos com um bom público formado por familiares e amigos que nos prestigiaram nesse dia 25 de setembro de 1982, para nos ver desfilar Rocks que todos gostamos e já a nossa primeira música, a instrumental, "18 Horas". Destaco entre tantos amigos queridos que ali estiveram presentes, o poeta Julio Revoredo que já em um curtíssimo período depois, tornar-se-ia um parceiro da banda com seus poemas musicados por nós, além do apoio dele em muitas ações positivas para a banda nos bastidores.

E assim foi, 40 anos se passaram desse primeiro show, que hoje comemoramos. O idealizador-mor desse sonho nos deixou em 2021, mas o seu sonho vive e com ele, a sua memória, certamente. Fico feliz por constatar que A Chave do Sol ainda seja reverenciada pela sua obra e dedicação, nos dias atuais, portanto, Rubens Gióia vive, mais do que nunca.

Em nome do trio-base dessa banda, Rubens Gióia (in memoriam), José Luiz Dinola e eu, Luiz Domingues, além, dos cinco vocalistas que também contribuíram muito com a história da nossa banda, embora com passagens mais curtas na formação (Percy Weiss- in memoriam, Verônica Luhr, Chico Dias, Fran Alves-in memoriam e Beto Cruz), eu agradeço muito o carinho de todos os fãs, amigos, colaboradores e profissionais que nos apoiaram entre 1982 e 1987.

Faço a menção muito honrosa para Ivan Busic, que gentilmente gravou o LP "The Key" quase inteiro, após a saída de José Luiz Dinola em junho de 1987 e chegou a cumprir dois shows conosco, como um convidado, pois apesar de ter marcado presença nas fotos do disco, não foi membro da banda. Fábio Ribeiro também fez um show como convidado e assim cabe registrar e sobretudo esclarecer que a formação da banda "The Key", com dois egressos d'A Chave do Sol (Beto Cruz e eu, Luiz Domingues), acrescidas do Fabio Ribeiro, José Luiz Rapolli e Eduardo Ardanuy (neste caso, cabe a menção para Theo Godinho-in memoriam-, igualmente), apesar de ter surgido das cinzas d'A Chave do Sol se constituiu de uma banda diferente, com a sua trajetória própria e portanto distinta dentro da história.

Aproveito para convidar os admiradores d'A Chave do Sol para visitar o meu Blog 3, no qual eu publiquei o texto completo da minha autobiografia musical e os capítulos concernentes à minha passagem pel'A Chave do Sol, se encontram alojados nos meses de maio, junho e julho de 2015, no arquivo. E no arquivo de 2016, o leitor encontra no mês de dezembro, vasto material (vídeos, fotos, áudios, portfólio e dados) sobre a carreira da nossa banda. E sobre os desdobramentos da história da banda (o lançamento do kit de discos bootlegs em 2020/2021, por exemplo), também podem ser consultados em arquivos posteriores no mesmo arquivo do Blog.

Mais um aviso adicional: recentemente (2022), eu tenho feito esforços para organizar os meus três canais no YouTube e nesse aspecto, já tenho publicado vídeos raros de todas as bandas pelas quais atuei e ainda atuo, portanto, há bastante material raro sobre A Chave do Sol ali presente e ainda mais novidades surgirão.

Violência política chega ao rock e alertam para o perigo iminente nas eleições

 É possível fazer todas as ligações imagináveis entre s eventos de extrema violência política dos últimos dias, culminando em uma briga generalizada entre punks e skinheads na Galeria do Rock, em São Paulo. É o fascismo esperneando diante da iminente derrota, o que coloca (ou deveria colocar) em alerta as forças de segurança do Brasil e todos os que defendem a democracia.

Não foram poucos os relatos de intimidação e ameaças contra pesquisadores de institutos que medem a percepção do eleitor. Funcionários do Datafolha foram agredidos em pelos dois Estados e outros foram perseguidos e impedidos de fazer seu trabalho. Os criminosos eram bolsonaristas.

Recenseadores do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), coletando dados para o Censo 2022, também estão sendo agredidos e hostilizados pela fauna criminosa bolsonarista, desesperada pela iminente derrota do nefasto presidente - queda que pode ocorrer ainda no primeiro turno.

O bolsonarismo está acuado e partindo para a violência na tentativa de invalidar a eleição e de provocar tumulto. São autores de ao menos dois homicídios e de todas as agressões políticas a adversários.

Entre os grupos sectários que infestam as artes brasileiras, as manifestações violentas demoraram, mas ressurgiram em um antigo campo de batalha paulistano, a Galeria do Rock, ponto de encontro de várias tribos e há muitos anos sem registros de confrontos de gangues de marginais.

Na tarde de sexta-feira, 23 de setembro, um grupo de skinheads - tribo sumida há muito tempo - resolveu aparecer no subsolo, território de aficionados do rap e do reggae. Um pequeno gruo de punks antifascistas tomava cerveja em um barzinho e imediatamente foi hostilizado pelos criminosos sectários.

Não eram necessariamente bolsonaristas, mas se irritaram porque o punks se declaravam antifascistas. No  No final das contas, dá no mesmo, pois certamente os skinheads estão longe de qualquer associação com a esquerda e com o PT. Logo, são bolsonaristas, por mais que alguns idiotas queiram negar.

No quebra-quebra da Galeria do Rock, houve mesas quebradas, algumas escoriações e uma pancadaria generalizada, mas pouco produtiva. Sem feridos graves, os dois grupos se dispersaram diante a iminente chegada de forças policiais.

"Essa gente nojenta prometeu bagunçar as eleições, são seres que apoiam o fascismo e a extinção de adversários. Não se de que esgoto ressurgiram", disse um dos punks agredidos.

Enquanto isso, a menos de dois quilômetros dali, a direção da empresa que edita a Folha de S. Paulo e gerencia o Datafolha decidiu reforçar a segurança no entorno da sede e de seus funcionário de campo no dia 2 de outubro, o dia da eleição geral. São os grandes os temores de atos violentos contra jornalistas e apoiadores do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Estimulados pela verve violenta e fascista de um candidato lamentável à beira da derrota, defensores do bolsonarismo continuam investindo contra as instituições democráticas, contra o Judiciário que freia o fascismo criminoso e contra a própria democracia. Estão ainda a perseguir fantasmas, como os comunistas, extintos há mais de 30 anos.

Dentro dos comandos das campanhas de candidatos de extrema-direita se admite que há o desejo de tumultuar o pleito, criando confusão e ataques físicos para tentar destruir a credibilidade das eleições. 

É provável que não tenham sucesso, mas haverá gente machucada e imagens abjetas de brigas promovidas pela escória bolsonarista. Não será simples nos livrar dessa gente odiosa, que nos assombrará ainda por muito tempo depois da derrota.

A briga de gangues na Galeria do Rock, emulando tempos terríveis dos anos 80, é só mais um sintoma da contaminação fascista que vivemos em pleno século XXI. 

Os grupelhos sectários estão ressuscitando e mostram-se dispostos a incomodar. E não são poucos os que começam a associar este tipo de fascismo à música e ao rock. 

Infelizmente a desinformação e o preconceito habitam vários ambientes progressistas que costumam usar de armas políticas típicas da extrema-direita. 

Por sorte, esse tipo de associação não costuma prosperar, mas vivemos tempos tão estranhos que não podemos nos dar ao luxo de permitir que esse lixo fascista contamine nossos ambientes.



quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Smashing Pumpkins lança clipe e anuncia álbum ‘Atum’

Do site Roque Reverso

A banda The Smashing Pumpkins está com novidades nada modestas. Na terça-feira, 20 de setembro, o grupo norte-americano anunciou que seu próximo álbum será nada menos que uma ópera-rock.

“Atum”, cuja capa acompanha este texto, é o nome do disco, que chegará ao público em três atos, entre o fim de 2022 e o primeiro semestre de 2023.

O Ato 1 será lançado em 15 de novembro. O Ato 2 chegará em 31 de janeiro de 2023. O Ato 3 será liberado em 21 de abril de 2023.

No total dos 3 atos, serão 33 músicas, sendo que a primeira delas, “Beguiled”, é a primeira amostra, que já ganhou um clipe.

“Atum”, vai suceder o disco “Cyr”, que foi lançado em 2020. O novo trabalho do grupo está sendo anunciado como um complemento de uma trilogia, iniciada com o álbum clássico “Mellon Collie and the Infinite Sadness”, de 1995, e seguida por “Machina/Machine of God”, disco de 2000.

Os três atos de “Atum” serão disponibilizados com intervalos de 11 semanas. Em cada uma dessas semanas, sai um episódio do podcast “Thirty-Three With William Patrick Corgan”.

Nele, o líder do Smashing Pumpkins, Billy Corgan, vai detalhar cada uma das 33 músicas do projeto.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

banda franco-britânica a void libera clipe da música ‘sick as a dog’

 
 Do site Roque Reverso

A banda franco-britânica A VOID lançou oficialmente no dia 9 de setembro, seu segundo álbum da carreira. No mesmo dia, liberou o clipe da música “Sick As A Dog”.

A direção e a edição do clipe é da vocalista e guitarrista Camille Alexander, que já havia dirigido outros vídeos relacionados ao mesmo álbum.

O disco “Dissociation” foi gravado, mixado e masterizado por Jason Wilson no Stakeout Studios no Reino Unido.

Além de “Sick As A Dog”, outras quatro faixas do álbum já haviam ganhado clipes, todas elas antes do lançamento e algumas mais de um ano antes da data de chegada do disco ao público.

Para quem ainda não conhece o grupo A VOID, o Roque Reverso foi o primeiro veículo de imprensa online brasileiro a trazer informações detalhadas sobre a banda, em maio deste ano.

O som do A VOID lembra muito o do rock alternativo dos Anos 1990 que ganhou uma legião de fãs e que influenciou inúmeras bandas nas décadas seguintes.

Com a formação atual desde 2017, o grupo conta com três integrantes: a já citada Camille Alexander, a baterista e vocal de apoio Marie Niemiec e o baixista Aaron Hartmann.

Camille e Marie são de Paris e Hartmann é de Londres, dando a origem franco-britânica à banda.

A junção necessária e bem-vinda dos três traz Hartmann num baixo nervoso e, ao mesmo com qualidade, Marie com uma bateria com cardápio bastante diversificado e Camille como o ponto explosivo da banda.

Com um rosto angelical e, ao mesmo tempo, de menina sapeca, além de trazer talento vocal, Camille é simplesmente um vulcão.

Quando assistimos ao A VOID, nos clipes ou ao vivo, é impossível não imaginar alguma influência de L7, Breeders, PJ Harvey e Karen O, do Yeah Yeah Yeahs.

O grupo costuma citar Björk, Deftones, Hole e Elton John, entre outros nomes famosos da música, como influência.

O álbum de estreia do grupo é “Awkward and Devastated”, de 2018. Mas há um EP, de 2016, apenas com Camille da formação atual e Robin Dickinson no baixo e Roman Zaborski na bateria.

Em agosto, o A VOID já havia liberado o clipe da música “5102”. Em 2021, algumas das faixas mais impactantes do álbum “Dissociation” também ganharam ótimos clipes.

“Stepping On Snails” e “Newspapers” já deveriam há algum tempo estar bombando entre os amantes do rock ou em alguma rádio que toca o estilo no Brasil. “Sad Events Reoccur” também é interessante e tende a agradar.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

A alma blueseira que sai da guitarra de Filippe Dias



Eugenio Martins Júnior - do blog Mannish Blog

Em abril de 2012 estive no Rio de Janeiro de férias por uma semana e catei um lugar para curtir uns blues na cidade maravilhosa. Fui parar em Laranjeiras, no Bar do B, onde todas as segundas feiras rolava uma jam session chamada Clube do Blues.

Foi o primeiro que tive notícia no Brasil, com o Maurício Sahady e a cozinha etílica, o Cláudio Bedran e o Pedro Strasser (respectivamente baixista e baterista da Blues Etílicos).
 
O Clube do Blues era informal, não tinha carteira de associado, não tinha mensalidade e não tinha nem músicos fixos. Mas o lugar encheu de gente, bebi boas cervejas e saí de lá com uma certeza: “Vou fazer em Santos”.

A ideia era copiar o lance do Rio, lugar pequeno, dia de poucas atrações na cidade e disponibilidade dos músicos. Conversei com o Studio Rock Café (quando a casa ainda era legal) e acertei com os donos as bases para o evento. Só faltava arrumar uma banda.
 
Conheci o Filippe Dias nessa época, por intermédio de um amigo em comum. Vi que o cara gostava de blues e assim montamos uma banda exclusiva para o evento que começou com cinco músicos fixos e todas as terças-feiras

Desde então acompanho a trajetória do Filippe, vendo sua evolução, seja tocando ao ar livre na avenida Paulista, em São Paulo, ou em festivais. Acompanhei o esforço que fez para ficar conhecido no meio blueseiro e de outros estilos.

O primeiro trabalho, o EP "Borderline", que, segundo Filippe, foi fruto de um relacionamento tumultuado, foi lançado em 2016. Nada mais blues. Logo depois gravou o "Live Sessions" com a formação atual do Filippe Dias Trio.

Com o CD "Dias", que acaba de ser lançado com show no Bourbon Street Music Club, em São Paulo, o guitarrista guarujaense cravou suas pegadas na estrada do blues.

O show contou com alguns dos 11 temas de "Dias", como "Don’t Bother Calling", "Don’t You Hear", "Brother Brother", "We went To The Moon", "Singularidade" e "Barquinho". Além de Filippe, o trio é composto por João Lopes (bateria) e Enielse (baixo).

Eugênio Martins Júnior – Como foi a tua infância musical?

Filippe Dias –
Nunca tive músico profissional na família. Quando criança, meu pai estudou em conservatório e tocava piano, mas tinha preguiça do aprendizado. E não gostava que o mandassem estudar. Então, tínhamos um piano em casa e eu cresci com ele tocando. E desde criança a música chamava a minha atenção. Lembro de ficar olhando-o tocar. E até hoje toca as mesmas músicas. O repertório dele nunca evoluiu. Quando ele saía do piano eu sentava e começava a tocar. Tinha ouvido bom e já conseguia achar as notas que ele tocava. Já a minha mãe comprava muito CD. Em casa tinha Beatles, Pink Floyd, muita música brasileira. Tenho um lance emocional com o Clube da Esquina por causa da minha mãe. E um irmão da minha mãe passou um tempo na casa dos meus pais e levou dois violões. Por conta disso o meu irmão começou a fazer aulas, mas também não tinha paciência pra aprender. Ele tocava violão sentado na cama e eu sentava do lado dele e conseguia reproduzir as coisas que ele tocava. Nos meus dez anos, quando os amigos iam em casa, eu chamava para escutar música. Já achava legal. Achava que música era algo pra se fazer. A guitarra eu descobri na casa de um amigo. O irmão dele tinha uma Tagima e quando o vi tocando pela primeira vez fiquei maravilhado. Passei a ir na casa dele não pra jogar bola, mas para inventar um motivo para pegar a guitarra e tocar. No Pedi uma igual de Natal para os meus pais. Tenho ela até hoje, foi o instrumento que eu me desenvolvi. Era 2001.

EM – E quando conheceu o blues?

FD -
A minha mãe encontrou uma escola nas páginas amarelas da lista telefônica, a Escola Simonian de Música, em Santos, e comecei a ter aulas com o professor Fábio Cruz. Ele pediu para eu mostrar o que sabia fazer no instrumento. Eu toquei "I Saw Her Standing There", dos Beatles. É uma música que tem quase a estrutura do blues, com um acorde com sétima que eu sabia fazer. Ele me falou que o blues usava muito esse acorde e perguntou se eu sabia o que era o blues. Diante da minha negativa, ele perguntou se eu gostaria de aprender e foi aí começou. Ele me deu um CD gravado com Roy Buchanan, Eric Clapton e Stevie Ray Vaughan. E nós começamos a tirar aquelas músicas. E ele me mostrou o improviso e quanto era divertido tocar blues, por não ficar preso a uma estrutura. E por isso que eu não sei muita teoria. Ia para a aula para improvisar em cima das bases que ele levava. Fiquei uns três anos e meio na escola. Logo após isso comecei a aprender por conta própria baixando músicas da internet.

EM – E o que o jovem Filippe escutava nessa época?

FD –
Beatles já chamava a minha atenção por causa da sonoridade que as coisas da minha época não tinham. Tinha o pensamento que se a coisa era antiga era boa. Então fazia essa associação. "Dark Side Of The Moon" (Pink Floyd), Clube da Esquina (Milton Nascimento e Lô Borges), etc. E havia uma coletânea que minha mãe havia comprado que era Jimmy Reed, Muddy Waters, John Lee Hooker e BB King. Lembro de escutar e achar aquilo muito curioso. Aquela coisa pura, a carga emocional. Soava muito diferente.

EM – Nessa época o Stevie Ray era deus. Tanto que toda a geração que veio depois foi influenciada por ele. Hoje a gente tem vários clones.

FD –
Sim, lembro que eu ficava na frente do espelho imitando o jeito dele. Todo mundo queria ser o Stevie Ray Vaughan. Mas logo depois eu me distanciei disso.

EM – E começou a tocar quando e onde? Lá no Guarujá mesmo?

FD –
Eu não tinha amigos e nem parentes músicos, ninguém para me colocar na cena. O que aconteceu também foi por acaso. Estava no Orkut e vi alguém anunciando que haveria um session no Café Central (Bar em Santos). Lembrei, foi o Mauro Hector. E era sete da noite e eu peguei o carro da minha mãe e fui lá. Quem estava organizando era o Rodrigo Moreno, do Gaita BS, grupo de gaitistas da Baixada Santista. Então sentei bem lá na frente e surtiu resultado, porque eles me chamaram pra tocar. Depois dessa eu entrei pra turminha ali. Toda a jam session que tinha eles me chamavam. Mas não tinha cachê. Nem pensava nisso, queria tocar. Logo depois, me apresentaram pra o dono de um bar que havia ali na divisa de Santos com São Vicente, o Saloon Rock Bar, o Valtão.

EM – Lembro, era um bar na “fronteira” entre Santos e São Vicente. Perto do Emissário, terra sem lei. (risos)

FD –
Sim. Era bem tosco mesmo, mas era um bar de rock and roll. Ali nós fazíamos um som, o Valtão tocava bateria, mas não era profissional. Eu levei o Serginho, um baixista do Guarujá, para tocar todos os sábados. Tocávamos por cerveja, não me ligava em cachê ainda. Mas foi uma escola pelos seguintes motivos: o Valtão não era um músico exímio, então nós tínhamos de fazer o melhor som que conseguíamos para compensar isso. Então quando íamos tocar sempre havia as mesmas pessoas para escutar. O bar quando estava cheio estava com 15 pessoas. Parecia cena de trash movie.

EM – E o que aconteceu depois dessa fase drink no inferno?

FD –
Não. Fui para São Paulo cursar publicidade. Meu pai sempre teve condição. Tive uma vida privilegiada, ele me deu guitarra e sempre muito mais do que eu precisava. Por isso pude escolher o caminho da música, profissão tão incerta no Brasil. Passei a tocar nas festas da faculdade e em uma delas a galera gostou e veio falar comigo. Foi ali que decidi que era isso que iria fazer da vida. Decidi me formar e me autoproclamei músico.

EM – Ru te conheci nessa época. Foi quando começamos o Clube do Blues de Santos. Eu fui pro Rio de Janeiro ver o Mauricio Sahady, o Cláudio Bedran e o Pedro Strasser e voltei com a ideia.

FD –
O Clube do Blues foi importante. Acho que foi o movimento mais enfático em colocar o blues como uma cena em Santos. Havia o Gaita BS, mas não tinha a mesma ambição e a mesma organização. Era um festão. O Cube do Blues foi o primeiro evento sério que participei como músico profissional.

EM – Mas também enfrentamos alguns problemas...

FD –
O problema é que em Santos se reclama quando não tem esse tipo de evento, mas quando tem não vai. Lembro que tinha dia que lotava e no outro não ia ninguém. Não fazia o menor sentido. Tivemos dias bons e ruins. Mas foi ali que tive a minha primeira banda, a Jam For a Dime. Também foi bom porque tive a oportunidade de tocar com o Giba (Byblos), que era um cara que tinha disco gravado. Assisti ao Igor (Prado), com o Lynwood Slim, a Shirley King.

EM – Desse ponto de partida resolveu voltar para São Paulo, mas agora como músico?
 
FD –
É, trabalhava em uma agência e saí para ser músico. Novamente, não conhecia ninguém. A solução foi tocar em uma jam session arranjada pelo Alexandre Zéqui, que também não era profissional. Era no Gillan’s Inn. Conheci o Chico Suman e ele me convidou para tocar uma música na gig dele. Quando a Suman Brothers terminou, ele me chamou pra tocar com ele em outra banda. Foi quando me inseri de vez na cena de São Paulo.

EM – Você começou a tocar na avenida Paulista também.

FD
– Montei meu trio e parei de tocar com o Chico. Pintou a oportunidade de tocar na Paulista, mas com os Breacos, que era o Fabio Brum (guitarra), o Faísca (baixo) e o AC (bateria). Uma vez o Brum não pode ir e me chamaram. Foi do caralho, minha primeira experiência na Paulista. Um tempo depois montei o trio que está até hoje, com o Enielse (baixo) e o João (bateria). Logo depois disso eu comprei um gerador. Os meninos vestiram a camisa e a coisa decolou. Tocar na Paulista virou parte essencial da minha carreira em termos de publicidade.

EM – Daí você partiu para a gravação do "Borderline", teu primeiro EP.

FD –
É a primeira vez que vou contar essa história. O Chico Sumam tinha uma amiga que era uma aspirante a escritora. E ela queria que alguém musicasse suas letras. O Chico me passou a bola e como não tinha nada pra fazer no momento, peguei uma das letras e fiz algumas adaptações, inclusive na melodia. Tive de mexer porque não eram boas. Enviei o resultado e ela ficou emocionada com o aquilo e em pouco tempo estávamos namorando. Mas era uma pessoa muito narcisista, dizia que tinha contatos, que ia nos colocar no David Letterman, etc.

EM – É sério isso?

FD –
Sim, disse que conhecia o cara que “fechava” as atrações do programa. Bom, eu estava com as músicas e consegui o telefone do Igor (Prado), achando que poderia produzir o disco, mas ele me indicou o Amleto Barboni. Entrei em contato e enviei as demos. Ele topou fazer. O certo era dividir os custos, mas como era eu que tinha a perspectiva de ser músico, acabei bancando as gravações sozinhos. Uma de muitas idiotices que fiz. Apesar de todo o meu trabalho, quando o relacionamento acabou, as músicas viraram dela, entende? Mas acordamos que ambos poderiam usar as músicas. Como eu havia bancado os fonogramas, eles eram meus, mas as músicas os dois poderiam usar da forma que quisessem. Beleza. Só que semanas depois ela me ligou dizendo que havia registrado as músicas em uma editora e mandou eu me virar. Tive de entrar em contato com a editora, uma das piores experiências da minha vida, parecia que estava entrando em um covil de ladrões, mas contei a minha história e o dono viu que se fossemos parar na Justiça com aquilo iria ser ruim pra ele. No fim, o disco foi bem recebido, recebeu elogios de artistas, entre eles o Vasco Faé.

EM – Qual é o espaço que o blues, uma música com mais de cem anos e que não é nossa tem no Brasil?
 
FD –
Deveria haver mais espaço. Por que a riqueza musical desses sons... é como entrar em um museu e ver uma pintura que foi feita há duzentos anos e poder voltar no tempo com aquela obra de arte. Ninguém toca, porque é uma linguagem muito especializada, pura, primitiva, que tem de que tocar até meio errado pra parecer legal. Trazer a limitação como recurso estilístico. É uma crítica que eu tenho aos festivais de blues aqui no Brasil. Não tem espaço para o Delta Blues. Vi que era difícil e comecei a tocar isso para poder ser o melhor entre todos. Sabe como é garoto. Então comecei a fazer downloads de Mississippi John Hurt, Skip James, Blind Blake, que é uma bizarrice. Uma vez estava tocando no Saloon e tinha um cara chamado Kadu Abecassis, na época ele tocava com a Malu Magalhães, na plateia. No fim ele veio perguntar a minha idade e me convidou para tomar uma cerveja ali no Emissário. Ele acendeu um baseado e deu o violão na minha mão. Eu toquei um blues e devolvi para ele. Aí ele começou a tocar um blues que ele gostava ali na minha frente usando o finger stile, aquela sonoridade velha. Aquilo me provocou. Na época me senti intimidado, mas por causa do Kadu mergulhei de cabeça nessa sonoridade do Delta. Por acaso o encontrei um tempo depois em um show seu, na Praça dos Andradas, aqui em Santos, ele e o Peter Hassell, com quem fazia dupla Mustard and Custard.

EM – O teu disco mais recente, o Dias, levou um bom tempo pra ser produzido. Você começou antes da pandemia. Percebi um salto entre os dois trabalhos. Gostaria contasse a história desse disco.

FD
– É o momento mais importante da minha trajetória. O Borderline foi lançado em 2016. Depois disso continuei amigo do Amleto Barboni, que considero um mestre na produção. Ficamos muito próximos. Então, após o lançamento do "Borderline" não queria mais parceria com ninguém. Fiquei compondo em casa, um processo doloroso. Há dois caminhos, compor igual àquilo que você gosta e a sonoridade vai te agradar. Ou você tenta fazer algo com a tua cara. O que não é fácil porque muita coisa já foi feita. Ainda mais sendo eu um cara do blues. Queria me distanciar do que os caras fazem. Por que é o que todo mundo faz aqui no Brasil. Estudei todos os discos do Igor, acho-os maravilhosos, mas não trazem nada de novo para mim, o Filippe Artista. Se eu fosse por esse caminho seria mais um guitarrista de blues, mas como artista não é o que eu busco. Então coloquei todos os elementos que eu gosto e comecei a escrever algo com a minha cara. Então compus muito em casa. Nasceu "Don’t Bother Calling", que é um blues mais moderno. Tem um apelo para a molecada. Quero agradar quem gosta de blues e quem não conhece tanto. Ao mesmo tempo o Amleto abriu uma escola de blues lá no Mosh (estúdio em São Paulo) e me perguntou se eu não queria gravar uma música. A gente ensinava o processo de gravação para os alunos e eu ficaria com os fonogramas. Todas as músicas que compus foram sobre experiências pessoais. A primeira música era sobre ruptura, a segunda já era a partir desse ponto. E assim foi. Defini que o disco teria esse conceito temporal. De coisas que acontecem em sequência. Foi muito automático, quando vi tinha doze músicas.

EM - Gravar um disco com 11 músicas é um processo longo, imagino que houve um desgaste. Quero dizer, chega uma hora que você não aguenta mais lidar com aquilo e quer lançar logo.
 
FD -
Consegui um preço legal e decidimos fazer no Mosh, o maior estúdio da América Latina. Gravamos de forma analógica, na fita magnética. Começamos em dezembro de 2019, mas quando chegou em fevereiro de 2020 começaram os rumores de pandemia. Quando acabei de gravar os pianos fechou tudo. Mas ninguém pensou que seria tão grave e a gente só retomou os trabalhos em janeiro de 2022. Já havíamos gravado 60% e, para mim, todas as músicas já estavam prontas. Mas nesse tempo que fiquei parado mudei todo o final do disco. Não tive depressão, mas fiquei muito mal. Espero nunca mais passar por isso. E todo isso que senti coloquei no disco, as duas músicas finais coloquei orquestra. Achava que fazia sentido. Usei uma orquestra de 32 músicos. Gastei R$ 23 mil do meu bolso.

EM - Gastou quatro anos da tua vida, R$ 23 mil e compensou? Vale a pena no Brasil de hoje?
 
FD –
Vou ser sincero, esse investimento talvez nunca volte. Não através do disco. Como produto que vai te gerar um lucro financeiro, definitivamente não. Mas a certeza que eu tenho é que vai ficar. Não prevejo o futuro e não quero ser pretensioso, mas é um trabalho que se as pessoas escutarem daqui a dez, vinte anos, acharão um bom disco. Uma boa história contada através da música. Citei o Igor porque admiro o trabalho dele e acho que é outro que vai resistir ao tempo. 

EM – Hoje é difícil você ver alguém falando em disco conceitual. Pouca gente está disposta a fazer isso hoje. A moda é EP.

FD –
Meus discos favoritos são discos conceituais. "Pet Sounds", "Sgt. Pepper's", enfim... Sempre quis fazer pelo menos um disco desses na minha vida. Nem que fosse um grande investimento de dinheiro, de dedicação e criatividade.

EM – É, a gente vive procurando um sentido pra vida, mas para mim aproveitar o tempo que você tem por aqui é o mais importante. Se você fizer muitas coisas e coisas boas esse tempo vai passar devagar. Você vai saborear cada momento. Se você ficar parado esse tempo vai escorrer pelas tuas mãos e quando você perceber já está perto da morte e não realizou nada. A pandemia deixou isso bem claro. Refleti muito. Fiz toda essa introdução para entrar em um assunto capcioso. Como você vê a posição dos blueseiros brasileiros com relação à política e a situação pela qual o Brasil está passando? Quero dizer, o blues nasceu como música de protesto e a soul music nos anos 60 foi a trilha sonora dos movimentos de direitos civis, pelo menos nos Estados Unidos. E hoje o Brasil tem músico que apoia esse Estado protofascista, e é a favor desse descalabro que está acontecendo no país, inclusive na cultura. E se não é a favor do governo, é omisso em denunciar ou se posicionar.
 
FD –
Acho que dá até para expandir um pouco. Estamos falando de blues, obviamente, mas os grandes músicos brasileiros são omissos. Curiosamente, quem está se posicionando é a Anitta. Uma mulher, que veio da perifa e está lá com a atitude que os roqueiros não tem. E com muita coragem. Já começa que o cara que toca blues aqui no Brasil é individualista. Não há união. Há muito canibalismo. E individualismo é o que há no governo hoje. As pessoas não pensam no coletivo, no social, no bem de todos.

EM – Só por isso? Não por ser a maioria de homens brancos que não sofreu uma fração do que grande parte da população sofre hoje?

FD –
Também. A gente vem da classe média. E a gente tem de saber de onde vem as coisas que a gente está cantando. Que dor que a gente está cantando?

EM – E nem digo falar sobre a sua dor individual. Mas quando você se cobre a noite na cama não pensa nas pessoas que estão passando frio ali debaixo da tua janela? Um artista tem o poder de falar sobre isso.

FD –
Um questionamento que eu levanto é que se o artista de blues fosse menos reprodutor e mais criativo a gente não teria mais margem para essas abordagens? Inerente a isso que estamos vivendo hoje. Música sobre plantação de algodão não tem nada a ver com a gente. Esse incomodo me fez tentar compor algo diferente. Quem é mais blueseiro, o cara que grava um disco e reproduz o som de Chicago igualzinho ou o Cartola?