terça-feira, 29 de novembro de 2022

Revigorado, Hypocrisy traz a sua usina sonora para o Brasil

Por algum tempo os nomes Hypocrisy e Peter Tägtgren foram sinônimos de heavy metal na Europa em uma vertente mais extrema. Era obrigatório citar as duas "instituições" escandinavas em qualquer análise contextual do cenário europeu no final dos anos 90 e começo deste século.

O mundo mudou bastante e chegamos a 2022 com guerra e uma pandemia mortal que resiste por mais de dois anos, mas a relevância do Hypocrisy ainda é total. 

"Worship", o novo disco de inéditas, o 13º de uma carreira de 30 anos, reforça a importância estética e musical de uma banda que se recusa a mergulhar na hipocrisia, como como costuma ironizar o seu líder.

Produtor e multi-instrumentista, o sueco Peter Tägtgren fica mais à vontade tocando guitarra, principalmente quando acha os timbres estranhos e reveladores no estúdio para empurrar a sua banda para o abismo.

São muitos e muitos os músicos que tentam decifrar as técnicas do sueco para ao menos resvalar na possibilidade de emular a usina sonora que é o Hypocrisy. O volume de som é intenso dentro de um espectro de criatividade que espanta.

a banda se junta ao Samael para encarar uma turnê latino-americana em dezembro com show único no Brasil - na Audio, em São Paulo, no dia 11 de dezembro. É a volta á cidade depois de dez anos.

"A música é primordial e fundamental, como a pandemia mostrou a todos nós. Estar de volta aos palcos é algo revigorante", disse Tägtgren em entrevista coletiva a jornalistas brasileiros.

Cauteloso e prudente mas, acima de tudo, consciente, o músico sueco tem a noção de que o mundo mudou, mas que o perigo anda ronda a nossa saúde. "Claro que ainda é uma incógnita a respeito dessas novas variantes da covid-19, e por isso é fundamental ter cuidado. Estou vacinado e tomo muito cuidado n o dia a dia e na estrada, evitando aglomerações e muito contato com as pessoas em vários lugares."

"Worship" é trabalho importante dentro da discografia da banda porque houve um equilíbrio entre uma sonoridade mais antiga com timbres mais modernos, especialmente nos riffs que formam as bases de guitarra. Tudo é denso, pesado e quase claustrofóbico, como a faixa-título sugere logo na abertura do álbum.

"Chemical Whore", outra canção emblemática, é um delicioso retorno ao passado, com ambientações tenebrosas e arranjos que demonstram que o Hypocrisy est conectado com o passado e com o futuro. E é fantástico que os riffs trovejantes ganhem mais protagonismo em "Worship".

"O processo de composição não teve muitas mudanças, é quase que o mesmo. Os riffs acabam saindo quase que de forma natural", diz Tägtgren, um emérito construtor de estruturas poderosas e linhas de guitarras memoráveis - como em "Greedy Bastards", em que há sobreposição de sonoridades que surpreendem até os fãs mais aguerridos.

"Dead World" é outro destaque pelo peso e pela pancadaria, mas também pela coautoria com do guitarrista e vocalista com filho Sebastian. "Fizemos a canção antes da pandemia, ele veio com o principal, me mostrou e coloquei a letra. O resultado me agradou bastante."

São 30 anos de história com 12 álbuns e o reconhecimento de que o Hypocrisy tem responsabilidade direta pela sonoridade que o metal extremo europeu adquiriu nests três décadas.

Sua discografia desde a estreia com "Penetralia" até o recente "Worship", passando por álbuns como "The Fourth Dimension", "Abducted" e "Virus", é uma jornada do metal que expande horizontes e explora novos "planetas", digamos assim.

Hoje, além de Peter, a banda é formada por Mikael Hedlund (baixo), que se juntou ao Hypocrisy em 1991. O guitarrista Thomas Elofsson é membro desde 2013. Em 2022, a banda foi acompanhada pelo baterista Henrik Axelsson, que possivelmente estará na turnê sul-americana.
 

SERVIÇO 


Data: 11 de dezembro 2022 (domingo)

Show principal: Samael, Hypocrisy 

Local: Audio 

Endereço: Av. Francisco Matarazzo, 694 – Água Branca – SP

Abertura da casa: 17h

Classificação: 18 anos (menores acompanhados dos pais ou responsável)

Acesso para deficientes: sim

Área PNE: sim

Local para alimentação: sim

Wifi: sim

Onde comprar: https://www.ticket360.com.br/evento/25951/ingressos-para-samael-e-hipocrisy-worship-tour-2022

 

Funcionamento bilheteria Audio: Segunda a sábado das 13h às 20h (exceto feriados) – sem taxa

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

O blues com força nas vozes delas: Diane and The Deductibles, West River, Rory Block...

 

 

- Som despretensioso, curioso e muito agradável. Diane Adams acertou de novo ao lançar uma coleção de canções fortes e pesadas, mas sem avançar o sinal - ou seja, é pesado, mas nem tanto, sendo acessível na medida certa.

Diane & The Deductibles é uma tííca banda de hard rock do Mei Oeste norte-americano, que absorve influências diversas e evita cravar uma sonoridade única. Passeia pelo hard californiano, mas festivo, incorpora o suingue texano e o som mais áspero da Costa Leste.

Foi assim no bom álbum "Two" e ficou ainda melhor no recente "Three Feet Six Apart". Está um pouco mais pesado, só que o blues também aparece com mais frequência e o resultado é bem interessante.

A banda é recente, mas os músicos são veteranos e muito experentes. A formação tem  Diane Adams (vocais e guitarra, ex-Studio Singer), Cliff Rehrig (baixo, ex-Air Supply), Robert Sarzo (guitarra, ex-Hurricane), Keith Lynch (guitarra, ex-colaborador de Bill Ward, baterista do Black Sabbath) e Ronnie Ciago (bateria, ex-Riverdogs).

Como tudo na banda é equilibrado, os vocais de Diane se destacam pelo comedimento. nada de excessos e nem de virtuosismo. A ideia é que ressaltar a qualidade das boas canções e acentuar o tom bluesy do do grupo. seu timbre vocal lembra em alguns momentos Natalie Merchant (ex-10.Maniacs) e Beth Hart.

Curiosamente, a abertura do disco, com "Let's Live", remete aos bons momentos do Whitesnake dos anos 70, com seus riffs bacanas de guitarra e vozes dobradas. 

"Say What You Mean" traz a banda de volta ao cenário ianque com um groove característico do hard americano. É onde Diane se sai melhor com uma variação de tipos vocais que são cehios de referências.

Não é um disco dedicado a hits, mas se tem um que se encaixa no conceito é "Hold On", uma canção pop na medida certa sem perder a pegada roqueira. Os arranjos de guitarra tornam o ambiente bastante agradável a ponto de lembrarmos aqui de Stevie Nicks e os melhores momentos do Fleetwood Mac dos anos 70.

"Darkness" e '"Never Say Goodbye" são outros estaques do álbum. As guitarras dominam, mas Diane Adams consegue imprimir o acento pop mais acessível e torná-las cativantes sem descambar diretamente para o pop. 

Vale uma menção a "Next Breath", talvez a mais acelerada e roqueira, e aqui há nítida influência do cantor americano Bob Seger. É rock dos bons e muito bem feito.

- Rory Block é uma guitarrista de blues de raiz, da mesma estirpe de Bonnie Raitt e Susan Tedeschi. Toca muito, mas nunca superou aquilo que se pode chamar de timidez artística, que ela mesma chama de discrição necessária para tocar a vida. Toca blues e adora ocar por aí, mas sem que a fama "atrapalhe" a sua vida.

É uma opção, mas devemos lamentar, de certa forma, que trabalhos de qualidade lançados em mais de três décadas tenham um alcance penas nacional nos Estados Unidos, quando ela deveria ser ovacionada em todo p mundo.

"Ain't Nobody Worried - Celebrate Great Women Songs" é o novo disco recheado de grandes canções passenado pelo blues, pela folk music e pela country music, em canções próprias e versões bem arranjadas. E dá-lhe violão com bottleck deslizando pelas cordas (tubinho de vidro ou de aço, no dedo mindinho da mão que digita no braço do instrumento).

O clássico "I'll Take You There" de Mavis Staples e The Staples Singers, por exemplo, ganhou uma versão notável, que rejuvenesceu a canção, que é um clássico soul dos anos 60. 

As homenagens às divas negras dos anos 60 permeiam todo o álbum, em arranjos semiacústicos de raro bom gosto. Gladys Knight ressurge em todo o seu esplendor em uma versão deliciosa para "Midnight Train to Georgia", com uma sensibilidade extraordinária.

O conceito do álbum é realmente de homenagem, sem conotações feministas ou de qualquer tentativa de empoderamento feminino - e não haveria problema se houvesse. É que a leveza das execuções das músicas nos leva a outro direcionamento. É para celebrar, como na ensolarada versão de "My Guy", de Mary Wells: violão econômico e seu firulas, deixando que a doce voz de Rory Block conduza a melodia.

A ótima Tracy Chapman é exaltada em seu maior clássico, "Fast Car", em uma versão muito reverente e próxima à original. 

A mesma coisa ocorre com outro clássico mundial, "You've got a Friend", da imensa Carole King, mas a situação muda em "Dancing in the Street", de Martha and the Vandellas, que ganha uma versão mais quente, ainda que reforce um climinha de ingenuidade sessentista. Ficou muito bom.

Como um álbum de versões é muito interessante por se tratar de uma artista versátil ae muito talentosa
que não se limitou apenas ao básico e tradicional. São quase 40 anos de carreira que fizeram uma diferença enorme na gravação e na escolha do repertório.

- Até que demorou um pouco, mas surgiu um filhote da banda sueca Blues Pills. Abusando de uma guitarra pesada e bluesy, a banda West River traça uma linha definitiva de resgate do som dos anos 70 misturado com alguns timbres mas modernos.


A ideia dessa improvável banda de Belarus era mergulhar no blues em "A Taste of Blues", mas as guitarras lancinantes falaram mais forte e o grupo desbravou o hard rock com competência.


A associação com o Blues Pills é imediata, já que a semelhança é inegável em canções pesadas como "Memories" e "My Dear", com as guitarras lá em cima e na frente.


"Big Wave Regret"  e "Bank of Ideas" trazem um peso adicional a canções sem grandes arroubos de inovação, mas atestam que houve pesquisa e muito ensaio. Uma banda do Leste Europeu que soa quase como uma banda britânica? Quase...


No mais, são canções genéricas e sem novidades além de uma genuína vontade de emular o que de melhor se fez no blues rock setentista, como em "No Matter" e "My Eyes". O encerramento com "Please, Don't Cry", destoa um pouco por quase descambar em um blues rock meio brega e sem um pingo de criatividade.

 


 

  

Hard rock tipo exportação: BJ e seu Spektra preparam o salto internacional definitivo

 BJ era um garoto como tantos outros que ouviam e amavam o Mr. Big, um do nomes maiores do hard rock dos no 90 e que sobreviveu a duras penas, ao rolo compressor do grunge. 

Para o garoto, era o som perfeito e o mais cativante que existia. Quase 30 anos depois, ele divide o palco como vocalista do Mr. Big, o ótimo Eric Martin, que o procura sempre como o "diretor musical" da banda no palco.

Foi assim neste ano, quando o cantor americano fez uma rápida turnê pelo estado de São Paulo ao lado de Jeff Scott Soto e a banda paulistana Spektra. Tocando guitarra, teclados e fazendo os vocais adicionais, BJ era o verdadeiro comandante da festa.

O talentoso multi-instrumentista desfruta de um dos melhores momentos da longa carreira ao participar de vários projetos que incluem duas bandas com o cantor americano Jeff Scott Soto (S.O.T.O. e JSS Band) e a banda Spektra, de hard rock puro, que arregimentou para um projeto vinculado à gravadora italiana Frontiers.

Deu t]ao certo que ganhou carta branca para tocar a banda da forma como achasse melhor. Portanto, dá para dizer que agora é um projeto "seu"?

"Não tenho como conter a empolgação em relação ao Spektra. Tive autonomia para me cercar de músicos da minha confiança e de comandar quase todos os processos. Estamos no processo de confecção e gravação do segundo disco e percebo que o material será ainda melhor", diz o músico em entrevista ao Combate Rock.

Prestigiando os amigos da banda sinistra, que lançavam o seu primeiro disco na zona leste de São Paulo, sente-se um privilegiado ao participar do que ele considera um renascimento artístico após o período mais turbulento da pandemia de covid-19.

É um momento em que a retomada de shows e de movimentos de gravação de novos trabalhos  amplia as perspectivas de novas oportunidades. Da mesma forma que não esconde a empolgação com o Spektra, não contém o otimismo com o futuro próximo.

"Depois dos tempos difíceis que passamos devemos comemorar o momento. Muitas bandas brasileiras boas estão tocando, gravando e lançando. Bandas brasileiras estão indo ao exterior e outras estrangeiras tocam semanalmente aqui. Estou orgulhoso de fazer parte disso", explica BJ.

Em meio aos trabalhos com o Spektra para o segundo disco, o músico brasileiro se prepara para uma temporada de fim de ano na Europa com amigos suíços e mais um projeto musical em que revisita a sua carreira.

BJ irradia otimismo e esperança em tempos de renascimento em todos os sentidos para a cultura brasileira. Trabalhando há mais de 15 anos com o amigo Jeff Scott Soto, é um dos profissionais maia capacitados do rock brasileiro em todos os sentidos. 

Com sua larga experiência, é uma fonte primordial de informação sobre todos os aspectos do mercado, o que torna o seu nome um dos mais requisitados em várias áreas. Bem relacionado, é simplesmente impossível encontrar algum que fale mal dele. Deve existir, com certeza, mas não conseguimos achar nos últimos anos...

Veterano do rock brasileiro e da noite paulistana, tocou na banda Tempestt para depois decolar e se tornar um dos mais preciosos colaboradores de Soto, seja como tecladista ou como guitarrista-violonista, além dos vocais de apoio.

A banda Spektra reúne um time de músicos experientes e excelentes. Com um contrato internacional com a Frontierslançou o CD “Overload”, uma boa coleção de hard rock e rock clássico. A formação da Spektra conta com BJ (vocal), Leo Mancini (guitarras), Edu Cominato (bateria) e Henrique Canale (baixo).

“Tenho contato com a Frontiers Records desde quando comecei a trabalhar com o Jeff Scott Soto. Eles sempre quiseram um trabalho autoral meu e deram total liberdade para a escolha dos músicos que formariam a banda. Só escolhi amigos e músicos competentes demais, que me conhecem perfeitamente”, disse BJ.
 
“Overload”, a canção, reúne todas as qualidades que fizeram o hard rock explodir a partir dos anos 80. Com influências diretas de Talisman, Jeff Scott Soto (que faz os vocais de apoio) e Gotthard, é um tremendo rock de arena, grandioso e com ótimo refrão, assim como as guitarras de Mancini.

“Just Because” vai pelo mesmo caminho, mas abusa um pouco mais do tom épico, à la Europe, em que as vozes dobradas e cheias conferem um aspecto mais clássico à canção. De novo os vocais de BJ são magistrais, mostrando versatilidade e muita variação.

Com o devido padrão de qualidade das produções da Frontiers, o disco oferece um hard rock de linha europeia, mas com um groove bem característico do rock nacional tipo exportação.

O produtor é o italiano Alessandro Del Vecchio, também responsável pela maioria dos teclados, só que é perceptível o dedo de BJ em algumas passagens, como na agressiva “Running Out of Time”, que é rápida, concisa e reta, mas com linhas de guitarra contagiantes.

Há outras canções bem interessantes, como “Forsaken” e “Back into Light”, que trazem um hard mais trabalhado, com as guitarras comandando e oferecendo um tipo de música datado, ams extremamente coerente com o trabalho em questão.

O Spektra é uma das novidades mais bacanas de 2021 e ultrapassou a alcunha de banda promissora. Já é uma grande realidade para o rock nacional.

A estreia da banda Sinistra traz o melhor heavy metal em português

 Supergrupos costumam gerar mais decepções do que grandes esperanças, seja por conta dos resultados aquém do esperado, seja pelo fato de que as expectativas sempre são as maiores possível e, frequentemente inatingíveis. No rock nacional, costumam não passar de reuniões de amigos para a finalidade diversão.

Quando começaram os rumores de que o Sinistra estava se formando, havia muito mais dúvidas do que certezas, mesmo porque o projeto demorou se consolidar por uma série de fatores, entre eles a pandemia de covid-19. "O Sinistra é uma realidade e é o meu projeto para o futuro", disse ao Combate Rock o guitarrista Edu Ardanuy (ex-Dr. Sin) logo que se reuniu como vocalista Nando Fernandes (ex-Hangar).

Foram apenas dois singles ótimos nos últimos dois anos e meio e muita gente desconfiava: será que a qualidade ótima de "Quem é Você?" e "Viver" não seria o suficiente para manter o projeto?

A espera valeu a pena, e o supergrupo Sinistra mostrou não só que era um empreendimento sério como destinado a se tornar um marco no rock pesado brasileiro.

O lançamento do álbum autointitulado em um evento na zona leste de São Paulo foi uma celebração do rock nacional e uma declaração de intenções para cravar definitivamente que é possível fazer rock muito pesado em português, reforçando o aminho trilhado por Golpe de Estado, Baranga e Carro Bomba.

E o espaço Tiarlinda estremeceu na audição das dez músicas que compõem o álbum de estreia. É um disco pesado, denso e sinistro, como gosta de definir Fernandes, um cantor com voz poderosa e longa, daquelas que preenchem todo o ambiente, da mesma forma que o baixo estrondoso de Luís Mariutti (Shaman, ex-Angra).

Com o baterista Rafael Rosa completando a equipe, a banda Sinistra inaugura uma promissora etapa para o rock pesado em português. "Eu venho de uma outra praia, sempre fiz heavy metal em inglês, e tinha alguma dúvida sobre fazer em português", comentou Mariutti. "Quando cheguei e vi as músicas, não havia mais dúvidas."

Edu Ardanuy fez uma árdua pesquisa de timbres e possibilidades musicais para compor as canções do primeiro disco. Experiente e idolatrado como um dos nomes gigantes da guitarra, conciliou as apresentações solo com os trabalhos do novo projeto. 

Se no Dr. Sin o som era maus bluesy e hard, com ecos setentistas, agora o som é mais moderno e pesado, remetendo diretamente a Black Sabbath. É um som sem concessões, com letras tão pesadas quanto a sonoridade quase doom metal.

"Eu sei que é um tipo de música que vai agradar em cheio gente um pouco mais velha, é anos 80 em muitas passagens", diz Ardanuy. Entretanto, da mesma forma que hoje muitos jovens estão descobrindo as bandas mais antigas, creio se possível atrair a juventude para um som diferente e bem feito. Será um grande desafio trazer a molecada para nos ouvir, e sei que vamos conseguir. O Golpe de Estado tem sido bem-sucedido neste aspecto."

Desde os primeiros acordes de "Mente Vazia" o que se respira é Black Sabbath da fase Ronnie James Dio. O som e calcado naquela fase, mas vai além, com letras trabalhadas ao estilo Ozzy Osbourne - "Mente Vazia/Casa do Diabo", diz a letra que serve de bela introdução ao solo demoníaco de Edu Ardanuy.

"Viver" desanuvia um pouco o ambiente, como se o Golpe de Estado estivesse anabolizado e ganhasse uma injeção a mais de adrenalina - como se isso fosse possível nesta venerável instituição roqueira...

"O Amanhã" é uma canção que lembra s melhores momentos do Rainbow, também com Dio nos vocais, em uma interpretação desesperada, mas de extremo bom gosto. Os riffs pegajosos de guitarra extrapolam o virtuosismo e emulam o que de melhor já se fez em musica pesada no Brasil.

"Santa Inquisição" retoma o esquema Black Sabbath puro com uma letra aterradora sobre os pecados e excessos da Igreja Católica entre o séculos XV e XVII na Espanha e em Portugal. 

Quem mais teria coragem de abordar tal assunto em uma época que as pessoas mal destinam um minuto para ouvir uma canção inteira? Tudo bem que o Harppia narrou os tempos difíceis paras bruxas em "Salem" lá nos anos 80, mas era um outro mundo... É uma pena que seja assim diante de riffs de guitarra tão poderosos.

Mais acelerada e com muita fúria, "Quem É Você?" também abusa dos riffs poderosos, mas em um ambiente doom, bem ao estilo dos suecos do Candlemass, O clima e assustador de filme de terror - uma bela trilha sonora para um filme de Zé do Caixão. É a canção mais "sinistra" e a que simboliza o álbum. O riff principal tem parentesco direto com os das canções "I" e "After All", do disco "Dehumanizer", do Black Sabbath.

Luís Mariutti chegou ao time no começo, mas quando quase todas as canções estavam praticamente finalizadas, mas nem parece. Seu baixo atua com tamanha precisão e propriedade que se mostra á vontade em todo o álbum, mas principalmente em "Quem É Você?", ampliando o clima tenebroso da faixa.

"Umbral" é outra faixa tétrica, com o baixo servindo de motor poderoso para riffs ainda mais destruidores de guitarra, principalmente naquele que serve de abertura. Nando Fernandes parecer além dos limites e comete o seu melhor trabalho vocal no ambiente, mostrando versatilidade e domínio do estilo. 

Não é um disco fácil de ser ouvir no caso de quem não tem muita familiaridade com os timbres de guitarra sombrios de guitarra e com os temas que abordam diversos tipos de sofrimento, dor e supremo terror. 

Mentes doentias? Para nossa sorte, sim, tanto que chave vira nas duas canções seguintes. "Livre Para Seguir" desanuvia o ambiente e embarca em um hard'n'heavy contagiante fazendo uma analogia entre a liberdade para viver do jeito que se quer e a possibilidade de guiar um carro potente em uma autoestrada. é rápida, envolvente e dinâmica.

A coisa segue legal em "Rock and Roll na Veia", rápida, acelerada e e "na veia", como uma boa canção do Made in Brazil. O clima positivo de recomeço e de levantar das cinzas é igualmente contagiante.

 "Nada É Mais Igual" já nasce clássica, podendo figurar em qualquer álbum do Golpe de Estado. É hard rock de boa estirpe, com uma crítica politico-social intensa sobre a intolerância que domina a nossa sociedade atual. a letra é certeira, pois nada é mais igual, e jamais será, por mais que o solo de Ardanuy nos lembre do melhor que o rock pesado já produziu.

O disco termina com "Insônia", que, de certa forma, termina como um anticlímax para uma ora tão poderosa e pesada. A densidade doom retorna m uma balada que pesa uma tonelada, recriando um clima de filme de terror. Não chega a destoar, mas é uma música que não difere muito do começo de "Sinistra".

Para quem reclama que heavy metal em português, com todo o peso do mundo, se resumia ao Carro Bomba, a chegada definitiva do Sinistra é o melhor dos mundos. 

No evento de lançamento, em 27 de novembro, o quarteto tocou, ao vivo, três músicas que comporão o show previsto para 29 de janeiro no Carioca Club, em São Paulo, naquela que está sendo considerada a verdadeira estreia nos palcos. Ao vivo a Sinistra melhorou o que já era excelente no estúdio.

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

'Seven', a ressureição do Wizards, é uma grande notícia para o metal nacional

 O Sepultura tinha ganho na loteria, mas mostrou que era possível. Mas foi o Angra que abriu as portas para o chamado heavy metal tradicional brasileiro ganhar coragem e partir para o mundo. O Angra era uma banda formada por músicos de renome escolhidos a dedo, mas e daí? Quem não invejava o quinteto por fazer sucesso no Japão e ser idolatrado na França?

A realidade mostraria que não havia espaço pra todos no Olimpo, mas sonhar era possível e necessário naqueles dourados anos 90 em que as bandas acreditavam que era possível e que o sucesso estava logo ali...

Dark Avenger, Symbols, Karma, Kavla e uma série de bandas assumiram a liderança do heavy/power melódico nacional tipo exportação, em uma primeira geração que incentivaria uma segunda, com Hibria, Hangar, Caravellus, Harllequin, Noturnall, Mindflow e várias outras.

Mas houve uma, na primeira onda, que despontava como a bola da vez a seguir os passos do Angra e, depois, do Shaman. A paulistana Wizards reunia tudo o que era preciso: um vocalista excepcional, um guitarrista estupendo, um baixista virtuoso, boas composições, produção acima da média... Mas ficou pelo caminho mesmo com seis CDs aclamados.

Depois de 12 anos de hiato, a Wizards ressurge com um trabalho de alto nível, como se o tempo não tivesse passado e o entusiasmo você o mesmo. "Seven" é uma coleção de bons temas que procura recuperar um pouco da aura noventista do heavy nacional tipo exportação e coloca o Wizards novamente em evidência, coincidindo com as celebrações de 30 anos do surgimento da banda.

Fruto da tenacidade e resistência de Christian Passos (vocais e violão) e Mendel Ben Waisberg (baixo), o retorno com um disco poderoso, "Seven" suscita a óbvia pergunta: por que uma banda com um som tão bom e diferente não deu certo?

"Nunca foi fácil fazer rock no Brasil. Pior ainda quando se tratava de heavy metal, e ainda mais o power melódico", comenta de forma tranquila o vocalista Christian Passos. "Tínhamos consciência da qualidade nosso trabalho e ficamos animados com as boas críticas dos nossos CDs. Em algum momento acreditamos que seria possível chegar mais longe, mas o percalços foram muitos. E isso não ocorreu só com a gente, basta ver quais bandas realmente se deram bem naquela época..."

Apostando em uma sonoridade de inspiração europeia, á la Stratovarius (Finlândia), Hammerfall (Suécia) e Kamelot (Estados Unidos), abordando temas relativos ao mundo medieval e com produção muito boa, bem acima da média, o Wizards era a banda mais promissora a ter uma carreira internacional - ou algum reconhecimento maior no Brasil. E foi assim até o ótimo CD "The Knight", de 2010.

"Foram quase 20 anos de dedicação e poucas bandas podem ostentar sete álbuns como a Wizards. Só que é preciso muito mais para fazer virar um empreendimento roqueiro no Brasil, todo mundo precisa estar na mesma onda, com o mesmo compromisso de levar adiante e enfrentar os obstáculos. E quase nunca é assim", constata passos de forma resignada.

Na esteira da vida atribulada, um integrante se tornou advogado, outro engenheiro, outro se mudou para outra cidade, filhos nasceram e mudaram vidas totalmente. "E eu continuei tocando desde sempre, cantando e tocando violão, ampliando meu repertório e meu público, enquanto o Wizards se tornava uma boa lembrança, aparentemente em hibernação eterna.

Por que voltar agora? "A Metal Relics Records se interessou em relançar alguns dos álbuns antigos. Daí veio a proposta para gravar um novo disco de inéditas. Pensei muito sobre isso, relutei, mas cedi e retomei a banda, com o Mendel. O Kadu [Averbach, guitarrista da formação clássica] não quis voltar, embora tenha tocado em um single recente nosso, e tivemos que começar quase do zero", conta Passos.

A solução para gravar as guitarras em "Seven" foi convencer um antigo amigo hoje muito atarefado, Léo Mancini, que passou pelo Noturnall e atualmente, entre outras bandas toca no Spektra. Os teclados ficaram a cargo do ótimo Charles Dalla e a bateria, nas mãos de Gabriel Triani. Por enquanto essa é a formação, mas nem mesmo Christian Passos acredita que poderá se aferrar a ela para 2023.

"Não temos muito planos. Fizemos apenas um show em São Paulo, foi legal, mas a continuidade das atividades vai depender de um planejamento minucioso  que nos permita viabilizar o Wizards", afirma o cauteloso vocalista. "Mancini é muito ocupado e cogita voltar a tocar, mais uma vez, com o Noturnall, com quem fará uma turnê de 31 shows no ano que vem; o baterista tem planos de morar no exterior e o tecladista tem uma série de atividades. No fim das contas, corremos o risco de ficar eu e Mendel sozinhos novamente."

Se depender do que foi gravado em "Seven", o Wizards tem boas perspectivas, pois o trabalho é muito bom. É um heavy metal que bebe na fonte do Helloween dos anos 90, com muita melodia e arranjos bem elaborados, ainda que simples e sem ostentação. 

Os primeiros singles, "Pain" e "Grateful", são os destaques, com temas mais abertos e letras mais "comuns", digamos assim. Foi um acerto deixar os temas medievais no passado.

A produção é ótima, bem limpa, que valoriza o som primário dos instrumentos. E a bateria está bem timbrada, algo que não é muito comum em produções brasileiras, seja por falta de dinheiro ou de experiência.

Depois de 30 anos cantando bem, a voz de Passos está intacta e é um dos diferenciais do wizards, assim como as guitarras inventivas e únicas de Léo Mancini, que deram um colorido diferente á sonoridade que ficou marada pelos fraseados e riffs estonteantes de Averbach nos primeiros discos. 

São as guitarras que fazem o som da banda soar rejuvenescido, ainda que não prime ela originalidade. Nem era essa a intenção, já que o primordial seria resgatar o Wizards das trevas. E Mancini ´especialista neste tipo de coisa: inovar e dar ma cara nova a um som, aparentemente, datado e sem originalidade.

Mancini e passos brilham na versão orquestral de "Grateful",  cuja inspiração notadamente é o trabalho solo de Andre Matos, principalmente na interpretação dramática e surpreendente.

"In the Night" é uma canção poderosa que emula os bons temos dos anos 90 da própria banda, refrão forte e riffs de guitarra muito bons.

Waisberg assume o protagonismo dividindo seu baixo entre o ritmo e a força de uma base rítmica como se encarnasse bons momentos de John Entwistle (The Who). Ele também vai muito bem em "I Wanna Know". 

"Call May Name" surpreende por ser um hard rock gostoso e bem acessível, com uma levada melódica e um inegável acento pop - mais um acerto dentro de um repertório bem equilibrado e sóbrio.

A produção do álbum também é um diferencial, a cargo do maestro e tecladista do Wizards, Charles Dalla, em seu próprio estúdio na cidade de São Paulo. Ele também foi o responsável pela masterização e mixagem, com coprodução por Christian Passos e Mendel Ben Waisberg.

" O disco 'Seven' tem uma sonoridade muito forte e orgânica. É um trabalho que mistura todas as fases do Wizards. Power, clássico e hard, essa é uma mescla de todos os nossos álbuns, mas com uma pitada nova secreta”, diz o vocalista da Wizards.

O processo de composição de "Seven" foi realizado durante a pandemia do covid-19, através das ideias do violão de Christian Passos. O baterista Gabriel Triani se encontrou com o vocalista e trouxe linhas que se encaixaram nas músicas perfeitamente, aliado ao baixo criativo de Mendel Waisberg. 

Formada em 1992, a banda paulistana Wizards logo de início a banda chamou à atenção, ganhando destaque no cenário brasileiro. Seu sucesso inicial chegou ao Japão e a gravadora JVC Victor tornou-se a responsável por lançar o homônimo álbum de estreia, em 1995, que chegou ao 8º lugar nas paradas nipônicas.

No ano seguinte, a banda lançou “Sound of Life”, que recebeu ótimas críticas e uma turnê pelo Brasil. A faixa “Promise of Love” tornou-se hit. O nome da banda foi sendo consolidado e permitiu que ela abrisse diversos shows de bandas consagradas, como Savatage, Stratovarius, Gamma Ray, Paul Di’Anno.

O terceiro álbum, “Beyond the Sight”, lançado em 1998, revelou a música “Thunderbolt”, um dos clássicos do Wizards. O quarto e aclamado álbum “The Kingdom” foi lançado em 2001, recheado com tudo que o Heavy Metal Melódico pedia na época. 

Quatro anos depois, “The Kingdom 2” é lançado. Após alguns anos chega o lançamento do poderoso 6º álbum “The Black Knight”. Todos os seis álbuns da discografia do Wizards estão sendo relançados, via Metal Relics, a começar pelo relançamento de “The Kingdom” e “The Black Knight”.

De Uberaba a Nova York, o imenso legado de engajamento do Black Pantera

 Do boteco mirrado de Uberlândia (MG) ao grande mural de 5 metros de altura em plena avenida mais importante de Nova York. Da aclamação quase geral de seu trabalho no Brasil às acusações pesadas de "discriminação" e "incentivo à violência". Nada parece ter meio termo para o trio de hardcore/thrash metal Black Pantera.

Os três músicos negros mineiros transformaram a banda e o antirracismo como missão de vida e foram catapultados ao topo por uma mistura de humildade, ferocidade, raiva e engajamento político raras vezes visto no rock nacional e na música brasileira em geral.

"Legado" é a nova música do trio recém-lançada e segue na mesma linha do maravilhoso álbum "Ascensão", que é pesado, intenso, ativista e engajado até a medula óssea. É lá que está a canção "Fogo nos Racistas" que tanto provoca a ira dos conservadores e dos protofascistas - e que ensejou as acusações de estímulo á violência.

"Que bom que a música incomodou. Esse era o objetivo", brada o baixista Chaene da Gama em conversa com Combate Rock. "Curiosamente, o racismo não incomoda, a discriminação e o ódio não incomodam, mas o grito preto contra o racismo não incomoda. É bom se acostumarem."

"Legado" segue a sina de 'Ascensão": é uma canção intensa, pesada e repleta de ativismo, citando os lideres negros Malcolm X e Martin Luther King, ambos americanos e assassinados nos anos 60. É mais uma declaração de intenções feita para incomodar, chamar a atenção pra o racismo e colocar muitos elefantes na sala. 

A canção, forte e inquisitiva, vem no mesmo momento em que crescem os ataques por supostamente "incitarem a violência" - ao mesmo tempo em que se tornam estrelas de uma campanha internacional contra o racismo.

A banda está entre as escolhidas para a campanha mundial do YouTube "Black Voices". A visibilidade foi imensa e as menções à banda explodiram - e eles que pensavam que o ponto alto de sua trajetória de oito anos tinha sido a explosiva apresentação no Rock in Rio 2022 ao lado dos pernambucanos e amigos Devotos... 

Nas redes sociais, Charles Gama, o fundador do grupo, exaltou o feito. "Diretamente da Carangola, do Parque São Geraldo, para os outdoors em Nova York. Isso é inimaginável, muito obrigado YouTube Black Voices. Olha aonde o bonde aqui chegou, gratidão. Ascensão do nosso Legado", encerrou fazendo alusão ao álbum aclamado e ao novo single.

O nome do trio foi inspirado no partido político revolucionário norte-americano Panteras Negras, que foi criado em 1966 em defesa da comunidade afro-americana e para lutar contra o racismo. É formado pelos irmãos Charles Gama (voz e guitarra) e Chaene da Gama (backing vocal e baixo), além de  Rodrigo "Pancho" (bateria).

Para aqueles que tentaram dissuadir os três jovens negros de abandonar o ativismo e o engajamento, bem como o som pesado, o sucesso monstruoso dos quatro últimos anos é uma pancada de barra de ferro na cara. 

A qualidade do som e a coragem de fazer ativismo político e social em suas letras raivosas transformaram o trio em alvo preferencial de racistas, ultraconservadores e aspirantes a fascistas, mas foi fator primordial para impulsionar a carreira nacional e internacional. São requisitadíssimos para festivais no Brasil e costumam tocar bastante na Europa. Tocarão no Lollapalooza 2023, em São Paulo.

"Claro que é reconfortante e recompensador ver os resultados positivos recentes, frutos de trabalho intenso", comemora Chaene. "Uma banda preta de rock sendo reconhecida é importante para que não baixemos a guarda na luta contra o fascismo e o antirracismo."

Rodrigo "Pancho", por sua vez, não economiza no sarcasmo e ironia ao comentar, por trás do rosto sempre sorridente, as críticas que o Black Pantera recebe por ser "pesado, violento e contestador". 

"Esse discurso supostamente conciliador só serve para minimizar a força da contestação. É como se nós fôssemos os violentos e perpetradores da violência, e não o contrário", afirma o músico. "Somos vítimas, mas querem nos responsabilizar pela violência que sofremos. Não vamos no cansar de desmascarar essa gente."

Chaene evita dar muita importância ao fato de banda estar na vanguarda do engajamento político-social dentro do rock e ao fato de serem um dos poucos negros a se destacar no rock. "Não é confortável ganhar destaque por sermos um trio de músicos negros, o que por si só evidencia como o racismo estrutural é forte e difícil de ser quebrado. Somos uma banda de rock com posicionamento forte e claro. Estamos felizes por todo o reconhecimento."

Com toda a repercussão maciça que vem recebendo, o Black Pantera é hoje a banda de rock mais importante do rock nacional, ainda que permaneça no underground. Divide a vanguarda do engajamento sociopolítico do gênero com  Ratos de Porão e Dorsal Atlântica.

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Quando o rock mergulha fundo na desumanidade

 A surpresa foi nenhuma: depois do jogo de cena de "afastar" o integrante que deu "declarações polêmicas" na internet (sem citar o nome) na tentativa de manter shows de apertura para uma banda internacional - e depois desistir das apresentações -, a banda paranaense Semblant anuncia que retomará as atividades sem alterar a formação.

Se o movimento já era esperado, a corrente de indignação que provocou também também foi igualmente retumbante. Uma banda de rock apoiando gente de inspiração fascista e que comete crimes de todos os tipos em nome de uma ideologia medieval?

A informação de que a Semblant continuará com uma vocalista que gravou vídeo apoiando e instigando bolsonaristas otários (redundância) a continuarem boqueando rodovias e pedindo, em frente a quartéis do Exército, intervenção militar e ditadura, É um tapa na cara de quem ama rock e respeita a democracia. É uma demonstração absoluta de perversidade e de desprezo pela civilização.

O ultraje é tão asqueroso e deplorável que o anúncio surge ao esmo tempo em que vem a notícia de Mato Grosso: um motorista desesperado não conseguiu seguir de Sorriso para Cuiabá para levar o filho de 9 anos para uma cirurgia de emergência - a criança corre o risco de ficar cega de um olho.

"Dane-se, não vai passar. Que perca a visão. O bloqueio é mais importante do que tudo" vomitou o vagabundo que lidera o bloqueio na rodovia BR-364.

É esse tio de gente nojenta que apoia o nefasto presidente derrotado que representou a extrema-direita - e que incita seus apoiadores vagabundos a cometer todo tipo de crime contra a democracia na esperança inútil de mudar o resultado da última eleição presidencial.

É perverso e totalmente desumano. Quando uma banda de rock apoia esse tipo de situação e insufla a desobediência civil, com golpe de Estado militar, em nome de ideias podres e comportamentos políticos criminosos, é sinal de que há graves indício de degradação social, moral e artística.

Não custa repetir a mesma cantilena: não se trata de um embate entre ideias opostas, ou de direita contra esquerda. É civilização contra a barbárie e o mundo medieval de viés religioso - do pior tipo de religião. É um embate entre direitos humanos preservados e exaltados contra a desumanidade. É a luz contra a escuridão; é o conhecimento contra a ignorância. Não erra quem "exagera" que se trata do Bem contra o Mal.

É difícil medir as consequências e o impacto na cena quando se desce a tão baixo grau de desumanidade. Não pode ser apenas ignorância insistir em crenças religiosas ridículas, terraplanismos de todos os tipos e mentiras em todos os níveis.

Saber que existe gente no rock que apoia tais ideias e tais "situações" é lamentável e preocupante, porque a desumanidade demonstrada pela cantora em questão, que se chama Mizuho Lin, foi aplaudida or muita gente no Brasil e o mundo, que não teve vergonha de vomitar que a pregação a atividades antidemocráticas e criminosas estava contemplada pela "liberdade de expressão"...

A confusão deliberada entre liberdade de expressão e irresponsabilidade sociopolítica, com a consequente enchafurdamento em variados crimes, é só o ato final de desespero de um grupo político da pior espécie que tenta sobreviver na tentativa de evitar eventuais processos e condenações.

A perversidade e a desumanidade estão nos grandes e nos pequenos gestos, como votar em um dejeto humano que sabotou a vacinação durante a pandemia de covid-19 e cometeu atos vergonhosos na depredação do meio ambiente; que atacou incessantemente a democracia e estimulou atos de discriminação de todos os tipos; que insuflou rebeliões quando percebeu, desde sempre, que perderia a eleição.

A perversidade e a desumanidade afloram quando se apoia as mentiras disseminadas pelo nefasto mundo bolsonarista e seu esgoto acoplado, com fracassados, vigaristas e vermes de todos os tipos atuando para desmontar o arcabouçao legal que protege as instituições democráticas e as políticas públicas de apoio aos vulneráveis. E que, por outro lado, apoia o aumento da violência institucional e do Estado ao derramar armas para a criação de milícias de todos os tipos.

A perversidade e a desumanidade se manifestam quando essa gente nefasta apoia todo tipo de tentativa de golpe que envolve privar a população de serviços básicos, de alimentos, medicamentos, vacinas e do direito de ir e vir. É triste e revoltante que não são poucos no rock que apoiam esse tipo de coisa.

A banda Semblant brincou com a opinião pública ao simular um "afastamento" de uma integrante - que nunca ocorreu -  apenas para preservar uma abertura de um show de uma banda importante - e que não teve estofo e coragem para enfrentar a pressão pelo cancelamento dos shows de abertura da banda holandesa Epica. 

Na verdade, trocou uma eventual "manutenção de credibilidade" por fidelidade ideológica a ideias estapafúrdias de uma corrente política negacionista e medieval, que envergonha os que são verdadeiramente conservadores, mas democratas.

O teatro encenado pela banda paranaense, que fala em "união" nas redes sociais e em "lealdade", soa desrespeitoso e vexaminoso quando o que está em jogo é a sobrevivência econômica de várias regiões que desaprovam os bloqueios golpistas. que sofrem com o desabastecimento. Que sofrem com o agravamento de problemas de saúde e riscos de morte.

Será inevitável: a cada show dessa banda e a cada álbum a ser lançado no futuro, a sombra da criança que pode ter ficado cega pairará e dificilmente descolará. Será um espectro pesadíssimo para se carregar por muito tempo.

Jimi Hendrix, 80 anos: um 'alienígena' que usou a guitarra como agent transformador

Muitos jogadores de futebol e jornalistas esportivos citam alguns poucos atletas como o melhor do esporte em todos os tempos. Intrigado com a exclusão de Pelé das listas, quem pergunta costuma ouvir a seguinte resposta: Pelé não conta, ele não é deste planeta.

O mesmo ocorre no rock. Muita gente considera o inglês Jeff Beck o melhor de todos os guitarristas. Mas e o americano Jimi Hendrix? É um alienígena, não é deste planeta, costumam responder.

Se estivesse vivo, James Marshall Hendrix completaria 80 anos em 2022. O instrumentista mais genial da música pop decidiu voltar ao planeta de origem aos 27 anos, em setembro de 1970, mas o legado que deixou é tão gigantesco e profundo que alterou de forma absoluta os rumos da música e da cultura ocidental.

Jimi Hendrix com certeza teria transposto das fronteiras do rock há muito tempo, se estivesse vivo. Teria criado novos sons, inigualáveis, e poderia ter criado um novo gênero musical, único e exclusivo, seguindo a trilha de gênios como Miles Davis.

Essa é a impressão geral que o mundo da música tem a respeito do melhor guitarrista que já existiu, mas que foi verbalizada por ninguém menos do Eric Clapton em uma entrevista nos anos 90. A comparação foi muito feliz, pois é inevitável constar hoje: o rock, ou qualquer rótulo, é muito restrito para o gênio da guitarra.

Ele construiu a sua própria eternidade e é um dos símbolos da genialidade artística e musical. Muita gente gota de relembrar o grande concerto de Woodstock, no Estado de Nova York, realizado em agosto de 1969, como o auge da carreira do guitarrista.

 Ali ele já era considerado mais do que gênio, e voltara a viver nos Estados Unidos. No entanto, é no Monterey Festival, realizado em julho de 1967, que podemos ver Hendrix em sua plenitude. A guitarra, uma Fender Stratocaster decorada com motivos psicodélicos, foi tocada com maestria, provocando um furacão sonoro que arrebentou cérebros imberbes e despreparados.

Hendrix era canhoto, mas usava um instrumento para destros, virado ao contrário. Fez tudo, ao tocar o instrumento de todas as maneiras e extraindo sons impossíveis e inacreditáveis, como a microfonia que tirou dos amplificadores Marshall, deixando toda a plateia californiana estupefata.

 O final, com o fogo na pobre e estragada Strato e a destruição no palco, apenas galvanizaram a atenção generalizada para a aquilo que os ingleses já conheciam desde o ano anterior – um alienígena pousou na Terra para mostrar aos incautos o que era rock, oque era um show e o que era criatividade na música.

Há lendas saborosas a respeito do impacto que o guitarrista negro causou no mundo do rock. Uma delas dá conta que os rivais Pete Townshend (The Who) e Eric Clapton se encontraram em um pub em Londres, no começo de 1967 e tiveram uma conversa séria, meio bêbados. Townshend chama de canto o então adversário e choraminga: "Acho que encontrei alguém nesta semana que vai roubar nossos empregos..." Clapton nem deixou o rival terminar: "Sei de quem você fala, eu o vi ontem e estou apavorado..."

Em 1997, Greg Lake, baixista e vocalista de Emerson, Lake & Palmer, se divertia com a reação dos jornalistas brasileiros quando passou com a banda por São Paulo. Em papo descontraído após uma entrevista coletiva, mandou sem pestanejar: "Quase que Hendrix virou guitarrista da nossa banda, que iria mudar o nome para Help [as iniciais dos sobrenomes dos integrates]."

Lake afirma que Hendrix assistiu a uma das primeiras apresentações da banda, em 1970, ano em que foi formada. passou a frequentar os ensaios e virou amigo dos trio de rock progressivo. E disse explicitamente que queria tocar com eles. "Ele nos disse que precisava cumprir vários compromissos na Inglaterra e que estaria livre em setembro de 1970. Até então tínhamos feito apenas uma jam interessante. Não deu tempo para mais nada..."

O baterista Carl Palmer, na mesma época, foi perguntado sobre a "possibilidade" de o Help existir. meio na gozação, respondeu de pronto: "Greg de novo contando essas histórias????? Seri maravilhoso tocar com um 'craque' desses, imaginem só..."

E o famoso encontro entre Hendrix e o trumpetista Miles Davis que nunca aconteceu? Reza a lenda que, instigado por muitos amigos, o jazzista teria concordado em encontrar o guitarrista para conversar e, eventualmente, fazer umas "jams". Só que Davis teria demorado demais para tomar a decisão...

Com apenas seis anos de carreira, Jimi Hendrix transcendeu o rock e o blues e influenciou artistas de todos os gêneros e todas as artes. Certamente estaria se misturando com tudo e com todos para empurrar a humanidade à frente e usar sua guitarra como um poderoso agente de transformação. Pena que ele decidiu voltar tão cedo ao seu planeta...

Há 40 anos começava o fim do mundo no Sesc Pompeia, em São Paulo



No tempo em que ser punk era um estilo de vida na Inglaterra e nos Estados Unidos, no Brasil era uma um ato de fé, uma verdadeira missão e , mais do que nunca, uma postura de pura resistência.

Em tempos de ditadura militar agonizante, mas ainda brutal, protestar não era o suficiente: era preciso enfrentar e confrontar, enquanto isso, no mundo ,a guerra fria entre norte-americanos e soviéticos assombrava diante de um eventual conflito nuclear.

Há 40 anos, ser punk em São Paulo era conviver com a vigilância do "sistema", de enfrentar a truculência do Estado e a violência das gangues fascistas que se diziam punks, mas nada mais eram do que analfabetos políticos adeptos do totalitarismo e contra qualquer tipo de diversidade e demoracia.  

Esse era o espírito que predominou nos dois dias de violência sonora em novembro de 1982, no Sesc Pompéia abarrotado de músicos e fãs com "sangue nos olhos". Era o festival "Começo do Fim do Mundo", evento memorável que entrou para a história do rock brasileiro.

Antes relegados a guetos e nichos escondidos, os punks fizeram a sociedade brasileira finalmente que eles existiam no Brasil – e em bom número, grande parte deles moradores da periferia paulistana e da Grande São Paulo - tudo registrado pelo Selo Sesc, que lançou o DVD "O Fim do Mundo, Enfim", documento comemorativo dos 30 anos do primeiro festival punk do Brasil.

"O Começo do Fim do Mundo", festival punk emblemático e um dos marcos históricos da música brasileira, foi realizado nos dias 27 e 28 de novembro de 1982 no Sesc Pompeia, na zona oeste de São Paulo. A organização coube, entre outros ao escritor e dramaturgo Antonio Bivar.

 O evento deu uma visibilidade inimaginável para o movimento paulistano. "Foi um dos mais importantes eventos punks do mundo", lembra Clemente Nascimento, líder e vocalista dos Inocentes e um dos músicos que tocaram há 40 anos. O DVD é um documento necessário sobre uma das cenas mais importantes que o rock nacional viveu. 

Em 2012, muitos dos participantes do evento original se reuniram para comemorar os 30 anos - e depois se reencontraram no mesmo cenário. Em declarações ao Combate Rock, Clemente disse que o festival de 1982, além de mostrar ao país que existia um movimento punk considerável, foi importante porque celebrou a união entre as várias "tribos" espalhadas pela capital e pela periferia.

Era notória a rivalidade, por exemplo, entre os punks do ABC, que se consideravam ideológicos e politizados, e os de São Paulo, que eram tidos como anarquistas ou até mesmo alienados. 

"A música e as mensagens era o mais importante, e houve respeito a todos os artistas e o clima foi ótimo e intenso", disse Clemente Mesmo assim houve quem temesse por confusão e briga generalizada.

"Havia tensão no ar, estavam lado a lado na plateia caras que viviam se estranhando nas 'quebradas' meses antes. No primeiro dia tudo correu aparentemente bem, mas no segundo o pessoal do ABC e o da zona norte começou a olhar torto e fazer cara feia. Aí, do nada, apareceu a polícia para conter a 'zoeira' de uma galera que estava arrepiando. Era o que precisávamos, um inimigo para selar a união", lembra o empresário Carlos Martins, o "Rato", que tinha 22 anos na época. Então office boy, andava com uma turma do Tucuruvi (zona norte).

Havia gente do ABC no Sesc Pompeia, e não houve confusão grave entre as "tribos', mas a polícia paulista, com "sangue nos olhos", não economizou nas pancadas e quase inviabilizou a continuidade dos shows.

Há quem diga que a resistência punk no Sesc Pompeia foi fundamental para evitar que o movimento se dispersasse. "Resistimos, e isso serviu de inspiração para o cenário metal que começava e para uma nova geração de trabalhadores metalúrgicos que se insurgia contra o regime militar", diz Rato.

Michael Schenker se diverte no CD 'Universal'

 


- De bem com a vida e mais produtivo do que nunca, o guitarrista alemão Michael Schenker curte a melhor fase da carreira já sexagenário e longe das polêmicas e tretas, embora ainda troque farpas com o irmão mis velho, Rudolph, guitarrista e líder do colosso Scorpions.

A fase é tão boa que ele se dá ao luxo de tocar simultaneamente três projetos: Michael Schenker Fest, Michael Schenker's Temple of Rock e Michael Schenker Group, que teoricamente deveria produzir material diferente dentro hard rock em termos estilísticos, ma que na prática é quase tudo a mesma coisa.

"Universal" é o álbum de 2022 do Michael Schenker Group e traz o guitarrista revigorado e com vontade de tocar, embora o material não traga nenhuma novidade.

Ele bebeu bastante nas novas composições em canções de seu início de carreira solo, a partir de 1980 - tinha saído no ano anterior do UFO e teve passagem relâmpago pelos Scorpions, banda da qual saiu em 1972, aos 18 anos, para substituir o demitido Bernie Marsden no UFO.

Se na encarnação "Fest" ele chama todos os ex-vocalistas do Michael Schenker Group para uma celebração no palco e no estúdio - Graham Bonnet, Dougie White e Gary Barden -, na banda principal ele tenta dar um caráter mais reto e olhando para a frente, buscando novos horizontes, e sempre contando com a ajuda de amigos poderosos.

Um deles é o baterista americano Simon Phillips, que já tocou com The Who e Judas priest, entre muitos e muitos artistas de primeiro time. Sua elegância e inteligência então em duas músicas interessantes - "Emergency" e "Sad Is the Song", que são hard rocks simples e diretos, mas com solos poderosos de guitarra. 

Dois amigos não tão recentes e compatriotas dão um peso artístico enorme em relação aos vocais. Michael Kiske, do Helloween, arrebenta tudo na excelente "A King Has Gone", provavelmente a melhor do álbum. É uma canção cadenciada, perfeita para a voz gigante de Kiske. Há mais convidados ilustres na música - o veterano baterista Bobby Rondinelli (-exBlack Sabbath e muitas outras bandas), o baixista Bob Daisley (ex-Ozzy Osboune) e o tecladista Tony Carey (ex-Rainbow).

Ralf Scheepers (Primal Fear e ex-Gamma Ray), aquele que quase entrou para o Judas Priest, abrilhanta a mediana "Wrecking Ball", que ficou rápida demais e poderia estar em discos de sua banda. O riff é cativante, mas faltou alguma coisa para torná-la memorável.

O novo amigo da vez é o cantor chileno Ronnie Romero, descoberto por Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple) para a última encarnação do Rainbow, em 2016.

Depois de mais uma pausa longa do Rainbow, Romero passou a ser requisitado por inúmeros artistas e comparece em "Universal" em sete das treze músicas, sendo que faz um ótimo trabalho em "Emergency" e "Sad Is the Song". 

"Under Attack" e "Yesterday Is Dead" são outras boas canções em que o cantor confere a força necessária para torná-las hard rocks interessantes. "Universal" não traz nada de novo e talvez nem seja tão expressivo na pesada discografia de Michael Schenker, mas reforça algo que é evidente desde 2010: o alemão, agora domado e sóbrio, continua relevante dentro do rock pesado.

Helmet traz aula de peso e música densa em show paulistano



Do site Roque Reverso

Após um hiato de 11 anos sem tocar no Brasil, o Helmet voltou em 2022 para trazer ao País sua turnê latino-americana que foca em músicas de vários álbuns da carreira iniciada em 1989. Um dia após se apresentar em Brasília, o grupo norte-americano liderado pelo vocalista e guitarrista, Page Hamilton, trouxe um grande show a São Paulo no fim da noite do domingo, 20 de novembro.

Mais do que romper um hiato de mais de 1 década sem tocar na capital paulista, o Helmet foi a atração escolhida para fechar o Oxigênio Festival 2022, evento que aconteceu desde a sexta-feira, 18, no Aeroclube do Campo de Marte.

Fiel à proposta de tocar músicas de vários momentos da carreira, o grupo norte-americano trouxe faixas de vários discos, com destaque para os mais badalados de sua história: “Meantime”, de 1992, e “Betty”, de 1994.

O local pouco tinha a ver com o Helmet, já que o evento foi realizado em um lugar mais acostumado a aviões do que a bandas de rock.

Quanto ao festival, ele foi marcado por reunir bandas com sonoridade menos densa e pesada que o Helmet. A maioria dos grupos ali tinha ligações com o hardcore e o emocore, enquanto a já veterana banda norte-americana sempre foi marcada por aquele som praticamente inclassificável, em razão da mistura de elementos do metal, do hardcore e até de música experimental.

Marcada para o ingrato horário das 22h15, a apresentação do Helmet era bastante aguardada por fãs. O Roque Reverso chegou ao local do festival por volta das 21h30 e viu a quantidade de admiradores ir crescendo aos poucos até lotar o espaço reservado para o show.

O palco reservado para o Helmet era relativamente pequeno em relação ao de grandes festivais pelo mundo nos quais a banda se apresentou. Mas, a despeito de não haver telões, o espaço era suficiente para o público se acomodar bem e assistir sem problemas o aguardado show.

Interessante destacar também a tradicional simplicidade do Helmet. A despeito de ter se tornado uma banda de muito sucesso nos Anos 1990 em todo o globo, não houve espaço para frescuras e estrelismos por parte dos músicos, que, durante a preparação do palco, ficaram testando e ajustando seus instrumentos.

O show

A apresentação do Helmet começou por volta das 22h25. Logo de cara, o grupo emendou três músicas dos álbuns clássicos: “Milquetoast”, do “Betty”, e “Ironhead” e “Give It”, do “Meantime”.

A reação da plateia foi da mesma empolgação caracterizada pelos pulos de muitos ali a cada riff de “Ironhead”. A cada palhetada de Page Hamilton e do outro guitarrista, Dan Beeman, o público pulava, batia a cabeça e até rodas de mosh foram formadas no meio da pista.

E vale destacar o mesmo sentimento que este Roque Reverso teve no show de 2011 em São Paulo: a qualidade e entrosamento deste Helmet pós-2010 impressiona.

Se, em 2011, na casa de shows paulistana Beco 203, o grande destaque da noite foi o baterista Kyle Stevenson, com uma pegada monstruosa e impecável em várias músicas do Helmet que precisam disso, em 2022, no Oxigênio Festival, chamou muito a atenção a performance do baixista Dave Case. Que músico, senhores!

Com o seu baixo verde chamativo e bonito, ele conseguiu tirar sons poderosos e fundamentais para as canções do Helmet durante a apresentação no Campo de Marte. Aquele som de baixo que chama a atenção pelo peso e pela clareza.

Kyle Stevenson e Dan Beeman também seguraram de maneira excelente as faixas. O primeiro parece estar atualmente mais técnico, sem perder a pegada certeira – com a camisa que estava do Slayer, deu para imaginar a influência do mago das baquetas Dave Lombardo. Beeman, por sua vez, é aquele fiel escudeiro que Mr. Page Hamilton precisa pra trazer aquela barreira sonora poderosa.

Após tocar “In Person”, do disco “Seeing Eye Dog”, de 2010, o Helmet emendou nada menos que “Blacktop”, do primeiro e bom álbum “Strap It On”, de 1990. Com os instrumentos mais modernos do momento, esta faixa ficou ainda mais interessante do que já era quando foi gravada.

O disco mais recente do Helmet, “Dead to the World”, de 2016, também teve música representante no show do Oxigênio Festival. “Drunk in the Afternoon” não fez feio e manteve a excelente vibe presente.

O show estava muito bom, mas chamava a atenção o comportamento de Page Hamilton até então. Desde a primeira música da apresentação, ele mostrou um descontentamento gigantesco com seu retorno.

Em vários momentos, ele sinalizava para os técnicos de som que não estava gostando do que estava chegando para ele. Em dado momento, chegou a dar uma bronca furioso no microfone.

E, convenhamos, não há nada pior para o músico do que não conseguir ter a noção clara do que está tocando ou até mesmo ter um retorno muito alto ou baixo do show. O descontentamento de Hamilton chegava até a influenciar no seu vocal, um pouco menos vigoroso e num volume menor do que de costume nas primeiras faixas do show.

Aos poucos, o entrosamento do vocalista com os técnicos de som parece ter melhorado, mas o problema foi solucionado definitivamente apenas após a metade do show, já com o grupo tocando “Unsung”.

Antes dela, foram executadas “Renovation”, do disco “Aftertaste”, de 1997, “See You Dead”, do “Size Matters”, de 2004, e duas bacanas dos álbuns clássicos: “Better”, do “Meantime” e “Tic”, do “Betty”.

Uma das preferidas deste jornalista dentre as do “Meantime”, “Better” fica sempre ainda mais poderosa ao vivo. Com peso, densidade e um vocal sempre diferenciado, ela é uma das melhores da carreira do Helmet, apesar de não ter sido escolhida para single. Ela sempre faz a festa dos fãs de carteirinha e, em 2022, em São Paulo, não foi diferente.

Eis que “Unsung” é iniciada e o maior sucesso do Helmet gera a reação de sempre: toda a plateia cantando junto e o nível de empolgação entra em modo generalizado. A faixa que catapultou a banda para o sucesso definitivo nos Anos 1990 não provocou este efeito à toa, pois é daquelas músicas impecáveis e que tem cara de hit clássico do bom e velho rock and roll.

Plateia ganha

Com a plateia ganha e, agora, com Page Hamilton menos preocupado com o som, o Helmet deu sequência a sua aula musical.

Depois da faixa “Bad News” (outra do mais recente álbum), foram executadas nada menos que quatro faixas do disco “Betty”: “Rollo”, “Street Crab”, “I Know” e o super hit “Wilma’s Rainbow”.

Vale destacar as diferenças de ritmo e a riqueza de cada uma dessas músicas. Se, em “Rollo”, o jeito frenético é cadenciado pela batida contagiante da bateria, “Street Crab” traz o ritmo para um nível mais lento e “I Know” consegue desacelerar ainda mais, gerando emoção nos fãs de carteirinha.

“Eu vou chorar se tocarem ‘I Know'”, ouviu, mais de uma vez, este jornalista antes da apresentação nas rodinhas de conversa.

E “Wilma’s Rainbow”? Esta gerou mais um pico de empolgação na plateia, pois é mais uma obra-prima do Helmet. Ela serviu para fechar o show, com o público gritando o nome da banda.

Após uma breve pausa para um leve descanso, o Helmet voltou para o bis com “Just Another Victim”, que havia sido pedida por muita gente durante todo o show. Sem a mixagem da gravação original feita com o House of Pain, ela sempre perdeu em riqueza sonora ao vivo, mas jamais em intensidade. E isso foi visto por todos os cantos da pista.

A última faixa da noite foi outro petardo clássico do Helmet: “In the Meantime”. Também entre as melhores da carreira do grupo norte-americano, ela serviu pra encerrar com chave de ouro a apresentação da banda na cidade de São Paulo.

A avaliação final é de que o Helmet deu, mais uma vez, uma aula de peso e música densa num show na capital paulista. Quem já havia visto o grupo anteriormente fez parte da tradição e saiu novamente satisfeito. Quem estava ali vendo a banda pela primeira vez constatou que o conjunto musical proporciona um excelente experiência ao vivo.

Belle and Sebastian cancela turnê sul-americana



Do site Roque Reverso

A banda Belle and Sebastian anunciou o cancelamento da turnê sul-americana que faria com que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro recebessem shows em dezembro. De acordo com o comunicado do grupo escocês, o cancelamento foi gerado por um “problema de saúde”.

“Nestes tempos de incerteza, agradecemos a todos que compraram ingressos para esses shows e estendemos nossos agradecimentos a todos que nos desejaram boa sorte esta semana. Esperamos que seja possível revisitar as datas em algum momento no futuro”, escreveu a banda, em comunicado, retransmitido pela Eventim, empresa responsável pela venda de ingressos nos shows brasileiros que seriam realizados.

O Belle and Sebastian iria se apresentar no dia 9 de dezembro na Audio, em São Paulo. Depois tocaria no dia 10 no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

A vinda do grupo ao Brasil seria realizada meses depois do lançamento do álbum novo “A Bit Of Previous”, que chegou aos fãs oficialmente em maio de 2022.

O retorno ao País aconteceria pouco mais de 7 anos após a última passagem do grupo pelo País.

Em 2015, ao lado de Iggy Pop, o grupo foi uma das atrações principais do Popload Festival, realizado na mesma Audio que receberia o show de 2022.

De acordo com a Eventim, informações sobre reembolso serão divulgadas em breve.

Para o leitor acompanhar novidades sobre o show cancelado, o site da empresa é o seguinte: http://www.eventim.com.br/ .

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Erasmo Carlos morre aos 81 anos



Até que ponto podemos colocar Erasmo Carlos como um rocker? O que ele fez na Jovem Guarda, com e sem o parceiro Roberto Carlos, e nos anos 70 pode ser considerado rock?

Alguns críticos e detratores riem dessa afirmação, indo ao ponto de considerar mero oportunismo o fato de que Erasmo, morreu aos 81 anos nesta terça-feira (22), no Rio de Janeiro, bradar que é um dos pioneiros do gênero no Brasil e ousar travestir algumas de suas músicas e álbuns de “rock”.

Se formos espremer mesmo a obra do músico, não há muito de rock a encontrar nos últimos trabalhos ou mesmo a partir dos nos 80, ainda que sua postura dentro e fora dos palcos ensejem alguma associação. Mas não dá para dissociá-lo totalmente do gênero.

Entretanto, diante da imponência de sua figura e de sua importância, não dá para escapar do clichê: Erasmo Carlos foi gigante fa música brasileira e um dos pilares dos primórdios do rock neste país.

Sempre foi um músico honesto e merece todas as honras e homenagens, por mais que haja excessos ao ser considerado um símbolo do gênero.

Sim, tem rock, e dos bons, em sua discografia, mas a predominância é de uma música popular mais soft, agridoce, sem nenhuma agressividade e bastante palatável ao gosto médio do ouvinte de rádio de 40 ou 50 anos atrás.

A partir dos anos 90, quando foi considerado um fóssil vivo de forma bem mal-educada, orientou seu repertório para um rock comercial, distanciando-se do pop sem sabor e sem cheiro que empreendeu na década anterior. Curiosamente, ficou mais roqueiro, e melhor artista, depois dos 60 nos de idade.

Isso não quer dizer que seu trabalho mais pop e mais romântico dos anos 70 deva ser desprezado, assim como as gemas que produziu com ou sem Roberto Carlos nos anos 60. Seus trabalhos são históricos e necessários, com registros preciosos do que foi a evolução da música nacional orientada para os jovens.

A Jovem Guarda foi um movimento importante dentro da cultura brasileira não há dúvida. Mostrou que os jovens do começo dos anos 60 no Brasil tinham voz, vontade própria, talento e inteligência. ]

Mais do que isso, não queriam ficar presos às correntes monolíticas da MPB clássica do samba-canção e das marchinhas de carnaval nem às limitações do pseudo-intelectualismo da bossa nova.

Não é por acaso que a Jovem Guarda é mais relevante como movimento musical e cultural na história brasileira do que a bossa nova e o tropicalismo. Por outro lado, há quem ache a associação de Jovem Guarda com o rock artificial e forçada. Não estão de toda forma errados.

E o que dizer da parcela mais radical que considera que rock mesmo começou a ser feito de verdade no Brasil quando a beatlemania estava quase extinta?

Foi quando apareceu por aqui Ronnie Von e os Mutantes, ao mesmo tempo em que alguns artistas da Jovem Guarda – com Roberto e Erasmo Carlos liderando – resvalavam, bem de leve, em tentativas frustradas de produzir algum tipo de “rock”. Estão errados?

O Tremendão defendeu o seu legado roqueiro para as novas gerações. Erasmo Carlos fez rock? Foi roqueiro? Quem se importa com isso? Celebremos a música alegre e o ótimo trabalho que fez por mais de 60 anos. Queiramos ou não, e um símbolo do nosso tempo.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Notas roqueiras: Roger Waters, The Winery Dogs, Nuclear Assault, Floor Jansen...

- Roger Waters, ex-baixista e vocalista do Pink Floyd, regravou um dos clássicos de sua antiga banda, mas com sensíveis diferenças. "Comfortably Numb 2022", cuja versão original está contida no álbum "The Wall" (1979), tem uma cara mais sombria, mas em clima de jazz nostálgico, com muitas vozes femininas e sem solos de guitarra - como o maravilhoso que encerra a canção original, de autoria de David Gilmour. Os solos deram lugar a vocalizações ao estilo "The Great Gig in the Sky", música do álbum "The Dark Side of the Moon (1973), com participação da cantora Clare Torry. Nas redes sociais, o músico declarou que decidiu regravar com novos arranjos depois de algumas execuções durante o isolamento provocado pela pandemia. Escute a nova versão: https://youtu.be/9JLN581QWxc

- A banda americana The Winery Dogs confirmou o lançamento de seu novo álbum, “III”, para 3 de fevereiro. O grupo é formado por Mike Portnoy (bateria), Richie Kotzen (voz e guitarra) e Billy Sheehan (baixo) e divulgou as datas da primeira etapa da turnê “202III”, com três compromissos no Brasil. Além do já conhecido show no festival Summer Breeze, em São Paulo, no dia 30 de abril, o grupo se apresentará no Rio de Janeiro e Curitiba, respectivamente em 27 e 28 do mesmo mês. A data em território carioca será ao lado do Stone Temple Pilots, no Vivo Rio, enquanto a ocasião na cidade paranaense ocorrerá ao lado do Skid Row, no Tork n Roll. Com relação ao álbum “III”, seu primeiro single, “Xanadu”, sairá em 9 de dezembro. Na mesma data, será liberada a pré-venda no exterior do disco, que, como o título indica, é o terceiro do projeto.

- O Nuclear Assault anunciou o encerramento de suas atividades no último domingo (20). A confirmação veio através de um anúncio simples e direto postado nas redes sociais, com a imagem de uma lápide e a mensagem “R.I.P. Nuclear Assault 1985-2022”. A seguir, as contas do grupo foram encerradas. O baixista e fundador Dan Lilker já havia anunciado em entrevistas que a banda não demoraria a encerrar as atividades. Em 2014 ele declarou a intenção de se aposentar da vida de músico profissional de turnês. Pouco tempo depois, decretou o fim do Brutal Truth, sua outra banda.

- A cantora holandesa Floor Jansen, da banda finlandesa Nightwish, anunciou nas redes sociais que o seu tratamento contra um câncer na mama está sendo bem-sucedido e que la está livre da doença. No fim de outubro, logo após passagem de sua banda pelo Brasil, a artista tinha confirmado a existência de um tumor na mama. Uma cirurgia foi realizada em seguida. Ela já retomou as atividades com a banda.

domingo, 20 de novembro de 2022

Diversão com reverência: Neil Young e Bruce Springsteen voltam ao passado e brilham

 Chegar ao status de lenda do rock ao ultrapassar os 70 anos de idade confere uma série de vantagens aos artistas. A mais preciosa, certamente, é a liberdade de gravar e lançar o que quiser mesmo em tempos de mercado degradado e indústria fonográfica destruída. 

O último trabalho de Paul McCartney, todo gravado por ele durante a pandemia de covid-19, sozinho e tocando todos os instrumentos, é um bom exemplo. e o resultado foi ótimo. Pode ter inspirado, ou não, mas dois ídolos foram por um caminho parecido - exceto tocar todos os instrumentos.

Neil Young se juntou novamente à veterana banda Crazy Horse para misturar canções folk de rara beleza e alguns temas recheados de guitarra distorcida; Bruce Springsteen deixou a guitarra de lado e investiu em homenagear grandes astros da soul music e do rhythm and blues, em um álbum bastante inusitado.

Young vem se mantendo ativo aos 77 anos com lançamentos regulares desde 2010 e surpreende por manter o nível alto de seu trabalho. "World Record", recém-lançado, não é um disco comercial. as baladas folk blues soam datadas, mas são de uma delicadeza rara nos tempos de hoje.

É quase todo acústico, exceção feita a duas canções, uma delas a melhor do disco - "Chevrolet" evoca alguma coisa dos tempos áureos dos anos 70, com suas guitarras poderosas e insistentes, com muita distorção e feeling. O cantor e guitarrista canadense está na melhor forma.

"Overhead" e 'This Old Planet (Changing Days" são presentes de uam artista engajado e com mensagem ecológica, mas positiva. Os violões são estudadamente desajeitados para criar um clima folk de interiorzão americano, mas também evocam o melhor da música de raiz country, com direito e gaita desleixada e algum violino aqui e ali.

"Break the Chain" e "The Long Day Before" seguem pelo mesmo caminho, mas combinam guitarras acústicas e semiacústicas de forma equilibrada e suave, gravadas ao vivo no estúdio, com arranjos às vezes crus e ríspidos, bem ao estilo "roots". "Love Earth" reafirma esse clima, misturando a tradição americana e canadense de canções engajadas e lamentos folk.

É um disco diferente, embora não inédito em seu formato. Young revisita um passado distante e muitas tradições, entregando o trabalho muito bom e bastante agradável, embora possa causar estranheza na primeira audição.

Bruce Springsteen, por sua vez, decidiu colocar todo mundo para dançar escolhendo repertório de muito bom gosto. A guitarra fica de lado e o intérprete aflora com delicadeza e muito bom gosto. 

São 15 músicas que resgatam o melhor da música negra e do rhythm and blues norte-americano, em um passeio por diversas vertentes e artistas consagrados.

Quem diria que o rústico e ativista Springsteen emprestaria toda uma delicadeza e sutileza ao clássico "Nightshift", dos Commodores, classicaço  dos anos 70 e 80? "I Wish it would Rain", dos Temptations, vira um hit de arrasar quarteirão, enquanto que "Only The Strong Survive" indica como revigorar uma canção que já é forte por natureza - desde a versão original de Jerry Butler.

Na maioria das vezes, Springsteen é reverente, mas arrisca a colocar mais vida e mais peso, como no caso de "7 Rooms of Gloom", dos Four Tops, um hino à consagração negra , ou em "The Sun Ain't Gonna Shine Anymore", que teve bons momentos na voz de Frankie Valli.

Não é um simples disco de versões. Trata-se de uma verdadeira homenagem ao cancioneiro americano relembrando hinos que fizeram parte de momentos importantes da história da música e da luta pelos direitos civis.

Springsteen convence quando canta letras fortes como "Someday We'll Be Together", famosa com Diana Ross & The Surpremes, ou quando se desmancha em "Soul Days" e "I Forgot Be Your Lover", sendo acompanhado em ambas por Sam Moore. Com muita inteligência e talento, soube imprimir seu estilo vocal sem descaracterizar os clássicos escolhidos.

Não deixa de ser um projeto arriscado neste tempos, mas, ao mesmo tempo, mostra uma liberdade e ousadia artística que só um nome gigante e estabilizado é capaz de abraçar. 

Pela forma como canta, parece um sonho realizado, ainda que comercialmente não represente algo que vá encher qualquer cofre. Que consigamos desfrutar da mesma forma que ele se divertiu. 

Biohazard anuncia retorno da formação clássica e planeja álbum novo

 Flavio Leonel - do site Roque Reverso

Em uma onda gigante de retornos de bandas e momentos grandiosos do rock que coincidem com o período posterior aos momentos mais intensos da pandemia de covid-19, o Biohazard é mais um grupo importante de rock pesado que está de volta. A banda de hardcore de Nova York anunciou oficialmente na quarta-feira, 16 de novembro, o retorno de sua formação clássica.

Desta maneira, Billy Graziadei (vocal e guitarra), Evan Seinfeld (vocal e baixo), Bobby Hambel (guitarra) e o Danny Schuler (bateria) formarão o grupo juntos, o que não acontecia desde 2011, quando Seinfeld deixou a banda amigavelmente por razões pessoais.

Com o retorno da formação clássica, que também está ligado à comemoração de 35 anos de história do grupo, o Biohazard já confirmou shows na Europa a partir do segundo semestre de 2023. E seus membros já planejam um novo álbum também para o próximo ano, além de um documentário com a própria história.

É bom destacar que, desde que voltou a ativa pra valer em 2008 justamente com uma reunião da formação clássica para comemorar 20 anos de carreira, o Biohazard nunca chegou a anunciar um novo fim, como observado entre 2004 e 2007.

A banda chegou a ter o vocalista e baixista Scott Roberts no lugar de Evan Seinfeld entre 2011 e 2016, quando ele decidiu sair.

Após a saída de Roberts, o grupo ficou sem se reunir e Billy Graziadei, que vem há tempos sendo o membro mais atuante em relação à memória do Biohazard, decidiu apostar em novos projetos.

Em 2019, ele chegou a afirmar que o grupo não havia acabado e que o Biohazard voltaria com novidades no momento certo.

Finalmente, no fim de 2022, a grande notícia foi divulgada, com os músicos empenhados em reviver grandes momentos.

Para quem ainda não conhece o Biohazard ou chegou há pouco tempo de Marte, o grupo é do distrito do Brooklyn e despontou para o sucesso nos Anos 1990 com a habilidade de conseguir misturar, como poucos, o hardcore, o metal pesado e elementos do rap num único som.

Com um histórico de dificuldades pessoais, os caras sempre foram respeitados, não só pelo som, mas também pelas letras fortes, que retratavam a deterioração urbana, a corrupção, crimes e a ruína social das grandes cidades.

Em 2008, os quatro membros originais do grupo reuniram-se para comemorar o aniversário de 20 anos de seu primeiro registro com uma série de shows.

A turnê contou também com apresentações no Brasil, com destaque para o histórico show realizado em São Paulo em julho de 2010 no Carioca Club.

Além do grande momento de 2010 na capital paulista, o Roque Reverso fez a cobertura jornalística de outras duas grandes apresentações do Biohazard na mesma cidade anos depois.

Já com Scott Roberts, a banda tocou em 2013 no extinto Via Marquês e, em 2014, no Matanza Fest, realizado na Audio.

jazz sabbath está de volta

Um trio tradicional de jazz sobe ao palco de uma imponente e sofisticada acasa de espetáculos na Alemanha. Começa a tocar e a plateia gosta, curte e vibra, mas parte dela tenta entender o que está acontecendo? Que músicas diferentes eram aquelas? Que arranjos ousados eram aqueles? Será que o trio era de jazz de vanguaruda?

De certa forma, pode-se dizer que sim. Não é novidade combos jazzísticos se apropriarem do rock para fazer a sua música soar diferente. Alx Skolnick, guitarrista do Testament e ex-várias banda de metal, tem um trio de jazz que leva o seu nome e faz versões de clássicos do rock.

Mas tocar só músicas do Black Sabbath em ritmo de jazz, e da melhor form possível, com o melhor jazz que se pode tocar? Isso é façanha para um projeto muito ousado e capitaneado por um pianista com grife, filho de uma grife ainda maior.

O Jazz Sabbath voltou ao circuito de shows com força neste ano e o ponto alto da turnê europeia foi no Leverkusener Jazzstage 2022, na cidade de Leverkusen, na Alemanha, em apresentação disponibilizada na íntegra no YouTube.  Escutar Black Sabbath em ritmo de jazz tradicional é uma delícia. É revigorante. 

E tudo começou como uma brincadeira, mas o nerd levou a sério. O nerd é Adam Wakeman, tecladista que acompanhou Ozzy Osbourne e próprio Black Sabbath como músico de apoio por anos.

Pelo sobrenome do músico, dá par sacar qual é a grife - ou dinastia - a qual pertence. Integrante mais novo do clã britânico especializado nas teclas, Wakeman, é filho de Rick Wakeman (ex-Yes) e irmão de Oliver Wakeman (nome importante do neoprog britânico dos anos 80). Mais do que familiarizado, tem verdadeira obsessão pelo repertório do quarteto de Birmingham.

“Jazz Sabbath”, o nome do CD lançado em 2018, nomeia o projeto que tinha tudo para dar errado. O próprio Ozzy reclamou bastante, certa vez, de várias passagens jazzísticas no álbum “Never Say Die”, de 1978, o seu último com a banda antes da volta, em 1996.

Entretanto, o álbum funciona se for encarado estritamente como um álbum de jazz. Esqueça que são músicas do Black Sabbath, já que os arranjos da banda que o gravou quase que eliminam as similaridades, digamos assim. Os úsicos as bases, mas os arranjos são muito interessantes.

É antiga ainda é a tradição de pegar clássicos roqueiros e transformá-los em jazz. Vem dos anos 70 essa “mania”, especialmente, com canções dos Beatles e Rolling Stones.

Além dos magistrais trabalhos de Alex Skolnick Trio, há o Crimson Jazz Trio (que recria temas do King Crimson). No Brasil, o Moda de Rock se destaca (em que clássicos do rock são transpostos para a viola caipira) e trabalhos do pianista e tecladista Ari Borger.

Vale destacar que a campanha de marketing de lançamento do projeto foi ruim e quase estraga a boa iniciativa. No texto distribuído à imprensa, acompanhado de um pequeno vídeo supostamente sério, com entrevistas com músicos importantes, os “produtores” falam de um músico genial que teria composto um álbum entre 1968 e 1969, mas que teria sido engavetado pela gravadora enquanto se recuperava de uma doença prolongada.

Recuperado, descobriu que sua gravadora não existia mais, que o dono da empresa estava preso e que o depósito onde as fitas das gravações estavam pegou foto, queimando tudo.

Quase 50 anos depois, as tais fitas teriam sido achadas num canto em um porão qualquer e o músico autor das músicas, Milton Keanes, um pianista, teria conseguido apoio para editar o material e finalmente “desmascarar” os charlatões que teriam roubado suas músicas e as transformado em rock pesado - os "ladrões", um quarteto de rock da cidade de Birmingham chamado Black Sabbath. Tudo piada, mas sem muita graça - tanto que não deu muito certo.

“Iron Man”, clássico dos clássicos, tem uma performance excelente de Adam Wakeman, que fez arranjos criativos ao lado de uma banda de apoio, na segunda parte da música, afiadíssima e mostrando um jogo de cintura contagiante. É outra música.

“Rat Salad”, tema instrumental por natureza, foi a música que mais se adaptou ao projeto e ganhou “novos riffs”, digamos assim, onde piano e instrumentos de sopros fazem duelos memoráveis.

Assombrosa, no entanto, é a versão de “Children of the Grave”, uma daquelas canões que simbolizam o peso o do heavy metal, com os riffs do baixo tenebrosos e uma guitarra que costuma demolir as paredes.

Em “Jazz Sabbath” ela se transforma um uma verdadeira suíte, com passagens intrincadas e uma miríade de riffs sobrepostos executados no piano e com um acompanhamento soberbo de metais. Outro exemplo de música completamente transformada.

Ouvindo-a sem saber que se trata de uma canção do Black Sabbath e sem conhecer a original, pouquíssimas pessoas teriam, condições de de cravar de que se trata de uma versão de “Children of the Grave”. O mesmo pode ser dito de “Fairies Wear Boots”.

Wakeman e os produtores foram felizes em escolher sete músicas dos primeiros álbuns, sendo que três hits estrondosos – “Changes”, “Iron Man” e “Children of the Grave”.

Optando por músicas como “Rat Salad” e “Evil Woman” (quem nem foi composta pelo Black Sabbath), os instrumentistas tiveram um pouco mais de liberdade para ousar e criar arranjos inusitados.

A empreitada era arriscada e tinha tudo para dar errado, mas deu bastante certo. Que Wakeman e os produtores mantenham o projeto e realizem novas versões para as músicas do Black Sabbath.

https://www.youtube.com/watch?v=096Cqsucoy0

https://youtu.be/SXeSuF2SrHw

https://youtu.be/fQc0M-pezr0

https://youtu.be/qWhp5v236qU

https://youtu.be/B4oRwnxfGlU


É brega, mas é brutal - e muito divertido, e muito bom...

Nelson Souza Lima - especial para o Combate Rock

Antes de qualquer coisa é bom ficar claro: Brutal Brega é diversão. A nova banda/projeto de João Gordo, vocalista do Ratos De Porão, mostra arranjos punk/hardcore para canções clássicas do cancioneiro popular brasileiro. 

A ideia surgiu no meio da pandemia como uma brincadeira do guitarrista Val Santos (Toyshop) para driblar o isolamento imposto pela pandemia. Santos deu corda no projeto e logo um repertório estava pronto para ser gravado, lançado e divulgado nas redes sociais. A coisa amplificou e ganhou também versão física cujo show de lançamento rolou no Blue Note no ia 18 de novembro.

A casa localizada no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, região central de São Paulo, é ambiente requintado. Inspirada no homônimo de Nova York, prima por levar shows intimistas de artistas mais na linha jazz, mas também recebe grandes nomes da MPB, do pop e do rock nacional e uma galera de fora.

Como é um local no qual o público fica sentado, praticamente colado no palco dá pra curtir os shows e depois até trocar ideia com os artistas.

O show marcado para às 22h30 teve um pequeno atraso de meia hora. Alerta devidamente dado pelo Val que subiu ao palco vestido meio Chapeleiro Louco, meio Chacrinha.

Na abertura um dial "passeando" pelo rádio lembrou as vinhetas de programas antigos como Barros de Alencar e Zé Bettio. As portas da breguice estavam abertas para um repertório porrada que agradou a plateia. Quem não tem seu lado brega?

Além de Gordo e Santos a Brutal Brega é integrada por alguns dos caras mais talentosos e gente fina do rock nacional. No baixo ET, ex-Muzzarelas, na batera Guillas, Toyshop e Viper e na guita base o Veco, outro brother das antigas do Val.

João Gordo, como bom mestre de cerimônias brega, usava um terno quadriculado, bem cafona e, diferentemente da rigidez dos shows do Ratos De Porão, se diverte contando ótimas tiradas e fazendo piada de tudo. O cara tá super à vontade.

Ao cantar "Pavão Misterioso", de Ednardo, lembrou que na infância era chamado de Redondo. Uma referência ao personagem de Wilsa Carla, (1936-2011), a Dona Redonda na novela "Saramandaia", de Dias Gomes. "Pavão Misterioso" foi música tema do folhetim global, isso no longínquo 1975.

Abrindo o set "Fuscão Preto", pérola de Almir Rogério. Lançada em 1982 é uma ode ao chifre e dor de cotovelo. Na sequência o quinteto mandou "Tenho", de Sidney Magal. O vocalista disse que na adolescência odiava Magal e que agora estava pagando todos os carmas. 

O repertório trouxe mais duas de Magal: "Amante Latino" e "Sandra Rosa Madalena", essa última cantada a plenos pulmões pela galera.

Como são músicos experientes os caras fizeram alguns crossovers ramonianos nas músicas, o que ficou muito legal.

Outras pérolas bregas como "Feiticeira" e "Ciganinha" do potiguar Carlos Alexandre (1957-1989), "Domingo Feliz", de Ângelo Máximo, "A Namorada Que Sonhei (Standby)", de Nilton César e "Tô Doidão", do Reginaldo Rossi (1944-2013) estiveram no repertório.
Fechando o show mandaram "Pombo Correio", de Moraes Moreira (1947-2020) e "Tropicana" do Alceu Valença.
Um set curto de pouco mais de 50 minutos, mas que agradou ao público. Após a apresentação os músicos ficaram no maior papo com os fãs e Val Santos disse que a banda não será efêmera.

Nos planos do quinteto estão lançar mais dois álbuns com clássicos bregas e um com standards da MPB. Sem dúvida, uma banda brega e chiquérrima.

Repertório

Brutal Brega - Blue Note - 18 de novembro
Fuscão Preto
Tenho
Ciganinha
Pavão Misterioso
Amante Latino
Domingo Feliz
Pepino
Feiticeira
A Namorada que Sonhei (Standby)
Sandra Rosa Madalena
Atrás do Trio Elétrico
Tô Doidão


Bis
Pombo Correio
Tropicana