domingo, 31 de dezembro de 2023

Tin Machine, a aventura roqueira de David Bowie, completa 35 anos

 Um astro de rock supercriativo e dinâmico, mas que estava entediado e cansado da mesmice dos anos 80, com seus excessos de produção dos álbuns e com o comercialismo dominando dava vez o mercado.

Com saudades da simplicidade dos anos 70, rompe com tudo e decide ser apenas mais um em uma banda de rock pesado. Quem seria maluco de fazer tal coisa após os anos de seu maior sucesso comercial? 

Na semana que marca o oitavo aniversário da morte de Davi Bowie, relembramos a aventura roqueira do astro inglês que era sinônimo de mutação dentro da música pop, estando sempre na vanguarda. Foi sua aventura ais legal e mais ousada, dependendo do ponto de vista. 

Será que ele conseguiria se despi do astro gigante que era para se tornar apenas um vocalista/crooner de uma banda, apenas mais um integrante?

Trinta e cinco anos atrás, David Bowie iniciava uma aventura corajosa, a de se enfurnar com três músicos de larga experiência, mas de postura de "garagem", em uma banda de hard rock. 

Não deu tão certo quanto deveria ter dado, mas o Tin Machine é considerado por muita gente a melhor coisa que o cantor inglês já fez - e eu me incluo na lisa. 

David Bowie teve a coragem de mudar tudo na sua carreira em 1988: largar a sua sonoridade pop por excelência e todos os exageros de produção, para viver o mundo do rock "real", como chegou a dizer em um programa de rádio de Nova York.

"Quero ser apenas um integrante de uma banda de rock selvagem e barulhenta, como era no início", disse o cantor, como se fosse possível Bowie ser apenas mais um em qualquer projeto, ainda mais quando foi ele que inventou a coisa e a bancou, digamos assim. A banda tinha ele como cantor principal e compositor predominante. 

A "banda" de David Bowie foi uma aventura bastante divertida., artisticamente instigante e prolífica, mas a maioria do público não entendeu a proposta. 

Os antigos fãs, os "clássicos", se sentiram "órfãos" de Ziggy Stardust, do Thin White Duke, do experimental artista do período "alemão" do fim da década de 1970 e do camaleão pop que reinou nos anos 80 com os excessos de teclados e de produção. Rejeitaram sem dó o rock mais pesado e agressivo.

O projeto tomou forma em 1989 e evoluiu rápido, com um álbum marcante, Foram dois discos de estúdio e duas grandes turnês americanas e europeias

Tudo muito intenso e rápido, e então o Tin Machine acabou sem muitas lamúrias em 1992 - estava também acossado pelo estouro do grunge, mas principalmente pelas vendas apenas boas, mas decepcionantes. 

"Houve um momento em que eu me cansei de ouvir perguntas sobre as minhas músicas antigas e gritos na plateia querendo ouvir coisas como 'Let's Dance'. Percebi que eu precisava recuperar esse legado quando cheguei à conclusão de que o Tin Machine não tinha mais perspectivas artísticas", declarou  cantor à revista Rolling Stone anos depois. 

Ousadia surpreendente

Bowie não foi o primeiro a ansiar pela "volta às raízes" ou por uma suposta simplicidade associada à adolescência ou aos primórdios do rock. Os Rolling Stones fizeram isso em 1968 com  o LP "Beggar's Banquet"; The Who em 1975, com "The Who By Numbers"; o Led Zeppelin preparava um material mais básico e menos rebuscado antes de acabar, em 1980, assim como os Beatles pensavam em fazer o mesmo em 1969 - o fim chegou antes, no ano seguinte.

Tin Machine não era exatamente um retornou às origens, mas um projeto diferente só com guitarra, baixo e bateria, mas cru e pesado, aliando a urgência do punk rock com a base bluesy do hard rock. Nos primeiros ensaios ficou claro que era aquilo que Bowie queria.

O resultado imediato disso foi "Tin Machine", o primeiro álbum ao lado de Reeves Gabrels (guitarra) e dos irmãos Tony Sales (baixo) e Hunt Sales (bateria e vocais). Foi uma guinada e tanto na vida em 1989. 

O astro pop inglês abandonou o sucesso até certo ponto fácil (e brilhante) dos discos "Let's Dance" (1983), "Tonight" (1984) e "Never Let Me Down" (1987), casou-se com uma modelo africana e chamou amigos de longa data para embarcar em sua aventura roqueira.

 O quarteto é surpreendente pelo peso e pela simplicidade (ao vivo eles tinham o auxílio de um guitarrista adicional, Eric Schemerhorn). 

Tendo como modelo os Stooges, de Iggy Pop, pais do punk rock no início dos anos 70, o Tin Machine apostou em um rock acelerado e com guitarras na cara, além de uma bateria marcante e martelada em algumas músicas. 

Deu certo, mas principalmente por causa de Bowie, o grande mentor do projeto e do conceito. "Tin Machine" foi gravado rapidamente em Nassau, nas Bahamas, e lançado em 1989 contendo várias músicas excelentes, como "Heaven's in Here", "Under the God", "Amazing" e uma visceral versão para "Working Class Hero", de John Lennon. 

As letras estavam mais raivosas e as melodias construídas por Gabrels eram marcantes. O sucesso foi absoluto e rendeu uma bem-sucedida turnê norte-americana. 

Um breve intervalo para ajudar o amigo Iggy Pop na gravação e produção do álbum deste, "Lust for Life", e logo grupo embarcou para mais uma turnê, desta vez pela Europa.

O quarteto resolveu dar uma pausa em 1990, enquanto Bowie cumpria compromissos na turnê solo "Sound + Vision", do mesmo ano. Ao final desta, não parou: entrou logo em estúdio para gravar "Tin Machine II". 

Ambiente mais sombrio

O peso e as letras inspiradas ainda estavam lá, mas a mão de Bowie marcou grande presença no direcionamento mais pop do grupo, enquanto as canções ficaram mais sombrias, melancólicas e pesadas em vários sentidos. Esse cenário desagradou a Reeves Gabrels, sem muito espaço para sua guitarra inventiva e barulhenta. 

Longe de ser ruim, o álbum tem grandes momentos, como "You Belong To Rock'n Roll", "If There is Something" (versão para uma canção do Roxy Music), "Baby Universal", "Goodbye Mr. Ed" e o ótimo blues "Stateside", cantada pelo baterista Hunt Sales. No entanto, o entusiasmo de público e da própria banda arrefecera diante de uma receptividade morna e vendas menores que a do trabalho anterior.

Gabrels afirmou em 1995, em entrevista à revista Rolling Stone, que a banda acabou porque o direcionamento mais pop afugentou um público diferenciado conquistado em 1989 com a mistura de hard rock e blues do primeiro álbum. Ao mesmo tempo, não agregou novos aficionados em grande quantidade.

Já Bowie afirmou algumas vezes que as músicas compostas ficaram aquém do que ele esperava em qualidade. O rompimento, amigável, ocorreu no começo de 1992.

"Oy Vey Baby", LP ao vivo bem curto lançado no final daquele ano, também fracassou nas vendas. É um bom disco, mas não captou a essência da banda, que estava a todo vapor na turnê do primeiro disco.

Esse CD ao vivo traz alguns momentos pinçados durante a turnê europeia de "Tin Machine II". O grupo estava bem, mas sem a energia demonstrada nos shows iniciais. 

De qualquer forma, o Tin Machine é uma das boa surpresas da carreira de David Bowie, marcada por viradas importantes e direcionamentos bastante criativos ao longo de quase quatro décadas.

Para quem gosta de rock mais pesado, o grupo é uma boa amostra do que o hard rock do início dos anos 90 poderia ter sido se não estivesse tão contaminado pelos excessos de produção, teclados e arranjos diversos e diferentes da década anterior.

sábado, 30 de dezembro de 2023

Deep Purple: há 40 anos, o renascimento em grande estilo

 Era uma das reuniões mais pedidas e aguardadas dos anos 80 - John Lennon, morto em 1980, impediria para sempre  volta dos Beatles -, e quase não ocorreu por conta de divergências que se mostraram inconciliável no futuro. "A música falou mais alto, pelo menos por  tempo", declarou o baixista Roger Glover a este jornalista em 2005.

Foram necessárias costuras e meses dde negociações para que o Deep Purple finalmente anunciasse a volta da formação clássica em 1984 - Ian Gillan (vocais), Ritchie Blackmore (guitarra), Ian Paice (bateria) e Roger Glover (baixo).

Todos queriam a volta, mas todos trataram de valorizar e para conseguir a maior vantagem possível e um naco a mais de poder. Com isso, quase não rolou.

O maior problema era conciliar os interesses dos rabugentos Blackmore e Gillan, que se odiavam, mas se respeitavam. Quem daria o direcionamento musical? 

Gillan exigiu ter a palavra final, segundo algumas reportagens da época, mas seu pleito foi rejeitado. Coube a Glover fazer a mediação para viabilizar artisticamente um acordo e o retorno da banda, após meses de conversas, foi anunciado no segundo trimestre de 1984, após o vocalista cumprir seus compromissos com o Black Sabbath e Blackmore, com o Rainbow.

Era um desfecho positivo para uma história acidentada e cheia de mágoas e ressentimentos. Blackmore, Lord e Paice criaram a banda no final de 1967 em busca de algum sucesso depois de tentativas frustradas. Abraçaram o rock psicodélico e rock progressivo sem muita repercussão por dois anos e três álbuns.

Em 1969, o vocalista Rod Evans e o baixista Nick Simper foram demitidos e substituídos por Gillan  Glover. O som ficou pesado, com Lord deixando de direcionar  artisticamente o grupo. Blackmore assume o leme e então o hard rock predomina, com quatro discos ótimos entre 1970 e 1973, além de um ao vivo fantástico.

No entanto, eram muitas as divergências e desacordos, e Gillan e Glover saíram em 1973, substituídos por Glenn Hughes (baixo e vocais) e Daivd Coverdale (vocais). a banda se renovou e recresceu com dois discos excelentes, mas aí foi a vez de Blackmore se irritar com os rumos da banda e sair no começo de 1975. 

Tommy Bolin entra, mas o Deep Purple era uma instituição condenada pelo desinteresse dos músicos, excessos de todos os tipo e exaustão criativa. "Come Taste the Band", o disco de 1975, era muito bom, mas não o suficiente para manter o Purple unido. O fim da banda er inevitável e veio no começo de 1976.

Era consenso de que o fim abrupto tinha interrompido uma história marcante, e que  retomada era uma questão de tempo e necessária, principalmente em relação à segunda formação. Se o sentimento era de que algo estava incompleto, ao mesmo tempo havia a sensação de que seria muito difícil reunir aquele quinteto de novo.

Depois de quase um ano de conversas e negociações, os cinco estavam n estúdio, no primeiro semestre de 1984. Havia muito desconforto, apesar de certa camaradagem e conversas educadas, com todos pisando m ovos.

Apesar do tempo demorado para aparar arestas e reunir a banda, muita coisa ainda estava por resolver. Eram muitas as mágoas e ressentimentos. 

Ao contrário de 1969, quando eram jovens, os músicos já estavam à beira dos 40 anos de idade e acreditavam estar um pouco mais maduros para lidar com algumas diferenças profundas. Isso foi verdade, mas apenas por algum tempo.

"Perfect Strangers", o álbum de torno lançado ainda em 1984, mostrou que o quinteto, em termos mis, tinha uma química extraordinária. 

O hard rock que surgiu era moderno, com timbres de teclado que estabeleceram novos padrões naquela época, e com uma guitarra faiscante que exalava modernidade, especialmente na faixa-título e na contagiante "Knockin' at Your Back Door".

Ao vivo o grupo estava redondo, seguro de si e com uma força que surpreendeu a todos que foram aos festivais de 1985 na Europa. Por isso ninguém entendeu a ausência da banda no Live Aid, em 13 de julho daquele ano. Até hoje a "culpa" é creditada a Blackmore, que não quis participar, o que ele negou posteriormente.

O Deep Purple soava fresco, revigorado e potente, com Ian Gillan cantando comm muita vontade e disposto a mostrar que era o grade vocalista do hard rock de todos os tempos. Blackmore estava á vontade e com vontade, enquanto Jon Lord procurava novos timbres e retomava o protagonismo de sei instrumento.

Havia ainda outras boas ideias no disco, como a imponente balada blues "Wasted Sunset", a rápida e insinuate "A Gypy's Kiss" e o rock clássico setentista "Nobody's Home".

"Perfect Strangers" era o disco certo na hora certa para recuperar um ícone do rock pesado. O hard rock estava em ascensão e o classic rock ainda sofria com o avanço do heavy metal em todas as suas vertentes. Um Deep Purple renovado e moderno e com apelo comercial era um fortalecimento notável  da cena.

os bons ventos sopraram até a hora de voltar a estúdio, dois anos depois, de uma turnê mundial de enorme sucesso. Os velhos problemas voltaram a assombrar e as rixas dominaram o ambiente, provocando o lento, as firme, desinteresse em todos.

"House of the Blue Light", lançado em 1987, nem de longe trazia a força e a qualidade do álbum de retorno, misturando boas ideias com temas burocráticos e comuns. 

A guitarra de Blackmore estava displicente, e o teclado e de Lord soava sem imaginação. Gillan também estava sem inspiração, com letras apenas medianas. 

Desunidos e sem grande interesse, fizeram poucos shows, sempre tendo a tensão no ar por conta da rivalidade entre Gillan e Blackmore. O desfecho parecia inevitável: o vocalista retomou a sua carreira solo no começo de 1989 e só se deu ao trabalho de avisar a banda depois.

Ao lado do amigo Steve Morris, guitarrista dos bons, Ian Gillan lançou dois bons álbuns nos anos seguintes e mostrou uma alegria profissional nunca antes vista.

Já o Purple caiu de novo sob as ordens de Blackmore diante do desinteresse dos demais e recrutou o esforçado americano Joe Lynn Turnerm que tinha trabalhado com o guitarrista no Rainbow. Era o sonho de Turner: ser o cantor do Deep Purple.

O Ddeep Purple foi forçado a começar do zero e Blackmore assumiu o comando total diante do desinteresse de todos, Recrutou o vocalista americano Joe Lynn Turner, com quem tinha trabalhado no Rainbow, e assim conseguiu reinserir no repertório canções da época de David Coverdale e Glenn Hughes, que Gillan se recusava a cantar (e é assim até hoje).

Turner cantava bem, mas não era um gigante como Gillan, Dio, Hughes, Coverdale ou Paul Rodgers. A rejeição do fãs ao vivo foi imediata, Para piorar, o álbum com o novo vocalista era muito fraco, com apenas uma canção razoável, o single "King of Dreams". 

O álbum "Slave and Maasters" é o pior a carreira da banda e sua turnê marcou a primeira vinda da banda ao Brasil, em 1991. Banda e empresários decidiram agir rápido para salvar as celebrações de 25 anos da banda e forçaram Blackmore a engolir o óbvio: Ian Gillan tinha de voltar.

As negociações foram duras, mas ele aceitou e chegou 

a tempo de gravar o razoável álbum "Battle Rages On", lançado e 1993, o ano dos 25º aniversário. As comemorações estavam salvas, mas estiveram longe de ser um sucesso. 

O público não comprou de imediato a ideia e em muitos locais os shows não estiveram lotados, o que acirrou as desavenças entre Blackmore e Gillan - sempre eles.

Insatisfeito com a volta "forçada" do vocalista e desafeto, Blackmore começou a reclamar de que Gillan não conseguia amis tocar direito e que precisava sair. Isistiu tanto que brigou com o amigo Jon Lord, que não se incomodou quando o guitarrista ameaçou sair, 

Sentindo-se desrespeitado, Blackmore saiu mesmo, e no meio da turnê mundial. A banda, talvez prevendo esse comportamento, adiou poucos shows e recrutou o amigo e fã Joe Satriani para quebrar o galho em oito shows na Ásia - o empresário deles era o mesmo,

Já no fimd e 1994 o Deep Purple  tinha novo guitarrista oficial, o americano Steve Morse, que ficou 28 anos no grupo, até 2022, quando saiu para cuidar da esposa, que estava com câncer. O sul-africano Simon McBride o substituiu. Nesse meio tempo, Jon Lord saiu em 2002 ( seu substituto foi Don Airey) e morreria de câncer dez anos depois.

Ritchie Blackmore deciiu ainda em 1994 reativar o Rainbow, que lançou em 1995 o bom disco Stranger In Us All", seguido de uma turnê mundial de boa receptividade. 

No entanto, ele se desinteressou do rock e decidiu se juntar em 1997 com a esposa, a cantora Candice Night, e, um projeto de unia música folk celta e a renascentista Blackmore's Night, que jpa foi mais ativo, mas ainda existe, 

O Rainbow parou em 1996, mas fez alguns shows na Europa entre 2015 e 2016 com uma formação completamente diferente, submergindo nas trevas em seguida.

O 'projeto 'Deep Sabbath' chegava ao fim há 40 anos

 Era tudo muito improvável, já que o cantor tinha acabado de passar por uma cirurgia na garganta. No entanto, após uma noite inteira de bebedeira e jogo d sinuca, o fato estava sacramentado: Ian Gillan, ex-Deep Purple, era o novo vocalista do Black Sabbath.

O acerto foi corroborado horas depois, em uma fria tarde de 1983, sob protestos do empresário do cantor: "Você poderia ter ao menos me avisado".

Era o desfecho de uma era desastrada na carreira dos dois artistas. O cantor vinha de altos e baios com as banda Gillan  a Ian Gillan Band e teve dde parar para cuidar da saúde. 

Já o Black Sabbath demitira o vocalista Ozzy Osbourne em 1979 e passou meses ensaiando cm Ronnie James Dio, então saído do Rainbow, até defini-lo como o cantor do grupo. durou até 1982, quando, após dois álbuns e um ao vivo, houve uma ruptura litigiosa.

Não tinha nada a ver a junção, mas acabou sendo bom para todos os lados porque ambo recuperaram algum fôlego para seguir nos competitivos anos 80. No fundo, Gillan e Tony Iommi, o guitarrista líder do Sabbath, sabiam que o arranjo era provisório e temporário.

Os dois músicos eram muito amigos e viviam se encontrando em pubs, mas nunca cogitaram tocar juntos profissionalmente. "Só mesmo muito álcool para criar esse 'monstro'", brincou anos depois o vocalista ao comentar o desfecho em uma manhã gelada e cinzenta em um pub.

Apesar de esquisito, Iommi gostou da ideia tempos depois e se esforçou para que desse certo. Tanto ele quanto o cantor resolveram mergulhar no trabalho e fazer dar resultado. 

O baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward, da formação original, escutaram os planos e resolveram voltar depois de um afastamento. Com Gillan, um nome gigante do rock, avaliaram que haveria boas perspectivas. E então a bomba estourou na imprensa.

Todos são unânimes em dizer que foi um período bastante divertido e que o astral no estúdio era bem interessante e construtivo, por mais que o álbum concebido, "Born Again", fosse muito pesado, sombrio e até violento.

Com uma produção esquisita e sons estranhos, os músicos não gostaram do resultado, as acabou se tornando um disco cultuado em várias partes do mundo, principalmente no Brasil e na Argentina. Há pelos menos três clássicos: "Born Again", "Disturbing the Priest" e "Zero the Hero".

O disco não vendeu muito, mas o suficiente para animar a todos e fazer a banda engatar uma turnê americana em 1983 e shows na Europa no ano seguinte, uma turnê que também foi considerada divertida pelos músicos - ill Ward, por problemas de saúde e com o álcool, foi substituído por Bev Bevan, que tinha passado pela Electric Light Orchestra.

Inusitada, interessante, divertida, com bons resultados... Mas desconfortável em vários momentos e circunstâncias, segundo  próprio Gillan comentou em várias entrevistas. Havia um incômodo latente, e todo percebiam. A união não era natural. 

O sentimento era de que as coisas estavam fora do lugar, especialmente quando a banda encerrava o show com "Smoke on the Water", do Deep Purple, a pedido/exigência de Gillan. Era curioso e interessante, mas não funcionava perfeitamente. Mais do que nunca, ali ficava claro que o "Deep Sabbath" não iria longe.

O que fazer? Para Gillan, rezar por uma solução que caísse do céu. Ou torcer para a volt da formação clássica do Deep Purple, aquela chamada de "mark II", que durou de 1969 a 1973.

Foi durante a turnê que emissários de Ritchie Blackmore, ex-guitarrista do Deep Purple, sondaram Gillan sobre a possibilidade de voltar - o Purple havia acabado em 1976 com outra formação. Feliz, o vocalista fez jogo duro para não dar o braço a torcer, mas cedeu quando soube que Ian Paice (bateria), Roger Glover (baixo) e Jon Lord (teclados) haviam topado.

Ian Gillan manteve segredo por algum tempo até que notinhas na imprensa musical surgiram na virada do ano idicando que havia uma movimentação para reunir o Purple. Diz a lenda ue foi no mesmo pub onde selou a entrada na banda que Gillan confirmou os rumores a Iommi de que a antiga banda voltaria.

O guitarrista do Black Sabbath não se surpreendeu, embora não soubesse dos rumores. De certa forma, até esperava um desfecho parecido com aquele. A inadequação de Gillan era evidente no Sabbath e logo haveria aquele desfecho.

Ian Gillan se despediu com shows na Inglaterra no começo de 1984 e logo entraria em estúdi para gravar "Perfect Strangers", a volta do Deep Purple, aina em 1984. 

Já o Black Sabbath deveria ter ficado parado, já que Bevan e Geezer anunciaram que estavam fora do Black Sabbath, deixando Iommi sozinho. O guitarrista começou a preparar o seu primeiro álbum soo e testou vários vocalistas até definir que o amigo Glenn Hughes, outro ex-deep Purple, seria o cantor

No final das gravações do álbum, em 1985, a gravadora de Iommi exigiu que o disco fosse lançado como do Black Sabbath. O músico aceitou, desagradando aos músicos de sua então banda solo.

 "Seventh Star" saiu bem no comecinho de 1986, com Glenn Hughes nos vocais, ams este estava no auge de seu vício em drogas e álcool e acabou demitido depois do quarto show da turnê, substituído pelo americano Ray Gillan. Era apenas o começo de um longo calvário para o Black Sabbath que só terminaria em 1997 com a volta de Ozzy Osbourne.

Roger Waters decretou, há 40 anos, o fim do Pink Floyd, mas a Justiça não deixou

 Quase todo mundo ignorou os sinais que vinham das tensas sessões de gravação de "The Final Cut', de 1983, derradeiro álbum do Pink Floyd com a participação do baixista e vocalista Roger Waters. A banda que gravou a obra estava desfigurada: o tecladista Rick Wright tinha sido demitido anos antes, o guitarrista David Gilmour pouco apareceu nos estúdio e o baterista Nick Mason gravou o que deu.

Praticamente um disco solo de Waters com o nome da banda - o conceito e todas as composições sãos. Gilmour aparece nos vocais apenas em "Not Now John", dividindo-os com o baixista. Claro que tudo soava tenso e esquisito, mas ninguém farejava a implosão rápida.

Workaholic assumido, Waters decretou que não haveria turnê de divulgação e que logo entraria em estúdio para gravar um álbum conceitual, "The Pros and Cons of Hitch Hiking", que sairia no começo de 1984 com a presença ilustre de Eric Clapton nas guitarras.

Assim que as gravações terminaram, Waters anunciou uma turnê norte-americana com Clapton, mas evitou dar entrevistas imaginando que seria bombardeado com perguntas sobre o Pink Floyd. Só que o boquirroto baixista não se conteve e decretou, na véspera da primeira apresentação da turnê, no comeco de 1984, que o Pink Floyd não existia mais.

Curiosamente, essa informação bombástica jogada de forma precisa há 40 anos, não recebeu a atenção devida. Gilmour e Mason, estrategicamente, silenciaram esperaram. Waters ficou ocupado demais com a turnê, mas falava a todos que sua banda tinha acabado.

Percebendo que o assunto não reverberava como imaginava, tratou de ir ao ataque: em entrevista coletiva no começo de 1985, anunciou que estava fora do Pink Floyd e que iria à Justiça para obter os diretos do nome da banda e, consequentemente, impedir os ex-companheiros de continuarem tocando sob o come Pink Floyd.

Seguros de si, Gilmour e Mason sabiam que tinha a razão e o auxílio de excelentes advogados. Ignoraram as bravatas de Waters e iniciaram os trabalhos do que viria a ser o [album "A Momentary Lapse of Reason", de 1987, reintegrando Rick Wright, mas apenas como convidado (por enquanto).

A batalha judicial foi longa e Waters perdeu em quase todas as fases, até que teve de jogar a toalha, Após uma derrota quase definitiva, propôs um acordo para interromper o processo: abria mão do nome Pink Floyd, mas requeria os direitos integrais sobre a obra-prima "The Wall", de 1979.

Om com baixista fora definitivamente, o Pink Floyd seguiu como um trio e, ao vivo, com o suporte de uma imensa banda de apoio. Até 1995 foram dois álbuns de estúdio de bom nível e dois ao vivo.

Para todos s efeitos, oficialmente o grupo encerrou as atividades em 2015 com o lançamento de "Endless River", um álbum com sobras de estúdio do álbum "The Division Bell", de 1994. Na realidade, Gilmour decidiu que não tocaria mais sob o nome da banda, para desgosto de Mason. 

Em carreira solo, o guitarrista herdou a estrutura e a megabanda, inclusive absorvendo Rick Wright, que morreria de cancer em 2008, aos 65 anos. 

De form esporádica, Gilmour faz shows na Europa e lançou dois álbuns desde 1995: "On a Island", de 2006, e "Rattle That Lock", de 2016, tendo a terceira esposa, a jornalista Polly Sampson, como principal parceira nas composições.

Nick Mason formou uma banda chamada Saucerful of Secrets (nome do segundo álbum dos Pink Floyd, de 1968) para tocar canções dos três primeiros iscos do grupo. Seus shows são esporádicos, mas ja renderam dois álbuns ao vivo.

Roger Waters manteve-se ativo desde que saiu da banda, embora o espaço entre seus álbuns solo seja longo. Aos 80 anos, está em turnê mundial de despedida, que passou pelo Brasil em 2023 - ele se aposenta dos palcos, mas não dos estúdios.

Depois da briga judicial de 1985  1987, o quarteto da formação clássica só se reuniu uma vez, em 2005, durante a série de concertos do Live 8, evento que buscava protestar contra as decisões do grupo de países mais ricos do mundo. Foram quatro músicas tocadas em Londres, sendo que o constrangimento ominou os bastidores e mesmo  apresentação.

Depois da morte de Wright, Gilmour e Mason fizeram uma aparição surpreendente em um show solo de Waters em Londres, em 2010. Tocaram em "Confortably Numb", do disco "The Wall". Não demorou muit para que Waters e Gilmour voltasse a se atacar pela imprensa nunca mais se juntaram para nada.

Em show monumental, Titãs celebram a sua majestade no Brasil

 Flavio Leonel - do site Roque Reverso
 
A parte final de 2023 da turnê de reencontro dos Titãs, marcada por três shows disputados na cidade de São Paulo, marcou de maneira inesquecível a série especial de apresentações ao vivo do grupo brasileiro pelo País iniciada em abril deste ano. Com uma estrutura gigantesca para padrões nacionais do rock, a veterana banda paulistana desfilou uma longa sequência de clássicos do rock brasileiro e saciou o desejo do público, formado principalmente por fãs que acompanharam o grupo ao longo de quatro décadas de existência.

O Roque Reverso esteve presente no primeiro dos três shows finais paulistanos da turnê de 2023, realizado na noite da quinta-feira, 21 de dezembro, no Allianz Parque, mesmo palco das duas apresentações seguintes, que aconteceram na sexta-feira e no sábado.

O período próximo das festas de fim de ano, com várias pessoas já em momentos menos atribulados em seus respectivos trabalhos ou até mesmo em período de férias coletivas, favoreceu a presença maciça do público nos três shows na Arena do Palmeiras.

O show do sábado, 23 de dezembro, foi o oficial que fechou o ano de grandes espetáculos em São Paulo, mas a alta procura de ingressos havia gerado mais duas apresentações extras, dois dias antes da derradeira. Vale lembrar que os Titãs já haviam feito, em junho, outros três shows lotados, no mesmo Allianz Parque, sendo que o último daquela trinca, do dia 18 de junho, chegou a ser transmitido ao vivo pelo canal fechado Multishow e também gratuitamente pelo Globoplay.

Naquela ocasião, muitas pessoas que não conseguiram comprar os disputados ingressos da turnê que atravessou o País tiveram a oportunidade de acompanhar, pela TV ou pela internet, o desfile de clássicos da turnê denominada “Titãs Encontro – Pra Dizer Adeus”.

No calendário da turnê, após os shows do Allianz Parque, ainda estavam o show do dia 28 de dezembro, em Florianópolis e o dia 31 de dezembro em Fortaleza. Em 2024, a banda tocará de maneira inédita como um dos headliners no festival Lollapalooza, no que parece, até o momento, ser a apresentação final da “Titãs Encontro”.

O show

A apresentação do dia 21 de dezembro que contou com a presença da reportagem do Roque Reverso trouxe poucas mudanças em relação à observada nos três shows de junho no Allianz Parque. Depois que o grupo subiu ao palco com “Diversão”, um desfile de clássicos do rock nacional que é praticamente imbatível veio na sequência.

Com exceção do saudoso Marcelo Fromer, estavam ali 7 sujeitos que influenciaram, de alguma maneira, mais de uma geração com suas músicas de diferentes influências e vertentes do rock. Os resistentes da formação atual dos Titãs (Tony Bellotto, Sérgio Britto e Branco Mello) estava novamente com seus parceiros de longa data que saíram da banda para carreiras solos e demais projetos pessoais (Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos e Charles Gavin).

Para quem viveu os Anos 1980 intensamente, como é o caso deste jornalista que vos escreve, era inevitável a emoção de ver Arnaldo Antunes cantar “Lugar Nenhum”, “Televisão” e “Porrada”; Paulo Miklos cantando “Bichos Escrotos”, “Estado Violência” e “Sonífera Ilha”; e Nando Reis cantando “Igreja”, “Os cegos do castelo” e “Marvin”.

Também não faltaram bons momentos com o resistente Sérgio Britto, como nas execuções de “Desordem”, “Polícia” e “Epitáfio”. E, claro, foi importante demais ver Branco Mello, depois de uma recuperação de um câncer na garganta, cantando, agora em outros tons e adaptações, “Tô cansado”, “Cabeça Dinossauro” e “32 Dentes”.

Quando o assunto é performance musical, é impossível não citar a qualidade de Charles Gavin na bateria. Trajando uma camisa do Sepultura, banda orgulho nacional que sempre teve bons bateristas, ele foi, ao lado de Nando Reis, o melhor da noite em performance, mostrando que, apesar de hoje estar focado em outros projetos, não perdeu o talento no instrumento.

Entre as novidades tocadas em relação ao show final de junho, o grupo trouxe cinco músicas: “Será que é isso o que eu necessito?” (uma das melhores da noite), “Nem Sempre se pode ser Deus”, “Querem meu Sangue”, “Domingo” e “O quê”. A faixa “Ovelha Negra”, cover para a versão original de Rita Lee e cantada pela filha de Marcelo Fromer, Alice Fromer, foi tocada em junho, mas não agora em dezembro.

Desta vez, no belo momento que homenageou o pai cantando com Arnaldo Antures, num momento acústico do show, Alice esteve presente em “Toda Cor” e “Não vou me adaptar”.

O fato é que as apresentações da turnê focaram basicamente na fase clássica e de melhores álbuns do grupo, exatamente quando todos os membros estavam juntos e no auge musicalmente. E era justamente isso que o público queria ver.

Sim, os Titãs não tocam mais da maneira visceral e agressiva observada nos Anos 1980 e 1990. Os músicos assumiram de vez a condição de “senhores” e hoje fazem mais um estilo “The Who” (comparando o passado e o presente do grupo britânico) do que um estilo de bandas de idade próxima, como o “Metallica” e outras de pegada mais pesada, que, apesar da idade, ainda continuam com certa agressividade no palco.

Produção impecável

A equipe do Roque Reverso tem mais de uma centena de shows grandes vistos nos últimos 30 anos, tanto em turnês solos como em festivais, mas não havia visto ainda uma produção tão bem elaborada e rica em detalhes como a do show dos Titãs para uma banda de rock nacional.

Com um palco gigantesco e maior até do que alguns nomes de peso do rock internacional que já passaram pelo País, os Titãs finalmente tiveram uma produção nesta turnê condizente com toda a sua importância para o rock brasileiro.

Luzes, efeitos bem elaborados e telões gigantescos deixaram o momento de resgate da carreira ainda mais interessante. O som chegou a começar um pouco baixo no início, mas foi melhorando demais no decorrer da apresentação.

Uma análise inevitável para tudo aquilo que estava sendo visto no Allianz Parque era de que os Titãs estavam finalmente recebendo, com essa turnê lotada, disputada e bem produzida, a devida homenagem pelo conteúdo produzido em mais de 4 décadas.

Público

Tal qual a postura menos agressiva da banda, o público presente no Allianz Parque também foi mais contemplativo do que de agitar. Havia, sim, muitas pessoas de gerações mais jovens que nunca haviam visto os integrantes da formação clássica juntos, mas esses eram minoria frente à legião de “tiozinhos assumidos” ali presentes.

Mesmo em músicas que pedem agitação, como “Lugar Nenhum”, “Polícia” e “AAUU”, o público no Allianz preferiu mais admirar e cantar de maneira comedida do que pular e vibrar intensamente, como podia ser visto em shows do grupo em décadas anteriores.

Um momento que chamou a atenção foi a execução de “Televisão”. Num dos grandes momentos do show, os ecos do refrão “Ô, Cride! Fala pra Mãe” foram sentidos por todo o Allianz Parque, local já marcado por momentos parecidos de catarse, como nos shows recentes do KISS no Monsters of Rock de 2023, ou em apresentações do Bon Jovi e do Coldplay.

Com uma acústica que possibilita essa ampliação vocal da plateia, o Allianz Parque consegue enriquecer ainda mais alguns espetáculos de rock, deixando alguns momentos inesquecíveis, repetindo ou até superando cenas catárticas de grandes jogos de futebol no mesmo local.

 Presença como fã

Poucas coisas doeram mais aos integrantes do Roque Reverso em 2023 do que a negativa da assessoria de imprensa responsável para a cobertura dos shows de junho dos Titãs em São Paulo. Era um momento muito especial e com três shows possíveis para liberar o credenciamento, mas o “não” foi a escolha mais fácil para os responsáveis pela imprensa. E, como a resposta foi dada dias antes do show e não havia mais ingressos, este veículo ficou de fora do grande momento.

Na verdade, não houve surpresa, já que, mesmo na entrevista coletiva para o lançamento da turnê, este veículo de imprensa, que não é grande, mas costuma estar presente nos grandes eventos do rock no Brasil, já não havia sido convidado, ao contrário até de gente que nem é jornalista e estava presente lá por ser youtuber, influencer ou coisa parecida como essas atuais que vêm tomando espaço do Jornalismo não apenas na área musical.

Para o show do dia 21 de dezembro, a reportagem do Roque Reverso decidiu ir como fã e nem “concorreu” ao credenciamento de imprensa para não correr o risco de ficar “na mão” novamente pela falta de ingressos, como ocorreu em junho.

A ideia era apenas de postar vídeos como lembrança dos shows nos nossos canais, mas leitores e colegas de imprensa chegaram a perguntar se haveria a resenha.

Como os dedos desta equipe do Roque Reverso continuam nervosos e ativos

Mais do que um grande show com detalhes muito interessantes e grande produção, a turnê “Titãs Encontro” deixa um legado para outras bandas brasileiras, contemporâneas ou não do grupo paulistano.

Após essa grande turnê, foi inevitável entre os fãs de rock nacional imaginar outros grupos tendo o mesmo tratamento num grande estádio ou arena.

A partir de agora, há o desejo de ver grandes nomes, como o Barão Vermelho num reencontro com Frejat, Os Paralamas do Sucesso, o Ira!, a Blitz, o Sepultura e outras bandas importantes do País brilhando e sendo tratados com maior dignidade em grandes espaços, com som bom e toda uma


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Duca Belintani leva o som do Mississippi ao Sesc Belenzinho

Uma viagem ao centro do mundo - no caso, do mundo do blues, misturando uma busca de raízes e també da melhor das inspirações. "Electric Delta" é tudo isso e bem mais do que um álbum de blues de um guitarrista brasileiro.

Duca Belintani, paulistano apaixonado pelo instrumento e pelo gênero musical, continua divulgando o disco em foi lançado em 2022 e que rendeu uma extensa agenda de shows, O próximo é no dia 7 de janeiro no Sesc Belenzinho teatro da unidade, com ingressos de R$ 15 (Credencial Sesc) a R$ 50 (inteira). 

"Electric Delta" foi inspirado na viagem que o músico fez ao Delta do Mississippi onde bebeu na fonte todos os sons da região. Para este show Duca apresenta músicas deste novo álbum, como "Just an old man", "Who's been Walking" e "Seven dollars", além de outras de seus discos anteriores como "Louisiana blues" e "I'm Going Down in Mississippi". Saiba mais no serviço ao final do texto.

Guitarrista, professor e produtor, Belintani atua no mercado musical há mais de 35 anos. Nos anos 80 foi guitarrista da banda Controle Remoto, com a qual lançou dois discos.

Também tocou como músico de apoio do cantor Kid Vinil por seis anos e lançou seu trabalho CD solo "MPBlues" pela gravadora Eldorado, em 2000. Seis anos depois gravou Conduzir, trabalho de blues fusion instrumental, e, em 2009, lançou Cuíca, novo trabalho instrumental.

No show é acompanhado de Benigno Sobral no baixo e Vinas Peixoto na bateria, e também conta com a participação especial de Otávio Rocha guitarrista da banda Blues Etílicos.
 
Blues no sangue

Em passagens pelo Brasil, mestres americanos do blues costumavam dizer que o blues feito aqui era diferente. Nem melhor, nem pior do que na Europa ou na África. Apenas diferente. Hubert Sumlin disse isso, Charlie Musselwhite disse isso, James Cotton disso isso...

Os bluseiros brasileiros acreditam nisso, e um deles é o paulista Duca Belintani, que está com álbum novo no mercado. 

"Electric Delta" é o resultado de um projeto ambicioso realizado antes da pandemia de covid-19: o guitarrista viajou aos Estados Unidos em 2019, passou um tempo em Chicago e depois percorreu estradas do interior para se inspirar. E não é que deu certo?

O som de Belintani é diferente. Consegue misturar o tradicionalismo do gênero com um toque particular que pode ser identificado com a música brasileira. É quase um folk blues se nao fossem os riffs elegantes e os solos bem encaixados e ferozes.

"I’m Back" e "A Long Time", as duas primeiras canções divulgadas, foram frutos de um trabalho iniciado antes da pandemia, mas parecia que Belintani previa o que viria. São canções que casam muito bem com o momento de retomada das atividade artísticas.

"No final de 2019, após um show que havia acabado de fazer, resolvi que o novo trabalho seria no seguinte formato: lançar de duas em duas músicas, mas não nas plataformas de streaming, mas e sim em vinil 7” (compactos). Seriam quatro ou cinco compactos, mas a pandemia mudou os planos", explica o guitarrista.

Ele gravou as canções em dezembro de 2020 e imaginava que as bolachinhas d vinil estivessem, prontas rapidamente, mas em janeiro de 2021 recebeu a informação de que a primeira leva só ficaria pronta entre 60 a 90 dias. Aí veio a pandemia.

"A fábrica só pôde operar em setembro e fui retirar os discos em novembro de 2021, que foi um ano em que nada foi possível ser feito. Parada total", contou Belintani. "Nesse período de pausa fui produzindo e gravado, mesmo com dificuldades e com todos a distância. Sem muita receita de shows e com o valor do dólar em alta inviável de lançar tudo em vinil."

Empolgado com a retomada da carreira, planeja lançar mais músicas ao longo de 2022 e, quem sabe, finalizar um álbum e lança em CD,
 
"I’m Back" teve boa receptividade em algumas rádios americanas em janeiro. É um blues mais próximo do rock, A produção simples realçou as linhas de guitarra, com fraseados limpos e rápidos em cima de uma batida marcante.

"A Long Time" segue por um caminho mais tradicional e, por enquanto, é apenas um bônus que sai apenas em compacto de vinil – são poucas as cópias – e poucos os felizardos que as possuem. Belintani não prevê lançá-la digitalmente, por enquanto.

Tradição e inspiração

Em relação ao último álbum de blues tradicional do guitarrista, "How Long", as novas canções se encaixam como uma sequência.

Em alguns momentos, o guitarrista acelera e mergulha em um som à la ZZ Top, como em "Seven Dollars" e "Hot Trail Train", que trazem um groove sulista dos Estados Unidos bem interessante, além de serem bem conduzidas pela guitarra econômica e precisa.

Merecem destaque também a bela homenagem a Muddy Waters, um dos mestres dos mestres, em "Muddy's Groove", onde Belintani mistura riffs de clássicos do americano e embaralha letras de canções icônicas; e "I'm Going Down in Mississippi", gravada ao vivo em estúdio, que soa um pouco mais pesada ao vivo.
 
Belintani não é um estilista e não apela para arroubos guitarrísticos ou solos monumentais – nada contra isso. Consegue dosar de forma equilibrada fraseados elegantes e dedilhados incandescentes nos solos, o que acaba sendo uma característica de instrumentistas brasileiros do gênero, como Cris Crochemore, Big Gilson, Netto Rockfeller e Igor Prado.

Um andarilho brasileiro do blues

Em 2019, Duca Belintani partiu de carro para percorrer a "Trilha do Blues", indo de Chicago até Nova Orleans, parando em bares e Juke Joint’s que encontrava pelo caminho, ouvindo os seus criadores mostrarem o verdadeiro blues.
 
Foi um trabalho árduo de pesquisa, e encontrou todas as respostas que queria no no Mississippi..  A identificação foi quase que imediata. "Fiz a entrega de corpo e alma à magia do som do Delta do Mississippi inclusive podendo fazer sua estreia na lendária Blue Front Café em Bentonia."

O som do Delta do Mississippi traz em sua origem o músico solitário tocando em pequenas casas de música (Juke Joint) com a finalidade e levar diversão ao seu público.
 
Voltando ao Brasil, Duca resolveu que seu próximo disco teria a “pegada” dessa viagem e em especial ao Mississippi e criou seu novo álbum, inspirado principalmente em RL Burnside e Muddy Waters, dois dos maiores expoentes nascidos na região.
 
Neste oitavo registro de sua carreira, o guitarrista eletrificou todo o swing do blues inspirado na lama, nas histórias e na simplicidade das canções e, com isso, entrega um disco de blues bem diferente do que estamos acostumados no Brasil. É uma audição bastante instigante.

Além de Duca Belintani (guitarra e voz, além da produção), tocam no disco Vinas Peixoto (bateria e percussão) e Benigno Sobral (baixo) como banda de apoio. Participações especiais: Mateus Schanoski (teclado), Ulisses Da Hora (bateria), Ricardo Scaff (gaita),  Luiz Bueno (guitarra) e Otavio Rocha (guitarra, da banda Blues Etílicos).

DUCA BELINTANI
Dia 7 de janeiro de 2024. Domingo, 18h 

Local: Teatro (374 lugares) 
Valores: R$ 50 (inteira); R$ 25 (Meia entrada), R$ 15 (Credencial Sesc) 
Ingressos à venda no portal Sesc e nas bilheterias das unidades Sesc 
Classificação: 12 anos 
Duração: 90 minutos 

SESC BELENZINHO 

Endereço: Rua Padre Adelino, 1000. 

Belenzinho – São Paulo (SP) 

Telefone: (11) 2076-9700 
 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Um mundo melhor e mis humano; que 2024 ajude a deixar o passado bem para trás

 Uma das "profecias" mais lembradas do cartunista, escritor e jornalista Millôr Fernandes diz que "o Brasil tem um longo passado pela frente". Niilista e cético ao extremo, vaticinou com bastante precisão a realidade brasileira lá nos anos 80.

O passado certamente nos assombra, assim como as trevas nas quais vivemos entre 2019 e 2022 son o nefasto governo do nefasto Jair Bolsonaro (PL). mesmo com ameaças de golpe e de ruptura institucional em vários sentidos, o ano que termina indica que, mais uma vez, ensaiamos deixar o passado para trás; Até quando?

Há outro ensaio, esse mais realista:  fantasma da pandemia de covid-19 parece domado e, enfim, há uma retomada consistente de alguma normalidade.

Os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023 assustaram, mas o ovo governo, de viés progressista, contornou a crie política e mostrou que era possível trazer a trilha de um cotidiano normal de volta: politicamente a democracia sai mais fortalecida. internacional e diplomaticamente o Brasil volta a ser respeitado e ouvido; na economia, quase todos os indicadores são positivos, da queda do nível de desemprego ao controle da contas públicas e da inflação.

Com esses bons ventos, o setor de entretenimento e cultura volta a respirar, ainda que as consequências gravíssimas da pandemia sejam ainda visíveis e inclementes. Estamos conseguindo virar a página e seguir em frente.

O ano bom de 2023 projeta uma cena ainda mais auspiciosa para este 2024. Todos os grandes festivais realizados  em solo brasileiro se consolidaram, transformando São Paulo na capital mundial dos espetáculos musicais de 2023. 

Mesmo que a inevitável canibalização ainda exista, com o predomínio dos grandes eventos, festivais de rock e pop mais alternativos e só com artistas nacionais se beneficiaram da retomada. As perspectivas são muito boas.

O rock perdeu o Sepultura, que anunciou o sem fim para o fim de 2025, mas deve se beneficiar da onda de criatividade espantosa que tomou o mercado como nunc antes se viu nos últimos anos. 

Foram inúmeros os lançamentos de álbuns com músicas inéditas com imensa qualidade, Existe uma sensação de que nunca se produziu tanto, e com altíssima qualidade, como em 2023, resgatando, em parte, um setor depredado pela destruição da indústria fonográfica e abandonado por quase todos com a chegada da pandemia.

O sentimento generalizado é de otimismo com o crescimento exponencial das possibilidades de shows de shows em todos os níveis, com a melhora na quantidade e na qualidade de casas de shows e bares em todo o país. 

Cidades de fora do circuito roqueiro de pequeno e médio portes entraram nos roteiros nacionais com regularidade, recebendo bandas que até há pouco tempo toariam no máximo nas capotais da rregiçao Sudeste. 

As grandes atrações ampliaram o número de shows por aqui, como Roger Waters, Paul McCartney, Taylor Swift, Coldplay e outros nomes estrelados. 

Entre os nacionais, Titãs e Skank comprovaram a força e o apelo do rock, ainda que marcados pela nostalgia ou pela saudade antecipada por conta do anúncio de encerramento de atividades. 

E a nostalgia foi a responsável por uma série de outros eventos. Pitty celebra 20 anos dde sua estreia solo com a repaginação de músicas antigas e Jota Quest lota estádios fazendo (bem) o mesmo de sempre.

E o metal brasileiro, que virou destaque em veículos de comunicação internacionais? Nervosa e Crypta são personagens de reportagens sobre  ascensão das mulheres no metal extremo, enquanto que Angra e Edu Falaschi, com seus mais recentes trabalhos, frequentaram as listas de melhores do ano em vários países.

Noturnall e Torture Squad se tornaram referência na maneira de reinventar suas carreiras com trabalhos inspirados e de peso (literalmente), enquanto que Giant Void, Red Devil Vortex e Heaven's Guardian apontam para um futuro auspicioso dentro das vertentes mas tradicionais. 

O mesmo pode ser dito a respeito de Malvada, Ego Kill talent e Electric Mob, bandas que iniciam ou consolidam sua internacionalização chamando a atenção de gravadoras europeias.

Precisávamos de um ano como 2023, com o retorno em peso de atrações internacionais de todos os tipo, consolidação de festivais e retomada com força dos shows internacionais.

Falta un pouco ainda para que consigamos retomar os níveis pré-pandemia. O blues e o jazz nacionais precisam progredir mais rápido e encontrar nichos consistentes fora do circuito Sesc.

 Artistas underground de rock precisam ter mais locais e oportunidades para tocar, mesmo que ainda seja necessário o apoio de editais públicos de prefeituras e governos estaduais. E o dinheiro das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo - leis criadas para ajudar artistas e profissionais do entretenimento que que ficaram sem renda durante a pandemia - tem de chegar mais rápido a quem precisa.

 Os primeiros 12 meses depois da escuridão apontam caminhos mais iluminados e cheios de otimismo, e 2024 certamente será melhor, oferecendo um leque ainda maior de oportunidades e ajudando a deixar o passado lá atrás, de onde nunca deverá sair para nos assombrar e aterrorizar. 

Melhora na área de entretenimento passa pela segurança e combate aos cambistas

Jorge Reis - CEO da Eventim*

O ramo da cultura e entretenimento vivenciou, em 2023, a retomada completa de suas atividades, e o resultado é nítido nos relatórios apresentados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

Os dados mostram o tamanho do impacto que este setor representa para a economia do País. Somente no primeiro semestre, o segmento mostra um crescimento de 42,3% se comparado ao ano anterior, gerando uma massa salarial de R$ 71,8 bilhões e com um faturamento anual de aproximadamente R$ 291,1 bilhões, o que representa 3,8% do PIB brasileiro.

Para 2024, nossa expectativa é de que o mercado brasileiro continue com boa demanda, consolidando o país como um importante mercado para shows nacionais e internacionais.

Suponho que as três principais tendências para o próximo ano, serão a segurança, a luta contra o cambismo e a intensificação - com tudo - dos shows nacionais.

1 - Priorização da segurança e bem estar dos fãs

A segurança e bem estar do público sempre esteve no centro das discussões para o setor, mas especificamente 2023 foi um ano de muito aprendizado, que mostrou a necessidade de pensar em medidas rápidas para proporcionar uma boa experiência em geral, aliando bem estar e segurança. 

Afinal, agora é preciso se adaptar, principalmente no que tange aspectos relacionados à maior influência de eventos climáticos extremos como os que temos vivenciado no Brasil e no mundo nos últimos meses, seja em calor extremo, frio e chuvas. 

Os produtores e as empresas de vendas de ingressos precisam se precaver contra isso e tem se preparado cada vez mais para não pecar na falta de infraestrutura geral para os consumidores de eventos.

2 - Luta contra o cambismo

Com os grandes espetáculos que ocorreram neste ano, os casos de golpes foram cada vez mais recorrentes, mexendo com o emocional dos fãs de diversos artistas. 

Para o próximo ano este é um outro ponto de grande atenção. Na Eventim, e também na ABREVIN (Associação Brasileira das Empresas de Venda de Ingressos), o combate à prática do cambismo continua, mas esse problema demanda também uma atuação contínua de diversos órgãos públicos. 

São essenciais também as campanhas de conscientização do público para a importância de compra dos ingressos nos sites e bilheterias oficiais, apresentando os riscos das compras de bilhetes em canais não oficiais de venda.

3 - Retorno/intensificação dos shows nacionais

Mesmo com a vinda de diversos artistas internacionais em 2023, como a banda mexicana RBD, Evanescence, Coldplay, Red Hot Chili Peppers, Paul McCartney e outros grandes artistas, começamos a ver um apelo para a retomada de turnês nacionais.

 É o caso da turnê dos Titãs, Marisa Monte, os shows da banda Forfun, a turnê do NX Zero, por exemplo. A música nacional retoma o gosto do público e há uma forte tendência de crescimento, sem deixar de considerar as exposições e apresentações teatrais que também vêm conquistando pouco a pouco os consumidores.

A expectativa para 2024 é que continue no mesmo ritmo de 2023, com o Brasil se mantendo como importante player no mapa dos grandes shows e turnês mundiais.


*O executivo fundou a Ingresso.com, empresa que tem mais de 20 anos de experiência na venda de ingressos, no Brasil, e migrou para o ramo executivo. Foi diretor da IMM, empresa referência em entretenimento ao vivo, com eventos como Cirque du Soleil, SPFW, Rio Open e outros. Há menos de dois anos, é CEO da Eventim, empresa responsável pela venda de ingressos de eventos como RBD, Coldplay, entre outros.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Música instrumental: liberdade e história transbordam nos temas de Ricardo Vignini e O Gajo

A música começa de um jeito, mas nunca se sabe como termina, uando termina e se termina. Não existe maior liberdade do que esse conceito de... liberdade. 

O músico paulistano Ricardo Vignini, um dos nomes de peso da música instrumental brasileira e especialista em viola caipira, de dez cordas, já tinha disseminado esse conceito quando se juntou ao companheiro Zé Hélder, violeiro mineiro dos bons, non projeto Moda de Rock, que transmuta clássicos do rock para o mundo da viola caipira. "As possibilidades que o mundo da viola oferece são imensas", comentou Vignini em uam entrevista para o programa Combate Rock. 

Esbaldando-se na liberdade que o instrumento permite, passeia por diversos mudos no Moda de Rock, na carreira solo onde mistura música de raiz, sertanejo da gema, folk e blues, e também com a música folk europeia. 

O violeiro paulistano, workaholic e inquieto, decidiu agora cruzar o oceano Atlântico e juntar forças com um nome ilustrado da música portuguesa. João Morais, conhecido como "O Gajo", é m mestre de uma viola chamada campaniça, tradicionalíssima na Península Ibérica, que dez cordas, mas afinação totalmente diferente

Com muitas afinidades, o entrosamento foi imediato e o cruzamento de culturas resultou um trabalho monumental> "Terra Livre" é uma miscelânea de influências e de informações tão grande que é inacreditável que tenha sido encapsulada em apenas um álbum.

O ano de 2022 marcou o encontro pelas redes sociais e a sintonia musical foi imediata. A regular troca de ideias e a vontade de cruzar os dois mundos artísticos e culturais que caracterizam estes músicos evoluiu rapidamente para a elaboração de um projeto conjunto.

Somada a experiência de mais de duas décadas dos dois músicos e as trocas de ideias via mundo digital começam a dar origem a um trabalho consistente, que decidem transformar num disco colaborativo intitulado “Terra Livre”. 

Esse é o terreno exploratório de Ricardo e João, onde expandem os seus horizontes criativos sem fórmulas ou regras pré-definidas. Uma fusão de dois diferentes países e, ao mesmo tempo, com povos tão parecidos. Uma união singular faz de “Terra Livre” um grito pela Liberdade num mundo cheio de intolerâncias. 

O resultado é um disco com nove faixas inéditas, abrindo com “Terra Livre”, seguida por “Corrosão”, uma alusão a banda de rock pesado Corrosion of Conformity que marcou bastante a adolescência do Vignini.

O brasileiro, ao ver um post do O Gajo contando que ele tinha ido a uma apresentação deles, fez alguns riffs, intitulando-os de Corrosão mandou para ele, e para sua surpresa, o nome da primeira banda do Gajo era Corrosão Caótica. 

O disco segue com “Albatroz”, o nome da maior ave marinha que consegue viajar grandes distâncias atravessando continentes e oceanos. É essa travessia que liga a viola campaniça do O Gajo e a viola caipira de Ricardo Vignini. 

“Terra Livre” foi gravado em São Paulo, no estúdio Bojo Elétrico, e no Estúdio Toca do Gajo, em Lisboa, Portugal. "São instruments diferentes, mas que se complementam, pois têm a mesma raiz", explica Vignini.

O músico brasileiro citou mais uma ve z a liberdade e as infinitas possibilidades ao comentar o resultado de Terra Livre. "Nós dois temos influências fortes do rock, mas enveredamos por outras vertentes, que aumentaram e alargaram o horizonte. O Gajo diz que nunca foi tão punk como atualmente por causa da liberdade que tem ao explorar diversos mundos. Ele tem toda a razão."

Gajo se mostra empolgado com a colaboração. "Meu encontro com Ricardo é curioso, pois envolve circunstâncias distintas e instruments diferentes, mas com uma junção de bagagens complementares, em um trabalho criativo sem regras fixas. Exploramos uma terra livre e instigante."

A junção de valores culturais deu tão certo que os dois compartilham visões parecidas d mundo que remontam aos tempos em que eram adolescentes roqueiros com grande admiração pelo movimento punk. 

Vignini fez homenagens a bandas punk no mais recente disco do Moda de Rock, "Moda de Rock Brasil" - gravou uma excelente versão de "Medo", da banda punk superengajada Cólera, por exemplo, cantada por Zé Hélder. Gajo tem muito claro o que representa "Terra Livre" em termos de mensagem política e engajada.

"Essa colaboração e esse trabalho têm uma segunda cama de representação cultural. Também é um grito pela paz e harmonia em todos os sentidos, em um mundo repleto de injustiças sociais", proclama o português.

O inusitado trabalho é um show de sonoridades e timbres diferentes que explodem em duas violas incandescentes. Os videoclipes publicados até agora são um deleite para quem aprecia instrumentos bem tocados e gosta de ser surpreendido.

"Bandidos" é a canção mais se adequa ao esquema revelado pelo Gajo, soando ao mesmo tempo como um lamento e um grito a respeito das injustiças do mundo. "Corrupção" tem aquela urgência que exala da viola de Vignini, em que a dramaticidade é latente, enquanto que o português se sobressai com fraseados rápidos e concisos.

Na canção "Albatroz", os dois dão vazão a suas influências eruditas com menções a Ludwig van Beethoven (1770-1827), mas aqui a exuberância se sobressai, com solos magníficos e suítes bem construídas. 

E ainda tem "Terra Livre", uma ode à liberdade e á experimentação, em que os dois violeiros se transformam em ases dos instrumentos para explorar caminhos novos e diferentes. É um show de virtuosismo, que é repetido em "Serpente".

Se a liberdade é algo que precisa ser conquistada e requer trabalho árduo e diário para ser mantida, que seja com uma trilha sonora adequada e extraordinária com as canções inebriantes de "Terra Livre".
 
https://www.youtube.com/watch?v=lgiQqOH_0f8&pp=ygUTcmlhcmRvIHZpZ25pbmkgZ2Fqbw%3D%3D

https://www.youtube.com/watch?v=SFFgakF_ITs&pp=ygUTcmlhcmRvIHZpZ25pbmkgZ2Fqbw%3D%3D

https://www.youtube.com/watch?v=S8Vm7pyLDuY&pp=ygUTcmlhcmRvIHZpZ25pbmkgZ2Fqbw%3D%3D

https://www.youtube.com/watch?v=2LEULPMPCxQ&pp=ygUTcmlhcmRvIHZpZ25pbmkgZ2Fqbw%3D%3D

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Música instrumental: a história transborda em 'Vertente', do projeto Braia

Quando  abanda mineira de folk celtic metal Tuatha de Danann resolveu dar voz de maneira direta aos que nunca foram ouvidos em seus dois mais recentes trabalhos, deum um banho de história e engajamento dentro de um segmento carente de exemplos desse tipo. "In Eireann Nomine" trazia versões para canções de protesto irlndesas e "The Nameless Cry" vai direto ao ponto ao homenagear e louvar o grito do esquecidos.

O cantor e multi-instumentista Bruno Maia, o mentos do Tuatha, transferiu essa sede de protesto para o seu projeto paralelo instrumental, Braia, que resgata de modo sutil e delicado parte importante da história do Brasil. 

"Vertente" é o terceiro trabalho do Braia, um EP que sintetiza, de certa forma, o que foi realizado nos dois primeiros álbuns: funde música brasileira regional, de raiz, com suas influências celtas e muito jazz e fol norte-americano e europeu.

"Vertente" é um aprofundamento na busca por sons que representem a trajetória acidentada e violenta do Brasil, ao mesmo tempo em que expõe o refinamento e a riqueza melódica da música instrumental nacional, valorizando a viola caipira, aquela das dez cordas, e as sonoridades celtas típicas de uma nação marada pela tragédia e a opressão, mas, principalmente, pela resistência - no caso, a Irlanda.

Esbanjando bom gosto e delicadeza, "Vertente" revisita as tradições do interior de Minas Gerais e de São Paulo com fraseados limpos e soluções melódicas surpreendentes, permeadas com arranjos de flauta extraordinários.

Na mesma linha segue "Ventura", só que acrescentando elementos da música latino-americana, com um suingue contagiante e um belo trabalho de violões. "Ponto do Morro" e "Pagode Maduro" são mais suaves, destacando regionalismo do Norte e do Nordeste, resgatando ritmos pouco conhecidos do grande público..  

A proposta era essa: explorar sonoridades que fogem do comum e do rock.  Maia explora seu talento em outras vertentes da música, através de diferentes instrumentos e com uma liberdade artística que mergulha nas suas influências da música celta e brasileira. 

"Venho experimentado muito com a viola caipira e sou um maravilhado pelo instrumento e sua riqueza. Mesmo não sendo um violeiro raiz, me inspira muito explorar as muitas possibilidades e horizontes que este instrumento me oferece", diz o artista.

Ouça o EP em https://open.spotify.com/intl-pt/album/3JEbV2hMQHtqYJDuBH0cQO?si=do8FwvMoTF2T1-GIjBXbYw 

Bruno Maia também comenta o desafio de gravar as quatro faixas presentes neste EP: “Se enganam aqueles que têm a viola como um instrumento que representa apenas a tradição, o antigo e algo cristalizado. Pelo contrário, por ser tão ligada ao popular e ao tradicional, este instrumento é um saber muito dinâmico e que com seu manuseio dia a dia por novos agentes e gerações sempre tem seus idiomas e linguagens reelaborados e remodelados dia sim, dia também. A viola de 10 cordas é um instrumento quase sempre associado à música caipira (Por isso mesmo é também conhecida como Viola Caipira) e é uma grata surpresa vê-la soar outras sonoridades”.

As quatro faixas presentes em “Vertente” farão parte do terceiro álbum completo de estúdio do Braia, a ser lançado em 2024. O EP tem composição e produção do próprio Bruno Maia, no Braia Studios, em Varginha-MG. 

O Braia nasceu no ano de 2006 quando o músico, produtor musical e multi instrumentista mineiro, Bruno Maia, resolveu tocar um projeto paralelo a sua banda principal, o Tuatha de Danann. Com o Tuatha, Bruno já havia explorado muitas possibilidades musicais dentro do rock e heavy metal,

Com o Braia, Bruno já lançou os álbuns “Braia …E o Mundo de lá” de 2007, e “Braia …E o Mundo de Cá”, de 2021. 

Leia abaixo como Bruno Maia avaliou esse seu novo trabalho:

Pagode Mouro

O elemento ibérico é fator constituinte da identidade brasileira, assim como a cultura e saberes dos povos originários e dos povos de África que, neste caldeirão formidável e porque não dramático da colonização, gerou nosso povo. 

A Península Ibérica foi conquistada e dominada durante séculos por muçulmanos, originários do noroeste da África, chamados mouros. 

O reinado mouro na península durou quase 700 anos e a incorporação dos elementos árabes na cultura, música e imaginário daquele povo europeu se fez muito forte, tornando a produção daquela região, inclusive sua música, algo muito peculiar desde a Idade Média.

 Um destes substratos assimilados e enraizados por aqui é o uso do modo mixolídio nas obras musicais, um modo que remete o ouvinte diretamente ao oriente, ao imaginário islâmico e afins, sendo este o elemento ‘mouro’ contido no título da música, já o pagode, esta vertente.

entre os ritmos sertanejos e caipiras, criado pelo mítico Tião Carreiro (natural do norte de Minas) é um dos mais emblemáticos e personalíssimos caracteres da viola caipira. Misturei estas duas instâncias e sapequei um ‘Pagode Mouro’.

Ponta do Morro

Este era o nome dado a uma das primeiras regiões povoadas de Minas Gerais, que ficava ao pé da Serra de São José( linda serra que hoje divide as cidades de Tiradentes e Prados). 

Há referência a esta localidade, Ponta do Morro, nos primeiros relatos sobre Minas Gerais, inclusive no clássico ‘Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas’, de Antonil, no ano de 1711. 

Com a abundância de ouro encontrado na região do Rio das Mortes, logo formou-se um arraial, o Arraial de Prados, de onde, num curto lapso temporal, saíram muitas figuras que participaram da Inconfidência Mineira, inclusive a única mulher que realmente participou da conjuração, Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, de quem sou parente, pois minha família materna tem suas raízes em Prados, descendo dos Mello de Prados. Ponta do Morro também era o nome da fazenda de Dona Hipólita, onde se acredita terem acontecido alguns encontros dos inconfidentes.

Vertente

Esta obra é uma que se aproxima mais do que já faço há muito tempo que é o manuseio da matéria irlandesa, da música tradicional irlandesa colocando-a em dialogo com outras expressões e gêneros musicais: o rock, a mpb, o erudito etc. 

Aqui temos duas jigas guiadas pela viola( a jig é um dos ritmos tradicionais da música irlandesa), a primeira tocada na afinação cebolão em Ré e a segunda em Rio Abaixo. Este segundo movimento, a jiga em Rio Abaixo, é uma variação de um tema que compus pro Tuatha, chamado ‘Nick Gwerk’.

 Nicholas Georg Gwerk foi um irlandês que participou da Inconfidência Mineira. Este irlandês viveu em Minas Gerais em grandes vilas à época como Sabará e Diamantina, inclusive trabalhou na administração diamantífera. 

Estranho é que pela constituição vigente ele nem poderia entrar na Capitânia de Minas Gerais, pois a coroa portuguesa, no intuito de proteger as minas de ouro e diamantes da região, não permitia a entrada de estrangeiros em seu território, apenas cidadãos lusos tinham esse direito. Mas, fato é que ele aqui viveu por um tempo e acabou sendo preso na cadeia de Vila Rica( hoje Ouro Preto) como partícipe do crime de inconfidência contra o Rei/Rainha, ao lado de Tiradentes.

Vertente

Uma peça com influências eruditas, latinas, com cheiro portenho à lá Piazolla e também comandada pela viola caipira em Rio Abaixo. Ventura é o acaso, a sorte enquanto condição potencial, mas pode ser também, alguém poderá dizer, quem sabe, uma homenagem a Ventura Mina, um escravizado que liderou um levante dos seus em prol de sua liberdade no Termo de Carrancas há dois séculos, no que passou à História como ‘Revolta de Carrancas’.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Mulheres guitarristas no metal: novos trabalhos ampliam predominância - parte 2


Dedos velozes, riffs rápidos e solos alucinantes que encantaram um gênio da guitarra. E lá foi a guitarrista paulista brilhar nos Estados Unidos, em um festival americano ao lado de Kiko Loureiro, a convite de ninguém menos do que Joe Satriani, o dono da festa.

Lari Basilio está há alguns anos nos Estados Unidos e chama a tenção pelo fraseado moderno e a versatilidade ao explorar diversos gêneros musicais. O rock é a base de “Your Move”, seu mais recente trabalho, mas ela também se dedica ao jazz e ao hard rock, deixando um pouco de lado o metal veloz de seu disco anterior, “Far More”.

A beleza de uma canção como “Your Move”, um rock singelo de base bluesy, é maior exemplo de sua versatilidade, lembrando a sutiliza de Satriani, a precisão de John McLaughlin e o feeling de John Scofield.

 “Fearless”, que abre o disco, soa mais moderna e agressiva, emulando a influência de Steve Vai, enquanto que o blues com acento jazzy volta com extremo bom gosto em “Here For You”.

“Novo” transborda brasilidade, com timbres que se aproxima de uma espécie de country folk brasileiro, onde os timbres mais acústicos dão um colorido especial a uma canção delicada. Mesmo a base mais pesada não foge do roteiro e ajuda a transformar a música na melhor do disco.

Outra que merece atenção é a esfuziante “Running to the Other Side”, a que talvez seja a mais pesada, reunindo uma miríade de influências e timbres que mostram ousadia e muita habilidade.

Instrumentista em ascensão, é uma das sensações do rock instrumental nacional. Nascida em São Paulo, Lari Basilio começou a estudar órgão e teclado aos quatro anos de idade.

Alguns anos depois, seu pai lhe ensinou os primeiros acordes de violão, suficientes para despertar a paixão pela guitarra. Começou a estudar sozinha, tocando em igrejas evangélicas e, consequentemente, participando de bandas.

Em 2011, gravou seu primeiro EP instrumental, intitulado “Lari Basilio”, que contém cinco faixas, lançado em abril de 2012, marcando oficialmente o início de sua carreira solo. Produzido por Lampadinha, o trabalho ainda conta com as participações de Felipe Andreoli (Angra) e Adriano Daga (Malta).

Os CD e DVD “The Sound of My Room” foram lançados sem agosto de 2015 no Cine Belas Artes, em São Paulo. “Far More”, é mais recente, de 2019, até então seu melhor trabalho, que foi superado por “Your Love”.

A americana Nikki Stringfield tem uma trajetória muito parecida com a da conterrânea Nita Strauss, um pouco mais velha. Depois de chamar a atenção em jam sessions em diversos locais, foi convidada para tocar nas bandas The Iron Maidens e Femme Fatale, que também tiveram Nita, além de passar por outros grupos

Aos 33 anos, finalmente consegue colocar no mercado seu primeiro disco solo, "Apocrypha", onde se mostra mais veloz e habilidosa do que a amiga e concorrente, mas menos bluesy, deixando o feeling em segundo plano em algumas canções. 

Ainda assim, ela apresenta boas ideias dentro do heavy metal tradicional que se propõe, recuperando uma sonoridade que era muito popular no final dos anos 80, antes da devastação provocada pelo grunge.
"No Surrender", por exemplo, parece er saída de qualquer disco do Iron Maiden ou do Judas Priest da época.

Diferentemente de Nita Strauss, Lari Basílio e Sophie Lloyd, Nikki também canta, o que garante alguma unidade ao álbum - por outro lado, não há grande versatilidade, com o conjunto de canções pouco variando entre o hard rock e o heavy tradicional.

Se "No Surrender" é uma abertura pouco surpreendente, o restante revela pouca ambição, apesar da competência instrumental e demonstrada por ela e a banda.

"The Spell" também é calcada em ideias musicais que remetem ao Iron Maiden, que parece estar no sangue por conta dos anos tocando com The Iron Maidens, o tributo feminino americano à banda inglesa,

Há uma pequena variação em "When the Demons Lie", que tem riffs um pouco mais modernos, quase grunge, em uma canção onde ela esbanja virtuosismo.

As coisas voltam ao "normal" em "The Outsider", onde as timbragens de guitarra típicas de Adrian smith dominam a cena em um som mais cadenciado e bluesy. É um hard rock mais comum, com arranjos ais simples e acessíveis digamos assim.

A baladona pesada à la Guns N' Roses não poderia faltar e ela aparece em "Save Me" com todos os clichês possíveis, mas não é ruim. Talvez seja desnecessária, assim como a canção seguinte, uma versão melosa de "Kiss From a Rose", do inglês Seal. É mais um baladão, mas ao menos há bons arranjos de guitarra pesada.

Uma mudança esperada e ansiada pelo ouvinte vem com "Flesh and Bones", a melhor do álbum, com uma levada que lembra a de sucessos da banda inglesa UFO, com riffs e cavalgadas típicas do guitarrista alemão Michael Schenker, qu tocou anos com aquele grupo. O refrão pegajoso também é destaque.

O peso continua em "As Chaos Consumes", mas rápida e intensa, com a moça quase cuspindo a letra e com certa dificuldade para recuperar o fôlego. mas é uma boa canção, a mais pesada deste álbum.

Na sua primeira investida solo autoral, Nikki Stringfield fez um trabalho pouco original, ainda carregado com os vícios de Iron Maiden que adquiriu tocando na banda tributo, mas merece elogios pela coragem de se aventurar fazendo o som que gosta e sem se preocupar muito com a repercussão.

A holandesa Sonia Anubis (que também é conhecida como Sonia Nusselder, seu nome verdadeiro) também é uma instrumentista precoce e chamou a atenção muito cedo no cenário de seu país. Era conhecida por fazer uma mistura estimulante de Yngwie Malmsteen e Ritchie Blackmore (ex- Deep Purple).

Com 18 anos foi tocar com a banda suíça Burning Witches, formada apenas por mulheres, mas não chegou a fazer grandes coisas, pois pouco tempo depois aceitou o convite, em 2020, para inniciar os trabalhos da banda brasileira Crypta.

Dezoito meses depois, anunciou a sua saída para focar na banda holandesa Cobra Spell, que ea tinha fundado antes de ir para a Suíça e que mantinha como projeto paralelo. Reformulou a formação e 2022, tornando-a um quinteto feminino para lançar "666".

Com muita maturidade, Sonia Anubis deixou o metal extremo para conduzir o hard rock classudo e exuberante de inspiração californiana, bem ao gosto dela, uma fã de W.A.S.P. e Kiss. Muito bem produzido e com musicistas talentosas, o Cobra Spell fez uma "reestreia" de respeito, embora sem um pingo de ousadia.

Aos 24 anos de idade, Sonia desfila riffs em profusão e solos criativos, mas ainda deixa a inovação de lado. É hard rock para as massas, para as festas e baladas regadas a muita cerveja e azaração. Esse era o objetivo principal.

"Bad Girl Crew" é a mais emblemática das músicas, um hard típico dde Los Angeles regado a riffs ganchudos e solos incandescentes. Na mesma linha seguem "S.E.X." e "Satan Is a Woman", que apresentam boas ideias e soluções melódicas, mas sem o vigor a primeira.

A banda deu de ombros quando foi acusada de reforçar os estereótipos do hard rock machista americano dos anos 80, ainda que as letras, obviamente, tenham o ponto de vista das mulheres.

As críticas têm a razão de ser, pois o som da Cobra Spell repete todos os clichês oitentistas possíveis, tanto no om como nas letras. parece que as garotas quiseram apenas virar do avesso alguns clássicos de Poison, Motley Crue e Cinderella, em alguns momentos. 

São os casos das canções encharcadas de clichês "The Devil Inside Me", "Love = Love' e "Love Crime". Portanto, não espere algo novo e diferente.

Sendo assim, ao menos a balada hard soa bacana em "Fly Away", com um trabalho ótimo de guitarras , com óbvia influências de heart, Pat Benatar e Fleetwood Mac. É mais comercial do álbum.

Com tão pouca idade, mas muita experiência de mercado, Sonia Anubis regeu a confecção de "666" e mostra credenciais ara voos mais altos com sua banda. Entretanto, precisará deixar, ainda que gradualmente, as tão amadas paixões por bandas de hard rock dos anos 80.

https://youtu.be/8XDMy7m8w7w

Mulheres guitarristas no metal: novos trabalhos ampliam predominância - parte 1

 Enquanto a oposição ainda bate na tecla emperrada de "barbies do metal", as mulheres guitarristas estão voando e consolidando seus nomes e garantindo seus espaços , aumentado a presença e colocando CDs ótimos na praça. Nita Strauss, Sophie Lloyd, Nikki Stringfield, Lari Basílio e Sonia Anubis (também conhecida como Sonia Nusselder) são os nomes que fizeram bonito em 2023.

A americana Nita Strauss restabeleceu sua posição de guitarrista titular da banda Alice Cooper, cargo que ocupa há anos. Um breve intervalo para tocar com a cantora pop Demi Lovatto não afetou a confiança do chefe, a ponto de ele fazer uma participação especial no isco solo da moça, "The Call of the Void".

Aos 37 anos e pinta de modelo, ela é ua das mais respeitadas guitarristas dos Estado Unidos e construiu sua carreira começando na band he Iron Maidens, um tributo feminino à banda de metal inglesa Iron Maiden.

Foi tão bem que Alice Cooper a recrutou para sua banda em 2014. O novo álbum é o segundo de sua carreira solo e é muito melhor do qu o anterior, "Controlled Chaos". Com músicas mais interessantes e mais confiança para compor, Nita se cercou de ótima banda e de amigos pesos pesados.

"Victorious" foi o primeiro single e é um metalzão de primeira com a participação da sensação do hard rock americano, a cantora Dorothy. Bem diferente do hard rock pesadão que faz com Alice Cooper, aqui ela mostra versatilidade em solos bem construídos e riffs de um metal moderno.

"The Wolf You Feed" e aunda mais pesada, esbarrando no metal extremo por conta da presenta da cantora canadense Alissa White-Gluz, que canta na banda sueca Arch Enemy. 

Assim como a brasileira Mayara Puertas, do Torture Squad, Alissa é de uma versatilidade impressionante e vai do vocal melódico ao extremo com muita facilidade. Essa habilidade faz dessa canção a segunda melhor do álbum, e que Nita Strauss não deixa a amiga brilhar sozinha. Sua habilidde aqui impressiona.

A melhor canção, coo que para agradecer e mostrar ao chefe que ela é extraordinária, é "Winner Takes All", que tem estrutura de heavy tradicional com arranjos modernos e muito mais pesados do que os dois fazem na carreira de Alice. O riffs são ótimos e o segundo solo é maravilhoso. Deveria estar em "Road", o mais recente CD de Alice Cooper.

Os números instrumentais são bons e mostram uma instrumentista madura e segura, como "Summer Storm", em uma linha mais John Petrucci (guitarrista do Dream Theater), e "Consume the Fire", que segue o estilo mais associado a Joe Satrani, as duas são pesadas.

Outro destaque é "Through the Noise", um hard'n heavy com riffs contagiante que embala os vocais de outra amiga de peso, Lzzy Hale da banda Halestorm. É um disco equilibrado e de alto nível, fugindo do estereótipo do do guitarrista virtuoso que joga mais para o próprio virtuosismo.

A inglesa Sophie Lloyd não se acanha em abusar d fotos em que exibe sua beleza de modelo, o que ofusca a qualidade como musicista. O apelo visual e a queda por se expor nas redes sociais a jogaram no furacão dos efeitos nocivos dessa exposição.

Conhecia pela exibição de habilidades na guitarra no YouTube com versões inusitadas para clássicos do metal, acabou sendo convidada para tocar na banda do astro pop Machine Gun Kelly, que faz um pop com algum peso e toques fortes de rap e hip hop, Acabou envolvida em boatos de que seria a pivô do rompimento do noivado de Kelly com a atriz Megan Fox (dos filmes "transformers"). Nada disso foi confirmado.

Meio apagada como musicista de apoio, ela ganha liberdade aos 28 anos em seu primeiro álbum solo, "Imposter Syndrome". Menos ambiciosa e mais contida do que Nita Strauss, ainda assim Lloyd consegue mostrar habilidades e qualidades no estúdio, dedicando-se a um hard rock mais pesado.

A abertura, "Do or Die", é ótima e expõe o hard rock puro na voz de Nathan James, da banda inglesa Inglorious. É um tema forte e com um riff bem interessante. 

A coisa esquenta ainda mais em "Pressure", quase heavy metal, que tem nos vocais Brandon Saller, da banda de metal alternativo/metalcore Atreyu. Aqui são os solos longos os destaques. A moça realmente toca bem.

A faixa-título, com a onipresente Lzzy Hale, é uma quase balada pesada e candidata a melhor do trabalho, O riff principal e o refrão ão excelentes e Lzzy empresta u colorido diferente na interpretação mais dramática e um pouco exagerada. Parece que a canção foi feita para homenagear a americana lita Ford (ex-Runaways).

Sophie mostrou que a caderneta de telefones/contatos de celular está em dia e atualizada O hard rock correto e bem feito "Let It Hurt" tem a voz de Chris Robertson, vocalista e guitarrista do Black Stone Cherry. Aqui a guitarrista não deixa se ofuscar elo convidado e se impõem em solos inspirados em Jimmy Page (Led Zeppelin) e faz um excelente trabalho.

"Runaway" é uma escorregada para o hard rock californiano e soa menos inspirada. Michael Starr (da banda Steel Panther) ajuda no climão de de "Sunset Strip" ( a rua das casas de show e bares de rock de Los Angeles, mas falta alguma coisa. É comum demais.

A coisa melhora com "Fall of Man", que é pesada e tem um esquema de metal moderno bem ao estilo da banda do convidado especial, Matthew K. Heafy. Longe de ser um metalcore, a canção mostra força principalmente pelo riffs bem encaixados

Uma boa surpresa do álbum é a presença de uma cantora canadense pouco conhecida no Brasil, Lauren Babic. Vocalista das bandas de hard rock Red Handed Denial e CrazyEightyEight, procurou seguir o passos de Lzzy Hale e foi correta no hard pop "Hanging On".

Para finalizar, outra boa música é "Won't You Come", com a presença de Marisa Rodriguez, vocalista da banda inglesa Marisa and the Moths. É um hard blues ao estilo da Califórnia e que lembra outra canora inglesa, Beth Blade, além da veterana Pat Benatar, É uma canção pesada com um trabalho de guitarra certamente inspirado em Slash (Guns N' Roses). 

 

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Mulheres continuam incomodando no rock: isso é bom, ms as trevas predominam

 "Mas elas são bonitas?" Até hoje a pergunta acompanha qualquer comentário quando o assumo é uma nova banda uma artista mulher que se destaca ou que aparece meio subitamente. 

Runaways, Girlschool, Doro Pesch, Heart, Janis Joplin, Grace Slick (Jefferson Airplane), Annie Haslam (Renaissance), Cyndi Lauper, Lana Lane, Doro Pesch, Maggie Bell (Stone th Crows), Kate Bush, Sandy Denny, Amy Lee (Evanesccence), Lzzy Hale (Halestorm), Rita Lee, Ajna, Crypta, Nervosa, Isa Nielsen, Malvada... A lita é imensa.

As queixas são imensas, mas as coisas pouco mudaram neste quesito. As bandas com vocalistas ótimas, mas que também são bonitas e sexies, ainda são protagonistas, e não necessariamente pelo talento artístico. 

Recentemente instalou-se uma polêmica a respeito da beleza de Floor Jansen, holandesa que conta com o Nightwish, a respeito de sua proeminência em relação à antiga cantora da banda, a finlandesa Tarja Turunen. 

Não deveríamos estar discutindo as qualidades vocais e instrumentais das mulheres? Aliás, não deveríamos estar discutindo se a música é boa, independentemente de quem a toca?

Ainda vamos ter de conviver com esse tipo de preconceito/machismo? As integrantes da banda de hard rock paulista Malvada passam por isso desde que montaram a banda, em 2020. Ou elas se destacam por serem muito bonitas e "gostosas" ou então precisam fazer o dobro ou o triplo para serem notadas pela qualidade de sues trabalhos, 

Bruna Tsuruda, a guitarrista, tem de ser uma mistura de Yngwie Malmsteen e Ritchie Blackmore todas as noites para ganhar algum tpo de aprovação de moleque invejoso ou tiozão "classic rock" incapaz de admitir que ela toca muito ou que uma mulher possa tocar muito, e muito mais do que o amigo empacado em uma banda cover qualquer que toca m troca de cerveja.

Foi o caso da banda Nervosa, ainda como um trio e com a vocalista e baixista Fernanda Lira, em um minifestival ocorrido em 2017 em São Bernardo do Campo (ABC Paulista). O trio fechou a noite, tocando depois de quatro bandas de metal conhecidas da região. 

Ainda nem tão conhecidas como hoje, as garotas fizeram um show ótimo, mas tiveram de aturar toda a sorte de insultos machistas e misóginos de um público de metaleiros mais velho, com idade acima de 45 anos, que se divertiam ao vomitar sexismo sobre os atributos físicos das moças e desdenhar da performance delas. Entre os ogros estavam integrantes de pelos duas das bandas que tinham tocado antes, caras com mais de 50 anos de idade, um deles avô.

"Frequentemente ouvimos muitos gritos na plateia: 'Gostosa!!!!!'. Com jeito temos de corrigir o 'erro': 'G Galera, tá errado, o nome da banda é Nervosa, e não 'gostosa'!", costumava brincar Fernanda Lira nas entrevistas, após os shows, com algum sarcasmo e ironia.

Acontece aqui, na Europa e nos Estados Unidos, por mais que as garotas roqueiras admitam que a coisa está melhorando desde muito tempo. Vamos acreditar, por mais que tenhamos ainda de ler coisas abjetas como "só está tocando na banda porque é mulher do guitarrista e dono da banda!!!!!!". 

Isso ocorreu em 2022, quando a brasileira Julia Lage socorreu o marido, o guitarrista Richie Kotzen, que estava para air em turnê com o projeto Smith-Kotzen, ao lado de Adrian Smith, guitarrista do Iron Maiden. O comentário veio de um cidadão que se supõe americano nas redes sociais de Kotzen

Prestes a sair em turnê, os dois guitarristas acharam "em casa" a solução, já que Julia é baixista (ex-Barra da Saia) e atualmente está na banda Vixen. E ela ajudou no contato para convidar o baterista Bruno Valverde (Angra) para tocar nos shows. Bastam 30 segundos em uma performance dela na Vien ou no projeto do marido para sacar com ela toca muito bem.

A brasileira Isa Nielsen (ex-As Musas do Metal), ótima guitarrista e que agora está em carreira solo, foi alvo em feiras de música quando fazia workshops ou demonstração de equipamentos em São Paulo.

 Este jornalista presenciou dois tontos que desconfiaram da capacidade dela tocando. "A guitarra está bem adornada. Mas será que essa mina sabe tocar?", vomitou um deles. 

A "mina", uma loura alta e filh de pais dinamarqueses, precisou de 15 segundos na demonstração para arrancar aplausos e admiração de uma plateia masculina e entusiasmada. O tonto que vomitou bobagem, entre envergonhado e indignado, virou as costas e foi comprar um sorvete,,,

No blues brasileiro a coisa é mais grave, já que o número de mulheres instrumentistas é menor. O machismo campeia e três dos alvos prediletos eram gaitistas: Indiara Sfair, Tiffany Harp e a argentina Xime Monzon, todas consideradas "bonitas e demais e, como consequência, musicistas de menos".

 A paranaense Indiara, talentosíssima, é professora de música e compositora, integrante da banda Milk'n Blues e requisitadíssima em gravações de todos os tipos. 

Morena e alta, costuma tomar conta do palco em jam sessions com outros músicos e causou certo espanto em 2013 durante um festival de harmônica na zona leste de São Paulo, Teve gente que se recusou a acreditar que "aquela mulher" sabia tocar blues - e ainda mais tocar bem. Foi a sensação do evento, mas nem assim alguns "puristas" se convenceram.

 Tatiana Pará, guitarrista paulistana e irmã gêmea da ótima baterista Nina Pará, passou por situações parecidas, sempre precisando provar de forma mais contundente sua habilidades. Como é de uma índole pacífica, costuma deixar que a guitarra "fale" para calar os "haters" (disseminadores de ódio). 

Quando lançou seu primeiro CD solo, "My Mood", precisou ler nas redes sociais comentários esdrúxulos de gente que não se conformava com a participação do estupendo guitarrista americano Scott Henderson em uma das faixas - acabaram se tornando amigos. "O que essa menina fez para conseguir essa participação de peso?", escreveu um dos haters em uma rede social.

Por fim, há o caso dde Nita Strauss, guitarrista americana que toca na banda de Alice Cooper e que passou pela banda de Demi Lovatto. Loura e pose de modelo, é uma guitarrista excepcional e caba de lançar seu segundo disco solo, "The Call of the Void", recheado de convidados especiais, entre eles o "patrão".

Reconhecia, elogiada e admirada, continua sendo enxovalhada por uma parte de roqueiros inconformados com o fato de que uma "modelo" tenha a capacidade de tocar bem uma guitarra. haters brasileiros a apelidaram pejorativamente de "barbie do metal", o que acabou se espalhando por alguns fóruns na internet.

Duvido que la se importe com isso, a julgar pelo sucesso que tem obtido nos últimos dois anos, mas isso demonstra que é longo e tortuoso o caminho de que as mulheres ainda precisam trilhar pra diminuir a distância de reconhecimento em relação aos homens no rock e no metal - ou ao menos para amenizar o ódio e a inveja de que são alvos.

Orgulho e prazer em viver: mais forte do nunca, Doro celebra 40 anos de carreira

 Nunca a palavra orgulho caiu também para um artista quanto para a cantora alemã Doro Pesch, tanto que aparece no título de alguns de seus trabalhos. 

Comemorando 40 anos de carreira com novo álbum e uma série de projetos, ela não tira a o sorriso do rosto e fala com tanta alegria sobre sua trajetória que não há como rebater qualquer inconformidade u equívoco - ela te desarma de forma inapelável com sutileza e generosidade.

Em qualquer circunstância, o orgulho transborda. "Era uma garota de 19, 20 anos cantando em uma banda alemã de metal. Não tinha garotas neste meio. Só posso agradecer por uma trajetória tão especial", disse a cantora e conversa online com vários jornalistas da América Latina.

Era inevitável que a divulgação do disco mais recente, "Conqueress: Forever Strong and Proud", levasse a uma divagação sobre o seu início com a banda Warlock, no começo os anos 80, até chegar à carreira solo, na década seguinte. 

"Era uma época mágica, mas difícil para bandas iniciantes e de fora do mundo anglo-saxão", relembrou a cantora alemã. "Tinha Scorpions, Accept, Michael Schenker e artistas alemães de rock progressivo, mas não muito mais do que isso. O Helloween surgiu depois. Então o Warlock fez parte de uma história importante do rock europeu."

Ela reconhece que o mais recente disco tem uma carga imensa de influências de 40 anos de heavy metal, em especial as da mágica década dde 1980. "'Conqueress' é mais direto e tem músicas que têm riffs fortes, e não e coincidência que Rob Halford, do Judas Priest, participa em duas músicas. Como uma celebração, era natural incorporar uma série de coisas."

Doro é uma rara artista que assume gostar bastante de estar em estúdio, ja que diz valorizar o ato de criação em toda a sua plenitude. 

Mesmo uando trabalha em uma canção de outros artistas - casos de "Living After Midnight, do Judas Priest, e "Total Eclipse of the Heart", de Bonnie Tyler, ambas no álbum e com a participação de Halford - a cantora considera que existe uma elaboração e um trabalho grande para dar a cara dela a qualquer obra musical. "É uma arte reelaborar alguns clássicos, ainda mais com a presença de um gênio como Halford. Gosto de estar em estúdio e gosto de me dedicar bastante á criação."

Absolutamente encantada com a atual fase da carreira, descreveu em detalhes minuciosos os processo de gravação e composição de "Conqueress". Para ela, tudo soava bastante original e novo, com muita intensidade. 

"Embora tudo tivesse um 'carimbo' de 40 ano, houve um frescor no estúdio, uma atmosfera de colaboração que ficou mais intensa neste momento. Não vou dizer que foi melhor do que antes do que sempre foi, mas certamente foi muito diferente, a gente sente quando está surgindo algo bem especial", comemora Doro.

Curiosamente, o novo single de trabalho da cantora faz parte de um material bônus do disco novo e que será lançado separadamente em março de 2024 em um EP. "True Metal Maniacs" carrega os clichês de "homenagens aos fãs" bem característicos em bandas como Manowar e Saxon, mas aqui, como na conversa com os jornalistas, ela transborda honestidade e sinceridade.

"'True Metal Maniacs' é um hino muito especial para meus fãs. A música expressa a forte união e o amor compartilhado pela música, além de falar de um vínculo profundo. 'True Metal Maniacs' traz lembranças queridas e, ao mesmo tempo, me faz esperar por um grande ano de metal em 2024", concluiu a cantora.

Música não muda - ainda bem!

O mundo não estava preparado para escutar uma discípula de Janis Joplin fazendo heavy metal. Aos 19 anos de idade, disfarçava o nervosismo no palco liderando o Warlock com uma agressividade e uma voz rouca e pesada. Era uma novidade em 1984, mas não deveria ser depois do surgimento de The Runaways, Girlschool e outras bandas e mulheres fortes no rock.

Doro Pesch mostrava talento e sobre a sua capacidade de desenvoltura para encarar o machismo, a misoginia e, principalmente, as desconfianças. Loura, bonita e estridente, quem aquela barbie pensava que era para chutar as portas dos metaleiros?

Para quase todos, ela seria uma presa fácil do mercado e do machismo preponderante n meio do heavy metal tão orgulhoso de ser "true" e "tradicional".

Dez anos depois, o mundo tinha mudado completamente mais uma vez, e a loura corajosa, mas que parecia frágil, tinha sobrevivido até mesmo ao grunge, enquanto que 80% dde seus detratores tinha sumido ou mergulhado na irrelevância.

Sua coragem lhe deu resistência e resiliência para suportar a hostilidade de um um mundo despreparado para admitir que a mulher poderia vencer - e que tinha vencido no caso da própria Doro.

"Conqueress", o novo álbum, é uma síntese de tudo isso ao comemorar os 40 anos de trajetória da "rainha do metal". Até paree que ela tinha guardado para esse momento essa coleção de grandes músicas. 

Ela não apenas reafirma que está mais viva do que nunca, mas principalmente que continua relevante. Afinal, não é sempre que Rob Halford, do Judas Priest, aceita participar do álbum de alguém, e logo em duas músicas.

Os dois cantam em uma versão desnecessária e que pouco acrescenta, no caso em "Total Eclipse to Your Heart", de Bonnie Tyler, uma canção brega que não tem como escapar de ser brega em nenhum formato. ainda be que eles se redimem em "Living After Midnight", do Judas Priest, uma canção fantástica que ganhou ua versão saborosa.

"Children of th Dawn" e "All For You" são verdadeiros tributos aos anos 80, com um resgate fabuloso dos primórdios do Warlock. São pegajosas, estridentes e rápidas, casando bem com a agressiva rouquidão da diva alemã.

Sem soa forçada ou artificial, Doro sempre se sentiu à vontade dentro dos clichês do metal, deixando claro que a ´música importava mais do que todo e que opiniões alheias não a desviariam do caminho. 

Com Judas Priest, Saxon e Accept como parâmetro, louvou desde sempre a "vida louca na estrada", os carrões e máquinas envenenados, a boa ida nas festas e um comportamento selvagem - ao menos nas músicas. 

E isso está em profusão nas boas canções "Lean Mean Rock Machine", com sua aura de rock californiano, e "Fire in the Sky", mais reta e direta, assim como a pesada "I Will Prevail". São músicas simples, com letras sem arroubos de criatividade, ams que transbordam energia e força.

A música pop aparece n meio do caminho em "Born Unending", com a participação de Sammy Amara, vocalista da banda Broilers, de muito sucesso na Alemanha ao fazer um hard pop honesto. 

Esta canção é uma homenagem aos anos 90, uando a cantora flertou com um som mais acessível. Destoa um pouco do conjunto, mas não compromete. Que bom que o metal reaparece logo em seguida com "Time For Justice", uma música datada, com uma pegada saudosista dos anos 80, mas devidamente inserida dentro do contexto de celebração.

"Chains" é a canção mais pesada e a mais bem acabada, com um um trabalho de guitarras soberno, assim como em "Rise", um rockão tipicamente americano que faz uma preparação ótima para "Best in Me", um baladão pesado com jeito bluesy.  Em todas elas as guitarras predominam.

Tem sido a tônica de vários artistas veteranos e co rock clássico lançarem nos últimos anos trabalhos autorais frequentemente considerados os seus melhores neste século. O novo de Doro é mais um exemplo. 

Sem ter experimentado um momento de baixa ou de decadência, a cantora alemã retoma o caminho estrelado que trilhou n maior parte de sues 40 anos de carreira. "Conqueress" é um álbum muito bom e, sem variar muito ou inventar, criou o seu melhor trabalho desde 2000.

Lançamentos selecionados: Red Devil Vortex, Dream Wild e Eskröta

 Entre a boa sara de lançamentos do rock pesado nacional deste final de ano estão um thrash/hardcore violentíssimo, um power metal de alta classe com sabor californiano e metal tradicional com sabor prog do interior de São Paulo.

É a retomada definitiva do rock brasileiro após os sombrios tempos da pandemia de covid-19. Acabaram os tempos reflexivos e de reavaliação: a pancadaria retornou com força, assim como o ativismo e o engajamento de todos os tipo, indicando que teremos um 2024 melhor que 2023.

Los Angeles, na Califórnia (Estados Unidos) se tornou o paraíso dos músicos sul-americanos de rock em busca de uma carreira internacional dentro ou for de suas bandas de origem. Kiko Loureiro (ex-Angra e Megadeth) e Aquiles Priester (Hangar, ex-Angra e Noturnall) há anos estão radicados na cidade, por exemplo, assim como a banda Area 55.

Foi na cidade que três instrumentistas de primeiro time no Brasil se encontraram em resolveram riar um projeto para desbravar o inóspito e ás vezes hostil mercado americano do rock pesado, e assim surgiu o Red Devil Vortex, qu desafia as regras" locais ao misturar influências locais e europeias em seu power metal que cai sempre para o estilo tradicional do gênero.

O primeiro álbum foi lançado no final de 2023 depois de uma série de singles e EPs. "Red Devil Vortex" foi gravado na cidade californiana e produzido por Adair Daufembach, que já trabalhou com nomes como Project 46, Dirk Verbeuren e Kiko Loureiro (ambos do Megadeth), Angra, entre outros.

 

A formação tem o conceituado Eduardo Baldo, um dos principais bateristas brasileiro, o vocalista e baixista Gabriel Connor e o guitarrista Luis Kalil. que despontou no Brasil como um profígio aos 15 anos d idade.

Red Devil Vortex já recebeu um certificado da Billboard USA em 2018 pelo lançamento do EP "Something Has To Die", atingindo a 16ª posição no Heatseekers Albums Chart e 49ª posição no Independent Albums chart.

Tudo isso justifica os fartos elogio que a obra vem recebendo pelo mundo. É ua estreia robusta, com temas poderosos  uma execução exímia dos instrumentistas. 

Na ansiedade por mostrar a que vieram, os três capricharam na técnica, que certamente impressionará os seus pares, mas que apresenta alguns excessos aqui e ali. Não é um defeito que estrague, longe disso, mas é um aspecto que a experiência e o entrosamento, com o tempo, corrigirão.

"Acredito que este disco represente um passo sólido na carreira do Red Devil Vortex e é também o melhor e mais forte disco dentro da nossa discografia atual, É o resultado de um trabalho que nós três acreditamos muito e também um registro da força do Red Devil Vortex como banda, por ter sobrevivido a várias adversidades e ainda estar aqui”, disse o vocalista e baixista Gabriel Connor no material de divulgação do primeiro disco.

A música do trio é poderosa e encontra eco em várias influências modernas, que vã desde Mammoth WVH, de Wolfgang Van Halen (filho de Eddie Van Halen) ao metal europeu de viés escandinavo, passando por sons mais fortes, como Dieth, nova banda de Davw Ellefson (ex-baixista do Megadeth).
 
"Red Devil Vortex", o álbum, impressiona já de saída com a excelente "Open the Gates", que incorpora elementos já ouvidos no Pantera, "Run", que vem em seguia, é um ótimo hard rock com timbragens mais modernas de guitarras e um acento bluesy que combinou perfeitamente com arranjos á la Extreme.

"More Luck Than Brains" mostra a versatilidade do trio ao enveredar pelo hard rock mais festivo, embora a bateria seja muito rápida e pesada. 

Com uma produção feita na medida para valorizar a qualidade instrumental do trio, a banda voa em temas como "Walking the Wire" e "Disaster", que transitam em um área onde reinou há alguns anos a superbanda Sons of Apollo. É metal puro com uma sonoridade bem moderna e inovadora em alguns momentos. 

É difícil vaticinar se Red Devil Vortex obteria a mesma sonoridade caso tivesse gravado o álbum no Brsil ou na Suécia, mas o fato é que a banda conseguiu um registro excepcional qu a coloca em um patamar muito alto internacionalmente em seu disco de estreia.

Força além da vontade

Os paulistas do Dream Wild são mais um exemplo de perseverança na música. Formada em 1995 na cidade de Votorantim, região metropolitana de Sorocaba, construíram sólida reputação ao processar influências de artistas como Savatage, Angra, Salário Mínimo, Dark Avenger, Wizards, Circa (com membros do Yes), André Matos, Torture Squad, Hellish War, Portrait e muitos outros.

Apesar da demora, finalmente a banda coloca no mercado o novo álbum "Omen to Battle", que e a estreia no formato, pois até agora só era possível ouvir as músicas em singles e EPs.

Com uma sonoridade surpreendente, "Omen to Battle" é um disco com um pé no passado, resgatando o clima dos anos 90 em que o prog metal era o único subgênero que tinha forças para tentar encarar a avalanche sonora do grunge.

Desprovidos de pretensões de recriar o mundo, o que sai dos falantes é um heavy metal tradicional honesto com as tradicionais pitada de prog metal, como em "Battlefield", que tenta buscar inspiração no Judas Priest. Essa canção dá a tônica do álbum.
 
“Omen To Battle” foi gravado no Estúdio 8 em Tatuí/SP com o produtor Iago Pedroso. O trabalho é correto e a produção procurou não inventar, ams poderia ter dando um pouco mais de atenção aos vocais, que às vezes soam inseguros e sem vigor, Infelizmente, isso ocorrem todas as canções.

Essa questão técnica não inviabiliza o disco, que está recheado de boas ideias como os riffs épicos de guitarra em "Pass Over The Opressor" e os solos be construídos em  “Revelation” e “The Walls Of Eternity”.

“Omen To Battle” conta com três participações mais do que especiais: Andre Tulipano, vocalista e guitarrista do Steel Warrior, participa nos vocais da música “Revelation”; o vocalista Leandro Caçoilo, do Viper, faz uma participação especial na música “Receptors”; Joe Moghrabi, grande compositor e guitarrista brasileiro, participa na música “Headbangers”.

A capa de “Omen To Battle” foi desenvolvida pelo renomado designer João Duarte (Metal Church, Angra) e, de acordo com o vocalista Marcio Rodrigues, reflete o conceito do título do álbum, letras e músicas. 
 
A vez delas

Há pelo menos cinco anos as bandas só com garotas ou lideradas por elas vêm chamando a atenção pela qualidade e pela ferocidade. 

O sucesso de Mayara Puertas à frente do Torture Squad e da Nervosa, esta então então um trio de garotas brasileiras, de um enorme impulso a esse movimento com seus thrash/death metal poderoso, abrindo os portões do inferno ara elas.

A Nervosa implodiu, se reinventou na Europa e deu origem à Crypta - e então vieram Manger Cadavre?, The Damnnation, Sinaya, Aetherea e, sobretudo, The Monic, Far From Alaska, malvada e Eskröta.

Essa última, de São Paulo, é a bola da vez depois que a Malvada assinou contrato internacional com a gravadora italiana Frotiers Records. Hoje um trio com duas garotas na linha de frente, Eskröta é mais uma banda que aposta na ferocidade e na ira para passar o recado com bastante competência.

"Atenciosamente Eskröta" é o mais recente álbum. Urgente, intenso e furioso, faz questão de misturar as bolas e acabar com as fronteiras entre thrash metal e hardcore. 

Sem limites, a agressividade toma conta das nove curtas e rápidas canções. Acerta que identifica referências de Napalm Death, Nuclear Assault  Sacred Reich,

Yasmin Miranda, a guitarrista e vocalista, abrFácil"e o sorriso quando a escuta que Eskröta não tem limites. "Queremos que a banda seja notada e curtida pelo que é, uma banda de rock extremo qye cutuca e incomoda."

"Fantasmas" é uma das melhores canções, daquelas que dariam orgulho a Lemmy Kilmister (1945-2015): é rápida, insana e muito agressiva, da mesma forma que "Parece Fácil", e tem letra cortante em ritmo punk Oi contagiante.

"Cena Tóxica" e "Fila do Osso", canções gêmeas, capricham no thrash metal alucinante e são daquelas canções que incendiam revolta e revoluções, tanto sonoramente como em engajamento.

Quase não há fôlego para acompanhar a velocidade e a intensidade, e a banda capricha com petardos como "Instagramável", um punk/hardcore violento e insano com crítica ao cotidiano de pouca interação social e de vidas fúteis nas redes sociais.

O engajamento cresce e acelera no final com um engajamento que cresce e acelera nas canções "Combatendo Seus Atos", "Homem É Assim Mesmo" e "Mosh Feminista", uma sequência de tirar o fôlego e que mostra a Eskröta como banda ativista e com forte mensagem política.

Apostando na violência e na agressividade, a banda se destaca entre os bons nomes da nova safra de metal extremo e hardcore que assola o Brasil para, de preferência, enfiar os dois pés nas feridas.