Marcelo Moreira
Entre os projetos interrompidos pela devastadora pandemia de covid-19, um dos maiores pecados foi a momentânea paralisação dos trabalhos de vários nomes da música brasileira,entre eles o guitarrista Tony Babalu, músico com trabalhos importantes ao lado de bandas como a Made in Brazil.
Redescobrindo o jazz, o músico tinha lançado um surpreendente single ao final de 2019, a bela canção instrumental "2020!". Era o que deveria ser o começo de uma prolífica coleção de músicas que renderia um álbum completo neste ano. A saudação ao terrível ano que chegava, no entanto, acabou sendo a sua única manifestação.
Um ano depois, Babalu retoma as atividades do ponto em que parou e voltando ao jazz com pitadas de rock. "Lockdown" é reflexo dos tempos de confinamento social, mas, ao contrário de inspirar raiva ou melancolia, é quase um grito de otimismo e esperança em tempos tão complicados.
Os fraseados limpos e rápidos e a melodia mais alegre remetem a um passado distante, mas inspirador. Mesmo que inconscientemente, Pat Metheny foi uma inspiração, assim como a liberdade e a descontração presentes nas cordas sempre afetuosas de Heraldo do Monte e Roberto Menescal.
"Lockdown" não tem a sofisticação e a variedade de "2020!", com suas linhas melódicas insinuantes e serpenteantes, mas tem o grande mérito de ir ao ponto mais diretamente e de sustentar uma melodia cativante e manter um ambiente totalmente para cima, algo extremamente necessário nesse período muito ruim de nossas vidas à espera de uma vacina.
O lançamento traz só Tony Babalu no estúdio, assim como o single anterior. Ele compôs e fez a programação dos instrumentos (teclados, baixo, bateria e percussão). A masterização e a mixagem ficaram por conta de Marcelo Carezzato, no Carbonos Studio.
É saudável e recomendável ouvir Tony Babalu nestes dias. É revigorante. Houve um tempo em que a guitarra brasileira era conhecida quase que somente pela sua elegância e pelos fraseados e pelos riffs marcantes que misturavam rock e a então iniciante MPB (Música Popular Brasileira).
Eram os anos 70 e Luis Carlini (Tutti Frutti), Lenny Gordin e Tony Babalu se destacavam como estilistas, virtuosos e ecléticos que tocavam de tudo e com todo mundo. Viraram referência, ídolos e "objetivos" a serem alcançados.
Babalu é a prova viva de que a elegância e a sofisticação de sua técnica, ao longo de décadas, ainda são relevantes em pleno século XXI, demonstrando que o guitarrista tem bastante coisa para dizer.
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