Do site Roque Reverso
A quarta data do Rock in Rio 2022 teve poucas atrações ligadas ao rock, num dia no qual evento foi tomado por nomes de outros estilos musicais. Restou ao público do bom e velho rock and roll, presente durante a tarde do dia 8 de setembro e durante a madrugada do dia 9, aguardar os nomes gringos principais do Palco Mundo: Guns N’ Roses, Måneskin e The Offspring.
Para certa aflição de quem gosta de rock, o que foi visto no local principal do festival fluminense foi um cenário mais apropriado para críticas do que para elogios, especialmente em relação aos shows do Guns N’ Roses e ao do Måneskin.
Enquanto o grupo norte-americano de hard rock e o italiano tiveram pontos críticos na execução das músicas, o The Offspring passou sem maiores percalços, mandando o som básico de sempre e agradando a maioria dos fãs com muitos sucessos.
Da parte do Guns, a crítica, infelizmente, foi novamente para o vocalista Axl Rose, que teve imensa dificuldade para atingir as notas mais agudas. Se não fosse o guitarrista Slash despejar seu tradicional talento, a noite da banda de hard rock norte-americana seria uma catástrofe. Da parte do Måneskin, chamou a atenção o som sem energia rock do grupo e até pobre, musicalmente falando.
Guns N’ Roses
Quem conhece o mínimo da relação entre Guns N’ Roses e o Rock in Rio, sabe muito bem que há ali uma relação incrível de altos e baixos, com o ápice alcançado justamente na primeira vez da banda, em 1991, praticamente no auge da carreira, e o ponto mais baixo da horrenda apresentação feita em 2011, quando o grupo, na época sem Slash e o baixista Duff McKagan, além de um atraso monumental dentro da história do Rock in Rio, destruiu vários sucessos, num período no qual da banda liderada por Axl foi classificada como “cover de si mesma”.
Desde o retorno de Slash e Duff ao grupo, houve um impacto musical extremamente positivo para o Guns, que foi possível presenciar, por exemplo, nos shows memoráveis que o grupo fez em São Paulo em 2016 no Allianz Parque.
No ano seguinte, a banda voltou para o próprio Rock in Rio e ainda tocou na mesma Arena do Palmeiras no ótimo São Paulo Trip. Se essas duas apresentações em festivais não superaram as memoráveis de 2016, não havia tão claramente um problema desesperador do vocal de Axl Rose como nesta vinda de 2022.
Na apresentação que começou já na madrugada do dia 9 de setembro deste ano no Rock in Rio, quem gosta 10% de Guns N’ Roses torceu para que as dificuldades de Axl não estragassem a memória afetiva de inúmeros hits do auge da carreira do grupo.
Era visível o esforço monumental que ele fazia para alcançar as notas mais agudas que, anteriormente, o chamado “multivozes” tirava de letra. Sim, é claro que não há uma exigência para que um já senhor de 60 anos cante como um menino. Mas Axl não conseguia levar até músicas menos complexas para cantar.
Nas redes sociais, havia um misto de pena e críticas pesadas ao vocalista, que, por sinal, desculpou-se depois do show pela performance. Houve quem classificasse a voz de Axl como um misto de voz do Mickey com a voz da velha da Praça é Nossa. Exageros à parte, foi algo desesperador, pois não era legal ver um ícone do hard rock passar por aquilo.
Enquanto Axl sofria para cantar, Slash dava sua tradicional aula. Duff também tentava compensar com o seu baixo nervoso e até deu várias ajudas nos vocais. O restante da banda também mostrava certa tensão.
Uma crítica necessária está ligada à duração do show. Axl vem insistindo em apresentações de quase 3 horas há algum tempo, sendo que a maioria das bandas, até as que conseguem ter mais hits que o Guns, não costumam passar de 2 horas de show. Talvez, se o set list fosse um pouco menor, o vocalista não precisaria detonar tanto sua voz.
Importante destacar que, quando a música exigia o tom mais grave de Axl, como em “Patience”, por exemplo, ele não comprometeu. Mas quando foi preciso exigir, como em “Rocket Queen” ou “Welcome To The Jungle”, a vergonha alheia foi inevitável.
Houve texto de jornal até pedindo a “aposentadoria” de Axl. No pedido de desculpas, ele disse que estava “indisposto”. “Tentei manter minha tosse sob controle.”
Vale lembrar que o Guns ainda tem uma turnê grande pelo Brasil depois do Rock in Rio. Conforme os produtores, seguirá para Goiânia (11/9), Belo Horizonte (13/9), Ribeirão Preto (16/9), Florianópolis (18/9), Curitiba (21/9), São Paulo (24/9) e chegará ao fim em Porto Alegre (26/9). A grande pergunta é: como estará Axl e sua voz até lá? A torcida sempre será pelo melhor dele.
Måneskin
Amparado no sucesso estrondoso do single “Beggin'”, que é cover e viralizou no TikTok, o grupo italiano Måneskin estreou no Rock in Rio surfando justamente no seu grande momento. Saudado por um público mais de redes sociais do que de alta frequência nos shows, a impressão sobre a apresentação no festival fluminense foi a de que o evento era grande demais para a banda.
Com um som sem a energia suficiente do rock e até alguma dificuldade de algum de seus membros, como o guitarrista Thomas Raggi, a banda apelou para a simpatia para ganhar o público.
Raggi se esforçava de maneira digna no seu instrumento, mas era visível sua dificuldade. Até mesmo na cover para “I Wanna Be Your Dog”, dos Stooges, ele conseguiu errar um trecho de três acordes.
E não foi apenas neste hino punk que os mais observadores notaram uma destruição musical. Na cover que tentaram fazer para “Love of My Life”, do Queen, Freddie Mercury deve ter se revirado no túmulo com a desafinação do vocalista Damiano David, que não é ruim, mas que foi mal nesta interpretação.
Quanto ao restante da banda, enquanto a belíssima baixista Victoria De Angelis não comprometia e fazia bem seu serviço, o baterista Ethan Torchio pareceu ser o melhor músico do grupo, com boas participações.
The Offspring
Merecedor de tocar no palco mundo pelos grandes serviços prestados ao punk rock, o grupo The Offspring fez um show sem sobressaltos e entregou aquilo que o grupo presente queria.
Com sucessos, como “Come Out and Play”, “Hit That”, “Pretty Fly (for a White Guy)”, “The Kids Aren’t Alright” e “Self Esteem”, que fechou o show, o grupo norte-americano não teve maiores trabalhos para entreter o público.
O momento um pouco mais morno ficou para quando o grupo tocou as músicas do mais recente álbum “Let the Bad Times Roll”, de 2021.
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