quarta-feira, 23 de agosto de 2023
A busca por um empresário e o desafio da inteligência artificial
Pesquisa realizada pelo Laboratório de Economia Criativa da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do Rio de Janeiro, mostrou que apenas 23% dos artistas brasileiros possuem um empresário independente.
Outro dado importante: artistas que se auto empresariam têm uma média de 2,05 shows por mês, com faturamento médio de cerca de R$ 10 mil. Já os artistas atendidos por um escritório de empresariamento fazem uma média de 6,76 shows, com faturamento médio de R$ 377 mil, 34 vezes mais do que os primeiros. Esse dado demonstra o impacto de ter uma equipe trabalhando pela sua carreira.
Os números mostram que 12% dos artistas do mainstream brasileiro (o ponto de partida foram 600 artistas listados no banco de dados da publicação "Showbusiness") se autoempresariam; 23% possuem um empresário independente; e 58% são atendidos por um escritório de empresariamento. Dos que não têm empresários, 76% gostariam de ter.
Vitor Santisteban, advogado e empresário, é um exemplo da nova safra de empresários artísticos no Brasil. Depois de advogar com sucesso por mais de dez anos e comandar uma vasta equipe em seu escritório de advocacia, decidiu tirar do papel um dos maiores projetos da sua vida, a Help! Music, escritório de empresariamento artístico e produção de eventos.
"Foram anos planejando, estruturando equipe e buscando novos talentos para investir de forma segura e com muita cautela o dinheiro que levei anos para capitalizar com a advocacia. Antes da pandemia, quando criei e lancei a Help Music no mercado, um cenário era apresentado em relação a retorno de investimentos. Com a pandemia, busquei recursos conscientes em instituições bancárias para honrar compromissos principalmente com colaboradores", explica o empresário.
Segundo a pesquisa, antes da pandemia foram computados cerca de 55 mil shows / ano. Com o fim das restrições devido a crise sanitária, foram computados 40 mil shows, 27% menos e com valores ainda menores. "Muitos contratantes acabam comprando datas em quantidade e com valor menor, tivemos que ceder para movimentar a agenda. Além de equilibrar o caixa da empresa, precisamos movimentar a agenda do artista", explica.
"Colocar um artista na estrada requer disposição de um caixa com movimentações. Tenho artistas na agência que necessitam de um investimento 360º, que vai desde a contratação de equipe até roupas e acessórios. Lançar uma música no Brasil hoje requer alguns dígitos no banco".
O retorno de investimento em um artista independente é considerado a médio ou longo prazo. "Em hipótese alguma conseguimos obter retorno financeiro a curto prazo. Mesmo com uma agenda ativa, os custos são mais altos que a receita. Todo o retorno tem que ser diluído para que o artista não desanime e possa sentir o progresso da sua carreira. Hoje o mercado está cada vez mais desafiador", enfatiza Santisteban.
Em tempos de mudanças drásticas na forma de como gerir e administrar direitos autorais e a remuneração das plataformas de streaming, outro fator complica a questão e acaba por requerer a presença de advogados e empresários, que é o uso de inteligência artificial na criação de conteúdo de arte.
Inteligência artificial
O uso de inteligência artificial na indústria da música tem crescido nos últimos anos. De músicas e composições criadas por Inteligência Artificial, hologramas e até versões criadas com vozes de artistas já falecidos, o assunto divide opiniões e suscita novas discussões.
A mais recente polêmica em torno do tema foi a de que, ao alterar o testamento após ser acometida por doença nas últimas semanas, a rainha do pop mundial, Madonna, proibiu o uso de sua imagem em hologramas ou criada a partir de I.A. para homenagens póstumas. Nesse cenário, fãs de músicas e artistas começam a se perguntar o que é permitido ou não.
Para o especialista Vitor Cunha, engenheiro de áudio e fundador da distribuidora musical Margroove, com 1 milhão de artistas e ouvintes em mais de 196 países, ainda é cedo para dizer o que é certo ou errado.
"Ainda estamos falando de um tema novo, que divide opiniões pessoais e suscita discussões diversas. Enquanto para alguns fãs é uma forma de ouvir novas músicas dos seus artistas preferidos que já faleceram, a discussão ética e a recepção dos familiares dos artistas é tema central de discussão, fora toda a discussão envolvendo direitos e royalties", explica o especialista.
Nas plataformas de streaming, aponta Vítor, as distribuidoras, responsáveis por gerenciar as músicas que são disponibilizadas nas plataformas, devem ser responsáveis por barrar versões não oficiais ou autorizadas, para evitar que sejam disponibilizadas nas plataformas.
No mercado, o assunto acende um alerta e a discussão do aperfeiçoamento dos mecanismos capazes de barrar casos de plágio, a fim de proteger direitos de gravação, remuneração e royalties.
Enquanto a Madonna quer afastar a possibilidade de ter sua imagem ou voz usada por Inteligência Artificial, no Brasil, Roberto de Carvalho, esposo de Rita Lee, considerada rainha do rock brasileiro, disse em entrevista ao Estadão que a cantora adoraria os recursos da inteligência artificial.
"Do ponto de vista dos artistas, temos opiniões pessoais positivas e negativas em torno do uso das novas tecnologias. A discussão deve ir além da preferência de cada um deles e envolver a regulamentação e distribuição", analisa Vítor Cunha.
Equilibrar a inovação tecnológica com a integridade artística ajudará a indústria musical a garantir a autenticidade do conteúdo distribuído nas plataformas de streaming musical, além de garantir a confiança de todos os agentes do mercado: compositores, artistas e distribuidores.
"Novas tecnologias estão sendo criadas a todo o momento, é necessário que a indústria acompanhe essa evolução e esteja atenta para realizar análises mais eficazes a fim de evitar plágios, garantir direitos e proteger artistas e canções ", finaliza Vitor Cunha.
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