sexta-feira, 25 de agosto de 2023
Dr. Sin reinaugura tradição de shows nos corredores da Galeria do Rock
Um sopro de vida para uma instituição cultural das mais relevantes de São Paulo parece indicar uma saída em tempos sombrio. Depois de muito tempo, a Galeria do Rock voltou a ter um pocket show em seus corredores, bem simples e gratuito. E coube ao Dr. Sin, trio que divulga seu mais recente trabalho, "Acústico", reinaugurar a prática.
Fazia anos que a administração do condomínio Grandes Galerias o nome oficial da Galeria do Rock, restringia os shows e eventos ao terraço, no quinto andar, longe do comércio fervilhante - subsolo, primeiro e segundo andares.
Muitos comerciantes, alguns de CDs e DVDs, reclamavam até mesmo das tardes de autógrafos de artistas - por incrível que pareça - porque atraíam "muita gente que não necessariamente consumia, lotando os corredores , bloqueando a visão das vitrines", como me disse um deles certa vez. Po certo prefere os dias de hoje, com queda acentuada de compradores e visitantes, om número cada vez menor de lojas de música...
De forma sensata - até diante dos problemas comerciais que afetam o local, como a insegurança do entorno, que afasta clientes e turistas -, a administração pretende rever algumas restrições e voltar a permitir eventos nos corredores mais concorridos e onde se concentram as importantes lojas de música que restaram.
Alguns testes foram realizados, como dois shows acústicos, só vozes e violões, de Clemente Nascimento e Ronaldo Passos, dos Inocentes, dentro da loja London Calling, no segundo andar. Os dois pockets shows, realizados em dias de semana, às 13h, tiveram lotação máxima, com gente para fora da loja - coisa de 150 pessoas ao todo.
Houve movimentação diferente e um público que havia muito não frequentava a galeria. os resultados positivos animaram alguns dos comerciantes de música e o síndico do local autorizou a loja Animal Records a promover a apresentação acústica do Dr. Sin - a loja foi a responsável pelo lançamento físico de "Acústico", um como de dois CDs e DVD ao vivo do trio paulistano recém-lançado.
O show foi na frente a loja, no segundo andar, na ponta que dá para a rua 24 de Maio em um horário ingrato - 17h de uma quinta-feira chuvosa. Parecia que pouca gente se animaria a comparecer até que, depois de um ligeiro atraso, perto de 200 pessoas se atreveram a curtir uma animada tarde de rock desplugado.
Nas seis músicas executadas e 40 minutos, o trio esbanjou competência e carisma, com versões descontraídas e bem diferentes para sucessos como "Fire", "Emotional Catastrophy", "Time After Time" e "Wake Me Up", executadas com destreza e permitindo, pela proximidade, que a plateia observasse com detalhes a execução das canções de forma diferente.
Orgulhoso por fazer parte de um momento histórico, que pode servir de virada para a revitalização da galeria, o baterista Ivan Busic brincava a todo momento e servia de mestre de cerimônias. Para entrar no clima, tocou com um kit de bateria pertencente ao filho de oito anos.
"É um instrumento com especificações profissionais, mas para crianças e adolescentes. E foi perfeito para a ocasião. Esse tipo de evento é primordial para divulgar trabalhos novos e ficar mais perto dos espectadores", disse o baterista.
Por ser uma reestreia em um formato há muito reivindicado, havia uma grande expectativa sobre se o público compareceria e se, tecnicamente, o show funcionaria sem mexer tanto na rotina de toda a galeria e se os demais lojistas aprovariam a "movimentação".
Deu tudo certo - e, a bem da verdade, Dr. Sin foi a escolha da banda certa para um evento. O show foi perfeito, simples, correto e com a duração necessária, menos de uma hora e sem nenhuma enrolação.
"De certa forma, estamos vendo uma sequência de retomadas artísticas depois da pandemia de covid-19, que foi um período tenso e muito difícil", analisa Andria Busic, o baixista. "É uma celebração de 30 anos de carreira, mas de ressurgimento com tudo, embalado por um produto importante para banda."
Em termos de desempenho comercial, a loja Animal estendeu o seu horário diante da grande demanda por CDs e camisetas do Dr. Sin ao final do show.
Diante das avaliações positivas, cresceu o desejo por mais eventos do gênero. O Viper fará tarde de autógrafos e contato com fãs em uma data em setembro ou outubro na loja Die Hard, sem show.
"Demorou bastante para que esses voltassem à galeria", contou um lojista que pediu para não ser identificado. "Sentíamos falta desse tipo de interação com artistas e de um público que sempre curtiu esses eventos. Todo mundo respira música e arte ao mesmo tempo nos corredores. E formato que o Dr. Sin moldou é o ideal."
A ideia de retorno dos pockets shows nos corredores era antiga e ganhou corpo com as dificuldades subsequentes da pandemia, que foram agravadas pelo aumento da violência no centro de São Paulo - e potencializadas pelos conflitos na Cracolândia, cada vez mais perto da Galeria do Rock.
Antes tarde do que mais tarde, pois alguma coisa tinha de ocorrer para começar a reverter esse processo de perda de público. Shows nos corredores e tardes de autógrafo são necessários para atrair mais gente e recuperar uma grande tradição adormecida do centro comercial.
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