Marcelo Moreira e Magnus Craven (especial para o Combate Rock)
“Trouxe
minha carteira de vacinação para qualquer ‘eventualidade’”, brincou a psicóloga
Bia Fontes na fila para entrar no Allianz Parque, em São Paulo, no último
domingo. Ela e outros fãs de Eric Clapton zombaram do negacionismo do músicoe
só queriam saber de ouvir um bom rock and roll.
E não foi
bem um rock que ouviram na maior parte do tempo no estádio lotado do Palmeiras
em uma tarde/noite memorável e com temperatura agradável. Guitarrista inglês resolveu incorporar todos
os mestres do blues e emocionou a plateia com solos precisos e riffs inspirados,
Mostrou o porquê de ser “deus”l como diziam as pichações em Londres em 1965.
Muita gente
inteligente tinha bons argumentos para boicotar um dos últimos sobreviventes da
era de ouro do rock e do pop, seja pelo negacionismo em relação à vacinas, seja
pelo lamentável episódio de racismo/xenofobia manifestadas no palco em 1976 (
ao que consta, foi a única vez no palco, situação pela qual se desculpou mais
tarde).
Quem
preferiu separar obra das bobagens proferidas foi premiado com um grande show,
em que o artista de 79 anos expôs todo o feeling e maestria para desfilar
fraseados emocionantes e solos pungentes e encharcados e blues até o talo.
O clichê
vale para este caso: vimos a história passando pelos nos olhos no palco do
Allianz Parque naquela que deve ser a última passagem pelo Brasil de
Clapton. Ele estava em forma, com
agilidade nos braços e no raciocínio, e ofereceu um espetáculo digno de sua
altíssima categoria.
Com algumas
alterações no repertório em relação ao show de sábado, no Vibra, mais
intimista, Clapton privilegiou o blues e clássicos que ganharam nova vida nas
suas cordas, como Crossroads”, do mítico Robert Johnson, o “Jey to the Highway”,
de Charles Sugar e regravada por milhões de pessoas.
A introdução
de “Sunshine of Your Love”, de sua antiga banda Cream, enganou, mas ele deu de
presente outra do trio maravilhoso, “Badge”, parceria com George Harrison. E teve também “Hoochie Coochie Man”, de Muddy
Waters, que surpreendentemente causou alvoroço no público.
O set acústico
veio logo no comelo do show e deu uma esfriada, causando alguns apupos e
reclamações. O guitarrista não deu bola e mostrou-se exímio violonista,
ancorado por uma bada de craques e com a participação especial do de um amigo
recente, o violonista brasileiro Daniel Santiago, que vive em Nova York.
“Rinning on
Faith” é uma peróla da carreira do músico, assim como a nem tão reente “Change
the World”, que ganhou uma roupagem mais intimista e leve. O blues “Nobody Knows You When You’re Down and
Out”, de Jimmy Cox, ponto alto do seu CD “MTV Unplugged”, antecedei à
participação de Santiago, que brilhou em “Lonely Stranger”, “Believe in Life”,
e no megahit “Tears in Heaven”, talvez a única que a maioria do público
conhecia na íntegra;
Como concessão ao
mundo pop, “Old Love” e “Cocaine”, e J.J. Clae, satisfizeram uma “necessidade”
de algo mais palatável e “FM”, mas o bis tratou de recolocar as coias no lugar
com o blues manjado e maravilhoso “Before You Accuse Me”.
Não foi tão intenso
e urgente quanto às apresentações anteriores dele no Brasil, mas esteve bem
adequada a apresentação ao momento em que Clapton vive, à beira dos 80 anos de
idade e ensaiando uma redução drástica de atividades, principalmente em relação
a turnês. Continua sendo um dos nomes fundamentais da música de nosso tempo
Na abertura, a
acertada escalação do guitarrista norte-americano Gary Clark Jr, um nome máximo
do blues atual, ao lado de Eric Gales e Joe Bonamassa. Seu bçues é mais atual e
experimental, com a presença de elementos diferentes, de bases eletrônicas e,
em alguns momentos, com uma pegada rap e rhythm and blues.
Claro que a plateia
estranhou um pouco, mas pareee que a intenção de Clapton era essa mesmo, pois
houve estranhamento em outras praças onde a turnê passou. Foi essa música “diferente”
e com estruturasinusitadas que provocou
um misto de curiosidade e indiferença na plateia.
Com alguns ecos de Jimi
Hendrix (1942-1970) e do amigo Eric Gales, Clark apostou em um início mais
roqueiro e depois foi abrandando, preferindo temas mais “politizados” e sua
discografia de seis álbuns, com destaque para “When My Train Pulls In”, “This is Who We Are” e “What
About the Children”, além de “Bright Lights”, talvez o seu maior hit até agora.
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