“Dependendo
do ponto de vista, ‘Perfect Strangers’ é o álbum mais importante do Deep
Purple. Ele mostrou que éramos capazes de fazer boas música e nos mantermos
relevantes em uma época de drásticas mudanças .”
A declaração
é do tecladista Jon Lord (1941-2012), fundador do Deep Purple, em conversa
informal com jornalistas brasileiros em 1997 durante passagem da banda por São
Paulo e Santo André. Ele falava com orgulho do álbum que marcou a então
improvável volta do grupo em 1984.
Em um
processo que se manteve sigiloso por quase um ano, o Deep Purple anunciava a
sua volta há 40 anos depois de um hiato de oito anos e uma surpreendente paz
entre o vocalista Ian Gillan e o guitarrista Ritchie Blackmore.
Lord tem razão
quando fala da importância do isco para a história do Deep Purple, pois foi uma
obra de sucesso e de alta qualidade em um momento em que o mercado via a
consolidação do Iron Maiden como banda gigante e o surgimento do hard rock
californiano com força, além do thrash metal na mesma Califórnia.
Era um
momento em que o chamado classic rock estava em frangalhos quase destruído. Black Sabbath e Uriah Heep
estavam desmantelados e em vias de acabar; Led Zeppelin e The Who não existiam
mais; O Pink Floyd estava morrendo; Nazareth
e UFO estavam em baixa, enquanto que Judas Priest estava perdido na tentativa
de “americanizar o som”; o Kiss abandonava as máscaras e buscava se reinventar,
assim como o Aerosmith; só Queen e Van Halen pareciam manter algum fôlego, assim
como o Rush.
“Perfect
Strangers” era o álbum certo na hora certa. Resgatou o orgulho de uma geração
que mandou no rock na década anterior e demonstrou que os então “dinossauros”
ainda tinham boas coisas para oferecer.
O anúncio da
volta surpreendeu muita gente. Ian Gillan estava no Black Sabbath e Blackmore
mantinha vivo o seu Rainbow ao lado do baixista Roger Glover, enquanto que Jon
Lord tocava com David Coverdale no Whitesnake e Ian Paice estava com Gary
Moore. Haveria espaço novamente para um “novo” Deep Purple?
“Só funcionaria
e fosse aquela segunda formação, a formação clássica”, comentou Ian Gillan em
um programa de rádio nos anos 2000. “Todo estavam dispersos em projetos que não
tinham realmente muito a ver com nossas carreiras. Não sei se era inevitável,
mas a reunião foi uma boa ideia para o momento e o disco ‘Perfect Strangers’
mostrou que estávamos certos.”
Como parecia
que todos queriam que acontecesse, não houve grandes dificuldades para que
todos concordassem. Era necessário apenas que Rainbow e Black Sabbath
concluíssem seus compromissos para que entrassem em estúdio e iniciassem logo
os trabalhos de composição e gravação. E tudo foi bem rápido, pois o disco
estaria nas lojs no final de outubro de 1984 a tempo de pegar a banda já em turnê
europeia.
O álbum foi
puxando pelo hit gigante da faixa-título, que atesta a genialidade de Ritchie
Blackmore e Jon Lord para criar riffs memoráveis – está no mesmo patamar de “Smoke
on the Water”, “Highway Star” e “Burn”. Até hoje “Perfct Stranger” é uma música
das mais pedidas em escolas para se aprender guitarra e teclados.
Um segundo
hit é “Knockin’ at Your Back Door”, com seu riff maravilhoso de introdução e
uma interpretação magistral de Gillan, afiadíssimo depois e ter passado por
cirurgias na garganta anos antes. As duas músicas colocaram o álbum no topo das
paradas pelo mundo.
O restante
do disco não tem a mesma inspiração, mas tm bons momentos, como “Nobody’s Home”,
também candidata a hit, a rápida “Under the Gun” e a curiosa “Not Responsible”,
além da balada blues “Wasted Sunsets, que inauguraria uma tenência no futuro,
principalmente a partir dos anos 90.
Se o álbum
não tem a mesma força de “Machine Head” (1972) ou “Fireball” (1971), é
importante o suficiente para ter ressuscitado o grupo e empurrá-lo para a
frente de forma a ter se tornado, de forma definitiva, a instituição do rock
que todos imaginavam que poderia ter sido caso não tivesse encerrado as
atividades em 1976. Lord talvez tenha razão ao descrever a obra como a mais
importante do Deep Purple.
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