terça-feira, 29 de outubro de 2024

'Perfect Strangers', a perfeita ressurreição do Deeo Purple há 40 anos

  

“Dependendo do ponto de vista, ‘Perfect Strangers’ é o álbum mais importante do Deep Purple. Ele mostrou que éramos capazes de fazer boas música e nos mantermos relevantes em uma época de drásticas mudanças .”

 

A declaração é do tecladista Jon Lord (1941-2012), fundador do Deep Purple, em conversa informal com jornalistas brasileiros em 1997 durante passagem da banda por São Paulo e Santo André. Ele falava com orgulho do álbum que marcou a então improvável volta do grupo em 1984.

 

Em um processo que se manteve sigiloso por quase um ano, o Deep Purple anunciava a sua volta há 40 anos depois de um hiato de oito anos e uma surpreendente paz entre o vocalista Ian Gillan e o guitarrista Ritchie Blackmore.

 

Lord tem razão quando fala da importância do isco para a história do Deep Purple, pois foi uma obra de sucesso e de alta qualidade em um momento em que o mercado via a consolidação do Iron Maiden como banda gigante e o surgimento do hard rock californiano com força, além do thrash metal na mesma Califórnia.

 

Era um momento em que o chamado classic rock estava em frangalhos  quase destruído. Black Sabbath e Uriah Heep estavam desmantelados e em vias de acabar; Led Zeppelin e The Who não existiam mais;  O Pink Floyd estava morrendo; Nazareth e UFO estavam em baixa, enquanto que Judas Priest estava perdido na tentativa de “americanizar o som”; o Kiss abandonava as máscaras e buscava se reinventar, assim como o Aerosmith; só Queen e Van Halen pareciam manter algum fôlego, assim como o Rush.

 

“Perfect Strangers” era o álbum certo na hora certa. Resgatou o orgulho de uma geração que mandou no rock na década anterior e demonstrou que os então “dinossauros” ainda tinham boas coisas para oferecer.

 

O anúncio da volta surpreendeu muita gente. Ian Gillan estava no Black Sabbath e Blackmore mantinha vivo o seu Rainbow ao lado do baixista Roger Glover, enquanto que Jon Lord tocava com David Coverdale no Whitesnake e Ian Paice estava com Gary Moore. Haveria espaço novamente para um “novo” Deep Purple?

 

“Só funcionaria e fosse aquela segunda formação, a formação clássica”, comentou Ian Gillan em um programa de rádio nos anos 2000. “Todo estavam dispersos em projetos que não tinham realmente muito a ver com nossas carreiras. Não sei se era inevitável, mas a reunião foi uma boa ideia para o momento e o disco ‘Perfect Strangers’ mostrou que estávamos certos.”

 

Como parecia que todos queriam que acontecesse, não houve grandes dificuldades para que todos concordassem. Era necessário apenas que Rainbow e Black Sabbath concluíssem seus compromissos para que entrassem em estúdio e iniciassem logo os trabalhos de composição e gravação. E tudo foi bem rápido, pois o disco estaria nas lojs no final de outubro de 1984 a tempo de pegar a banda já em turnê europeia.

 

O álbum foi puxando pelo hit gigante da faixa-título, que atesta a genialidade de Ritchie Blackmore e Jon Lord para criar riffs memoráveis – está no mesmo patamar de “Smoke on the Water”, “Highway Star” e “Burn”. Até hoje “Perfct Stranger” é uma música das mais pedidas em escolas para se aprender guitarra e teclados.

 

Um segundo hit é “Knockin’ at Your Back Door”, com seu riff maravilhoso de introdução e uma interpretação magistral de Gillan, afiadíssimo depois e ter passado por cirurgias na garganta anos antes. As duas músicas colocaram o álbum no topo das paradas pelo mundo.

 

O restante do disco não tem a mesma inspiração, mas tm bons momentos, como “Nobody’s Home”, também candidata a hit, a rápida “Under the Gun” e a curiosa “Not Responsible”, além da balada blues “Wasted Sunsets, que inauguraria uma tenência no futuro, principalmente a partir dos anos 90.

 

Se o álbum não tem a mesma força de “Machine Head” (1972) ou “Fireball” (1971), é importante o suficiente para ter ressuscitado o grupo e empurrá-lo para a frente de forma a ter se tornado, de forma definitiva, a instituição do rock que todos imaginavam que poderia ter sido caso não tivesse encerrado as atividades em 1976. Lord talvez tenha razão ao descrever a obra como a mais importante do Deep Purple.

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