Flavio Leonel - do site Roque Reverso
O álbum “Youthanasia”, do Megadeth, completou 30 anos de existência nesta sexta-feira, 1° de novembro de 2024. Sexto disco de estúdio da carreira do grupo norte-americano de thrash metal e terceiro com a formação clássica, é considerado um dos melhores da banda.
Ao lado dos álbuns antecessores, “Rust in Peace” (1990) e “Countdown to Extinction” (1992), “Youthanasia” faz parte da “trinca de ouro” da fase áurea do Megadeth.
Após o enorme sucesso comercial dos discos anteriores e com uma dose a mais (e certeira) de melodia no thrash metal extremamente bem elaborado pelos músicos, o sexto álbum do Megadeth consolidou uma era que até os dias atuais gera saudades nos fãs da banda.
Quem viveu aquela época sabe muito bem que era um verdadeiro “período dos sonhos” para quem gostava do grupo, já que os músicos pareciam evoluir a cada dia na parte técnica e criativa, gerando trabalhos que se tornaram obrigatórios para os amantes da boa música.
Capa e título
O impacto do álbum “Youthanasia” já começou pela capa escolhida. Ela mostra uma idosa pendurando bebês pelos pés num varal que não parece ter fim.
A arte vai de encontro com o título, que traz a junção, em inglês, das palavras juventude e eutanásia.
A intenção da mensagem de capa e título era a reflexão sobre os erros da sociedade em relação à juventude, especialmente na questão de perdas de vidas jovens para a violência e para as drogas.
O álbum
Dave Mustaine (voz e guitarra), David Ellefson (baixo), Marty Friedman (guitarra) e Nick Menza (bateria) continuavam juntos pelo terceiro álbum consecutivo. E essa estabilidade inédita na história do Megadeth gerava frutos a cada ano, com shows memoráveis e material de estúdio de grande qualidade.
Se no disco “Countdown to Extinction”, o Megadeth já havia elevado a dose melódica dentro de um contexto dominante do heavy metal na época e colhido vendas históricas na carreira, no disco seguinte, seria prudente manter a fórmula.
Em “Youthanasia”, a banda aumentou ainda mais a qualidade melodiosa, chegando, para alguns, muito perto de algo fora do thrash metal.
A migração para um tipo de som que não saía totalmente do thrash metal, mas que também poderia ser mais acessível para ouvidos de fãs de diversas vertentes do rock ficou clara logo no primeiro single de trabalho do disco.
Apesar de ser a segunda faixa do álbum, “Train Of Consequences” foi a escolhida para ser o cartão de visitas do “Youthanasia” com clipe que passava em toda a programação da MTV.
Quem viveu aquele período chegou a ver naquele momento alguns fãs mais exigentes do Megadeth torcerem o nariz para a faixa, que traz um andamento que foge um pouco da característica tradicional da banda e com elementos mais pop, apesar de o grupo mostrar toda uma qualidade técnica em diversos momentos da música.
Para quem já tinha ouvido o álbum desde o início, havia um alento com a ótima “Reckoning Day”, que abria o disco com uma característica que lembrava mais o álbum anterior, como se fizesse uma ponte natural com o “Youthanasia”. Para deixar a música ainda mais marcante, o Megadeth trouxe um clipe que sempre agrada fãs de qualquer banda: cenas de turnês com shows de diversos momentos da história do grupo.
Ironicamente, apesar de ser menos mainstream do que “Train Of Consequences”, “Reckoning Day” acabou permanecendo mais tempo no repertório dos shows do Megadeth e, ainda hoje, costuma frequentar com mais regularidade os set lists da banda, diferente da outra faixa.
Ainda que as duas músicas citadas tivessem suas qualidades, o “Youthanasia” possui quatro ou cinco faixas que qualquer fã do Megadeth declara ao ouvir os primeiros acordes: “Isso é muito ‘Youthanasia’!”
A primeira dessas músicas com este “selo” é a terceira do álbum. “Addicted to Chaos” traz a banda mais melodiosa do que nunca, mas também com uma técnica incrível. Essa soma trouxe canções que fazem, ao mesmo tempo, o fã da banda se emocionar com os acordes e também ficar orgulhoso da evolução técnica de um grupo que já “dava aulas” desde que a formação clássica se reuniu a partir do “Rust in Peace”.
A quarta faixa do disco até poderia ganhar o “selo” citado, mas ela consegue superar esta condição, transformando-se num clássico do álbum e da carreira da banda. “A Tout Le Monde” é uma das músicas mais lentas do Megadeth e poderia ser apontada como balada, se não tivesse uma letra que traz uma mensagem de despedida da vida.
Para alguns, ela foi recebida de maneira errada, como uma canção a favor do suicídio. A MTV norte-americana proibiu o videoclipe alegando isso, mas Dave Mustaine deixou claro que a intenção da letra era trazer uma mensagem daqueles que estão a poucos minutos de partir desta vida. Uma declaração trazendo as últimas palavras em vida para amigos e familiares.
Polêmicas à parte, “A Tout Le Monde” traz um dos momentos mais brilhantes do Megadeth em toda a carreira e, não por acaso, não sai do set list do grupo até os dias de hoje. É aquela música que até pessoas que não gostam de heavy metal apreciam e foi fundamental para que a banda angariasse novos fãs que ainda não conheciam os trabalhos anteriores.
Depois desse clássico impactante, a música seguinte é “Elysian Fields”, mais uma do “selo” que faz o fã ligá-la imediatamente ao modelo “Youthanasia”. Melodia e mais melodia, com guitarras envolventes e um vocal bem trabalhado de Mustaine, que é marca do álbum.
Na sequência, vem aquela que é uma pedrada do Megadeth mais no estilo característico da carreira da banda, com as pitadas melódicas da evolução musical da trinca de álbuns. “The Killing Road” é uma das melhores do disco e fecha o então Lado A do LP, em tempos nos quais o CD já superava em vendagens o vinil, que ainda sobrevivia, mas com clara tendência de ficar para trás.
O então Lado B traz logo de cara duas faixas com o “selo” claro do “Youthanasia”. “Blood Of Heroes” e “Family Tree” são uma verdadeira aula musical melodiosa e trazem o Megadeth num auge de técnica de dar gosto e orgulho para os fãs.
A faixa-título vale mais pela mensagem da letra do que pela parte musical em si. Claramente não pode ser considerada uma música fraca, mas destoa um pouco das demais em qualidade.
Na sequência, “I Thought I Knew It All” é a última faixa do álbum com a marca “Youthanasia”. Mais um show de melodia das guitarras de Mustaine e Marty Friedman, num grande momento do Megadeth.
“Black Curtains” e “Victory” fecham o disco sem o mesmo brilho das outras faixas, mas vale a sacada interessante da banda aproveitar o título de algumas músicas históricas do Megadeth para formar a letra de “Victory”.
Da trinca de ouro da fase clássica do Megadeth, “Youthanasia” pode até não ser o melhor álbum, mas marca posição especialmente na questão criativa. Mais que isso, mostra uma evolução musical que ainda faria a banda continuar presenteando os fãs durante alguns anos, tanto em shows como em trabalhos de estúdios de boa qualidade.
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