sábado, 9 de novembro de 2024

Trump, a memória vilipendiada de uma menina e o fracasso civilizatório

 



Uma menina morta há cinco anos sem Justiça e um presidente autocrata recém-eleito na base da intimidação e da ameaça – sob aplausos de seus eleitores belicosos. Dois fatos aparentemente desconectados mas que, juntos, explicam muito os tempos de retrocesso em que vivemos.

 

NO Rio de Janeiro, uma menina de oito anos, voltando da escola em uma van sem identificação, é morta por uma “bala perdida” disparada por um policial militar em um suposto confronto com bandidos. Isso foi em 2019. A perícia comprovou que não houve confronto, e que, portanto, o policial mentiu.

 

Cinco anos depois, o policial vai a julgamento e é absolvido. O júri composto por cinco homens e duas mulheres, escolhido por sorteio, entendeu que o tiro fatal realmente partiu d fuzil do policial, mas que ele não teve a intenção de matar – teria confundido uma esquadria de metal nas mãos de um homem no interior da van com um fuzil.

 

Mesmo sem representar ameaça ou ter a “esquadria” apontada contra si, o policial se sentiu “ameaçado” a ponto de reagir a “um tiro ou ameaça que não houve”.

 

 Inacreditavelmente, o júri considerou a situação “normal” no violento cotidano carioca e absolveu o PM, atribuindo  a morte de Ágata, de oito anos, a uma “fatalidade cotidiana urbana”. ´R assim que pensa o cidadão/cidadã médio que vota na extrema-direita e acha que a violência é a solução para tudo.

 

Nos Estados Unidos, a democracia foi jogada no lixo com eleição do republicano Donald Trump, que governou entre 2016 e 2020 e fez a pior administração da história daquele país. Se não bastasse, ainda incentivou uma tentativa fracassada de golpe de Estado em janeiro de 2021 para impedir a posse de Joe Biden. Nada disso foi o suficiente para que fosse impedido de concorrer e, pior, de receber votos e vencer.

 

O retorno de Trump ao poder é uma das maiores indecências da história da humanidade. E indica um recado perigoso para o mundo: ciência, inteligência e conhecimento. Assim como a defesa da humanidade, são valores execráveis para o ser humano mediano e pouco informado/escolarizado.

 

A moda agora é valorizar o ódio e o individualismo, relegando o progressismo e a solidariedade para o último plano.

 

As ameaças nunca foram neutralizadas, apesar de as derrotas de Trump e de Jair Bolsonaro  sugerirem isso. Por ironia do destino, as derrotas fortaleceram, de certa forma, o discurso extremista da direita asquerosa e nojenta, que irresponsavelmente se utiliza das fake News para a tomada de poder

 

 Como explicar que gente que tentou dar golpe de Estado ainda tenha grande capacidade de voto? Como justificar que a direita que tende a ser mais extrema, simpatizando com o bolsonarismo nefasto e asqueroso. Tenha tido votação expressiva nas últimas eleições municipais?

 

Não só no Brasil, mas em muitos lugares do mundo, tido como civilizados. Como Estados Unidos e alguns países da Europa, a tendência é a aposta no ódio e na xenofobia, no individualismo e na ojeriza aos direitos humanos e à solidariedade. É uma aposta perigosa no individualismo e na violência política como métodos aceitáveis e de rolo compressor no vale-tudo pelo poder. E entendamos aqui fake News como forma de violência política.

 

Não por outras coisas que estamos tendo de aturar excrescências políticas como Claudio Castro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) governando Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente. e Donald Trump.

 

O eleitor, em sua maioria, está desaprendendo a votar nas democracias ocifdentais. O retrocesso é geral e tem a ver com a desvalorização da educação e a disseminação geral do ódio. Por isso jurados cariocas não têm vergonha de absolver um PM que atirou em uma criança. Faz parte da “guerra urbana”.

 

Por isso o eleitor mediano americano, que é ressentido e desinformado, quando não burro, não tem pudor em afrontar a inteligência e o conhecimento ao valorizar notícias falas e gente autoritária que odeia imigrantes, gente diferente e que adora estimular golpes de Estado, Como explicar imigrantes votando em candidato que promete expulsar e prejudicar imigrantes?

 

O embate civilizatório costuma ser cansativo e pouco produtivo muitas vezes. E os ignorantes já provaram que têm mais paciência e estômago do que as pessoas decentes que prezam pelos valores civilizatórios. Dá trabalho combater a ignorância e o ódio.

 

Na era da ignorância extrema, é preciso muito mais do que boa vontade para enfrentar as forças do atraso. É preciso muita Inteligência e força política para toar medidas impopulares e necessárias, que muitas vezes resvalam em comportamentos fascistas. Como diz o paradoxo de Karl Popper, é preciso ser intolerante com a intolerância.

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