Uma menina
morta há cinco anos sem Justiça e um presidente autocrata recém-eleito na base
da intimidação e da ameaça – sob aplausos de seus eleitores belicosos. Dois fatos
aparentemente desconectados mas que, juntos, explicam muito os tempos de
retrocesso em que vivemos.
NO Rio de
Janeiro, uma menina de oito anos, voltando da escola em uma van sem identificação,
é morta por uma “bala perdida” disparada por um policial militar em um suposto
confronto com bandidos. Isso foi em 2019. A perícia comprovou que não houve
confronto, e que, portanto, o policial mentiu.
Cinco anos
depois, o policial vai a julgamento e é absolvido. O júri composto por cinco
homens e duas mulheres, escolhido por sorteio, entendeu que o tiro fatal realmente
partiu d fuzil do policial, mas que ele não teve a intenção de matar – teria confundido
uma esquadria de metal nas mãos de um homem no interior da van com um fuzil.
Mesmo sem
representar ameaça ou ter a “esquadria” apontada contra si, o policial se
sentiu “ameaçado” a ponto de reagir a “um tiro ou ameaça que não houve”.
Inacreditavelmente, o júri considerou a
situação “normal” no violento cotidano carioca e absolveu o PM, atribuindo a morte de Ágata, de oito anos, a uma “fatalidade
cotidiana urbana”. ´R assim que pensa o cidadão/cidadã médio que vota na
extrema-direita e acha que a violência é a solução para tudo.
Nos Estados
Unidos, a democracia foi jogada no lixo com eleição do republicano Donald
Trump, que governou entre 2016 e 2020 e fez a pior administração da história
daquele país. Se não bastasse, ainda incentivou uma tentativa fracassada de golpe
de Estado em janeiro de 2021 para impedir a posse de Joe Biden. Nada disso foi
o suficiente para que fosse impedido de concorrer e, pior, de receber votos e
vencer.
O retorno de
Trump ao poder é uma das maiores indecências da história da humanidade. E indica
um recado perigoso para o mundo: ciência, inteligência e conhecimento. Assim como
a defesa da humanidade, são valores execráveis para o ser humano mediano e
pouco informado/escolarizado.
A moda agora
é valorizar o ódio e o individualismo, relegando o progressismo e a solidariedade
para o último plano.
As ameaças nunca
foram neutralizadas, apesar de as derrotas de Trump e de Jair Bolsonaro sugerirem isso. Por ironia do destino, as
derrotas fortaleceram, de certa forma, o discurso extremista da direita asquerosa
e nojenta, que irresponsavelmente se utiliza das fake News para a tomada de
poder
Como explicar que gente que tentou dar golpe
de Estado ainda tenha grande capacidade de voto? Como justificar que a direita
que tende a ser mais extrema, simpatizando com o bolsonarismo nefasto e asqueroso.
Tenha tido votação expressiva nas últimas eleições municipais?
Não só no Brasil,
mas em muitos lugares do mundo, tido como civilizados. Como Estados Unidos e
alguns países da Europa, a tendência é a aposta no ódio e na xenofobia, no
individualismo e na ojeriza aos direitos humanos e à solidariedade. É uma
aposta perigosa no individualismo e na violência política como métodos
aceitáveis e de rolo compressor no vale-tudo pelo poder. E entendamos aqui fake
News como forma de violência política.
Não por
outras coisas que estamos tendo de aturar excrescências políticas como Claudio
Castro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) governando Rio de Janeiro e
São Paulo, respectivamente. e Donald Trump.
O eleitor,
em sua maioria, está desaprendendo a votar nas democracias ocifdentais. O
retrocesso é geral e tem a ver com a desvalorização da educação e a
disseminação geral do ódio. Por isso jurados cariocas não têm vergonha de
absolver um PM que atirou em uma criança. Faz parte da “guerra urbana”.
Por isso o eleitor
mediano americano, que é ressentido e desinformado, quando não burro, não tem
pudor em afrontar a inteligência e o conhecimento ao valorizar notícias falas e
gente autoritária que odeia imigrantes, gente diferente e que adora estimular
golpes de Estado, Como explicar imigrantes votando em candidato que promete
expulsar e prejudicar imigrantes?
O embate
civilizatório costuma ser cansativo e pouco produtivo muitas vezes. E os ignorantes
já provaram que têm mais paciência e estômago do que as pessoas decentes que
prezam pelos valores civilizatórios. Dá trabalho combater a ignorância e o
ódio.
Na era da
ignorância extrema, é preciso muito mais do que boa vontade para enfrentar as
forças do atraso. É preciso muita Inteligência e força política para toar
medidas impopulares e necessárias, que muitas vezes resvalam em comportamentos
fascistas. Como diz o paradoxo de Karl Popper, é preciso ser intolerante com a
intolerância.
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