Marcelo Moreira
Depois de períodos terríveis de dificuldades em todos os sentidos por conta da pandemia de covid-19 e do horroroso governo do nefasto presidente Jair Bolsdonaro, é bom saborear a melhora da economia, com queda nas taxas de desemprego e crescimento da atividade em vários setores. Grandes artistas nacionais e internacionais estão lotando estádios e casas de shows n Brasil.
O que não muda é a série de dificuldades de artistas do underground em todos os segmentos da atividade artística, em especial na área musical, e mais ainda no rock. Os custos aumentam cada vez mai e, na proporção inversa, o público diminui, assim como o investimento no trabalho autoral.
Marcello Pompeu, vocalista da banda Korzus, de thrash metal, voltou às redes sociais para pedir emprego ou, ao menos, algum trabalho remunerado, até o mês de fevereiro. “O começo do ano e o primeiro semestre são muito fracos em termos de shows e atividades ligadas à música”, justificou.
Não é a primeira vez que ele recorreu às redes sociais em busca de ajuda para arrumar uma atividade remunerada alternativa. Em 2022 ele passou pelas mesmas dificuldades, mesmo sua banda sendo reconhecida como um dos grandes nomes do rock nacional e de ele ser responsável pelo estúdio Mr. Som, um dos melhores do Brasil.
Outrora um requisitado produtor musical na área do heavy metal, Pompeu sofre com as dificuldades do setor, onde a escassez de recursos fez artistas e bandas optarem por alternativas mais baratas ou mesmo caseiras/amadoras.
A quantidade de gente “lançando” músicas novas no rock brasileiro dá a ilusão de movimentação frenética, mas a realidade é muito diferente, e triste. O underground roqueiro, assim como o gênero, é bastante restrito no momento, uma consequência das mudanças drásticas do mercado fonográfico neste século.
Se a internet, por um lado facilitou demais a produção e a divulgação de trabalhos artísticos, por outro pulverizou a atenção e os recursos para a criação e novos circuitos e ambientes dedicados sobretudo ao trabalho autoral. A concorrência aumentou pelos parcos recursos e muitas casas de shows e bares dedicados ao rock fecharam pelos mesmos motivos.
Esse cenário não se restringe ao Brasil. São recorrentes as reclamações de artistas de porte médio de que o “rock está morrendo nos Estados Unidos”. Na Europa, os grandes festivais de verão são a salvação, já que são muitas as notícias de que bandas de pequeno e médio portes de Inglaterra, Holanda e Alemanha, por exemplo, cancelam turnês e adiam lançamentos por falta de recursos. O bolo é pequeno, e fica cada vez menor.
A existência de alguns felizardos No Brasil que alcançaram um patamar satisfatório de sustentabilidade criou a ilusão de que é possível obter algum sucesso e reconhecimento acompanhados de alguma remuneração minimamente razoável.
Marcello Pompeum do Korzus (FOTO: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM/MARCELLOPOMPEU |
Autoramas, Boogarins, The Baggios, O Teno, Tim Bernardes Ego Kill Talent e Black Pantera são exceções em um mar de candidatos a alguma chance para um público maior.
Krisiun, Crypta Nervosa são nomes fortes no cenário pesado, mas precisaram de muitos anos para consolidar as carreiras, e ainda assim precisam tocar muito e fazer mil coisas para pagar as contas. Malvada, banda com Rock in Rio e Best Bluies and Rock no currículo, tem agenda cheia , mas ainda não se livrou das apresentações pequenas em bares e motoclubes.
A banda Korzus tem 43 anos de carreira e uma trajetória linda, mas não lança álbum novo há mais de dez anos e suas apresentações são esporádicas. Com menos demanda no estúdio Mr. Som, Pompeu se viu obrigado a buscar alternativas e não vê muitas possibilidades em um mercado degradado e encolhido. Seu pedido de socorro é um alerta para uma área do entretenimento que precisa de um olhar mais profissional e de muitos incentivos, públicos ou não.
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