Ian Gillan (FOTO: BEN WOLF/DIVULGAÇÃO) |
Marcelo Moreira
Ao final de uma rápida entrevista coletiva em São Paulo, meados da primeira década deste século o cantor inglês Ian Gillan, que se apresentaria na cidade com o Deep Purple, respondeu sem pestanejar qual foi a virada mais importante em sua carreira.
Todos imaginavam que ele responderia que foi a troca da banda psicodélica Episode Six pelo Deep Purple em 1969, fato que o tornaria um astro mundial do rock anos depois. “O começo como artista solo foi desafiador, lá por 1976 e 1977. Era tudo novo e desconhecido. Começar do zero não foi confortável e representou o momento mais complicado para mim.”
No ano em que vai completar 80 anos de idade, o cantor inglês começa a ser homenageado com a edição de uma caixa com alguns de seus mais importantes trabalhos solo. “Gillan 1978-1982” terá os sete álbuns no período em que se apresentava como nome Gillan.
Serão editados todos os seis álbuns de estúdio, além de um registro ao vivo e material bônus. Edições limitadas incluem uma peça gráfica assinada pelo cantor. A previsão é de que o lançamento ocorra no final de fevereiro de 2025.
A escolha desse período da carreira para começar as homenagens é por representar o que de melhor fez em mais de 60 anos de carreira fora do Deep Purple. É a sai volta ao rock pesado depois de alguns anos experimentando dentro e fora dos palcos.
Depois de virar astro internacional, Ia Gillan decidiu mudar radicalmente em 1973após quatro anos de Deep Purple. As constantes desavenças como guitarrista Ritchie Blackmore, que assumira a liderança do grupo, e a decepção com a passividade dedo baterista Ian Paice e do tecladista Jon Lord, o fizeram abandonar a banda e a vida artística.
Foram dois anos tentando se tornar empresário, primeiro no ramo de turismo, como sócio e dono de hotel, e depois se embrenhando em negócios envolvendo recuperação e venda de automóveis.
Lentamente foi voltando aos palcos a parir de 1975, participando de show e gravações de amigos, como o baixista Roger Glover, até montar a sua Ian Gillan Band em 1976. O som era mais eclético, misturando rock, blues, jazz e outras influências. Er um flerte pesado com o rock progressivo nos três álbuns que a banda produziu.
Sucesso de crítica, a banda sofria para encher as casas de shows por mais que o cantor ainda se valesse de seu prestígio como ex-Deep Purple. Ele demorou a entender que o seu público queria que ele cantasse rock pesado, e de preferência revisitasse os clássicos do Deep Purple, o que ele pouco fazia.
Ian Gillan teve de se render aos fãs e mudou radicalmente. Acabou com a banda, procurou outros músicos e adotou o hard rock em um momento em que o Deep Purple já não mais existia. Era uma nova banda, agora chamada apenas Gillan.
A mudança coincide com uma nova safra de som pesado e agressivo que tomava conta da Inglaterra, com a ascensão do movimento punk e de bandas como Thin Lizzy,m Whitesnake e Judas Priest. A banda Glllan ocupou um espaço importante com discos bacanas como “Future Shock”, “Magic!” e “Mr.Universe”.
O que Ian Gillan não comtava era que uma nova safra de artistas com sangue nos olhos surgisse em Londres para finalmente colocar heavy mnetal no topo. As bandas da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) representavam a grande novidade da música pesada, conquistando corações e mentes de jovens que um dia amaram Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin.
A nova concorrência deixou a banda Gillan para trás e culminou com uma série de problemas de saúde do cantor. Alegando ter de fazer uma cirurgia na garganta, Gillan acaba como grupo e fica de molho até reaparecer, de forma surpreendente, como vocalista d o Black Sabbath em 1983.
A parceria inusitada deu certo, rendendo o bom disco “Born Again” (que Gillan detesta), mas não estava satisfeito – não era o lugar onde queria estar. Por isso, não pensou duas vezes em autorizar seu empresário a participar das negociações sobre a volta da formação clássica do Deep Purple, em 1985.
“Gillan 1978-1892” conterá os álbuns “Gillan (The Japanese Album, 1978), “Mr. Universe” (1979, “Glory Road”(1980), “Future Shock” 1981), “Double Trouble” (1981),”Magic” (1982) e “Live at Reading ‘80” (1982).