quinta-feira, 18 de julho de 2024

Menos pesado e mais versátil, Deep Purple celebra aunião em novo álbum

Chegar à beira dos 80 anos de idade se divertindo no trabalho não é para qualquer ser humano. Menos ainda quando se é um dos mais importantes cantores de rock do mundo. O inglês Ian Gillan garante que consegue absorver cada minuto que passa nos estúdios e nos palcos com a sua banda, o Deep Purple , e que o prazer ainda é o mesmo.

 

É possível perceber isso no mais recente álbum do Deep Purple, "=1", que é o primeiro com o novo guitarrista, o sul-africano Simon McBride. Há 57 anos fazendo rock dos melhores, o grupo mostra vitalidade e um repertório bem interessante, embora não seja memorável - nem mesmo é melhor do que o ótimo "Now What?", de 2013.

 

Memo assim, é um disco bacana e gostoso de ouvir. McBride, que substituiu Steve Morse em 2022, emprestou uma nova personalidade ao veterano grupo, acentuando o espírito bluesy que domina o novo trabalho. Oriundo do blues rock, McBride tem sólida carreira solo e coloca um molho diferente nas músicas novas que o diferencia bastante de Morse.

 

Assim como ocorre nos últimos cinco álbuns do Deep Purple, os teclados de Don Airey se sobressaem e ganham protagonismo em quase todos os temas. E o casamento com a guitarra de McBride é extraordinário, revitalizando o som da banda. 

 

Gillan, do alto d seus 79 anos, consegue manter o humor e imprimir sarcasmo nas letras bem sacadas, deixando escorrer uma descontração que não se viu, por exemplo, em "Whoosh", o disco anterior. Entretanto, no disco de versões "Turning the Crime", o novo astral já podia ser percebido, ainda com Steve Morse toando guitarra.

 

Os três primeiros singles não davam uma clara ideia do que seria "=1", o que parece ter sido feito de propósito. "Portable Door" tem uma estrutura de valsa,  mas é bastante rápida para desfazer a primeira impressão.  Ian Gillan brinca de crooner de banda de baile, e o bom humor se sobressai.

 

"Picture of You" remonta aos clássicos dos anos 70 e McBride consegue recuperar bem o espírito de Ritchie Blackmore, o guitarrista fundador. É ma canção mais densa, com uma cad~encia que faz com que os teclados ganhem promeinência. Tem uma certa tensão e dramaticidade que só realçam o talento de Gillan.

 

"Lazu Sod " é menos esfuziante, embora tenha bons momentos nas guitarras. ""If You Were You" é uma das grandes canções da banda neste século, ombreando clássicos como "Haunted" e "Clearly Quite Absurd"; Tem uma linha melódica simples, mas eficiente em um tema reflexivo.  Na mesma linha aparece "I'll Catch You", uma balada jazz pouco inspirada e que destoa um pouco do conjunto da obra.


“O Deep Purple é mais do que apenas seus membros”, diz um comunicado da banda. “=1" incorpora a essência e a atitude de sua encarnação dos anos 70, possivelmente mais do que qualquer outro álbum na memória recente. 

 

A produção novamente é de Bom Ezrin, veterano que trabalhou com Kiss e Pink Floyd. Sua sonoridade é caracteristicamente limpa e precisa, procurando realçar os timbres de cada instrumento. 

 

“O enigmático título =1 simboliza a ideia de que num mundo cada vez mais complexo, mas tudo eventualmente se simplifica até chegar a uma essência única e unificada. Tudo é igual a um", tworiza  abanda na mensagem aos jornalistas. 

“O novo álbum refletirá o que nós cinco criamos na sala de ensaio”, diz o guitarrista Simon McBride em entrevista à revista Classic rock Magazine. “Muitas das músicas, como 'Portable Door', foram escritas nas primeiras sessões e literalmente se juntaram em cinco ou 10 minutos. Foi tudo tão fácil e natural.”

 

A empolgação do guitarrista é genuína e se manifesta em termos sonoros, por exemplo, no solo final de "Lazy Sod", que é simples e ótimo. 

A empolgação é compartilhada pelo vocalista Ian Gillan: “Ao longo da história do Deep Purple, nossas melhores músicas sempre foram aquelas que foram escritas em pouco tempo. Tocamos o que parecia bom e desenvolvemos músicas como sempre fizemos".

 

"Now You're Talkin'" é a mais rock'n'roll  do  álbum. O peso é substituído pelas linhas blueseiras de guitarra e pelos teclados climáticos de Airey, que recupera o espírito de Jon Lord (1941-2012), outro fundador. Até mesmo os timbres de órgão Hammond de Lord são resgatados em uma espécie de grande tributo. 

 

Boas ideias também povoam boas canções como "Show Me", perfeita como abertura bem humorada do disco, e "No Money to Burn", um primor de ironia e sarcasmo que remonta ao clássico "Maybe I'm a Leo", dos anos 70. O conhecido humor sutil do vocalista aparece aqui em todo o se esplendor. 

 

Poderia ser mais um álbum Deep Purple para ser enfileirado na sua discografia, mas soa como um trabalho cujo frescor e alto astral  destoam das produções roqueiras da atualidade. Agradável de ouvir, é tão bom que será capaz de adiar qualquer plano  de aposentadoria dos octogenários ingleses. Só isso já vale o disco.


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