segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Paul Di'Anno, o espírito livre punk que foi a voz de uma geração do met

 

 Um astro do rock autêntico e original, mas também um cantor com poucos recursos e que fracassou fora do Iron Maiden. São duas visões distintas acerca da vida Paul Di’Anno que conviveram lado a lado por 44 anos, desde que ele foi demitido da banda por abuso no álcool e drogas, oque afetava suas performances.

 

Paul Andrews, seu verdadeiro nome, era um ser passional e mercurial, algo raro em artistas ingleses, mas era de uma generosidade gigantesca. Tinha orgulho de sua origem operária e proletária, e mas ainda por ser o que considerava um “punk legítimo de primeira hora”.

 

Como bom punk, odiava classic rock e rock progressivo, áreas que o baixista Steve Harris, líder e dono do Iron Maiden, amava. Não tinha como dar certo Paul cantar na banda, mas assim mesmo o baixista  ousou convidá-lo para fazer um teste. Gostou da agressividade do moleque briguento e o alçou ao posto de vocalista de uma banda de metal que o novato tanto desprezava.

 

“Sou um espírito livre, uma espécie e raical livre que ama a vida e que detesta qualquer tipo de autoridade. Não m diga o qu devo fazer!”, costumava dizer nas entrevistas a respeito de sua trajetória.

 

Ao Combate Rock, em uma visita ao jornal O Estado de S. Paulo em 2911, afirmava que adorava o Brasil porque as pessoas o tratavam com respeito e se interessavam no que ele dizia, em suas ideias. “Aqui sabem quem eu sou e me respeitam pelo meu passado, mas não me adulam, não me consieram um ‘rock star’ digno de devoção. As pessoas aui são autênticas, como eu, e gostam de viver, apesar das dificuldades.”

 

Esse jeito diferente de encarar a vida dos brasileiros e sul-americanos o fez encarar temporadas longas em São Paulo e Bueno Aires sem que precisasse tocar. Quando o fazia, com músicos locais, gostava de cantar músicas solo, mas abria exceções par entoar seus hits da época de Iron Maiden. Às vezes ficava de mau humor, mas nada que uma dúzia de cervejas não o fizessem mudar de ideia.

 

Por ser um astro de primeira grandeza acessível, era adorado pelos roqueiros brasileiros, que frequentemente ajudavam a bancar sua estadia por aqui. Não foi por outro motivo que encarou várias turnês longas pelo Brasil, a última delas entre 2022 e 2023 com quase 40 shows em mais de 30 cidades com o suporte da banda Noturnall e dos músicos da Electric Gypsy.

 

Os frequentes problemas de saúde que o acometeram neste século azedaram o seu alto astral nos últimos tempos. Demonstrava certa intolerância algumas vezes pelo modo como os músicos locais, onde quer que estivesse, tocavam as músicas que imortalizou com a sua voz.

 

Tempos depois, se desculpava e voltava á generosidade de sempre, alegando que estava vivendo sob a influência de remédios – e nem mesmo assim maneirava na bebida alcoólica, uma paixão confessa..

 

“Ele não era um cara fácil, mas era uma pessoa incrível”, diz Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall e, talvez, a maior testemunha da generosidade de Di’Anno. “Eu me sinto um privilegiado por ter desfrutado ca companhia dele nestes últimos anos. Foram mais de 60 shows juntos e iríamos fazer mais 60 na Europa neste fim de ano e no Brasil, no começo do ano que vem. Não dá para medir o tamanho da perda, é um cara influente que vi ser lembrado daqui a mil anos.”

 

O brasileiro diz só ter lembranças boas do período em que conviveu com a lenda, com uma relação carinhosa e respeitosa pessoal e profissionalmente.  “Eu o tinha como um padrinho, um cara que gostava de mim e da banda, que dava conselhos e que ouvia o que tínhamos a dizer. Dos artistas grandes com quem trabalhei, foi aquele de quem me senti mais próximo.”

 

Com aguçado senso de justiça social, Paul Di’Anno era um cantor visceral, dono de uma técnica intuitiva que o fazia soar agressivo potente com a voz rouca. Como tudo na vida, não era alguém caracterizado pela moderação e cantava apaixonadamente, o que lhe rendia problemas – não foram poucas as vezes em que ficava sem voz por conta de não utilizar técnicas adequadas. Isso irritava bastante Steve Harris, como este contou em pelo menos dois livros sobre o Iron Maiden.

 

Na segunda vez em que esteve no Brasil para shows solo, em 1996, ficou gripado assim que desceu do avião. Conseguiu cantar na primeira noite, em um frio mês de setembro, mas a voz sumiu a partir da segunda noite e São Paulo. Em vez de moderar, seguiu cantando até ficar afônico e ter de adiar outros por alguns dias.

 

Sem Di’Anno, o Iron Maiden perdeu a sua contundência e agressividade, dizem alguns, aproximando-se mais da excelência técnica do Judas Priest com a entrada de Bruce Dickinson. Até hoje é o cantor preferido da banda por milhares de fãs, que consideram os doiss primeiros iscos, com os vocais de Paul, os melhores da discografia.

 

Di’Anno ajudou a transformar o Iron Maiden no grande representante dos fãs de música que não reconhecia no movimento punk em extinção a verdadeira rebeldia contra tudo e todos. Ironicamente, foi preciso que um punk desse a agressividade necessária ao metal britânico para atrair centenas de milhares de jovens insatisfeitos com a então crise econômica britânica e sua falta de perspectivas para toda uma geração.

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