Um astro do rock autêntico e original, mas
também um cantor com poucos recursos e que fracassou fora do Iron Maiden. São duas
visões distintas acerca da vida Paul Di’Anno que conviveram lado a lado por 44
anos, desde que ele foi demitido da banda por abuso no álcool e drogas, oque
afetava suas performances.
Paul Andrews,
seu verdadeiro nome, era um ser passional e mercurial, algo raro em artistas
ingleses, mas era de uma generosidade gigantesca. Tinha orgulho de sua origem
operária e proletária, e mas ainda por ser o que considerava um “punk legítimo
de primeira hora”.
Como bom
punk, odiava classic rock e rock progressivo, áreas que o baixista Steve Harris,
líder e dono do Iron Maiden, amava. Não tinha como dar certo Paul cantar na
banda, mas assim mesmo o baixista ousou
convidá-lo para fazer um teste. Gostou da agressividade do moleque briguento e
o alçou ao posto de vocalista de uma banda de metal que o novato tanto
desprezava.
“Sou um
espírito livre, uma espécie e raical livre que ama a vida e que detesta
qualquer tipo de autoridade. Não m diga o qu devo fazer!”, costumava dizer nas
entrevistas a respeito de sua trajetória.
Ao Combate
Rock, em uma visita ao jornal O Estado de S. Paulo em 2911, afirmava que
adorava o Brasil porque as pessoas o tratavam com respeito e se interessavam no
que ele dizia, em suas ideias. “Aqui sabem quem eu sou e me respeitam pelo meu
passado, mas não me adulam, não me consieram um ‘rock star’ digno de devoção.
As pessoas aui são autênticas, como eu, e gostam de viver, apesar das
dificuldades.”
Esse jeito
diferente de encarar a vida dos brasileiros e sul-americanos o fez encarar
temporadas longas em São Paulo e Bueno Aires sem que precisasse tocar. Quando o
fazia, com músicos locais, gostava de cantar músicas solo, mas abria exceções
par entoar seus hits da época de Iron Maiden. Às vezes ficava de mau humor, mas
nada que uma dúzia de cervejas não o fizessem mudar de ideia.
Por ser um
astro de primeira grandeza acessível, era adorado pelos roqueiros brasileiros,
que frequentemente ajudavam a bancar sua estadia por aqui. Não foi por outro
motivo que encarou várias turnês longas pelo Brasil, a última delas entre 2022
e 2023 com quase 40 shows em mais de 30 cidades com o suporte da banda Noturnall
e dos músicos da Electric Gypsy.
Os frequentes
problemas de saúde que o acometeram neste século azedaram o seu alto astral nos
últimos tempos. Demonstrava certa intolerância algumas vezes pelo modo como os
músicos locais, onde quer que estivesse, tocavam as músicas que imortalizou com
a sua voz.
Tempos
depois, se desculpava e voltava á generosidade de sempre, alegando que estava
vivendo sob a influência de remédios – e nem mesmo assim maneirava na bebida
alcoólica, uma paixão confessa..
“Ele não era
um cara fácil, mas era uma pessoa incrível”, diz Thiago Bianchi, vocalista do
Noturnall e, talvez, a maior testemunha da generosidade de Di’Anno. “Eu me
sinto um privilegiado por ter desfrutado ca companhia dele nestes últimos anos.
Foram mais de 60 shows juntos e iríamos fazer mais 60 na Europa neste fim de
ano e no Brasil, no começo do ano que vem. Não dá para medir o tamanho da
perda, é um cara influente que vi ser lembrado daqui a mil anos.”
O brasileiro
diz só ter lembranças boas do período em que conviveu com a lenda, com uma relação
carinhosa e respeitosa pessoal e profissionalmente. “Eu o tinha como um padrinho, um cara que gostava
de mim e da banda, que dava conselhos e que ouvia o que tínhamos a dizer. Dos
artistas grandes com quem trabalhei, foi aquele de quem me senti mais próximo.”
Com aguçado
senso de justiça social, Paul Di’Anno era um cantor visceral, dono de uma
técnica intuitiva que o fazia soar agressivo potente com a voz rouca. Como tudo
na vida, não era alguém caracterizado pela moderação e cantava apaixonadamente,
o que lhe rendia problemas – não foram poucas as vezes em que ficava sem voz por
conta de não utilizar técnicas adequadas. Isso irritava bastante Steve Harris,
como este contou em pelo menos dois livros sobre o Iron Maiden.
Na segunda
vez em que esteve no Brasil para shows solo, em 1996, ficou gripado assim que
desceu do avião. Conseguiu cantar na primeira noite, em um frio mês de
setembro, mas a voz sumiu a partir da segunda noite e São Paulo. Em vez de
moderar, seguiu cantando até ficar afônico e ter de adiar outros por alguns dias.
Sem Di’Anno,
o Iron Maiden perdeu a sua contundência e agressividade, dizem alguns,
aproximando-se mais da excelência técnica do Judas Priest com a entrada de
Bruce Dickinson. Até hoje é o cantor preferido da banda por milhares de fãs,
que consideram os doiss primeiros iscos, com os vocais de Paul, os melhores da
discografia.
Di’Anno
ajudou a transformar o Iron Maiden no grande representante dos fãs de música que
não reconhecia no movimento punk em extinção a verdadeira rebeldia contra tudo
e todos. Ironicamente, foi preciso que um punk desse a agressividade necessária
ao metal britânico para atrair centenas de milhares de jovens insatisfeitos com
a então crise econômica britânica e sua falta de perspectivas para toda uma geração.
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