quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Mineiros clamam por reabertura do entretenimento; ainda não é hora para voltar

 Marcelo Moreira




A pandemia do coronavírus provocou mudanças de comportamento e de posturas tão violentas que certamente transformará de forma avassaladora a nossa forma de viver, principalmente no Brasil.

Diante da irresponsabilidade criminosa do presidente da República e de seus governo frente às necessidades impostas pela emergência sanitária - situação que pode ser aplicada aos governos estaduais e municipais - e da leniência de um povo ignorante e mal educado, não temos a menor perspectiva de superar essa tragédia.

Médicos e autoridades sanitárias do mundo continuam batendo na mesma tecla: isolamento e distanciamento social são fundamentais para conter o avanço do vírus, assim como o uso de máscaras e fechamento total de quase todos os serviços e atividades por certo período. 

Parece bem claro, mas parte do mundo resolveu ignorar essas orientações, o que explica mais de 1 milhão de mortos no mundo desde o começo do ano, sendo 141 mil no Brasil.

Como já era esperado, o setor de entretenimento, gastronomia, artes e cultura seria o mais impactado - o primeiro a sofrer as consequências econômicas e, provavelmente, o último a se recuperar.

Claro que é uma tragédia, e infelizmente pouco pôde ser feito no primeiro momento para assistir os profissionais e trabalhadores do setor que perderam emprego e trabalho. 

A indiferença do governo federal incompetente também demorou para articular algum tipo de ajuda, como a Lei Aldir Blanc, que pode ter pouco efeito na ajuda financeira aos necessitados.

Tudo isso é verdade, mas também é verdade que não é hora de relaxar e reabrir comércio e voltar ás atividades normais na área do entretenimento. 

A pandemia não acabou e está piorando em muitos locais do mundo. No Brasil, cidades e Estados enfrentam a volta do contágio em níveis alarmantes, o que torna a postura de negação de autoridades, como o nefasto presidente da República, crimes inacreditáveis, para não falar da irresponsabilidade generalizada de permitir a volta da atividade econômica como a reabertura de lojas, restaurantes e bares.

Diante desse quadro horrendo, fica difícil apoiar a iniciativa de profissionais da área de entretenimento e artes de Belo Horizonte (MG), que pressionam a prefeitura pela volta das atividades quase normais de shows, teatros e cinemas, entre outros. Mais uma entre tantas irresponsabilidades.

A categoria de profissionais da capital mineira pretende fazer uma manifestação na próxima segunda segunda-feira, 5 de outubro, na praça da Liberdade. O protesto é legítimo, por mais que a maioria das premissas esteja equivocada e não condizente com a emergência sanitária.

Os organizadores do evento não têm pudores em explicitar os objetivos: pressionar o poder executivo municipal para liberar a realização de eventos, "tomando todos os cuidados necessários". É uma vergonha sem tamanho.

"O setor entrou em uma crise sem precedentes. Em algumas cidades brasileiras, o segmento começa a retomar as atividades de forma gradual, mas em Belo Horizonte ainda não existe uma previsão para o
retorno", diz o manifesto da categoria. 

De acordo com Ederson Clayton, que integra a diretoria da AMEE (Associação Mineira de Eventos e Entretenimento), o objetivo da mobilização é unir as forças com profissionais e empresas do
segmento para gritarem por ajuda ao poder executivo municipal da capital mineira.

"O setor cultural é responsável por 2% do PIB brasileiro. Incluindo os eventos, emprega 5,2 milhões de trabalhadores. E não há nada que possamos fazer sem que exista um faturamento. Os caixas das
empresas estão zerados, não há previsão de receita, mas as responsabilidades e contas continuam existindo. Os salários de funcionários terão que ser pagos (ou possíveis rescisões), assim como os respectivos impostos, além de outras despesas fixas como aluguel, água, luz, comunicação, serviços de manutenção etc. Se nada for efetivamente feito, 2020 será marcado como o ano em que mais
empresas de eventos fecharam as suas portas em toda a história. O nosso setor está agonizando", diz o profissional.

É claro que lamentamos as consequências trágicas da pandemia. Não foi só o setor de entretenimento que sofreu. As estimativas mais conservadoras revelam que entre 2 milhões e 3 milhões de pessoas perderam empregos, trabalho e renda desde março no Brasil, em uma crise econômica sem precedentes em nosso país. É legítimo que se cobre soluções e ajuda de todos os governo, desde que haja responsabilidade e que não descumpramos as regras de isolamento mais do que estão sendo descumpridas.

Neste aspecto, ainda que irresponsavelmente a prefeitura de Belo Horizonte tenha relaxado quase que criminosamente as regras ao permitir a volta do comércio em vários níveis, acerta ao restringir e continuar proibindo o setor de entretenimento de funcionar. Resta saber se consegue fiscalizar o cumprimento destas regras.

"Entendemos a complexidade do momento e estamos planejando todos os cuidados necessários para
evitarmos o aumento de casos de Covid-19. Suplicamos ao nosso prefeito pelo direito de trabalhar. Já elaboramos rígidos protocolos que visam a realização dos eventos de forma segura, tanto para o público, quanto para quem estiver trabalhando, como, por exemplo, a limitação de 50% da capacidade dos locais. O nosso setor está agonizando e precisa de uma rápida retomada para que muitas empresas e empregos não deixem de existir", completa Ederson Clayton.

A reclamação é legítima e tem a sua razão de ser, mas que o prefeito Alexandre Kalil (PSD) tenha a sabedoria e não ceda. Não é hora para flexibilizar uma atividade onde a aglomeração é um requisito básico. 

Que os profissionais cobrem outro tipo de solução que não a reabertura, neste momento, de bares, e restaurantes e casas de show. Entendemos que os profissionais precisam trabalhar, mas desde que em segurança e com algum tipo de controle sobre o a covid-19, coisa que ainda está bem longe de acontecer. 

Uma das maiores vitórias do rock e das artes ocorreu há 35 anos

 Marcelo Moreira

Imagine um país inteiro parado, hipnotizado por conta de uma sessão do Congresso Nacional que discutia e debatia o conteúdo de letras de músicas pop em vez do impeachment de um presidente. Seria possível uma bobagem dessas?

Sim, foi perfeitamente possível e na maior e mais antiga democracia em atividade, os Estados Unidos, 35 anos atrás, em uma das situações mais ridículas que o mundo das artes foi submetido.

Em uma tentativa tosca de censurar letras de músicas de rock e rap, os principais alvos - mas que certamente se estendia para teatro e cinema, mulheres ultraconservadoras de senadores, alguns do partido Democrata, fizeram tanto barulho que conseguiram a formação de uma comissão mista do Congresso para analisar a questão. 

Foi um fato tão extraordinário por ser tão absurdo que chamou a atenção do mundo, sendo marcante por ser estapafúrdio, pela humilhação dos parlamentares e por alçar dois artistas do rock à condição de "intelectuais" e ferrenhos defensores da liberdade de expressão. Franka Zappa e Dee Snider (vocalista do Twisted Sister) depuseram no Congresso e viraram heróis.





Os congressistas foram humilhados e as mulheres carolas e conservadoras foram ridicularizadas, mas aparentemente se consideraram vitoriosas: queriam criar um "selo" e LPs avisando sobre o "conteúdo" explícito nas letras de rap e rock. Elas conseguiram isso, mas foi um um tiro no pé, pois isso só aumentou a curiosidade sobre tais obras e explodiu as vendas de tais produtos. 

O efeito colateral é que obrigou artistas importantes a deporem em um comitê do Senado sobre assunto – uma vergonha em todos os sentidos, mas que garantiu momentos hilários, como Dee Snider humilhando políticos burros e ignorantes em seu depoimento.

Desde o final do ano passado essa nojeira de selo vem sendo articulada no Brasil por lideranças políticas ligadas a seitas evangélicas - leia mais aqui.

Como a maior democracia mais cintilante do mundo, onde a liberdade de expressão e qualquer tipo de liberdade é sempre exaltada de todas as formas, pôde mergulhar em tal obscurantismo, até mesmo políticos democratas de viés um pouco mais progressista?

Os Estados Unidos tinham acabado de sair de uma corrida eleitoral acirrada em 1984, quando o presidente republicano Ronald Reagan, ex-governador da Califórnia e um ex-ator de cinema medíocre, foi reeleito presidente.

O conservadorismo em todos os sentidos estava exacerbado, principalmente nos costumes, em uma tentativa de manter o eleitorado alerta e alinhado, com a religião ganhando mais proeminência no cenário político e o povo do interior sendo mais valorizado - exatamente o cenário que elegeu Donald Trump em 2016.

Eleito, Reagan aprofundou o apoio às tendências mais medievais do conservadorismo norte-americano e estimulou manifestações cada vez mais agressivas contra o "comunismo" e os "ataques aos valores norte-americanos", ao mesmo tempo em que pressionava, na política externa, a União Soviética, que começava a se despedaçar. Não foram poucas as crises entre as duas superpotências nucleares entre 1981 e 1985.

Os bastidores políticos de Washington contam, por meio de reportagens de jornais posteriores, que já havia ma clima bem desfavorável ao rock e às artes desde a eleição anterior de Reagan, em 1980, quando a maioria dos artistas se posicionou contra ele.

Havia um consenso entre os políticos conservadores de que o mundo das artes e, especialmente, rock e rap, tinha crescido demais na influência de todos os tipos na juventude americana e que isso se refletiria contra os republicanos no futuro. Portanto, a campanha do "selo" de advertência seria parte de um movimento mais articulado de bastidores para criminalizar a arte e tentar "controlá-la".

Dee Snider (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Outra suspeição foi a de que os "protestos" das mulheres conservadoras teria sido inflado artificialmente pelos políticos republicanos para dar um ar de espontaneidade à iniciativa.

E com isso surgiu a PMRC (Parents Music Resource Center), ou "Centro de Recursos Musicais para os Pais", criado por quatro mulheres que ficaram conhecidas como "as esposas de Washington"”, já que eram todas casadas com figuras importantes da capital do país.

Essas mulheres decidiram que seriam o "oráculo" da família norte-americana para dizer o que crianças e adolescentes poderiam ouvir, ler e ver, "alertando" os pais sobre o "conteúdo nocivo" de vários produtos culturais. 

E o estranho é que os republicanos, que mesmo conservadores sempre lutaram pelas liberdades absolutas em todos os níveis do cotidiano americano, endossaram essa tutela estúpida das vontades individuais de seus filhos.

Quem eram essas mulheres estúpidas? Tipper Gore, companheira de ender obras com o tal selo Al Gore, então senador e depois vice-presidente de Bill Clinton, Susan Baker, esposa do secretário do Tesouro James Baker, Pam Howar, mulher do corretor Raymond Howar, e Sally Nevius, esposa de John Nevius, presidente da Câmara Distrital do distrito de Columbia, onde fica a capital dos Estados Unidos

Algumas audiências públicas foram realizadas no Congresso para debater o assunto, mas nada demoveu as mulheres conservadoras de conseguirem aprovar a criação do selo "parental advisory", que dava o alerta para os pais sobre o "conteúdo impróprio" de músicas e discos. 

De forma previsível, o resltado foi o oposto do pretendido, já que aumentou o interesse dos jovens pelas obras "proibidas" tivessem explosão de vendas, mesmo que grandes redes de varejo aderissem à campanha e se recusassem a vender produtos com o tal selo ridículo.

O PMRC foi extinto ao final dos anos 90 mas o selo ficou, ainda que apareça em diferentes formatos, como na contracapa de um álbum, ou como um detalhe minúsculo em uma já pequena capa de disco nos serviços de streaming.

Mesmo com depoimentos contundentes a favor da liberdade de expressão, o rolo compressor conservador teve vitórias efêmeras e conseguiu colocar a música e a liberdade de expressão na defensiva. 

Uma lista de artistas que "mereciam o alerta" foi elaborada pelo PMRC, incluindo Judas Priest, Black Sabbath, Motley Crue, Ice-T e muitos outros. 

As audiências não deram em nada e temporariamente criminalizaram a arte, mas as coisas logo voltaram ao normal, com vendas de CDs e LPs em crescimento e ninguém se importando com o tal selo de advertência. Entretanto, possibilitou a ascensão de Dee Snider como uma liderança inequívoca do rock e a música, revelando um artista inteligente, articulado e bem informado.

"Não sei se é manhã ou tarde. Eu vou dizer duas coisas. Bom dia e boa tarde", disse Snider em seu depoimento, em setembro de 1985, sem nenhum pingo de ironia. "Meu nome é Dee Snider. S-n-i-d-e-r. Eu gostaria de falar ao comitê um pouco sobre mim mesmo. Tenho 30 anos, sou casado, tenho um filho de 3 anos de idade. Eu nasci e cresci como um cristão e eu ainda creio nos mesmos princípios básicos. Acredite ou não, eu não fumo, não bebo, e eu não uso drogas."

A partir de então, o vocalista do Twisted Sister demoliu os detratores do rock e humilhou os depredadores da liberdade de expressão.

"Eu toco e componho as canções para uma banda de rock and roll chamado Twisted Sister, que é classificada como heavy metal, e eu me orgulho de escrever canções que sejam consistentes, seguindo assim minhas mencionadas crenças. Desde que eu pareço ser a única pessoa a ser abordado a esta comissão de hoje, da qual eu tenho sido alvo direto de acusações, presumivelmente responsável, gostaria de aproveitar esta ocasião para falar sobre uma nota mais pessoal e mostrar o quão injusto todo o conceito de lírica interpretação e julgamento pode ser, e quantas vezes isso pode chegar a pouco mais de assassinato de caráter. Sinto que acusações deste tipo são irresponsáveis, prejudiciais à nossa reputação, e caluniosas. A beleza da literatura, poesia e música é que eles deixam espaço para o público a colocar a sua própria imaginação, experiências e sonhos em palavras."

O cantor tripudiou sobre a pobre Tipper Gore, ignorante sobre assunto de cultura pop e com problemas para interpretar letras de músicas. Snider relembrou, anos depois, em uma entrevista a uma emissora de rádio, a confusão e os problemas de "interpretação" da letra de "Under the Blade" (sob a lâmina), do Twisted Sister.

"A música mexe com a imaginação das pessoas e as faz pensar o que quiserem. Essa música fala sobre uma cirurgia na garganta de um integrante da banda, o guitarrista Eddie Ojeta, e o medo que ele tinha do procedimento. A senhora Gore procurou sadomasoquismo na música e o encontrou. Quem procurar referências cirúrgicas também irá encontrá-las."

No fim das contas, o selo foi instituído, mas foi só. O medo de retaliações e de censura prévia não se justificou e o mercado praticamente ignorou as investidas conservadoras posteriores, embora muitos artistas continuassem a se manifestar contra o tal selo.

O que aparentemente foi uma vitória conservadora logo desmoronou diante da indiferença do mundo, que valorizou muito mais a luta pela liberdade de expressão e os discursos de Frank Zappa, Snider e do cantor country folk John Denver.

Trinta e cinco anos depois, as tentativas de censura prévia e tutela reaparecem no Brasil e em outras partes do mundo. As importantes lições dadas pelo rock em 1985 não foram aprendidas por parte da sociedade, infelizmente.

Notas roqueiras: Malvada, Soul da Paz, Final Disaster...


 

Malvada (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 - A Malvada entrou em estúdio para a gravação de dois singles autorais. Parte do processo das gravações foi registrado neste vídeo/teaser. Assista: https://www.youtube.com/watch?v=yR_K4V0gGxQeas. O local escolhido foi o tradicional Studio Pub em Santo André, onde já passaram inúmeros artistas nos últimos 15 anos. A produção ficou a cargo de Tiago Claro (Seventh Seal) e NoBru Bueno (Instinto). Com Angel Sberse (vocal), Bruna Tsuruda (guitarra), Ma Langer (baixo) e Juliana Salgado (bateria), a banda Malvada faz um Rock'n'Roll com muita personalidade e apostando em letras inteligentes em português.

- Formada por músicos de diferentes credos, sendo vários deles sacerdotes atuantes em suas comunidades religiosas, a banda Soul da Paz tem seus integrantes sempre se apresentando trajados com as roupas religiosas tradicionais de suas respectivas crenças formando a primeira banda musical inter-religiosa. O disco "Soul da Paz" foi produzido por Kiko Zambianchi, que também toca em algumas faixas, e tem participação de Bruno Gouveia, do Biquini Cavadão, em The Band of Peace and Soul. Ouça: http://ryb.shor.tn/souldapaz 

- O Final Disaster retomou as gravações do seu full lenght de estreia que haviam sido paralisadas devido à quarentena do novo coronavírus – lembrando que a banda já tem um EP lançado; “The Darkest Path” (2017). O álbum estava programado para ser lançado ainda este ano, mas devido ao hiato (forçado!), a data do lançamento ficará entre o primeiro semestre de 2021. Nessa volta das gravações as partes de baterias estão quase que prontas.

Notas roqueiras: Sacrificed, Mensk, Escola Alemã...

Sacrificed (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 - A banda mineira Sacrificed está divulgando um vídeo em versão quarentena da música "Streets of Fear, uma regravação da época em que se chamavam Sacriffice. A versão original foi lançada em 2008, em uma demo homônima e foi disponibilizada originalmente para a sexta edição do festival da revista Roadie Crew, realizado no início do mês de setembro. Sobre a experiência de regravar uma música de quando a banda ainda estava dando seus primeiros passos, o grupo comenta: "Foi uma tarefa que nos demandou muita atenção e ao mesmo tempo pudemos resgatar um pouco do clima daquela época, relembrando os bons momentos e o início de uma era. De lá pra cá algumas coisas mudaram, mas apaixão continua a mesma!". Assista: https://www.youtube.com/watch?v=yrKJumhgY00

- Surgida na cidade de Campos dos Goytacazes no ano de 2015, a banda de metal Mensk lança o seu primeiro videoclipe, feito para a música “Niilismo”. Lançada antecipadamente em uma première através do perfil da influenciadora digital Jéssica Mar, ‘Niilismo’ é uma prévia do que será escutado no EP de estréia ‘Mensk’ a ser lançado ainda este ano. Segundo o vocalista Estevão Ramos, “a música fala sobre depressão e como as pessoas passam a acreditar na visão que o mundo tem delas. Como foi composta por um ex integrante, não representa totalmente a visão atual de quem permanece na banda. As demais letras do EP terão um viés mais positivo em relação a vida e a tudo que nos cerca”. O videoclipe de ‘Niilismo’ foi filmado e editado pela equipe do Cúpula Estúdio e conta com a participação de João Lucas (ex-vocal da banda) nos vocais guturais e pode ser conferido no link  
https://youtu.be/o7zKRWVsXKU

- Em novo vídeo lançado em seu canal oficial, o projeto Escola Alemã, comandado por Carlos D'Boa, estréia o vídeo de "The World is at War", que estará presente no novo EP "Death Blow!" Essa é a terceira faixa oficialmente apresentada nessa nova fase do Escola Alemã. O EP que está muito próximo de ser lançado, contará com várias faixas inéditas e autorais. Veja em https://youtu.be/4aE31M2lnaU
 

Notas roqueiras: Coletânea 'Infected By Fuzz', Necromancer,

 

 

- Nesse período de quarentena e de distanciamento social, a indústria musical, principalmente no que diz respeito a shows, foi bastante prejudicada. Com o intuito de gerar uma dinâmica consistente de bandas de todo país, e considerando o papel importante que o Bandcamp tem exercido na pandemia, Abraxas e Fuzzrious juntaram forças na compilação "Infected By ". São 47 bandas da cena stoner, rock psicodélico e música experimental do Brasil e algumas do exterior, com uma música cada. Ouça aqui: fuzzrious.bandcamp.com/album/infected-by-fuzz. A coletânea tem valor simbólico para download (ou qualquer doação), e toda a arrecadação será destinada à instituição Casa do Zezinho, em São Paulo (novo.casadozezinho.org.br), que ajuda crianças em vulnerabilidade social e desamparadas. As bandas também serão beneficiadas indiretamente com o aumento de acesso nos respectivos perfis no Bandcamp. Participam da compilação: Mocho Diablo, KIND, Deaf Swan, Mábura, Universe Garden, Weedevil, Muñoz, ΛΔΛΜ, The Gramophones, Carmen Blues, Rainbow Bridge, Glasgow Coma Scale, Casquetaria, Pedro Salvador, Toadskin, Ancient Tree, Explicit Fuzz, Concrete Monkey, Sangue, Niles, Moonlit, Lagarto Rei, KnEvil, Fuzzly, Fúria de Lobos, Madness Magnet, Wizened Tree, Encelado, Special Drink, Dead Panda, Lâmmia, Slowner, Kings of The Fucking Sea, Roadkillsoda, Doomslang, Octopus Head, Auramental, Grindhouse Hotel, Wolf Among Us, Psilocibina, Brainscanner, Riffcoven, Black Feather Klan, Komodo Queens, Gods and Punks, Deadman Dance e Quarto Ácido.

- O grupo carioca de thrash metal Necromancer, formado atualmente por Marcelo Coutinho (vocal), Luiz Fernando e Eduardo "Dek" (guitarras), Gustavo Fernandez (baixo) e Vinicius Cavalcanti (bateria), finalizou os trabalhos do novo álbum, "Pattern of Repulse", que será lançado até o final do ano pela Heavy Metal Rock. "Nós fizemos a pré-produção, as gravações e a mixagem no Hanoi Studio, ao lado de Fernando Perazo. O nosso DNA de thrash metal obviamente foi mantido, pois não largamos a escola Slayer, Kreator e Coroner, mas atualmente estou ligado na escola escandinava do death metal", revelou o vocalista Marcelo Coutinho. "Eu até diria que este é um trabalho mais agressivo em relação ao álbum.
Confira o webclipe para a faixa "Riders of Apocalypse" em https://youtu.be/P8kkG0GPtIo

 

Programa Combate destaca Janis Joplin, Gerson King Combo e primeira-dama querendo censurar música




No Combate Rock desta semana abordamos a tentativa de Michelle Bolsonaro de tentar censurar, na justiça, a divulgação da música “Micheque”, dos Detonautas.

Também preparamos a pista de dança para o baile de Gerson King Combo, que morreu na semana passada e aproveitamos para lembrar os 40 anos do fim do Led Zeppelin e o 50 anos da morte de Janis Joplin

Clique no player e cola com a gente, que a música é boa.

Rock instrumental: o virtuosismo e diversidade sonora de Tuto Hallgrim e Natan Cunha

Marcelo Moreira

Fazer rock instrumental é algo diferente no Brasil, por mais que novos nomes tenham surgido e se "insurgido" nesta área. O que dizer então dos corajosos que decidem pelo metal extremo sem vocais?

É o caso de dois músicos em que sobram talento e coragem para descer a lenha nas seis cordas: o paulista Tuto Hallgrim e o baiano Natan Cunha.

Os dois instrumentistas passaram no teste de aliar melodias cativantes com um instrumental pesado sem que este soterrasse o restante com milhões de notas e uma distorção do tipo "estrebuchante".

Hallgrim é músico de talentos múltiplos. Consegue variar suas abordagens sem que esbarre na redundância. 

O seu thrash metal é coeso, assim como a pegada nas canções ainda mais velozes e pesadas. É possível identificar ecos de Chuck Shuldiner (da banda Death, morto em 2001) e também coisas bem mais técnicas, do tipo que se convencionou chamar de "math metal". 

Ok, ele frita um pouco, no álbum "Do It Yourself", só que a música é a prioridade e o instrumentista mostra bastante talento ao equilibrar as coisas, como em "Devastation Storm". Há ótimos fraseados e a rapidez aqui impressiona.


Hallgrim também gosta de versatilidade e de uma certa imponência, e na interessante "Drakkar" ele carrega um pouco na dramaticidade, com bastante peso.

"Rebellion Thrash" é outra canção que merece elogios. É thrash metal na essência, mas incorpora outros estilos musicais que acrescentam um colorido bastante especial. Lembra Slayer, mas também passeia pelos estilos do Overkill e do Testament.

As demonstrações de amor pelo rock continuam com "Nightmares", que passeia pelo heavy tradicional, e "Living in the  80's", onde o hard rock com tonalidades de blues emocionam os amantes de Whitesnake, Ratt, Skid Row e até Bon Jovi. 

Já em "A Traveler's Journey" temos um verdadeiro passeio por várias vertentes do heavy rock, com um predomínio bacana de ares progressivos nos solos e nos riffs. 

O instrumentista, assim como a maioria dos guitarristas e tecladistas brasileiros que enveredam pelo lado instrumental nos últimos tempos, tomou a sábia decisão de privilegiar a música em detrimento da técnica e da velocidade. É quase um disco de jazz, se formos falar em conceito - uma de suas influências e que também aparece conceitualmente no mais recente disco de Kiko Loureiro, do Megadeth. Tem bastante improvisação e privilégio de linhas melódicas não tão complexas.

O guitarrista impressionou em "Do It Yourself" pelo bom gosto pelas boas ideias, especialmente por se tratar de um disco "quase caseiro", digamos assim. Com uma produção digna do guitarrista muito bom que é, colherá frutos ainda mais saborosos.

Natan Cunha, por sua vez, segue por uma escola mais tradicionalista dentro do metal instrumental, apesar de ser mais jovem - tem 21 anos. No entanto, assim como o paulista Hallgrim, tem recursos de sobra e boas ideias, mas preferiu restringir a sua área de atuação, ou seja, os temas que compôs não são tão diversificados.

Seus trabalhos mais recentes, "Synaptical Omnifarious" e "The Art of Existence", são consistentes e criativos, revelando influências variadas do prog metal e do metal extremo. 

Claro que não poderiam faltar ecos do mestre Chuck Shuldiner, mas também há fraseados que certamente podem ter sido inspirados nas boas bandas de metal extremo instrumental, como Animal As Leaders e Blotted Science.

"Synaptical Omnifarious" é o disco mais interessante, pois é mais variado e não cai tanto no metal extremo. "The Magic of Madness" é um colosso de virtuosismo aliado a um feeling que remete ao monstro Tosin Abbasi, do Animal As Leaders, São riffs matadores e fraseados velozes, mas em que a técnica não se sobrepõe à melodia.

"Biohackers" é uma canção bem trabalhada, perfeita para a rilha sonora de um filme de ficção científica. Traz elementos que nos remetem à efeitos tecnológicos e faz do caos sonoro uma parte integrante importante da canção. 


"Mental Crutch" e "Pandora Tomorrow" resgatam alguns elementos do primeiro álbum, "The Art of Existence", como levadas de jazz e uma sonoridade quase punk nas segundas partes. 

O álbum é bem interessante, repleto de referências e com arranjos inusitados, especialmente para a segunda guitarra e para o baixo. Já pode ser considerado um dos melhores instrumentistas do rock pesado brasileiro, demonstrando ser bastante promissor.

Cunha nasceu em Seabra, um município do estado da Bahia. Segundo seu perfil no site Everybodywiki.com, teve seu primeiro contato com a música desde cedo, pois seu pai Eliel mais conhecido como (Pica Pau), vivia da música. 

Aos 9 anos de idade ganhou do pai um violão para estudos de música erudita e clássica, mas logo debandou para o rock pesado. Aos 12 anos , sua paixão eram canções de Iron Maiden, Metallica e Death. Seu fascínio por guitarristas como Chuck Schuldiner Death, Chris Risola e Jason Becker era de igual tamanho ao interesse pela música erudita.

Na adolescência tocou nas bandas Domus From Hell e Rollfly (ainda mantém seu posto nesta última,  formada por amigos e que lançou um EP, gravado em seu próprio home studio). É um nome para ser visto e ouvido com atenção.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Mundo bolsonaro tem medo da liberdade de imprensa e de expressão

 Marcelo Moreira



Enquanto a primeira-dama bolsonara investe contra a democracia e a liberdade de expressão tentando calar artistas que a criticam, seres alienados e com elevado grau de ignorância querem a censura a atletas que se posicionam politicamente.

Michelle Bolsonaro quer processar a banda Detonautas Roque Clube por causa de uma música que nada mais é do que uma sátira, chamada "Micheque". 

Já a jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que gritou "Fora, Bolsonaro" ao vivo na TV por assinatura, está sendo denunciada no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) por um procurador certamente com trabalho de menos, com argumentos pífios - leia aqui.

A atitude do tal procurador da Justiça Desportiva, por si só, é absurda e incompatível com a postura de pessoas que prezam a democracia e a inteligência do público em geral, além de ser flagrantemente inconstitucional. 

Sendo assim, para preservara liberdade de exressão e garantir o direito de xingar e criticar o nefasto presidente da República, segue um texto da atleta postado nas redes sociais dias depois da manifestação após uma partida.

"Gostaria de poder responder a cada um de vocês, mas é impossível dar conta de tantas mensagens. Só quero agradecer demais e dizer que me senti abraçada por todo esse amor. O meu grito é pelo Pantanal que arde em chamas em sua maior queimada já registrada e continua a arder sem nenhum plano emergencial do governo. Pela Amazônia que registra recordes de focos de incêndios.

Pela política covarde contra os povos indígenas. Por acreditar que tantas mortes poderiam ter sido evitadas durante a atual pandemia se não houvesse descaso de autoridades e falta de respeito à ciência. Por ver um governo com desprezo total pela educação e cultura.

Por ver cada dia mais os negros sendo assassinados e sem as mesmas oportunidades. Por termos um presidente que tem coragem de dizer que “o racismo é algo raro no Brasil”.

São muito absurdos e mentiras que nos acostumamos a ouvir, dia após dia. Não posso entrar em quadra como se isso tudo me fosse alheio. Falei porque acredito na voz de cada um de nós. Vivemos em uma democracia e temos o direito de nos manifestar e de gritar nossa indignação com esse governo.

Não sou de nenhum partido, não sou ativista, sou uma atleta. É o que gosto de ser. Eu amo meu esporte, represento meu país em campeonatos mundiais desde meus 16 anos e espero que o ambiente esportivo seja sempre um lugar democrático, onde os atletas tenham liberdade de expressão.

Saber que todas as pessoas que eu admiro e que são importantes pra mim estão do meu lado, me faz ter certeza de que estou do lado certo da história.
Tamo junto!!"

Estrelas do metal se juntam para resistir e lutar pela democracia e liberdade de expressão

Marcelo Moreira

O supergrupo Revolta (FOTO: MONTAGEM COM FOTOS DE DIVULGAÇÃO)


Muita gente criticou uma "suposta" indecisão do cantor Henrique Fogaça, da banda Oitão, a respeito de suas posições políticas. 

Com sua banda hardcore, que recentemente perdeu integrantes por conta de divergências políticas com o "chefe" (também é chefe de cozinha e dono de restaurantes), lançou recentemente a música "Proteste", com letra forte e de eventual viés de esquerda. 

No entanto, são fartos os sinais de benevolência e preferência dele a políticos controvertidos e notórios por professar todo o tipo de lixo vinculado á extrema-direita e ao governo do nefasto presidente Jair Bolsonaro. 

Se o rock pesado sempre desprezou os Detonautas Rocque Clube por conta do engajamento forte do vocalista Tico Santa Cruz, um sociólogo que apoia causas sociais diversas e abomina o bolsonarismo, então a opção certamente será a banda Revolta, uma reunião amigos estrelados que quer protestar contra "tudo o que está aí".

A formação é um verdadeiro dream team do metal nacional: João Gordo (vocais, Ratos de Porão), Prika Amaral (vocais, Nervosa), Guilherme Miranda (guitarra, Entombed A.D. e KroW), Moyses Kolesne (guitarra, Krisiun), Castor TSquad (baixo, Torture Squad) e Iggor Cavalera (Cavalera Conspiracy e Mixhell, ex-Sepultura. 

A ideia foi juntar um integrante de cada uma das maiores bandas do cenário metal brasileiro para demonstrar um sentimento em comum de não aceitação do que vem acontecendo no Brasil, segundo o comunicado oficial de lançamento da banda.

"É uma vontade de se expressar e de protestar em forma de música é algo importante num momento como esse, o músico canta o que sente, o músico toca o que afeta ele. É necessário falar sobre isso, arte é livre de regras, a liberdade ainda existe e esse projeto vai falar sobre a visão e sentimentos de assuntos atuais", diz o texto publicado nas redes sociais.

 

 Prika Amaral, que também é conhecida por suas posições progressistas e de apoio a causas sociais, acrescentou: “Não se trata só de política, e sim de respeito ao próximo e respeito a todas as vidas”. 

Castor, do Torture Squad, complementa: “A proposta do projeto é dar uma resposta de não aceitação do que vem acontecendo no atual governo do Brasil. Não estamos satisfeitos com ele e temos o total direito de protestar. .Ficar apontando os erros de todos os governos anteriores não vai mudar nada também, pois o presente e o futuro é o que nos interessa”.

O primeiro single é "Hecatombe Genocida", uma mescla de thrash e death metal, é uma pancada violenta na hipocrisia política da atualidade e na destruição do meio ambiente, elencando alguns fatos, como a "pouca disposição" do atual governo em combater queimadas e invasão de terras preservadas e de indígenas.

Certamente, dentro do rock nacional, é a primeira iniciativa criada especialmente pra servir como alto-falante para protestar contra o (des)governo e o fascismo em temos bolsonaros.

Por mais que os músicos envolvidos falem que a iniciativa não tem vínculos políticos oficiais com partidos ou ideologias/correntes, fica claro que a banda Revolta se identifica com diversos pontos defendidos por entidades mais à esquerda, e que a postura é explícita de oposição a qualquer tipo de bolsonarismo e extremismo de direita.

O rock brasileiro precisava de algo contundente que tirasse o gênero da pasmaceira no Brasil. Enquanto a MPB clássica e artistas do rap e hip hop tomaram a frente entre os músicos na resistência ao desastre que é o governo Bolsonaro, o rock manteve-se praticamente calado.

Se não fossem manifestações de bandas punks e de hardcore e das declarações pontuais de alguns músicos, poderíamos certamente crer que o rock aderiu ao conservadorismo e ao protofascismo por seu silêncio incômodo.

Tico Santa Cruz e os Detonautas bem que tentaram desde as eleições de 2018 alertar sobre os perigo que corríamos e denunciar as barbaridades dese então cometidas, mas tiveram uma repercussão limitada, infelizmente, já que o rock há muito está em baixa por aqui.

É um alento saber que a Revolta surgiu para incomodar e resistir, mas corre o risco de ficar restrita a um nicho ainda mais limitado, que é o rock pesado brasileiro - e mais ainda se considerarmos o mundo do metal extremo, mesmo cantando em português.

O supergrupo adotou a cautela de evitar a ideologização em um primeiro momento. Sua plataforma é a defesa da democracia e a das liberdades civis, incluindo de expressão e de opinião, contra qualquer tipo de censura contra atentados aos direitos humanos.

Idiotas de todos os matizes conservadores que um dia acharam legal curtir Ratos de Porão, Nervosa, Torture Squad e Krisiun estão irados com a iniciativa dos músicos da Revolta. 

É aquela gentinha estúpida, analfabeta e totalmente iletrada que jamais leu jornal ou uma revista de música na vida e que ignora solenemente o significado das letras e o histórico político dos grupos em questão. 

São idiotas quanto os idiotas que protestaram no show de Roger Waters, em 2018, em São Paulo, por conta das letras de grandes clássicos, como as canções de "The Wall" e "Animals".

É a hora de humilhar roqueiro reacionário e conservador que apoia governo fascista e que incentiva a censura e e a perseguição a artistas e opositores. 

Revolta é a melhor notícia que o rock brasileiro poderia produzir em tempos de pandemia, ao lado da sátira "Micheque", dos Detonautas.

Notas roqueiras: Lo-Fi, Fixion, Patetucho, Lagarto Rei...

 



- "Reality check for a Failed Rocknrolla" é o nome do frenético single inédito que o experiente e rodado power trio de rock regressivo Lo-Fi acaba de lançar via Abraxas Records. Ouça primeiro no Bandcamp: https://lofipunkrock.bandcamp.com/album/reality-check-for-a-failed-rocknrolla. É uma enxurrada de riffs e solos empolgantes, a primeira composição do Lo-Fi em 2020 e pós-lançamento do disco Naked Death (o 11º registro da carreira, de 2019). Também é a primeira composição da nova formação: o baixista Velhote (que também toca no Leptospirose) se junta a Thiago (vocal e guitarra) e Marcelo (bateria). Reality check for a Failed Rocknrolla ainda tem superparticipação de Paulinho, do Orgasmo de Porco.

- Com uma discografia de sete lançamentos em 18 anos, dos quais quatro são de estúdios, dois ao vivo e um DVD, é evidente que se trata de uma banda pró-ativa e consistente. Estes são os números dos colossais uruguaios do gótico alternativo Fixion. Além disso, todos os lançamentos foram indicados a “melhor álbum de hard rock/metal” nos prêmios Graffiti (premiação uruguaia de música nacional). As apresentações também merecem destaque, entre elas aquelas juntas a Lacrimosa, Sirenia, The 69 Eyes e Sisters of Mercy, entre outros. É com este currículo que Fixion recém lançou o quarto discos de estúdio, intitulado "Encrucijada". O lançamento do disco ainda contou com dois videoclipes, das músicas ‘Réquiem para un salto’ e ‘Encrucijada’, ambos dirigidos por Carlos Conti, da Hoboken Films 
"Encrucijada" marca o retorno de Daniel Cesar como único vocalista – a Fixion retoma ao estilo de formação do início de carreira. Na sonoridade, o álbum é mais pesado do que os anteriores, com distorções e a dureza do metal em primeiro plano por meio de andamentos, clamadas de teclado e loops. Escute no Spotify, clique aqui.

- "Tríplicedeusa" é mais uma contribuição coletiva entre Francisco "Chico" Patetucho (Mábura) e Lagarto Rei (Robert e Livio Medeiros). O single, lançado pela Abraxas Records, já está nas plataformas de música: https://bit.ly/2FUvhmy. Robert (baixo) e Lívio (bateria) levam a sério a proposta da transcendência sensorial por meio da música instrumental e experimental. Tríplicedeusa é praticamente um improviso bem bolado e mesclado com a ambiência abrasiva das guitarras, causando efeito meditativo energético. A música foi gravada entre o fim de 2018, início de 2019 e meados de 2020. Foi mixada e masterizada por Chico, que também aceitou adicionar sua guitarra na track, fechando a parceria em mais um trabalho (Anteriormente foi no último single 'Gardre').

Notas roqueiras: Rock in Rio 2021, Revengin, Campo de Sangue...


- Parece meio insano, mas tem gente que está preocupada com o Rock in Rio 2021 mesmo com a incerteza de termos algum tipo de vacina. Seja como for, os shows estão marcados para os dias 24, 25, 26 e 30 de setembro e dias 1, 2 e 3 de outubro, na Cidade do Rock, zona oeste do Rio. Em Lisboa, no Parque da Bela Vista, o evento acontecerá nos dias 19, 20, 26 e 27 de junho. As informações sobre venda de ingressos e a programação ainda não foram divulgadas. O único artista já anunciado para a edição de 2021 foi o DJ Alok. 
- Enquanto se prepara para o lançamento de seu novo álbum de estúdio, que vêm para suceder seu debut, "Cymatics", o Revengin vai não só disponibilizando alguns singles que estarão presentes no trabalho vindouro, como também algumas homenagens a seus ídolos e influências. Sendo assim, se encontra disponível no canal oficial da banda no YouTube uma versão para “Bad Religion”, do Motörhead, que pode ser ouvida em https://www.youtube.com/watch?v=Z7D5Xziw3Uo

- Fazendo alguns ajustes em seu material para em breve lançar seu álbum de estreia, o Campo de Sangue vai disponibilizando algumas novidades aos seus fãs. Dentre elas, está uma versão gravada ao vivo em estúdio para a música “Sem Cor”, que se encontra em seu canal oficial no YouTube e pode ser vista pelo seguinte link - https://www.youtube.com/watch?v=fVL61mo1edM

Rock instrumental: a destreza, habilidade e inteligência de Kiko Loureiro e Marcelo Barbosa

Marcelo Moreira

Uma trilha sonora para suportar a pandemia de convid-19. Para uns pode soar como uma frase reducionista. Para outros, como um elogio diante de um dos mais pavorosos momentos enfrentados pelo mundo.

É claro que o álbum instrumental "Open Source" é bem mais do que isso, mas não deixa de ser reconfortante para o autor, o guitarrista brasileiro Kiko Loureiro.
 
Dividido entre Los Angeles, na Califórnia, e a Finlândia, terra de sua mulher, Loureiro está divulgando o seu mais recente trabalho solo depois de muitos anos, e o primeiro desde que se tornou guitarrista do Megadeth, gigante do metal mundial.

Os elementos de world music, de música brasileira, aparecem em profusão, mas "Open Source" é um trabalho mais coeso do que os anteriores. Tem uma pegada jazzística evidente, com uma valorização enorme da melodia. Em alguns momentos, há menos notas e mais feeling, com destaque para músicas como "Overflow" e "Imminent Threat".



A veia mais pesada, com uma guitarra base mais densa e forte, com afinação baixa, aparece em "Vital Signs" e "In Motion", evidenciando o que ele mesmo chama de "influência de Los Angeles".

Recuperando as influências e de world music, o disco traz "Sertão", uma delicada composição com presença de violões e uma guitarra mais solta, digamos assim.

"Imminent Threat"é uma das principais faixas do disco e traz como convidado especial Marty Friedman, ex-guitarrista do próprio Megadeth e morando há mais de 20 anos no Japão.

 Já em "Liquid Times" o convidado é o guitarrista Mateus Asato, um ás do instrumento que vive há alguns anos nos Estados Unidos. Sua presença relembra os tempos de Kiko como um dos mestres do virtuosismo do rock mundial. Participam do trabalho ainda a cozinha do Angra, os ex-companheiros Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), além de Maria Ilmoniemi, mulher de Kiko, nos teclados.

"Open Source" tem um conceito que norteia o disco, "código aberto", em tradução livre, expressão que é usada para definir softwares onde a fonte original é disponibilizada de forma gratuita, podendo ser redistribuído e modificado.

Loureiro resgata o tema da universalidade e da função da música como entretenimento, mas fundamentalmente como arte, algo que é indissociável do ser humano.

Parte de "Open Source" foi realizado por meio de financiamento coletivo (crowdfunding), que envolveu venda de tablaturas por US$ 50 (cerca de R$ 250), além de outras ofertas, que incluem a liberação gratuita de material em pistas de gravação separadas para que outros músicos façam suas versões em cima do instrumental.

Bem diferente das obras instrumentais que temos escutado ultimamente, "Open Source" reforça o que percebemos desde que Loureiro se tornou músico do Megadeth: fazia tempo que ele já estava em outro patamar no rock mundial e que precisava apenas reafirmar isso em um trabalho solo, o que fez de forma admirável em seu mais recente trabalho.

Marcelo Barbosa, talento que ficou conhecido no Almah, de Edu Falaschi, é o substituto de Loureiro no Angra, algo que foi inevitável diante de suas influências musicais.

O guitarrista está para lançar o seu primeiro álbum solo e divulga o single "Equilibrium", que tem a preciosa colaboração do baixista Felipe Andreoli, seu parceiro de Angra e é uma canção poderosa, com execução extraordinária. Ele faz parecer tudo fácil e simples.

Com personalidade, mas evidenciando as "presenças" influentes de Loureiro e Joe Satriani, por exemplo, Barbosa privilegia a melodia e os fraseados mais identificados com o blues e o jazz. De alguma forma, a canção guarda muita semelhança com o trabalho solo de outro ás, Edu Ardanuy, ex-Dr. Sin e atual Sinistra.

Em um trabalho anterior, a música "Unstoppable", Marcelo Barbosa já tinha apresentado as suas credenciais pesadas e estonteantes. Não abusa de milhares de notas: coloca-as em seus devidos lugares e evita destrinchá-las. 

Se havia alguma dúvida de que é um dos nomes mais importantes da guitarra brasileira, "Equilibrium" 
certamente vai fazer muita gente mudar de ideia.


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Notas roqueiras: Revolta, Chuck Hipolitho...

 

Revolta (FOTO: MONTAGEM/DIVULGAÇÃO/FACEBOOK)

- O momento político e social deste país infeliz requer bandas como esta: surge a Revolta, supergrupo que reúne alguns nomes importantes do metal nacional em plena pandemia de covid-19. Na verdade, até que demorou para surgir uma iniciativa como essa, apostando totalmente, à primeira vista, em temas politizados. A formação da banda tem João Gordo (vocais, Ratos de Porão), Prika Amaral (vocais, Nervosa), Guilherme Miranda (guitarra, Entombed A.D. e KroW), Moyses Kolesne (guitarra, Krisiun), Castor TSquad (baixo, Torture Squad) e Iggor Cavalera (Cavalera Conspiracy e Mixhell, ex-Sepultura. A ideia foi juntar um integrante de cada uma das maiores bandas do cenário metal brasileiro para demonstrar um sentimento em comum de não aceitação do que vem acontecendo no Brasil. No manifesto que anuncia o projeto, digamos assim, fala da vontade de se expressar e de protestar em forma de música é algo importante num momento como esse, o músico canta o que sente, o músico toca o que afeta ele. É necessário falar sobre isso, arte é livre de regras, a liberdade ainda existe e esse projeto vai falar sobre a visão e sentimentos de assuntos atuais. Prika Amaral comenta: “Não se trata só de política, e sim de respeito ao próximo e respeito a todas as vidas”. O primeiro single é "Hecatombe Genocida".


- O músico Chuck Hipolitho (ex-Vespas Mandarinas e Forgotten Boys) vai lançar um álbum solo em novembro, mas próxima sexta, dia 2 de outubro, chegam aos aplicativos de música, pela gravadora Deck, “Mais Ou Menos Bem” e “Tudo Está”. Duas releituras, as faixas vêm dos mais diferentes contextos e reforçam a versatilidade do cantor, compositor e guitarrista. A primeira, “Mais Ou Menos Bem”, é uma versão de “Más O Menos Bien” (Santiago Barrionuevo), da banda indie argentina El Mató a un Policía Motorizado — introduzida ao artista por Martin Mendonça, guitarrista da Pitty. Chuck logo teve a ideia de criar uma releitura em português e aproveitou o tempo de isolamento social para tirar o projeto do papel. Já “Tudo Está” tem uma origem completamente diferente: a música faz parte da trilha sonora do desenho Hora de Aventura (Frederator Studios/Cartoon Network), do qual Chuck é fã tanto da obra quanto da trilha. Originalmente gravada como “Everything Stays” (Rebecca Sugar), sua letra, também na nova versão, aborda a perenidade das coisas. A gravação dos singles, assim como do disco “Mais Ou Menos Bem”, foi feita em casa pelo próprio Chuck, que cantou, tocou guitarra e programou as baterias. O baixo e teclados de “Tudo Está”, assim como de algumas outras músicas do álbum, foram gravados por Guilherme Almeida, baixista da Pitty e parceiro de longa data em vários outros projetos. Depois de tudo gravado o material foi finalizado no Estúdio Tambor (RJ).

Deftones lança clipe da música ‘Genesis’, presente em novo álbum

Do site Roque Reverso
 

O Deftones lançou o clipe da música “Genesis”. É uma amostra do que virá no novo álbum, previsto para chegar oficialmente ao público no dia 25 de setembro.

O clipe contou com direção e edição de Sebastian Kökow, trazendo cenas distorcidas e efeitos interessantes.

A direção da parte relacionada à performance ao vivo é de Clemente Ruiz.

“Ohms”, cuja capa acompanha este texto, será o nono álbum de estúdio da banda norte-americana de metal alternativo. O disco sucederá “Gore”, que foi lançado em 2016.

A produção do disco é de Terry Date, que volta a trabalhar com o grupo depois de mais de uma década e meia.

Date havia produzido o álbum “Deftones”, de 2003, que é o quarto de estúdio da história da banda.

Também havia sido o responsável pelos três discos iniciais do grupo.

 

Democracia em risco: abafar críticas a presidente vira missão principal da Polícia Federal

 Marcelo Moreira



A máquina fascista a serviço do governo Jair Bolsonaro, que é um lixo (governo e presidente), testa mais uma vez os limites da democracia e da liberdade de expressão.

A colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, informa que a Polícia Federal deve intimar em breve Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo pelo Psol, para "explicar as críticas e ataques ao presidente da República".

Todos sabem que Boulos é um dos coordenadores nacionais do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e que foi candidato a presidente da República em 2018 pelo mesmo partido, que se situa à esquerda, bem mais radical que o PT, mas não tanto quando o PSTU, por exemplo.

Claro que é uma jogada política que pretende neutralizar a ascensão da candidatura de Boulos em São Paulo e permitir um segundo turno entre candidatos mais alinhados ao nefasto governo Bolsonaro.

A questão é que a cada teste da democracia, a cada limite expandido, a extrema-direita avança contr a democracia e a liberdade de expressão.

Especialmente entre  artistas e músicos, mesmo os que não apoiam a excrescência na Presidência da República, o tom continua sendo de descrença em uma eventual ruptura democrática, mesmo admitindo o viés autoritário da atual administração.

O resultado é esse tipo de ação, coim o aparelhamento da Polícia Federal para intimidar opositores e adversários do presidente. Se acontece com Boulos, vai acontecer com qualquer um que se oponha a esse projeto fascista de governo e sociedade.

Há os sarristas que tripudiam diante da iniciativa, dizendo que a Polícia Federal terá de pedir explicações sobre críticas e ataques a metade da população brasileira se isso virar moda.

Infelizmente, não é engraçado e não dá para relevar esse tipo de iniciativa dessa gente nojenta que se instalou no poder. Isso não pode ser normalizado. Deveria ser um escândalo internacional.

É o tipo de coisa que que compromete a imagem de um país, assim como a falta de reação. Boulos deve ignorar as ações da Polícia Federal e a intimação e fazer um escândalo se a situação persistir. Só que o silêncio da sociedade, infelizmente, diz muito a respeito do grave momento em que vivemos.

Normalizar esse tipo de procedimento é compactuar com o avanço do fascismo e ser conivente com os crimes diversos atribuídos a essa administração que depreda direitos civis, humanos e meio ambiente.

Não protestar contra o aparelhamento da Polícia Federal, que se transforma em polícia política, é menosprezar a democracia e não ligar para a preservação de direitos sociais básicos.

Transformando-se em mártir ou não, Boulos é o nome a ser apoiado em sua batalha contra o fascismo. Podemos não estar percebendo neste momento, mas essa será uma luta crucial para manter a democracia.


Notas roqueiras: No Life on Earth, Boca Braba, Analogy Life, Rata Blanca...



- Em meio ao isolamento social causado pela pandemia de COVID-19, os músicos Alan Wallace (guitarra, Eminence) e Jay Arriaga (bateria, Scattered Storm) decidiram criar um novo projeto, batizando-o de No Life on Earth. A banda, completada por PJ (baixo, Jota Quest) e Andre Acosta (vocal, Hereafter The Wave), prepara o lançamento do EP "Into Fire We Burn" para o dia 30 de outubro pela Blood Blast, subsidiária digital da gravadora alemã Nuclear Blast. "A ideia para a criação do No Life on Earth veio do baterista Jay Arriaga", explicou Alan Wallace. "Jay é um amigo nosso Texano, que tem uma agência de Booking e trabalha com o Eminence há mais de 4 anos. Durante a pandemia, ele me enviou algumas tracks de bateria para que eu colocar alguns riffs de guitarra. Então, enviei a gravação e ele me perguntou o que achava de montarmos um projeto. Com isso, chamei PJ, do Jota Quest, que é um amigo nosso de longa data e Jay chamou o vocalista Andre Acosta, do Scattered Storm, pois tocam juntos na mesma banda. Então, escolhemos o nome No Life On Earth", detalhou o guitarrista do Eminence.

 - A banda Boca Braba confirmou que fechou parceria com a Tocaia, uma plataforma de streaming da Bahia que concede espaço para diversas bandas do underground nacional. O conteúdo digital pode ser conferido no site oficial tocaiaselo.com ou pelo aplicativo disponível no Google Play, Amazon ou PC Software.

- Ed Franco, vocalista e guitarrista da banda salvadorenha Analogy Life, confirmou que foi convidado para participar das gravações dos vocais do álbum solo de Hugo Bistolfi, ex-tecladista da banda argentina de heavy metal Rata Blanca.
 

Rock instrumental: a excelência do Stratus Luna e o dinamismo do Medusa Trio

Marcelo Moreira

O rock instrumental nunca teve muito cartaz no Brasil, algo que não tem explicação fácil, até porque a tradição brasileira no choro, no samba e no jazz no segmento é muito forte. Os trabalhos instrumentais no rock nacional podem ser contado nos dedos: trabalhos solo de Kiko Loureiro (Megadeth, ex-Angra) e Edu Ardanuy (ex-Dr. Sin), Neural Code, Luís Kalil, ZFG Mob…

No entanto, há músicos que são insistentes e que fazem um trabalho elogiável e tem ganhado espaço merecido pela qualidade de seus trabalhos mais recentes, como é o caso do Medusa Trio, de Santos, e da jovem banda paulistana Stratus Luna.

O grupo de São Paulo, também um trio, existe há pelo menos cinco anos, mas chamou a atenção em 2016 com uma série de vídeos no YouTube não só pela qualidade da música apresentada como também para juventude: eram adolescentes fazendo um som muito bom, de gente grande e experiente, com um pé nos anos 70, quando provavelmente seus avós curtiam o nascente rock progressivo.

Compõem a banda, criada em 2007,  o baterista Giovanni Santhiago Lenti, o tecladista Gustavo Santhiago, o guitarrista Ricardo Santhiago e Gabriel Golfetti (baixo e teclados). Gustavo e Ricardo são irmãos e Giovanni é primo dos dois.

Nos vídeos, executavam de forma surpreendente e maravilhosa músicas de King Crimson e clássicos intrincados do jazz. Já ensaiavam os temas que estariam no seu primeiro álbum.




"Stratus Luna", o álbum, é uma consequência direta do EP "Pandas Voadores", lançado em 2017. É rock na essência, com muito experimentalismo e uma veia progressiva que ora descamba para o jazz, ora entra pelo heavy metal progressivo.

O CD, lançado em concorrida apresentação no Centro Cultural São Paulo, na capital paulista, tem sete temas  que se destacam pela ótima qualidade das composições e pelo equilíbrio na execução das partes.

Os destaques são "O Centro do Labirinto" e "Pandas Voadores", canções antigas que foram sendo lapidadas com o tempo. A primeira parece ter emergido de "Fragile", o quarto álbum do Yes, de 1971, onde o teclado duela de forma magistral com a guitarra cheia de efeitos, tudo sobre uma base hipnótica e precisa de baixo e bateria.

Já "Pandas Voadores" está assentada em uma base jazzística para que guitarra e teclados "viajem" em subtemas experimentais que obviamente remetem a King Crimson, mas também à Mahavishnu Orchestra (grupo do guitarrista inglês John McLaughlin), ao grupo inglês Camel e ao combo de jazz Weather Report.

Portanto, as referências são as melhores possíveis, mas o legal é que nada soa datado. Tudo é orgânico e encaixado, com um frescor e uma energia que chegam a ser contagiantes, como na épica "Efêmera", que fecha o trabalho, com seus quase oito minutos onde há uma mescla de rock (de novo aparecem influências do Camel), jazz, blues e um pouquinho de música brasileira.

As previsões de que o grupo apareceria com um grande álbum se concretizaram e o álbum autointitulado é uma extraordinária amostra de que o rock instrumental brasileiro tem espaço no mercado.

Também abraçando o experimentalismo, até certo ponto, o Medusa Trio escancara seu leque de influências no álbum "Medusa Trio, 10 Anos!". Orientado para a guitarra do santista Milton Medusa, o trio recebeu uma constelação de amigos para celebrar o rock e blues praticados por músicos excelentes.

Sergio Hinds, Robertinho de Recife, Fernando Cardoso, Willie de Oliveira, André Cristóvam e Mozart Mello fazem participações especiais no CD, explorando o hard rock, o blues rock e até o rock progressivo. O resultado é primoroso.

 "Ganhar e Perder" tem a voz de Willie de Oliveira, ex-integrante de Rádio Táxi e Tutti Frutti, em um hard rock vigoroso, com uma guitarra contagiante que faz lembrar o saudoso Hélcio Aguirra, do Golpe de Estado, morto há seisratus luna anos.

O destaque, no entanto, é a "colagem sonora" de "6 Cordas & Muitas Alegrias", um jazz fusion que se transforma em rockj progressivo com a contribuição dos mestres guitarristas convidados.



Sérgio Hinds (O Terço), Robertinho de Recife, Mozart Mello (Terreno Baldio) e André Christóvam, um dos pioneiros do blues no Brasil, participaram de uma verdadeira seção de criação para que pudessem executar suas partes, som solos alternados e dando uma coloração única para uma faixa extraordinária.

"Guitarras Brasileiras" é uma verdadeira celebração do rock brasileiro, assim como "Anos 70" incorpora elementos da música brasileira, com uma performance endiabrada de Milton Medusa.

Já "O Blues do Rock" é mais uma ode à guitarra, só que desta vez resgatando referências variadas – de Rory Gallagher a Robin Trower, de Martin Barre (Jethro Tull) a Mick Taylor (ex-Rolling Stones).

Não se trata apenas de virtuosismo ou perfeição técnica – tudo isso tem de sobra no CD. Milton Medusa, Luis Pagoto (bateria) e Fernando Tavares (baixo) transbordam paixão na maneira como tocam. É um feeling extraordinário, extrapolando a simples execução do blues rock – algo bem raro de se ver, sendo que no Brasil temos também como exemplos o tecladista Adriano Grineberg, o guitarrista Edu Gomes (ex-Irmandade do Blues) e multi-instrumentista Vasco Faé, entre outros.

domingo, 27 de setembro de 2020

Com 'Blizzard of Ozz', lançado há 40 anos, Ozzy Osbourne inaugura o 'verdadeiro' heavy metal

Marcelo Moreira




Um astro do rock demitido, sedento para dar o troco, mas perdido e mergulhado nas drogas. Quem poderia salvá-lo? 

No caso de Ozzy Osbourne, muito simples: um guitarrista nerd, filho de uma "mama" mais do que acolhedora, e uma mulher forte e determinada a dar um chute violento nos fundilhos do pai, um empresário gângster do mundo da música. 

E eis que Ozzy Osbourne ressuscita em 1980 para se tornar ainda maior do que era como vocalista do Black Sabbath, o ícone maior do heavy metal. "Blizzard of Ozz" completa 40 anos de seu lançamento e mostra como foi possível uma das maiores reviravoltas do rock misturando fé, força de vontade e uma grande dose de sangue frio

Dado como morto para o mercado, Ozzy Osbourne saboreava a decadência em, hotéis vagabundos de Los Angeles após a sua demissão do Black Sabbath por abuso de drogas e álcool, tudo potencializado pela morte do pai em 1979. 

Demorou, mas o cantor foi resgatado pela filha do empresário que ajudou a afastá-lo da banda e que não nutria a menor simpatia por ele. Sharon, que vivia às turras com Don Arden, o pai, enxergou uma enorme oportunidade e decidiu que sua meta de vida seria resgatar o cantor decadente e transformá-lo em astro solo. Ganhou um cliente, um marido e um inimigo poderoso – o próprio pai.

Ela era inteligente e esperta, conhecia quase tudo no mundo da música, menos o essencial – a música em si. Muita gente ajudou a estruturar o que viria a ser a carreira solo de Ozzy, mas foi um garoto californiano despretensioso, mas muito talentoso, que empurraria o artista para retornar ao estrelato.

Estrela do até então obscuro Quiet Riot, Randy Rhoads era um guitarrista cobiçado por todos, mas em mita vontade de encabeçar projetos mirabolantes. Adorava dar aulas de guitarra e música na escola de música da família.

Com a insistência dos amigos do Quiet Riot, foi fazer a audição para a formação da banda de Ozzy no final de 1979. A lenda diz que foi escolhido dois minutos depois de fazer exercícios e aquecimento. 

"Ele foi o único guitarrista que não se preocupou em imitar Tony Iommi no teste", disse Ozzy em sua autobiografia. Banda formada, Ozzy imaginava que teria de recomeçar do zero, mas os contatos de Sharon Arden, futura Sharon Osbourne, fizeram com que ele "recomeçasse" grande e com um polpudo contrato de gravação.

"Blizzard of Ozz" foi o ressurgimento que todo artista sonhava. Repleto de hits e com um instrumental potente, recolocou o músico no topo do rock pesado, ao lado do próprio Black Sabbath, do Judas Priest e do iniciante Iron Maiden.

O álbum é tão poderoso que foi considerado uma "coletânea de greatest hits". "Mr. Crowley" é o hit maior, com seus rifs cavernosos e melodias cativantes que a transformaram em clássico definitivo do heavy metal. "I Don't Know" é o hit imediato, intenso, daqueles que grudam e tiram o fôlego, como "Paranoid", do Black Sabbath. 

"Suicide Solution", canção polêmica e homenagem ao amigo Bon Scott, cantor do AC/DC morto em fevereiro de 1980, mostra força e introspecção, além de reflexão, enquanto que "Steal Away" e "No Bone Movies" são comoventes resgates do peso e da porrada sabbathiana. "Goodbye to Romance" é a primeira incursão na seara das baladas, revelando a sua paixão pelos Beatles. 

"Blizzard of Ozz" é o disco que inaugura o heavy metal de verdade, aquele que vai estremecer os pilares do mercado musical e mostrar que a rebeldia e a contestação iam muito além do esquelético e efêmero punk rock. Ozzy mostrou que peso dentro do rock tinha grife.

Notas roqueiras: Ossos Cruzados, Stone Age A.D., Attanos...


 - A banda Ossos Cruzados é uma das confirmadas na coletânea “Brazil Rock City... The Brazilian Tribute To Kiss”, que foi organizada pela gravadora inglesa “Secret Service” e que conta com várias bandas do país prestando suas homenagens ao Kiss. A banda paulistana de Crossover contribuiu com uma versão de “Psycho Circus”, originalmente lançada em 1998 no disco de mesmo nome que marcava o retorno da formação original da banda Kiss, após mais de 20 anos de separação. A coletânea que ainda não foi lançada oficialmente, está em fase final de ajustes para sua liberação e a qualquer momento as vendas físicas estarão disponíveis para os fãs. Aproveitando o momento, a gravadora “Secret Service” acaba de disponibilizar na íntegra a versão do Ossos Cruzados para "Psycho Circus" no canal oficial da gravadora no YouTube. Confira: https://www.youtube.com/watch?v=BIlwL7VrSqg


- Foi liberado no YouTube da banda Stone Age A.D. o vídeo gravado ao vivo e com uma performance de tirar o fôlego para a clássica “The Songs Remains The Same” do Led Zeppelin. Veja em https://www.youtube.com/watch?v=Rwj84givOdo

- O Attanos volta a ser um quinteto e inclui em seu núcleo criativo, um segundo guitarrista. O músico que é oficialmente apresentado como novo integrante é Danilo Sena, que chega trazendo todo seu talento e destreza sobre o instrumento ao estilo da banda.

Notas roqueiras: Sinaya, King Bird, Anjos da Sombra...

Sinaya (FOTO: DIVULGAÇÃO)


- A Sinaya apresentou sua nova guitarrista, Helena Nagagata, por meio de suas redes sociais, com o seguinte texto:“Pessoas que compartilham uma direção comum e senso de comunidade podem atingir mais facilmente os objetivos. Para atingir nossos objetivos, é necessário estar junto com aqueles que se dirigem para onde queremos ir, dando e aceitando ajuda. É preciso haver um revezamento nas tarefas pesadas. As pessoas, assim como os gansos, dependem umas das outras. Precisamos assegurar que nosso grasnido seja encorajador para nossa equipe e que a ajude a melhorar seu desempenho.
Welcome to the jungle, Helena!”

- A banda King Bird vem trabalhando em novas composições para o álbum "Flying High", sucessor de "Got Newz", que será lançado pelo selo europeu Lions Pride em 2021. Porém, enquanto a pandemia do COVID-19 impede que Ton Cremon (vocal), Silvio Lopes e Marccos Chaves (guitarras), Fábio Cesar (baixo) e Marcelo Ladwig (bateria) realizem turnês, os músicos aproveitaram para reunir materiais já gravados e promover o lançamento do álbum "Alive, Revisited and... Isolated", que sairá no dia 15 de outubro. "Achamos que essa é uma boa hora para usar os registros ao vivo que fizemos no Sesc Belenzinho (SP), quando lançamos o álbum 'Got Newz', e, como bônus, ainda teremos algumas surpresas para revelar depois", conta o guitarrista Silvio Lopes. "Alive, Revisited and... Isolated" será lançado em outubro nas plataformas de streaming (Spotify, Deezer, Apple Music) e os vídeos serão lançados nos canais YouTube e IGTV do King Bird. O show, registrado em setembro de 2016, conta com as participações do guitarrista Heros Trench (Korzus, Armored Dawn), que foi o produtor dos três primeiros trabalhos de estúdio do King Bird, e do multi-instrumentista Rodrigo Hid (ex-Patrulha do Espaço e Pedra) no Hammond, que também participou das gravações de "Got Newz". Confira o vídeo ao vivo da faixa "Daybreak", gravado no SESC Belenzinho (SP) no lançamento oficial de "Got Newz": https://www.youtube.com/watch?v=LvOtSy7p_0U

- Divulgando o seu trabalho de estreia, que foi lançado nesse ano e leva o nome da banda, o Anjos da Sombra acaba de disponibilizar mais uma das músicas do trabalho em seu canal oficial de YouTube. Se trata da faixa “Onde Eu Quero Estar”, que pode ser ouvida no link logo abaixo. Confira: 
https://youtu.be/f5P6KLuOHNI. O álbum de estreia da banda se encontra disponível em todas as plataformas de streaming, e você pode fazer a audição do mesmo no link que se encontra em 
https://open.spotify.com/album/184PBcUhZd86IBp88L0wxB
 

A nova arma do roqueiro conservador: a delinquência intelectual

 Marcelo Moreira

Rock elitista e que define seus "aficionados" como gente diferenciada. É assim que os bolsonaristas e adeptos da extrema-direita estão se considerando, saindo finalmente do "armário".

Em pelo menos quatro fóruns de roqueiros em redes sociais, onde a política estava proibida de ser discutida, essa "gente diferenciada" explicitou todos os seus ranços e preconceitos ao tentar defender o mentiroso presidente Jair Bolsonaro quando de seu lamentável e patético discurso nas Nações Unidas.

Não é de hoje que essa conversa nojenta comina algumas discussões a respeito do papel social do rock no Brasil, nos Estados Unidos e na Inglaterra, onde por muito tempo os envergonhados "burgueses" sempre tentaram se passar, por convicção ou por oportunismo, por admiradores do gênero sensíveis e de viés progressista.

Não faz muito tempo que vendedores de anúncios de emissoras de rádio rock em São Paulo alardeavam que o público de rock era "diferente", geralmente com poder aquisitivo maior, mais fiel ao gênero, mais bem informado e culto. Acreditavam que, com isso, convenceriam empresas a despejar dinheiro na ânsia de fisgar um consumidor mais abastado e, supostamente, mais "elitizado".

Se isso algum dia foi verdade, foi por pouco tempo. A antiga 97 FM virou Energia 97 e abraçou a música eletrônica e o pop mais rastaquera; a Mix FM também enveredou pelo pop explícito, enquanto a Brasil 2000 virou história. A 89 FM voltou ao rock depois de anos experimentando outras paradas. Será que o público do rock é tão fiel e elitista assim?

A conversa é maluca, mas os bolsonaristas que saem de suas cavernas para empestear a cena roqueira perderam o medo e a vergonha de se assumir preconceituosos, mesmo que para isso distorçam os fatos, pisoteiem a história e disseminem as pútridas fake news.

Houve gente que se vangloriou de que o rock sempre foi de "classe média", que sempre teve uma qualidade muito superior a outros gêneros e que seus apreciadores são mais cultos, inteligentes e bem informados, com mais dinheiro no bolso. Por que esse tipo de argumentação tosca e asquerosa não surpreende?

São os mesmos idiotas que adoram bradar os slogans dos Ramones e cantar músicas do Black Sabbath, duas bandas totalmente identificadas com a classe trabalhadora, ainda que o guitarrista Johnny Ramone fosse de direita e republicano.

Deficiências educacionais, cognitivas e intelectuais colocam o rock em um dilema aparentemente insolúvel: honrar as suas origens e se manter contestador e a favor dos direitos civis ou assumir a postura de classe média que sempre predominou entre músicos e fãs do gênero fora da Europa e dos Estados Unidos?


Entretanto, parece que isso não interessa ou não vem ao caso, não é? E daí que Ozzy Osbourne e Tony Iommi, ambos do Black Sabbath, foram metalúrgicos antes da fama? E daí que os Ramones nunca tiveram onde cair mortos antes do estouro do punk?

Isso me lembra alguns atletas estúpidos do vôlei e do basquete, ressentidos pelas fortunas ganhas por alguns jogadores de futebol profissional, bradando que eram mais inteligentes e cultos por serem mas escolarizados e de classe média. É esse tipo de desqualificação torpe que se torna a principal argumentação dessa gente?

É uma marca indelével do rock brasileiro o fato de ter se disseminado a partir da classe média a partir dos anos 50, chegando por meio de gente mais descolada com acesso a caros produtos importados ou a frequentes viagens internacionais.

Foi só a partir dos anos 70 é que lentamente o rock foi saindo do nicho e ganhando outras paradas, mas a pecha de "música de elite", assim como a música erudita e o jazz, permaneceu e permanece até hoje.

Os bolsonaristas imbecis (redundância) aspirantes a fascistas se consideram melhores e mais inteligentes porque gostam de rock e, aparentemente, são mais cultos e endinheirados, ignorando que parcela expressiva dos apoiadores da excrescência que está presidência são de pobres ou muito pobres - provavelmente, a maioria.

É uma gentalha que quer se apropriar do rock desprezando deliberadamente as origens e o desenvolvimento do gênero musical, bem como seus conceitos fundamentais. Para esses, o máximo de transgressão é o rock infantilizado e deliberadamente zoado dos Mamonas Assassinas.

Mais do que isso, é o tipo de gente que diz gostar ou mesmo amar o Pink Floyd, mas que ficou pasmo e irado ao descobrir, em pleno show de Roger Waters, o baixista da banda, que a imensa maioria das letras das canções da banda e da carreira solo te,m um viés de protesto e pendem muito para a esquerda.

Na defesa do indefensável Bolsonaro, que churda cada vez mais na lama e na vergonha, essa galera roqueira conservadora e preconceituosa abraça com fervor o seu elitismo e sua ojeriza a qualquer tipo de igualdade e humanidade - nenhuma diferença em relação ao mesmo tipo de público que grita de amores pelo sertanejo.

O rock que incomoda, que empurra adiante e que abraça as causas progressistas em defesa da democracia, das liberdades gerais e dos direitos humanos não interessa a essa cambada de ignorantes - ou interessava até eles descobrirem o "conteúdo" de muitas letras.

É o tipo de ser execrável que aplaude os lixos humanos que foram à Justiça questionar a empresa Magazine Luíza por restringir a candidatos negros algumas vagas de trainee de cargos mais altos - gente que ignoraria a iniciativa caso fosse uma seleção para faxineiros.

Essa gente desumana é incapaz de entender - ou se recusa a entender - o significado da campanha mundial "Black Lives Matter" (Vidas Negras Importam) acusando o "movimento" de comunista e terrorista, endossando as teses estapafúrdias vomitadas pelo presidente norte-americano Donald Trump e replicado por aqui por gente de baixo calibre, como os filhos do presidente e parte de seus ministros e políticos que o apoiam.

Tudo isso empesteia diversos ambientes nas redes sociais e área de comentários de veículos de comunicação diversos. Ali a confusão mental em relação a diversos conceitos é tamanha que o que mais fica evidente é o profundo fosso intelectual e a gigantesca ignorância, em que é possível detonar o Black Lives Matter com frases de apoio incondicional à polícia assassina que atua em quase todas as grandes cidades brasileiras. 

São os mais recentes capítulos do avanço do que pode ser chamado de delinquência intelectual que está dominando vários ambientes e debates, onde qualquer resquício de teoria religiosa e moral estapafúrdia serve para defender coisas como a gravidez de uma criança de dez anos após estupro - ou para justificar o silêncio diante desta barbaridade.

Roqueiro conservador e mergulhado no misticismo religioso das piores seitas é um anacronismo inacreditável em pleno século XXI, é uma excrescência no momento cultural e político brasileiro. Exaltando o seu elitismo e o seus preconceitos, mostra-se orgulhoso da própria ignorância e de ser representado por um ser totalmente desprovido de qualidades na Presidência da República. 

Para esse grupo de seres execráveis, o orgulho da própria burrice e da extrema mediocridade justificam todo tipo de perversidade política e administrativa de inspiração fascista - a além da adoção sem escrúpulos de todo o tipo de delinquência intelectual.


sábado, 26 de setembro de 2020

Jaco Pastorius, um gigante do contrabaixo

Marcelo Moreira

Jaco Pastorius (FOTO: DVULGAÇÃO/REPRODUÇÃO)


Ele não gostava da comparação, mas não conseguia escapar dela. "O Hendrix do contrabaixo" não conseguia encontrar paralelos, embora o maior deles fosse escancarado: Jaco Pastorius mudou a história de um instrumento musical, assim como Jimi Hendrix fez com a guitarra elétrica. 

Pastorius ria quando diziam que ele praticava uma espécie de punk jazz, mas depois começou a se incomodar com essas e outras nomenclaturas. Para ele tudo era muito simples: era só música, ainda que fosse soberba e sublime. 

Se o colossal Ron Carter era considerado o motor mais preciso e sólido do jazz do século XX, Pastorius era o estilista por excelência, elevando a um grau inimaginável de excelência as performances de baixo no final dos anos 70 e começo dos anos 80. 

Trinta e três anos após sua estúpida morte após uma briga em uma casa noturna, o baixista ganhou o status de lenda do instrumento, mais ou menos como aconteceria três anos depois com o guitarrista Stevie Ray Vaughan, morto em um acidente helicóptero com os mesmos 36 anos de idade.

John Francis Anthony Pastorius III, seu nome verdadeiro, se tornou baixista por causa de um acidente em uma partida de futebol americano. Queria ser baterista, como o pai, de quem herdou a paixão por esportes. 

Com o dom para música, obteve sucesso imediato quando assumiu o baixo em uma banda após se recuperar do pulso quebrado. Assombrou todo mundo com sua técnica e pela sua abordagem melódica de um instrumento rítmico. 

Influenciado por tudo o que é gênio musical – de Beatles a James Brown e de Charlie Parker a Miles Davis -, construiu uma carreira onde era impossível não se destacar onde quer que tocasse, exatamente como Jimi Hendrix sempre ofuscava gente como Curtis Knight e Little Richard. 

O auge de sua trajetória começou em de 1974, quando encarou trabalhos solo de altíssima qualidade e trabalhos com mestres como o guitarrista Pat Metheny, a cantora Joni Mitchell e com o grupo extraordinário Weather Report. 

Reconhecido como músico estupendo e um estilista do baixo, mergulhou de cabeça no show business, transformando-se em estrela do jazz e em um viciado em drogas e em álcool. 

Os principais biógrafos garantem que os problemas mentais que Pastorius começou a apresentar entre 1981 e 1983 foram "disparados" pelo uso de drogas. Foi a fase do declínio artístico. 

Com sintomas do chamado distúrbio bipolar, síndrome de pânico e depressão, começou a apresentar comportamento instável e errático, realçando sua excentricidade e muitas bizarrices. 

Certa vez, quando se apresentavam em Tóquio, foi visto completamente nu e aos gritos sobre uma moto em alta velocidade. Suas performances como instrumentista também mudaram, seu gosto pelo excêntrico e pelas dissonâncias, se tornou exagerado e de certa forma incompreensível. 

Em 1985, restou-lhe apenas tocar em clubes de jazz em Nova York e na Flórida, com os antigos amigos e admiradores se afastando. 

Pouco disposto a aceitar que estava fora do circuito mais importante do jazz norte-americano e com todos fugindo de seu comportamento por vezes violento, foi obrigado a trocar de empresário e aceitar menos para se apresentar de forma inconstante.

 Em setembro de 1987, depois de assistir como convidado um show de Carlos Santana na Flórida, arrumou briga com um segurança da casa noturna, que ignorava quem era o chato que queria confusão. 

Pastorius apanhou feio e bateu a cabeça no chão. Acabou sendo levado, após muita demora, para um pronto-socorro da cidade de Fort Lauderdale com traumatismo craniano. Em coma por dez dias, morreu no dia 21 de setembro de 1987. Um final estúpido para um dos maiores gênios da história da música.