sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O rock na mira do clã Bolsonaro: Detonautas podem ser processados por Michelle

Marcelo Moreira

Detonautas Roque Clube (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O autoritarismo e o desprezo pela democracia e liberdade de expressão estão no DNA do nefasto governo de inspiração fascista que se encastelou em Brasília.

Enredado em diversos casos de suspeita de corrupção envolvendo filhos do primeiro casamento, também políticos, assessores destes e também a primeira-dama, começa a se debater e a partir para o ataque. 

E um dos alvos é a banda de rock Detonautas Roque Clube, que gravou uma música satirizando os problemas de caixa dois e "rachadinhas"que envolvem o nome da moça.

A revista Veja, em texto publicado em seu site e que será editado na versão impressa da próxima semana, informa uma série de mudanças no comportamento de Michelle Bolsonaro, tanto no visual como nas críticas que ela e a família recebem.

Uma das medidas que deverá tomar em breve será uma série de processos judiciais contra muita gente e instituições por conta de gozações, memes e sátiras por conta das informação de que recebeu dinheiro de ex-funcionário de um enteado acusado de corrupção.

Investigações conduzidas no Rio de Janeiro mostram, de forma preliminar, que Michelle recebeu R$ 89 mil na conta bancária em depósitos feitos por Fabricio Queiroz, ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro, hoje senador e ex´deputado estadual no Rio de Janeiro. 

Ainda não há explicação para os depósitos na conta da primeira-dama ao longo de vários anos. Queiroz, envolvido com milícias, é investigado e acusado de corrupção por tomar pate dos salários de funcionários públicos de Flávio Bolsonaro e usar esses recursos de forma ilícita. 

Queiroz está preso e é íntimo de toda a família Bolsonaro - já foi assessor de Flávio, assim como uma de suas filhas "assessorou" o então deputado federal Jair Bolsonaro.

Os depósitos de um suspeitíssimo de ser corrupto nas contas de Michelle Bolsonaro é um escândalo nacional e inspirou a banda carioca a compor "Micheque", uma paródia sobre o caso.

"Recebi com enorme surpresa a notícia, através da revista Veja, de que Michelle Bolsonaro está estudando processar o Detonautas pela música 'Micheque'", escreveu Tico Santa Cruz, o vocalista, nas redes sociais. "É uma tentativa de censura???? Cadê a liberdade de expressão para que possamos questionar algo que é de interesse público? O Governo Bolsonaro não é contra o MIMIMI? Nós não acusamos ninguém de nada, nem sequer usamos o nome deles! Vamos aguardar!"

Santa Cruz, formando em ciências sociais, é um artista engajado em causas sociais e defensor dos direito civis e humanos. Sem estar filiado a partidos, costuma dizer que sua atuação tem viés progressista, embora claramente suas posições possam ser identificadas com as da esquerda. 

Ainda assim, é um ardoroso defensor da liberdade de expressão e é generoso o suficiente para estender a mão aos detratores e tentar ensejar um debate equilibrado e civilizado. Pena que tenha tão poucos interlocutores do outro lado, entre os cães hidrófobos da direita e da extrema-direita.

Não imaginávamos que viria da primeira-dama, e de forma tão tosca, um possível ataque "oficial e institucional" contra o rock. Certamente há casos bem mais graves, na ótica dos celerados que estão no poder, para serem analisados e perseguidos. Não é por outro motivo que vicejam em vários campos os famigerados "dossiês" contra o antifascista.

A reportagem de Veja deixa claro que o clã Bolsonaro vai contra-atacar, ainda que de forma marginal. São muitos os inimigos e algumas recentes decisões questionáveis na Justiça a respeito da liberdade de expressão e muitas a favor do bolsonarismo não nos animam a garantir que os preceitos constitucionais vão prevalecer, ainda que no primeiro momento.

É bom lembrar que estapafúrdias e inconstitucionais decisões na Justiça do Rio de Janeiro, em duas instâncias, impedem a TV Globo de divulgar informações de documentos que constam da investigação das "rachadinhas", que é o confisco de parte dos salários dos funcionários da Assembleia Legislativa do Rio e que envolve diretamente o senador Flávio Bolsonaro. Decisões semelhantes atingiram, recentemente, reportagens da Folha de S. Paulo, do portal GGN e do Estadão.

O esperado ataque contra o rock veio, e de um inimigo improvável. Mas não nos enganemos: faz parte da mesma engrenagem de inspiração fascista que estã na origem e no sangue do governo Bolsonaro, que odeia e democracia e tem ojeriza à liberdade de expressão.

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