segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Receita Federal investiga profissionais da Globo, e artistas reclamam de perseguição

Marcelo Moreira



Dossiês contra adversários, inimigos ou apenas críticos; tentativas de perseguição da Polícia Federal, aparelhada, explicitamente a mando do Palácio do Planalto; devassas seletivas por parte da Receita Federal contra artistas de TV; blindagem de amigos e parentes desde antes da posse.

Ninguém pode reclamar que não sabia que seria assim. O nefasto ser que ocupa a Presidência da República avisou pessoalmente que seria assim. As milícias virtuais avisaram que seria assim. E está sendo assim.

O capítulo mais novo da guerra cultural do governo federal, apoiado pelo que há de pior entre os evangélicos, militares e conservadores fascistas, é a matilha de celerados agentes da Receita atiçados contra atores e atrizes da TV Globo.

Eles avisaram que ia acontecer e, desde janeiro, ao menos 43 artistas da TV Globo estão sendo investigados por sonegação de impostos por conta de contratos que envolvem as chamadas "pessoas jurídicas", ou seja, profissionais que abrem empresas e celebram contratos com a Globo como empresas.

A Receita acredita que a modalidade e uma forma de evitar o pagamento de certas alíquotas, o que não é ilegal, desde que não fique configurada a intenção de driblar o Fisco.

Por que só atores da Globo estão na mira? Será que não tem ninguém na TV Record que se enquadre ao menos para ser averiguado na questão dos contratos de PJ? E os altos salários do SBT, da CNN, da RedeTV! e da Bandeirantes? Curiosa essa seletividade, não é?

Apesar de outras grandes emissoras, como SBT, Record, Band e RedeTV!, terem parte de seus artistas, executivos e jornalistas contratados como PJ, não há informações que os profissionais dessas empresas tenham recebido notificações para prestar contas ao fisco, de acordo com o site Pipoca Moderna.

Também não há indícios de que a ex-secretária de Cultura, Regina Duarte, e o atual, Mário Frias, ex-funcionários da Globo, tiveram as contas examinadas.

Nem a Receita Federal e nem a Secretaria de Cultura do Ministério do Turismo haviam se manifestado sobre a questão até o final da noite desta segunda-feira (31).

Não foi por falta de aviso. A perseguição em todos os níveis ao setor de cultura seria implacável na tentativa de silenciar e neutralizar os "inimigos" e adversários ideológicos. 

Os artistas imbecis que apoiam/apoiaram a excrescência bolsonara e seu lixo de governo percebem agora o nível de calhordice e de indecência que se instalou em Brasília.

Justamente em um momento em que saem dos esgotos os integrantes da área cultural e das artes para defender a esgotosfera bolsonara, os instrumentos repressivos da administração federal intensificam a campanha contra os "inimigos".

Especialmente dentro da música e do rock, essa gente desesperada perdeu qualquer pudor em rechaçar as intenções autoritárias e fascistas: assumem claramente que desprezam a democracia e a liberdade de expressão, as mesmas que garantem que esse tipo de lixo humano direitista e extremista possa viver de e exercer suas atividades artísticas.

Claro que é inacreditável que artista defenda perseguições a adversários, a censura aos "comunistas" e o silêncio dos críticos. Só no Brasil artista defende censura que pode voltar como um bumerangue na própria testa.

A perseguição da Receita Federal aos artistas e a "orientação" da Secretaria de Cultura para que os filmes nacionais candidatos ao Oscar sejam "alinhados com as diretrizes ideológicas do governo", como denunciaram vários órgãos de imprensa, mostram que a guerra cultural entrou em nova fase. As ameaças e as intimidações deram lugar aos ataques despudorados e sem dissimulação. 

Alguém acha que os músicos escaparão de uma perseguição igual? Já não bastam a penúria a que o governo está condenando os profissionais da área e as tentativas de parlamentares ligados ao setor hoteleiro de isentar esses negócios do pagamento de direitos autorais?

Já passou da hora de haver algum tipo de resistência.


Notas roqueiras: Kiko Loureiro, Armored Dawn, Pressive...



- Como parte da divulgação de seu quinto álbum solo instrumental, "Open Source", lançado no último dia 10 de julho, o renomado guitarrista brasileiro Kiko Loureiro lançou recentemente o vídeo playthrough da faixa “Vital Signs” - confira em https://www.youtube.com/watch?v=MesxR4FtSSkO álbum que foi produzido com apoio de um financiamento coletivo super bem sucedido tem participação de Felipe Andreoli no baixo e Bruno Valverde na bateria em todas as 11 faixas, além de contar com as participações especiais dos guitarristas Marty Friedman (ex-Megadeth) e Mateus Asato. Ouça "Open Source" em todas as plataformas digitais:
https://open.spotify.com/artist/5RmLUrjJz5bpP8dF4lYdy

- A banda Armored Dawn segue conquistando seu espaço no mercado da música mundial, criando uma base sólida de fãs por onde passa e consolidando-se como um dos grandes nomes do metal brasileiro na atualidade. O trabalho mais recente do grupo, o álbum "Viking Zombie", lançado mundialmente em outubro de 2019, é prova de que os caras não param de evoluir. Destaque para a versatilidade sonora, algo que todo fã de heavy metal tradicional e melódico, assim como de power metal, pode aproveitar ao máximo no trabalho atual do conjunto que ganhou versão deluxe nos Estados Unidos. Recentemente o grupo participou de um projeto solidário com uma versão ao vivo da música Ragnarok. A banda, já com a nova formação, gravou com os músicos em ambientes separados. Confira o vídeo completo: https://youtu.be/cd--0KeAJ6M

- Formada em 2005 na tradicional cidade de Guadalajara (México), o Pressive é uma banda de Rock Alternativo em ascensão internacional, caracterizada por seu som genuíno e viciante; o uso de sintetizadores e riffs agressivos de guitarra, aliados ao contraste de melodias limpas e gritadas, são as chaves para definir o som da banda que ganhou o mundo com seu novo single “Nightmare”. Assista ao vídeo clipe oficial: https://www.youtube.com/watch?v=H2ODrwlbtXU

Combater o fascismo dentro de nossas fileiras é um pesadelo dos mais cruéis

Marcelo Moreira

"Nos Estados Unidos as coisas se resolvem rapidamente. Basta um rifle e os baderneiros somem. Aqui no Brasil a Justiça é a favor do crime, da bagunça e da oposição."

As frases acima poderiam muito bem terem sido escritas em redes sociais de artistas descomprometidos com a sociedade e sedentos por medidas fascistas, como certo vocalista de banda engraçadinha dos anos anos 80 ou artista solo da mesma época com inclinações selvagens no nome. Isso não surpreenderia.

No entanto, foi proferida - e curtida por muita, mas muita gente - por um cidadão irascível, mas que não tinha mostrado inclinações para o extremismo. É um bom baixista e um guitarrista de bons recursos, de certo prestígio no meio roqueiro paulista, completamente equivocado em relação a tudo na vida.

Assim como em outros momentos em que identifiquei certas nojeiras em fóruns, chats, comentários em posts e mesmo textos nas redes sociais, não escancaro o(s) nome(s) do(s) imbecil(cis) para não dar palanque a essa gente nojenta. Uso essas "pesquisas", digamos assim, para refletir que tipo de rock nacional temos na segunda década do século XXI e como pensam esses supostos roqueiros.

É claro que, em caso de crime, como racismo, o autor seria denunciado às autoridades, mas ainda não tive o (des)prazer de me defrontar com algum caso nível.

A questão é que, quanto mais o governo nefasto de Jair Bolsonaro se esfarela na incompetência e nas abundantes denúncias de corrupção, autoritarismo e destruição de direitos e do meio ambiente, mais gente começa a sair do armário para defender o fascismo nos meios cultural e musical.

Não dá para saber se está aumentando o número de seguidores do bolsonarismo asqueroso (redundância) e ou se cresce, na verdade, q quantidade de gente que resolveu sair do armário, seja po desespero ou indigência intelectual, para se revelar apoiador de primeira hora.

O tal baixista/guitarrista não só surpreende por aderir publicamente ao extremismo de direita como por demonstrar apoio a causas indefensáveis.

Percebo, depois de muito tempo, que tal cidadão é evangélico, e de uma denominação das mais pútridas, nefastas, fisiológicas e criminosas que existem por aí - é o tipo de seita que queima o filme das agremiações sérias e respeitáveis desses espectro religioso.

FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Antiaborto e fervoroso defensor da violência praticada por religiosos contra a menina de dez anos que engravidou do tio no Espírito Santo - e que abortou com autorização da Justiça -, chamou a atenção neste final de semana por aplaudir o adolescente de 17 anos que matou dois manifestantes antirracismo nos Estados Unidos nesta semana.

Isso mesmo, o lixo humano postou links de notícias e fotos do garoto Kyle Rittenhouse, que portava um fuzil o local de uma manifestação contra o ataque de policiais brancos a um homem negro desarmado na cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin.

A polícia, depois de não detê-lo no dia do crime e "aconselhá-lo" a ir para casa, finalmente o prendeu no dia seguinte à manifestação e o indiciou pelo assassinato de dois manifestantes, com fartura de provas e testemunhas contra ele, que é um fanático apoiador do presidente Donald Trump.

Foram pelo menos três posts em redes sociais elogiando o assassino, tomando-o como um exemplo contra "baderneiros e arruaceiros" que querem gerar confusão e "atrapalhar governos). Por si só isso seria aterrador, mas assusta mesmo é a quantidade de curtidas em apoio a essa nojeira.

Há outros posts em que defende a liberação de armas para a população, políticos corruptos e criminosos ligados a Bolsonaro, grupos extremistas que disseminam fake news e ameaças generalizadas a "inimigos" porcarias generalizadas contra o Judiciário.

O post que obteve mais curtidas, em um texto claudicante recheado de erros de português, é um que desanca os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) por conta dos inquéritos contra fake news, contra as prisões dos apoiadores extremistas de Bolsonaro e contra a proibição de ações violentas da Polícia Militar do Rio de Janeiro nas comunidades enquanto durar a pandemia.

Numa rápida olhada no "público" que curtiu tais barbaridades, a imensa maioria tem alguma relação com o rock, seja por ser fã, profissional da área ou ligado, de alguma forma, a eventos/bares/casas de shows.

Ou seja, não é mera a impressão de que existe, nas grandes cidades do país, um contingente expressivo de roqueiros asquerosos que apoiam o fascismo e as medidas desse governo autoritário e inacreditável de Jair Bolsonaro.

é evidente que não temos, ainda, como dimensionar o tamanho do descalabro que é observar a existência de roqueiro fascista. Estão saindo das cavernas agora ou sempre foram desse jeito e nunca tínhamos percebido?

Como é possível existir roqueiro antidemocrático, do tipo que apoia a violência policial contra a população pobre, negra e,  última análise, contra os próprios roqueiros?

Então essa gente apoia, em tese, governos e políticos que os detestam, que sempre que possível jogarão o aparato repressivo para cima do rock?

Essa gente apoia políticos e governos que desprezam a democracia e a liberdade de expressão, ou seja, o direito de os roqueiros de se expressarem e de curtir em paz a sua música e seus shows?

Que tipo de música esse tipo de roqueiro admite? Aquela anódina, inodora e incolor, que só fala de carros, mulheres, cerveja, putaria, duendes e unicórnios?

E no metal? Só valem as letras de destruição e devastação no exterior ou em outros planetas? Ou apenas músicas sobre o "Senhor dos Anéis"?

O que será que tem a dizer o roqueiro imbecil que gosta de Pink Floyd sobre o conteúdo de letras dos álbuns "Animals" (uma fábula baseada no livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell e "The Wall" (um forte libelo contra o fascismo e o autoritarismo)?

Esqueçam a nojenta falácia de que "devemos respeitar as escolhas políticas dos outros". Mais do que eufemismo, isso é uma frase que embute um tremendo mau-caratismo de quem se diz isento e que, na verdade, é um omisso que esbarra nas raias da indecência.

Não dá para respeitar quem defende a violência contra minorias e segmentos da sociedade; quem defende o fascismo; quem defende políticas predatórias do meio ambiente; quem defende a supressão de direitos humanos, civis e trabalhistas; quem defende autoritarismo; quem defende governo incompetente inundado de denúncias de corrupção; que persegue adversários e opositores, ameaçando-os e intimidando-os com milícias físicas e virtuais.

Poucas pessoas imaginavam que teríamos tanto trabalho para resistir e combater o fascismo do nosso tempo, e que teríamos de começar, infelizmente, dentro do nosso meio roqueiro/musical.

Os 30 anos do ‘Persistence of Time’, clássico álbum do Anthrax

Flavio Leonel - do site Roque Reverso



O dia 21 de agosto de 2020 marca o aniversário de 30 anos do disco “Persistence of Time”, do Anthrax, o quinto da carreira de sucesso do conjunto musical. O álbum é considerado um dos mais complexos da banda norte-americana de thrash metal e representa o fechamento da fase de ouro do grupo, que concentra também os discos “Among the Living” , de 1987, e “State of Euphoria”, de 1988.

“Persistence of Time” também foi o último álbum com a formação clássica do Anthrax, já que o vocalista Joey Belladonna deixaria a banda em 1991 para voltar ao grupo definitivamente apenas em 2010, já sem a presença do bom guitarrista Dan Spitz – este saiu da banda alguns anos depois, em 1995, e até voltaria momentaneamente entre 2005 e 2007, mas não gravaria discos de estúdio novamente com os históricos parceiros musicais.

Além de Belladonna e Spitz, estão na formação clássica que gravou o “Persistence of Time” o guitarrista Scott Ian, o baterista Charlie Benante e o baixista Frank Bello.

O álbum pode não ser melhor do que o indispensável “Among the Living”, mas traz o Anthrax numa fase madura e querendo arriscar um som mais complexo, refletindo uma tendência na época entre as grandes bandas de thrash metal.

Na ocasião, depois que o Metallica lançou o complexo e excelente “…And Justice For All”, as bandas de thrash metal seguiram a tendência que trazia canções mais longas do que o habitual do estilo, variações de andamento, viradas repentinas e inesperadas de ritmo, além de riffs diversos e distintos dentro de uma mesma faixa.

Depois do sucesso de vendas do “…Justice”, que é de 1988, o início dos Anos 1990 trouxe o Death Angel com o ótimo e complexo “Act III” e as bandas do aclamado Big Four (que traz, além do Metallica, o Slayer, o Megadeth e o Anthrax) numa linha parecida.

O fã de thrash metal teve um verdadeiro banquete à disposição a partir do segundo semestre de 1990. O Anthrax lançou o “Persistence of Time” em agosto, o Megadeth trouxe o disco “Rust in Peace” em setembro e o Slayer lançou o álbum “Seasons in the Abyss” em outubro.

Tal qual o “… And Justice For All”, são todos álbuns mais caprichados musicalmente do que essas bandas fizeram anteriormente. Até mesmo o Slayer, considerado o mais agressivo dos 4 grandes do thrash, traz uma técnica apuradíssima no “Seasons in the Abyss”.

Parecia existir, portanto, uma espécie de competição entre os grupos com discos cada vez mais elaborados. Importante dizer que esta competição também era perigosa, pois algum excesso na complexidade dentro do thrash metal poderia gerar algo rebuscado demais e capaz de tirar a agressividade marcante do estilo.

Tique-taque acelerado

Quando se fala em complexidade no rock, logo vem à mente a imagem do rock progressivo. E poucas coisas no rock são mais progressivas do que o Pink Floyd. É justamente com uma música de mesmo nome de um clássico do grupo britânico que o Anthrax inicia o álbum.

Se “Time”, do Pink Floyd, no álbum “Dark Side of The Moon”, traz um tique-taque histórico de um relógio na introdução, porque o Anthrax não poderia trazer algo semelhante, mas muito mais rápido no começo de seu álbum? A música “Time”, do Anthrax, começa com a aceleração do tique-taque e uma avassaladora introdução thrash que faz o olho do fã da banda longo brilhar.

Charlie Benante e Frank Bello dão a deixa para Scott Ian e Dan Spitz entregarem o riff poderoso. Com isso, logo na entrada, Joey Belladonna, no auge de sua voz, faz bonito e mostra porque ele tinha na ocasião o melhor vocal (tecnicamente falando) do Big Four.

A faixa “Blood” vem na sequência e amplia a agressividade do Anthrax. Rápida, a música supera os 7 minutos, é a mais longa do álbum e traz também elementos além do thrash metal, especialmente nos vocais.

“”Keep It in the Family” é a próxima e traz o Anthrax em plena forma, mostrando porque está entre as maiores do estilo musical. Scott Ian mostra aqui o motivo de ser considerado um dos maiores criadores de riff do thrash metal, já que praticamente brinca com um riff que vai acelerando aos poucos. Tente ficar sem bater a cabeça nesta faixa ou mesmo sem pensar em simular um roda de mosh! Se você é um fã clássico do thrash, é difícil.

Também vale destacar a boa letra, mantendo a tradição crítica do Anthrax. Para quem viaja na maionese e acha que música não pode trazer conteúdo político, está aí mais uma várias amostras do Anthrax de que o rock sempre foi contestação, e não apenas melodia.

“In My World” é a faixa seguinte e uma das três do álbum que ganhou clipe. A música mantém os riffs precisos e marcantes do Anthrax e tem como destaque o vocal perfeito de Belladonna. O clipe, apesar do som de estúdio, traz imagens da banda em show da turnê e é possível ver o cenário bacana que simula a capa do álbum e traz um relógio com os ponteiros girando.

“Gridlock” fecha o então Lado A do álbum. De todas até então tocadas, é a que menos chama a atenção, apesar de manter a levada thrash

Lado B

“Intro to Reality” abre o então Lado B. Instrumental, ela mantém uma tradição que, na época, era possível ver com mais frequências entre as bandas de thrash. Não é nenhuma “Orion”, do Metallica, mas serve para mostrar as qualidades musicais dos membros do Anthrax.

“Belly of the Beast” vem na sequência e também é uma das três do álbum com clipe. O vídeo por sinal traz imagens do Anthrax em turnê e circulando ao lado de locais históricos, como o Coliseu, em Roma, e o alemão Muro de Berlim, que havia sido derrubado meses antes, em novembro de 1989.

“Got The Time” é a terceira do álbum com clipe e a terceira do Lado B. É, de longe, a faixa mais popular do Anthrax, mesmo sendo uma cover de Joe Jackson.

Sempre presente nos shows da banda, ela tinha presença constante nos programas de metal das MTVs do mundo inteiro. O clipe é uma dos mais famosos da história do heavy metal e traz o Anthrax naquele jeitão thrash que angaria fãs do estilo. É a mais curta música do disco e a que, apesar de ser cover em nova roupagem, mais agrada os fãs da banda.

“H8 Red”, “One Man Stands” e “Discharge” fecham o álbum. Depois do “arrasa-quarteirão” “Got The Time”, parecia ali que o Anthrax tinha achado sua joia para puxar as vendas do disco. Tudo que viesse depois dela no álbum seria complementar e não chegaria aos pés da grande música.

Fim do disco e a constatação de que ele é clássico. Não por acaso, concorreria na categoria de Melhor Performance de Metal do Grammy de 1991, sem, no entanto, vencer, já que perderia para “Stone Cold Crazy”, do Metallica, nessas coisas inexplicáveis do Grammy de misturar em premiação faixa com álbum. O mesmo Grammy que bizarramente, em 1989, havia dado o prêmio de Melhor Performance Hard Rock/Metal para o Jethro Tull, em vez do favoritíssimo Metallica com o álbum “…And Justice For All”.

Depois de “Persistence of Time”, Joe Belladonna ainda gravaria um EP com a banda, “Attack of the Killer B’s”, de 1991, quando o grupo fez uma boa união com o hip hop do respeitado Public Enemy na ótima faixa “Bring the Noise”. O vocalista sairia em 1991 e voltaria somente em 2005 na turnê que tocou o álbum “Among the Living” na íntegra, e voltaria em definitivo em 2010 para o local de onde nunca deveria ter saído.

Racismo, fascismo e a militância necessária de Napalm Death e Detonautas

Marcelo Moreira


Napalm Death: Barney Greenway está ao centro (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma comoção mundial por conta de dois fatos umbilicalmente relacionados: a dolorosa morte de um ator símbolo e a permissividade criminosa e assassina para que um adolescente não seja incomodado por policiais mesmo portanto um rifle automático de uso do Exército norte-americano.

Qualquer demonstração antifascista em qualquer lugar do mundo virou ofensa para a extrema direita assassina e asquerosa.

Várias demonstrações de antirracismo por conta de mais um ataque covarde de policiais brancos contra um negro em Wisconsin, nos Estados Unidos desencadearam uma série de protestos mundiais, mas a elite branca norte-americana decidiu revidar com tiros e jogando a Guarda Nacional contra os manifestantes.

Um moleque nojento de 17 anos aparece com um rifle a um dos protestos, mata duas pessoas e sequer é incomodado pelos policiais brancos igualmente asquerosos. Só mais tarde, identificado, é que foi preso - ou melhor, teve de ser preso diante da pressão contra uma polícia inerte e criminosa, que foi "obrigada" a detê-lo. Quer maior desprezo pela vida humana do que essa conduta?

Esse fato lamentável, infelizmente, divide as manchetes com vários protestos pelo mundo, com a lamentável convenção do Partido Republicano que escolheu Donald Trump como candidato à reeleição presidencial, e a a morte do ator Chadwick Boseman, o Pantera Negra das telas.

Boseman foi o primeiro herói negro das sagas de super-heróis da Marvel - ou de qualquer outra empresa/mito dos quadrinhos e HQs. Foi vítima de câncer no cólon e morreu aos 43 anos de idade.

Sua interpretação marcante do Pantera Negra representou uma quebra necessária de barreiras dentro do cinema mundial e acabou se tornando uma figura marcante para crianças e jovens negros em todo o mundo.

É óbvio que os racistas surtaram com as homenagens a Boseman - assim como me relação ao boicote dos jogadores negros norte-americanos de basquete. Nas redes sociais brasileiras, houve quem minimizasse a importância do ator norte-americano com críticas estúpidas e nojentas ao filme em questão.

Enquanto os lixos humanos que se dizem republicanos nos Estados Unidos ignoram as mortes de negros e os protestos, clamando pela "lei e a ordem" e ansiando por violência contra os manifestantes, algumas banda de rock não perdem a oportunidade de se posicionar.

Os metaleiros ingleses do Napalm Death acabam de lançar mais um álbum com pesadas críticas político-sociais e com um tom abertamente antifascista.

"Throes of Joy in the Jaws of Defeatism" é o nome do disco e parece ter sido feito sob medida pra enfrentar a onda autoritária, desumana e fascista que assola o mundo, mas especialmente os Estados Unidos.,

Em entrevista ao site MetalSucks, o vocalista Barney Creenway soltou o verbo contra o fascismo: "Procurei captar a atmosfera que o mundo está vivendo. Populismo, protecionismo, nacionalismo. E eu acho isso bastante inquietante, no mínimo. E com essas coisas que mencionei, há a separação das pessoas, há uma descriminação e desumanização de certas pessoas que é acentuado por conta do sentimento nacionalista, populista e protecionista".

Ele criticou as perseguições aos gays em muitos lugares do mundo e ataques contra imigrantes: "Isso é uma tática da… – serei bem cuidadoso para usar essa palavra porque acho que ela é usada de forma errada algumas vezes, onde não se reconhece os defensores da ideologia da mesma – mas é a ideologia fascista."

Em um exemplo bem didático do que critica, investe contra o comportamento nocivo que parece estar predominando atualmente: "Toda a ideia de usar pessoas como bode expiratório baseados em qualquer coisa que esteja acontecendo em suas vidas, e eles podem estar querendo escapar da tirania, da próprio sexualidade, da própria constituição biológica, é louco que coisas do tipo estejam sendo propagadas por governantes. E você deveria ficar inquieto com isso, porque se nos lembrarmos, essas são características de Franco (ditador espanhol), Mussolini, Hitler, isso é como começou, desumanizando minorias e dando fazendo grandes prêmios , que foi quando o genocídio começou".

 No Brasil, o posicionamento mais contundente, até agora, foi o da banda Detonautas Roque Clube, com uma pancada absurda e certeira contra o conservadorismo e o governo incompetente de extrema direita que nos governa.

Detonautas Roque Clube: Tico Santa Cruz é quarto da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)
"Carta ao Futuro" é uma canção-videoclipe sombrio em tons distópicos sobre a sociedade brasileira. A letra, de autoria do vocalista Tico Santa Cruz, explicita a desumanidade da atual administração e de seus apoiadores, ressaltando a extinção de direitos civis e trabalhistas, além de atentados contra os direitos humanos e a exacerbação da violência social.

Santa Cruz é um conhecido ativista dos direitos humanos dentro do meio artístico e se tornou um cronista social para denunciar as constantes violações de direitos sociais e ataques à democracia e à liberdade de expressão.

Cientista social por formação, o vocalista às vezes se incomoda ao ser identificado com a esquerda e suas ideias. Acredita que esses tripo de rótulo limita e até impede que se estabeleça um diálogo possível entre extremistas e pessoas que divergem profundamente.

Entretanto, em sua contas nas redes sociais, diante de constantes ataques e ameaças que sofre, vai lentamente percebendo que o diálogo é impossível com gente estúpida. A esmagadora maioria dos direitistas brasileiros é estúpida, sendo que os bolsonaristas, ou seja, a maioria, é totalmente burra.

"Carta ao Futuro" incomodou profundamente essa gente desonesta e asquerosa, o que, inevitavelmente, empurra Santa Cruz e os Detonautas para a oposição e pra a esquerda - que assim seja, já que são combatentes preciosos e pensadores artísticos necessários para conter a mediocridade direitista que chafurda no que de pior existe na religião e no fascismo.

Black Sabbath em ritmo de jazz, uma ideia que deu certo

Marcelo Moreira

A campanha de marketing foi ridícula, mas não afetou o produto final. E então as músicas do Black Sabbath, considerado o inventor do heavy metal, viraram jazz ao comando do excelente pianista e tecladista Adam Wakeman.

Integrante mais novo do clã britânico especializado nas teclas, Wakeman, filho de Rick (ex-Yes) e irmão de Oliver, acompanhou a banda e também Ozzy Osbourne em sua carreira solo por muitos anos. Mais do que familiarizado, tem verdadeira obsessão pelo repertório do quarteto de Birmingham.

"Jazz Sabbath", o nome do CD lançado recentemente e, aparentemente, nome do projeto, tinha tudo para dar errado. O próprio Ozzy reclamou bastante, certa vez, de várias passagens jazzísticas no álbum "Never Say Die", de 1978, o seu último com a banda antes da volta, em 1996.

Entretanto, o álbum funciona se for encarado estritamente como um álbum de jazz. Esqueça que são músicas do Black Sabbath, já que ops arranjos da banda que o gravou quase que eliminam as similaridades, digamos assim. Conservaram as bases, mas os arranjos são muito interessantes.




É antiga ainda é a tradição de pegar clássicos roqueiros e transformá-los em jazz. Vem dos anos 70 essa "mania", especialmente, com canções dos Beatles e Rolling Stones.

Neste século, temos os magistrais trabalhos de Alx Skolnick Trio (projeto do guitarrista do Testament) e do Crimson Jazz Trio (que recria temas do King Crimson), para não falar em trabalhos maravilhosos no Brasil, como o Moda de Rock (clássicos transpostos para a viola caipira) e o último álbum do pianista e tecladista Ari Borger.

O marketing ruim quase estraga a boa iniciativa. No texto distribuído à imprensa, acompanhado de um pequeno vídeo supostamente sério, com entrevistas com músicos importantes, os "produtores" falam de um músico genial que teria composto um álbum em 1968 e 1969, mas que teria sido engavetado pela gravadora enquanto se recuperava de uma doença prolongada.

Recuperado, descobriu que sua gravadora não existia mais, que o dono da empresa estava preso e que o depósito onde as fitas das gravações estava pegou foto, queimando tudo.

No final do ano passado, as tais fitas teriam sido achadas num canto em um porão qualquer e o músico autor, Milton Keanes, um pianista, teria conseguido apoio para editar o material e finalmente "desmascarar" os charlatões que teriam roubado suas músicas e as transformado em rock pesado. Tudo piada, mas sem muita graça.

"Iron Man", clássico dos clássicos, tem uma performance excelente de Adam Wakeman, que fez arranjos criativos ao lado de uma banda de apoio, na segunda parte da música, afiadíssima e mostrando um jogo de cintura contagiante. É outra música.

"Rat Salad", tema instrumental por natureza, foi a música que mais se adaptou ao projeto e ganhou "novos riffs", digamos assim, onde piano e instrumentos de sopros fazem duelos memoráveis.

Assombrosa, no entanto, é a versão de "Children of the Grave", uma daquelas canões que simbolizam o peso o do heavy metal, com os riffs do baixo tenebrosos e uma guitarra que costuma demolir as paredes. 

Em "Jazz Sabbath" ela se transforma um uma verdadeira suíte, com passagens intrincadas e uma miríade de riffs sobrepostos executados no piano e com um acompanhamento soberbo de metais. Outro exemplo de música completamente transformada. 

Ouvindo-a sem saber que se trata de uma canção do Black Sabbath e sem conhecer a original, pouquíssimas pessoas teriam, condições de de cravar de que se trata de uma versão de "Children of the Grave". O mesmo pode ser dito de "Fairies Wear Boots".

Wakeman e os produtores foram felizes em escolher sete músicas dos primeiros álbuns, sendo que três hits estrondosos - "Changes", "Iron Man" e "Children of the Grave". 

Optando por músicas como "Rat Salad" e "Evil Woman" (quem nem foi composta pelo Black Sabbath), os instrumentistas tiveram um pouco mais de liberdade para ousar e criar arranjos inusitados.

A empreitada era arriscada e tinha tudo para dar errado, mas deu bastante certo. Que Wakeman e os produtores mantenham o projeto e realizem novas versões para as músicas do Black Sabbath.


Enquanto o novo site não vem, Combate Rock pode ser lido neste site





No mês em que o Combate Rock, blog e programa de web rádio, completa dez anos de existência, a iniciativa informativa sobre música, reconhecida e respeitada no Brasil, prepara a transição para um novo ambiente depois de sete anos de produtiva parceria com o portal UOL.

O que era para ser um espaço pra discussões e "pancadarias diversas" sobre o mundo do rock evoluiu e cresceu. Tornou-se uma marca importante e um ambiente informativo relevante sobre o rock, além de muita opinião e reflexão.

Neste período de transição, desde o dia 10 de julho, o site www.mmoreirasp.blogspot.com serviu como apoio para a continuidade dos trabalhos do Combate Rock até que o novo site/ambiente ficasse pronto.

A criação desse blog no Blogger é uma maneira de resgatar a marca/domínio Combate Rock enquanto os trabalhos de elaboração do novo site não terminam.

Agradecemos imensamente a paciência e o apoio de sempre. Esperamos que seja muito breve a existência deste blog. Portanto, por enquanto, os textos do Combate Rock estarão sendo publicados aqui, em www.combaterock.blogspot.com.

Para os textos mais antigos, acesse www.combaterock.blogosfera.uol.com.br e www.mmoreirasp.blogspot.com.