Um dos
sintomas mais desagradáveis da demolição da indústria fonográfica neste século,
além da óbvia perda de valor que a música – e a arte no geral – teve foi o
desvirtuamento de vários aspectos mercadológicos envolvendo os hábitos
culturais. Enquanto o mundo ainda tenta encontrar formas de tornar o negócio da
música sustentável, sofremos cada vez mais com a desvalorização da atividade
artística sem que tenhamos alguma perspectiva de achar uma solução.
Dentro desse
panorama, a música autoral feita por artistas pequenos, do underground,
encontra muitas dificuldades para encontrar algum lugar para ser apreciada e
divulgada, e a coisa ficou pior com a proliferação das chamadas bandas covers,
aquelas que só tocam versões de clássicos e hits nos bares da vida.
O fenômeno
sempre existiu, e desde os anos 80 s]ão muitas as reclamações de espaços de
menos para o trabalho autoral, com icos de situações realmente complicadas,
como anos anos 90 – quem não se lembra das bandas Pnk Floyd Cover e U2 Cover,
que lotavam casas noturnas para 3 mil, 5 mil pessoas?
A moda
parecia ter ficado no passado, mas as bandas de versões voltaram com tudo a
partir de 2015, tomando conta de quase todos os espaços possíveis no Brasil –
leia-se botecos e restaurantes, quando não festas diversas. Com a desvalorização
da música autoral outro traço do público veio á tona: uma preguiça enorme, um
comodismo imenso, para procurar coisas novas e encontrar novos artistas. E uma
pandemia devastadora de covid-19 só agravou a situação., então só no Brasil.
Muitos
músicos de gabarito costumam dizer que há espaço para todos, e que os músicos
de bandas covers também trabalham para levar entretenimento de qualidade. Estão
corretos. O que se questiona é a desproporção que de tempos em tempos o mercado
registra, comonos últim0s anos.
Essa febre
conservadora de não valorizar tanto a música autoral tem outra febre colateral,
que é a infestação das chamadas “bandas tributos”, muitas delas patrocinadas
e/ou integradas por músicos sem mercado que foram integrantes das bandas
originais. E elas redescobriram o Brasil recentemente.
Se o mercado
estivesse a plena vapor e com uma indústria capaz de ser sustentável, não seria
preocupante, mas não é o caso. A ata procura por essas bandas na América Latina
evidencia os problemas que as bandas novas enfrentam para conseguir divulgar
suas obras para um público que se mostra, em parte, comodista, preguiçoso e sem
a menor vontade de conhecer coias novas.
Nos anos
2000 ficou mundialmente conhecida a banda Australian Pink Floyd, frequentemente
citada como a melhor banda tributo do mundo naquela época. No entanto, nenhuma
banda é alvo dos tributos como o Queen, tanto no Brasil quanto no exterior. A melhro
delas, Queen Extravaganza, realmente é extraordinária, e tem o brasileiro
Alírio Netto como vocalista principal. Em qualquer lugar do mundo costuma
rivalizar com atrações autorais de médio porte na venda de ingressos.
Em nossos
palcos, pelo menos quatro bandas internacionais importantes que fazem tributo tiveram
ou terão passagens exitosas pelo Brasil. No primeiro Semestre tivemos o Dire
Striays Legacy, uma megabanda com nove músicos, sendo que pelo menos três
tocaram na banda original como integrantes ou como músicos de apoio. Nos
próximos meses teremos Supertramp Experience (Supertramp_, Seattle Supersonics
(Nirvana) e Letz Zep (Led Zeppelin), esta considerada o melhor tributo do mundo
ao quarteto inglês do guitarrista Jimmy
Page. Todas estão com vendas bem altas.
Esse boom de
apresentações das bandas tributo pela América Latina ocorre em um momento em
que parece haver uma certa exaustão de grandes megaeventos, com ingressos
encalhados para muitas atrações. Não foi por outro motivo que Ivete Sangalo e
Ludnilla cancelaram turnês nacionais or estádios. Entretanto, vemos turnês
nostálgicas como Titãs e bandas emo lotando os mesmos estádios.
Ok, há o
apelo do revival, mas esmo assim é de se notar a força dessa nostalgia.
Enquanto o Sepultura pena para esgotar ingressos em sua turnê de despedida pelo
Brasil, muita gente nãopensa duas vezes em pagar caro para ver músicos
desconhecidos, mesmo que bons, emularem as principais canções de bandas
icônicas. Uma coisa é ver gente como
Paul McCartney desfilar canções de sua época dos Beatles – é revival do mesmo
jeito -, e outra é apreciar uns desconhecidos tocar Nirvana cobrando bem caro.
Essa paixão
pela nostalgia está asfixiando o surgimento e disseminação de novos artistas,
que demoram mais – quando conseguem – para atingir um público mais expressivo.
Como sempre, existem as exceções de sempre que furam as bolhas e mostram bons desempenhos
mesmo no underground, mas são muito poucos.
Existe
espaço para todos, mas a moda está demorando para passar, acentuando a desproporção
entre os covers e tributos e a cena autoral, principalmente no fragilizado rock
brasileiro; Descontando-se as reclamações e os choramingos, é preciso constatar
que os hábitos culturais que privilegiam os artistas que “homenageiam” as
grandes bandas não são saudáveis.
Tirando os
medalhões oitentista do rock nacional, que ainda lotam casas de shows e até
estádios, apenas Sepultura, Angra,Edu Falaschi e, talvez, o Krisiun conseguem manter
uma certa sustentabilidade em seus shows pelo Brasil, passando às vezes mais
dde uma vez por alguma capital.
É um período
longo de transição, em que mesmo festivais grandes, como o Primavera Sound,
está tendo de passar por ajustes – outros também farão -, mas ainda assim é preocupante observar que
não há indícios de mudanças significativas a médio prazo.
Assim como
em outros segmentos de nossa sociedade, o público consumidor está caminhando
para um conservadorismo que frequentemente é confundido com comodismo e
preguiça. Pouca gente está disposta a buscar o novo.
A predileção
pelo rock clássico, em todos os sentidos, não pode esvaziar a cena cultural e e
dificultar a bisca de espaços para qe novos artistas surjam – e não basta que
apenas surjam, é necessário criar condições para sejam, sustentáveis, em sua
maioria.
Por isso é bastante instrutiva a entrevista que o músico brasileiro Thiago França, da Charanga do França e da banda Metá Metá, concedeu ao programa de YouTube “Alt Cast”, comandado pelo jornalista Mauricio Gaia, integrante do Combate Rock, e pelo músico José Antonio Algodoal, guitarrista da banda Pin Ups. Ele conta como é ser um músico reconhecido internacionalmente, mas continuando no underground, no Brasil de hoje. Assista a seguir.
https://www.youtube.com/watch?v=7p9HYxFLZPM