- Direto das ruas de Belfast, capital da Irlanda do Norte, outrora conflagrada por décadas devido a desavenças religiosas e politicas (católicos
x protestantes, republicanos x unionistas/monarquistas) o trio Dea
Matrona mantém a sua ascensão com um hard rock simples e direto que
descamba para o pop bem feito.
Elas literalmente saíram das
ruas mesmo, já que até 2019 tocavam em uma esquina de sua cidade até serem
notadas e começarem a gravar singles e clipes.
No começo eram as irmãs Mollie
(guitarra, baixo e vocais) e Mamie McGuinn (bateria), com o apoio da amiga de
escola Orláithe Forsythe (baixo, guitarra e vocais). Com idades entre 17 e 20
anos, atraíram um público cativo na esquina e chamaram a atenção de radialistas
- eles ainda existem na Irlanda.
Lotando shows e aparecendo na
TV, logo começaram a gravar singles, entre eles "Stamp On It", o
melhor de todos, e ambicionavam uma turnê europeia quando a pandemia de
covid-19 atrapalhou os planos.
A retomada demorou, por mais
que fossem ativas na internet, e provocou uma baixa: Mamie, a mais nova,
decidiu retomar os estudos e deixou o trio, cedendo o seu lugar para outro
colega de escola, o garoto Jamie Hewitt, que tem mãos mais pesadas e
aceleradas. O baterista não aparece como músico integrante da formação
oficial
O hard pop ficou mais hard e as
duas vocalistas, que trocam de instrumentos constantemente durante os shows,
têm pleno domínio das ações, despejando uma enxurrada de influências, que vão
de Beatles e Led Zeppelin a Heart, Fleetwood Mac, Blondie, Joni Mitchell e
Runaways.
"For Your Sins", o
primeiro álbum, foi lançado no começo de maio e traz uma porção de boas canções
que mostram um bom potencial. São leves, inteligentes, com boas letras, mas
ainda carentes de algo mais "agressivo" e "ofensivo",
digamos assim. Falta uma boa dose de perigo
Jogando com segurança, o disco
abre com os dois maiores sucessos em singles. "Stuck On It" e "Stamp
It On", mostrando o melhor do pop mais pesadinho, e traz também canções
interessantes como "Black Rain", "Everynight I Want You" e
as pesadas "Wilderness" e "Dead Man's Heart".
A explicação para nome com sonoridade latina para uma banda irlandesa foi explicado a um jornal de Belfast em 2019 por Mollie: "É um nome que exalta o empoderamento feminino. Dea Matrona, na mitologia celta, era a deusa do rio Marne, na Gália [atual França]. Mātr-on-ā, em gaulês antigo, significa 'grande mãe'. Dea Matrona então é a deusa-mãe".
- A norueguesa Issa apareceu no anos 90 como a sucessora de Lita Ford, com a vantagem de cantava bem melhor. A escolha pelo hard rock tinha sido acertada e virou referência na Europa, vendendo muito e colocando pressão em cima da alemã doro Pesch, então a "Rainha do Metal" europeu.
Bonita e expansiva, acabou prisioneira de um modelo de mercado que explorava em demasia o hard rock dos anos 80 e, de certa forma, ea marcou passo em vez de buscar novos horizontes, com fez Doro e a própria Lira Ford.
A correção de rumos veio a partir de 2015 com uma série de bons discos, e culmina com o recém-lançado "Another World", que em que atualiza o seu som característico com timbres mais pesado de guitarra e uma produção um pouco mais moderna. Abraçou de vez o hard'n'heavy, sendo que está mais heavy do que hard.
"Another World" é uma sucessão dee clichês do subestilo, mas não soa cansativo derivativo como muitos grupos passaram a soar neste século ao abordar o som pesado e festivo de inspiração californiana. Ela mostrou habilidade em fugir das armadilhas que o hard joga pelo caminho.
"All These Wild Nights" é quase uma trilha sonora para propaganda de cigarros daquelas bem antigas, mas mostra um frescor que não deixa a canção cair na vala comum.
Mesmo com excesso de clichês, "Armed and Dangerous" agrada por sua melodia cativante ebons solos de guitarra, da mesma forma que a pesadinha "The Road to Victory" e a sombria "Only in the Dark".
Issa não vai ameaçar o trono de Doro, e certamente já desistiu de qualquer iniciativa neste sentido, mas tem força e boas ideias para manter o seu hard rock interessante para quem ainda tem saudade dos anos 80 mas ansiava por ouvir alguma "diferente". De forma paradoxal, o "diferente" (mas nem tanto) veio de uma artista veterana que domina como poucas essa área.
- Lane despontou em 1993, na Califórnia, em um circuito segmentado de música sinfônica e progressiva e, dois anos depois, ao lado do marido, o tecladista Erik Norlander, lançou seu primeiro disco, que foi bastante elogiado, mas vendeu pouco.
O sucesso chegou em 1998 com "Queen of the Ocean", onde refinou o seu rock progressivo com um tempero mais pop e um pouco mais de guitarras, além do baixo frenético e intenso de Tony Franklin (ex-The Firm, banda de Jimmy Page e Paul Rodgers).
A carreira progrediu bem até 2012, quando gravou e lançou "El Dorado", seu melhor álbum. Surpreendentemente, fez poucos shows e desde então viveu uma espécie de exílio pessoal, embora não tenha se afastado da música.
"Neptune Blue" é o seu retorno dez anos depois e em alto estilo, embora as canções deem margem a suposições de que já estivesse gravadas lá em 2012, pois parecem uma sequência imediata de "El Dorado".
Em vez de inovar, a cantora preferiu revisitar esquemas do passado e acabou se dando bem, aproveitando o ecletismo de Norlander, que domina todo o ambiente com suas linhas climáticas de teclados que preenchem todos os espaços.
"Bring It On Home" flerta com o blues e com o rock de arena e deixa a cantora brilhar em uma interpretação forte, enquanto que "Lady Mondegreen" recria ambientes setentistas em que bandas como Curved Air e Renaissance, com mulheres nos vocais, se destacavam.
Tem também uma balada, "Someone Like You", que destoa um pouco do que Lana Lane costuma fazer, mas as coisas voltam ao normal com as interessantes "Neptune Blue" e "Far From Home", mais acessíveis e com um acento radiofônico pop que lembram o som de artistas como Bonnie Tyler e Laura Branigan, divas dos anos 80.
Não dá para cravar que Lana Lane tenha sido uma artista injustiçada, mas certamente foi subestimada. Seu trabalho é de alta qualidade, ainda que derivativo do último CD, e aponta para caminhos interessantes, como podemos observar na pesada Remember Me", na claustrofóbica e rápida "Don't Disturb the Occupants" e nas clássicas e progressivas "Really Actually" e "Come Lift Me Up", esta mais lenta e bluesy.
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