quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A onda das bandas tributos e o comodismo que freia a ousadia

 

Um dos sintomas mais desagradáveis da demolição da indústria fonográfica neste século, além da óbvia perda de valor que a música – e a arte no geral – teve foi o desvirtuamento de vários aspectos mercadológicos envolvendo os hábitos culturais. Enquanto o mundo ainda tenta encontrar formas de tornar o negócio da música sustentável, sofremos cada vez mais com a desvalorização da atividade artística sem que tenhamos alguma perspectiva de achar uma solução.

Dentro desse panorama, a música autoral feita por artistas pequenos, do underground, encontra muitas dificuldades para encontrar algum lugar para ser apreciada e divulgada, e a coisa ficou pior com a proliferação das chamadas bandas covers, aquelas que só tocam versões de clássicos e hits nos bares da vida.

O fenômeno sempre existiu, e desde os anos 80 s]ão muitas as reclamações de espaços de menos para o trabalho autoral, com icos de situações realmente complicadas, como anos anos 90 – quem não se lembra das bandas Pnk Floyd Cover e U2 Cover, que lotavam casas noturnas para 3 mil, 5 mil pessoas?

A moda parecia ter ficado no passado, mas as bandas de versões voltaram com tudo a partir de 2015, tomando conta de quase todos os espaços possíveis no Brasil – leia-se botecos e restaurantes, quando não festas diversas. Com a desvalorização da música autoral outro traço do público veio á tona: uma preguiça enorme, um comodismo imenso, para procurar coisas novas e encontrar novos artistas. E uma pandemia devastadora de covid-19 só agravou a situação., então só no Brasil.

Muitos músicos de gabarito costumam dizer que há espaço para todos, e que os músicos de bandas covers também trabalham para levar entretenimento de qualidade. Estão corretos. O que se questiona é a desproporção que de tempos em tempos o mercado registra, comonos últim0s anos.

Essa febre conservadora de não valorizar tanto a música autoral tem outra febre colateral, que é a infestação das chamadas “bandas tributos”, muitas delas patrocinadas e/ou integradas por músicos sem mercado que foram integrantes das bandas originais. E elas redescobriram o Brasil recentemente.

Se o mercado estivesse a plena vapor e com uma indústria capaz de ser sustentável, não seria preocupante, mas não é o caso. A ata procura por essas bandas na América Latina evidencia os problemas que as bandas novas enfrentam para conseguir divulgar suas obras para um público que se mostra, em parte, comodista, preguiçoso e sem a menor vontade de conhecer coias novas.

Nos anos 2000 ficou mundialmente conhecida a banda Australian Pink Floyd, frequentemente citada como a melhor banda tributo do mundo naquela época. No entanto, nenhuma banda é alvo dos tributos como o Queen, tanto no Brasil quanto no exterior. A melhro delas, Queen Extravaganza, realmente é extraordinária, e tem o brasileiro Alírio Netto como vocalista principal. Em qualquer lugar do mundo costuma rivalizar com atrações autorais de médio porte na venda de ingressos.

Em nossos palcos, pelo menos quatro bandas internacionais importantes que fazem tributo tiveram ou terão passagens exitosas pelo Brasil. No primeiro Semestre tivemos o Dire Striays Legacy, uma megabanda com nove músicos, sendo que pelo menos três tocaram na banda original como integrantes ou como músicos de apoio. Nos próximos meses teremos Supertramp Experience (Supertramp_, Seattle Supersonics (Nirvana) e Letz Zep (Led Zeppelin), esta considerada o melhor tributo do mundo ao  quarteto inglês do guitarrista Jimmy Page. Todas estão com vendas bem altas.

Esse boom de apresentações das bandas tributo pela América Latina ocorre em um momento em que parece haver uma certa exaustão de grandes megaeventos, com ingressos encalhados para muitas atrações. Não foi por outro motivo que Ivete Sangalo e Ludnilla cancelaram turnês nacionais or estádios. Entretanto, vemos turnês nostálgicas como Titãs e bandas emo lotando os mesmos estádios.

Ok, há o apelo do revival, mas esmo assim é de se notar a força dessa nostalgia. Enquanto o Sepultura pena para esgotar ingressos em sua turnê de despedida pelo Brasil, muita gente nãopensa duas vezes em pagar caro para ver músicos desconhecidos, mesmo que bons, emularem as principais canções de bandas icônicas.  Uma coisa é ver gente como Paul McCartney desfilar canções de sua época dos Beatles – é revival do mesmo jeito -, e outra é apreciar uns desconhecidos tocar Nirvana  cobrando bem caro.

Essa paixão pela nostalgia está asfixiando o surgimento e disseminação de novos artistas, que demoram mais – quando conseguem – para atingir um público mais expressivo. Como sempre, existem as exceções de sempre que furam as bolhas e mostram bons desempenhos mesmo no underground, mas são muito poucos.

Existe espaço para todos, mas a moda está demorando para passar, acentuando a desproporção entre os covers e tributos e a cena autoral, principalmente no fragilizado rock brasileiro; Descontando-se as reclamações e os choramingos, é preciso constatar que os hábitos culturais que privilegiam os artistas que “homenageiam” as grandes bandas não são saudáveis.

Tirando os medalhões oitentista do rock nacional, que ainda lotam casas de shows e até estádios, apenas Sepultura, Angra,Edu Falaschi e, talvez, o Krisiun conseguem manter uma certa sustentabilidade em seus shows pelo Brasil, passando às vezes mais dde uma vez por alguma capital.

É um período longo de transição, em que mesmo festivais grandes, como o Primavera Sound, está tendo de passar por ajustes – outros também  farão  -, mas ainda assim é preocupante observar que não há indícios de mudanças significativas a médio prazo.

Assim como em outros segmentos de nossa sociedade, o público consumidor está caminhando para um conservadorismo que frequentemente é confundido com comodismo e preguiça. Pouca gente está disposta a buscar o novo.  

A predileção pelo rock clássico, em todos os sentidos, não pode esvaziar a cena cultural e e dificultar a bisca de espaços para qe novos artistas surjam – e não basta que apenas surjam, é necessário criar condições para sejam, sustentáveis, em sua maioria.

 Por isso é bastante instrutiva a entrevista que o músico brasileiro Thiago França, da Charanga do França e da banda Metá Metá, concedeu ao programa de YouTube “Alt Cast”, comandado pelo jornalista Mauricio Gaia, integrante do Combate Rock, e pelo músico José Antonio Algodoal, guitarrista da banda Pin Ups. Ele conta como é ser um músico reconhecido internacionalmente, mas continuando no underground, no Brasil de hoje. Assista a seguir.

https://www.youtube.com/watch?v=7p9HYxFLZPM

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