segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Os 30 anos do ‘Persistence of Time’, clássico álbum do Anthrax

Flavio Leonel - do site Roque Reverso



O dia 21 de agosto de 2020 marca o aniversário de 30 anos do disco “Persistence of Time”, do Anthrax, o quinto da carreira de sucesso do conjunto musical. O álbum é considerado um dos mais complexos da banda norte-americana de thrash metal e representa o fechamento da fase de ouro do grupo, que concentra também os discos “Among the Living” , de 1987, e “State of Euphoria”, de 1988.

“Persistence of Time” também foi o último álbum com a formação clássica do Anthrax, já que o vocalista Joey Belladonna deixaria a banda em 1991 para voltar ao grupo definitivamente apenas em 2010, já sem a presença do bom guitarrista Dan Spitz – este saiu da banda alguns anos depois, em 1995, e até voltaria momentaneamente entre 2005 e 2007, mas não gravaria discos de estúdio novamente com os históricos parceiros musicais.

Além de Belladonna e Spitz, estão na formação clássica que gravou o “Persistence of Time” o guitarrista Scott Ian, o baterista Charlie Benante e o baixista Frank Bello.

O álbum pode não ser melhor do que o indispensável “Among the Living”, mas traz o Anthrax numa fase madura e querendo arriscar um som mais complexo, refletindo uma tendência na época entre as grandes bandas de thrash metal.

Na ocasião, depois que o Metallica lançou o complexo e excelente “…And Justice For All”, as bandas de thrash metal seguiram a tendência que trazia canções mais longas do que o habitual do estilo, variações de andamento, viradas repentinas e inesperadas de ritmo, além de riffs diversos e distintos dentro de uma mesma faixa.

Depois do sucesso de vendas do “…Justice”, que é de 1988, o início dos Anos 1990 trouxe o Death Angel com o ótimo e complexo “Act III” e as bandas do aclamado Big Four (que traz, além do Metallica, o Slayer, o Megadeth e o Anthrax) numa linha parecida.

O fã de thrash metal teve um verdadeiro banquete à disposição a partir do segundo semestre de 1990. O Anthrax lançou o “Persistence of Time” em agosto, o Megadeth trouxe o disco “Rust in Peace” em setembro e o Slayer lançou o álbum “Seasons in the Abyss” em outubro.

Tal qual o “… And Justice For All”, são todos álbuns mais caprichados musicalmente do que essas bandas fizeram anteriormente. Até mesmo o Slayer, considerado o mais agressivo dos 4 grandes do thrash, traz uma técnica apuradíssima no “Seasons in the Abyss”.

Parecia existir, portanto, uma espécie de competição entre os grupos com discos cada vez mais elaborados. Importante dizer que esta competição também era perigosa, pois algum excesso na complexidade dentro do thrash metal poderia gerar algo rebuscado demais e capaz de tirar a agressividade marcante do estilo.

Tique-taque acelerado

Quando se fala em complexidade no rock, logo vem à mente a imagem do rock progressivo. E poucas coisas no rock são mais progressivas do que o Pink Floyd. É justamente com uma música de mesmo nome de um clássico do grupo britânico que o Anthrax inicia o álbum.

Se “Time”, do Pink Floyd, no álbum “Dark Side of The Moon”, traz um tique-taque histórico de um relógio na introdução, porque o Anthrax não poderia trazer algo semelhante, mas muito mais rápido no começo de seu álbum? A música “Time”, do Anthrax, começa com a aceleração do tique-taque e uma avassaladora introdução thrash que faz o olho do fã da banda longo brilhar.

Charlie Benante e Frank Bello dão a deixa para Scott Ian e Dan Spitz entregarem o riff poderoso. Com isso, logo na entrada, Joey Belladonna, no auge de sua voz, faz bonito e mostra porque ele tinha na ocasião o melhor vocal (tecnicamente falando) do Big Four.

A faixa “Blood” vem na sequência e amplia a agressividade do Anthrax. Rápida, a música supera os 7 minutos, é a mais longa do álbum e traz também elementos além do thrash metal, especialmente nos vocais.

“”Keep It in the Family” é a próxima e traz o Anthrax em plena forma, mostrando porque está entre as maiores do estilo musical. Scott Ian mostra aqui o motivo de ser considerado um dos maiores criadores de riff do thrash metal, já que praticamente brinca com um riff que vai acelerando aos poucos. Tente ficar sem bater a cabeça nesta faixa ou mesmo sem pensar em simular um roda de mosh! Se você é um fã clássico do thrash, é difícil.

Também vale destacar a boa letra, mantendo a tradição crítica do Anthrax. Para quem viaja na maionese e acha que música não pode trazer conteúdo político, está aí mais uma várias amostras do Anthrax de que o rock sempre foi contestação, e não apenas melodia.

“In My World” é a faixa seguinte e uma das três do álbum que ganhou clipe. A música mantém os riffs precisos e marcantes do Anthrax e tem como destaque o vocal perfeito de Belladonna. O clipe, apesar do som de estúdio, traz imagens da banda em show da turnê e é possível ver o cenário bacana que simula a capa do álbum e traz um relógio com os ponteiros girando.

“Gridlock” fecha o então Lado A do álbum. De todas até então tocadas, é a que menos chama a atenção, apesar de manter a levada thrash

Lado B

“Intro to Reality” abre o então Lado B. Instrumental, ela mantém uma tradição que, na época, era possível ver com mais frequências entre as bandas de thrash. Não é nenhuma “Orion”, do Metallica, mas serve para mostrar as qualidades musicais dos membros do Anthrax.

“Belly of the Beast” vem na sequência e também é uma das três do álbum com clipe. O vídeo por sinal traz imagens do Anthrax em turnê e circulando ao lado de locais históricos, como o Coliseu, em Roma, e o alemão Muro de Berlim, que havia sido derrubado meses antes, em novembro de 1989.

“Got The Time” é a terceira do álbum com clipe e a terceira do Lado B. É, de longe, a faixa mais popular do Anthrax, mesmo sendo uma cover de Joe Jackson.

Sempre presente nos shows da banda, ela tinha presença constante nos programas de metal das MTVs do mundo inteiro. O clipe é uma dos mais famosos da história do heavy metal e traz o Anthrax naquele jeitão thrash que angaria fãs do estilo. É a mais curta música do disco e a que, apesar de ser cover em nova roupagem, mais agrada os fãs da banda.

“H8 Red”, “One Man Stands” e “Discharge” fecham o álbum. Depois do “arrasa-quarteirão” “Got The Time”, parecia ali que o Anthrax tinha achado sua joia para puxar as vendas do disco. Tudo que viesse depois dela no álbum seria complementar e não chegaria aos pés da grande música.

Fim do disco e a constatação de que ele é clássico. Não por acaso, concorreria na categoria de Melhor Performance de Metal do Grammy de 1991, sem, no entanto, vencer, já que perderia para “Stone Cold Crazy”, do Metallica, nessas coisas inexplicáveis do Grammy de misturar em premiação faixa com álbum. O mesmo Grammy que bizarramente, em 1989, havia dado o prêmio de Melhor Performance Hard Rock/Metal para o Jethro Tull, em vez do favoritíssimo Metallica com o álbum “…And Justice For All”.

Depois de “Persistence of Time”, Joe Belladonna ainda gravaria um EP com a banda, “Attack of the Killer B’s”, de 1991, quando o grupo fez uma boa união com o hip hop do respeitado Public Enemy na ótima faixa “Bring the Noise”. O vocalista sairia em 1991 e voltaria somente em 2005 na turnê que tocou o álbum “Among the Living” na íntegra, e voltaria em definitivo em 2010 para o local de onde nunca deveria ter saído.

Nenhum comentário:

Postar um comentário