terça-feira, 1 de outubro de 2024

‘A Hard Day’s Night’, 60 anos: quando o rock começou a virar ‘arte’

Foram poucos os que perceberam a importância do lançamento: o rock chegando às telas de cinema cacifados por um sucesso estrondoso em meio a uma revolução cultural sem precedentes no Ocidente. Não era apenas uma moda ou um filme bobinho de garotos correndo e meninas gritando: era a consolidação do jovem com ator importante na sociedade de consumo.

 

“A Hard Day’s Night”, o filme criado e filmado para os Beatçes, completa 60 anos como o auge da beatlemania que assolou o mundo em 1964.  Se artisticamente há poucos argumentos para encontrar qualidades cinematográficas, em termos de counicação de massa é o arrombamento da porta – e derrubada do muro – erguidos para separar arte e entretenimento.

 

Acadêmicos de diversos matizes sempre relutaram em aceitar aquela “música de negros” como algo de valor artístico. ERlvis Presley, o rei, era desprezado por conta de seus movimentos corporais e por suas músicas “indigentes” em termos de letras. O blues de gente como Robert Johnson, Muddy Waters e Howlin’ Wolf não passava de música de rua, assim como  Woodie Guthrie e outros bardos country-folk não passavam de “jecas da roça”.

 

Ainda bem que havia gente jovem e moderna mas universidades americanas e na biblioteca do Congresso daquele país que entendeu o que estava acontecendo e, movidos pelo interesse suscitado pelo surgimento e sucesso de Bob Dylan, foram atrás da informação e da história. E fizeram história.

 

O primeiro filme dos Beatles chegou no momento em que a cultura popular e a cultura pop – coisas diferentes – começar a ser levadas a sério pelo mercado de forma ampla. Especialistas e estudiosos finalmente entenderam que os jovens, ainda que dependentes, de certa forma, economicamente dos pais e responsáveis – há muito ditavam compras, comportamentos e tendências dos dois lados do oceano Atlântico.

 

E o empresário dos Beatles, Brian Epstein, foi um dos primeiros a perceber isso. E aumentou ainda mais as possibilidades de ganhar dinheiro e de formar um novo mercado consumidor poderoso; Como astros pop de altíssima penetração, os Beatles podiam vender tudo. E venderam tudo.  Eram fenômenos de marketing e propaganda, mas só conseguiram isso porque faziam música de qualidade e se mostraram como grande novidade pop naquela década de 1960.

 

“A Hard Day’s Night”, filme e o LP que trazia a trilha sonora, são verdadeiras gemas pop e a gênese do que se tornou o mercado fonográfico voltado para a juventude. Ainda preservavam certa ingenuidade e um pouco da inocência daqueles tempos, mas começavam a apontar alguns caminhos mais instigante que viriam a seguir.

 

A estética dos videoclipes dos anos 70 e 80, com a massificação da MTV, começou com o filme dos Beatles.  A faixa-título abriu o leque para algumas experimentações, a começar pelo acorde inicial, indicando que a música seria mais pesada do que os espectadores e ouvintes estavam acostumados.

 

As baladas “And I Love Her” e “IF I Fell” trilhavam caminhos mais densos e enveredavam por outros tipos de sentimentos, indo além as chorosas canções de amor. “I’ll Cry Instead” era uma canção diferente que abusava do sarcasmo e da ironia, enquanto “When I Get Home” tinha uma agressividade pouco usual até então no repertório da banda.

 

O carro–chefe, “Can’t Buy Me Love”, ainda mantinha os pés no “passado”, digamos assim, investindo nos códigos que ainda sustentavam a beatlemania, assim como a massiva e ganchuda “I Should Have  Known Better”, feita sob medida para o gosto estridente dos adolescentes da época.

 

Históricos sob muitos aspectos, o combo “A hard Day’s Night” preparou  os Beatles e todo o mercado de música pop para desafios interessantes nos anos seguintes. Agora que o rock era “arte” e reconhecido por críticos antes ásperos e reticentes, como seria possível avançar e oferecer algo mais classudo sem perder a veia pop e comercial?

 

Coo seria possível conciliar aspirações da juventude em busca de liberdade e independência com os aspectos de “moral e bons costumes”  que ainda predominavam? As respostas vieram dos próprios Beatles, que estavam amadurecendo rápido, e da molecada pouco disposta a ficar a reboque do que diziam os mais velhos.

 

Movidos a blues e guitarras, os garotos inglses deram a letra, bradando que queriam mais satisfação (“[I Can’t Get No] Satisfaction”, com os Rolling Stones) e “quero morrer antes de ficar velho” (verso de “My Genereation”, de The Who).

 

E foi Bob Dylan que definitivamente decretou que o rock era arte quando lançou uma série de canções entre 1964e 1965, culminando na dupla de hits magistrais “Blowin’ n tge Wind” e “Like a Rolling Stone”, verdadeiras crônicas sociais com algo de protesto folk.

 

A portira estava aberta e os muros, derrubados. Os Beatles saíram de “A Hard Day’s Night” gigante e monstruosos, mas conscientes de que tinham de andar por outras bandas. E então veio o sisudo “Beatles For Sale”, de dezembro de 1964, um álbum mais reflexivo que contém joias como “Every Little Thing”, “Words of Love”, “Eight Days a Week” e as pesadas, tanto no som como nos temas, “baby’s um Black”, “No Reply” e “I’m a Loser”.

 

Os Beatles realmente acreditaram que rock era arte e invadiram a seara da música erudita ainda em 1965, com os singles “Yesterday” we Michelle”, ambos com belíssimos arranjos de cordas que elevavam o padrão de criatividade na música pop – e, no ano seguinte, atingiriam i auge nesse cainho com as maravilhosas “Eleanor Rigby” e “Here, There and Everywhere”, do disco “Revolver”. Neste também tem o flerte com o jazz “Got to Get Into My Life” e com o rock progressivo em “Tomorrow Never Knows”.

 

E quem diria que “A Hard Days Night” roperia barreiras e furaria o bloqueio da “Cortina de Ferro” dos países comunistas tutelados pela União Soviética? Foi o que aconteceu, como pode Sr lido neste interessante texto publicado pelp site “Music Non Stop” - https://musicnonstop.uol.com.br/a-hard-days-night/

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