quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Com a espreita do fascismo, 'Ainda Estou Aqui' fica muito mais relevante

 Marcelo Moreira




Em uma sincronicidade inquietante e assustadora, o filme mais importante do no e assunto de toas as conversas é “Ainda Estou Aqui “, de Walter Salles Júnior, baseado em três livros escrito por Marcelo Rubens Paiva e tendo como pano de fundo o desaparecimento de seu pai, o ex-deputado federal Rubens Paiva, em 1971.

O filme ganha mais relevância depois de novos atentados aos Três Poderes, em Brasília, na quarta-feira, 3 de novembro, por um extremista fascista lunático – poucos dias depois da eleição do extremista lunático Donald Trump para presidente dos Estados Unidos.

As bombas detonadas na Praça dos três Poderes por um terrorista do tipo “lobo solitário” ocorreu horas depois de deflagradas várias campanhas nas redes sociais de boicote ao filme de Salles, indicado ao prêmio de Melhor Fro em 2025.

Os lixos bolsonaristas de todos os matizes e níveis de coliformes fecais não s conformam com o fato de a fita destruir a ditadura militar e expor os seus horrores como um regime assassino e monstruoso.

Boicote e atentado tornam “Anda Estou Aqui” muito mais relevante e importante para demolir o negacionismo e a perniciosa rede de desinformação que tenta rotular o filme como “esquerdista e ideológico”, como se isso o desqualificasse

O filme é ideológico sim porque é antifascista e denuncia o imenso lixo político que foi a assassina ditadura militar. Baseado em fato reais e nos depoimentos de um dos filhos da vítima maior, expõe os crime cometidos e o clima de terror instaurado Brasil dominado por gangues fardadas sem controle e por bandidos travestidos de policiais.

É evidente que um filme engajado em denunciar os crimes da ditadura brasileira e expor as responsabilidades dos militares iria incomodar toda a sorte de extremistas e de direita e fascistas facínoras que apoiaram a desgraça mortal que dominou a América Latina nas décadas de 60 e 70 do século passado – é gente que tem como ídolos os generais Piinochet (Chile), Stroessner (Paraguai) e Videla (Argentina), além do brasileiro Médici.

O filme dirigido com rara sensibilidade é uma aula de história, bem acima da média das produções da atualidade. Terá uma importância muito mais histórica, política e social do que artística, o que já é maravilhoso.

Apesar de sua importância inerente – que cresceu muito pelos acontecimentos das últimas horas--, não se trata de uma obra-prima, mesmo sendo muito bom. Causará algum impacto no Oscar 2025, caso seja escolhido, mas terá poucas chances de vitória. Só que o “estrago” está feito nas hostes fascistas que babam de raiva pelo fato de o cineasta ser filho de um banqueiro e pertencer a uma das famílias mais ricas do país.

“Ainda Estou Aqui” é o filme brasileiro mais importante dos últimos cinco anos pela sua qualidade e também pelo que representa nestes tempos conturbados e perigosos. . É tenso, denso, claustrofóbico e, ao mesmo tempo, sensível e termo, que ressalta como a resiliência e a resistência tiveram importância crucial nos anos de chumbo.

A trilha sonora é igualmente boa, à altura do que a dimensão histórica e artística pede. Tem Caetano Veloso, Tim Maia, Roberto Carlos, Mutantes, Tom Zé, Nelson Sargento, Beth Carvalho e outros artistas importantes da época, compondo um painel relevante de como estava a cultura no auge da violência da ditadura militar.

Faltou alguma coisa de Black Sabbath para realçar o clima de terror, algo como “Paranoid” ou “War Pigs”. As escolhas refletiram, provavelmente as artimanhas utilizadas para evitar os confrontos, com canções que privilegiavam figuras de linguagem como metáforas, ironias e analogias. Faz sentido, mas caberiam bem em algum momento para caracterizar os anos de chumbo.

Copie o  link ou clique para escutar a trilha sonora “Ainda Estou Aqui”.

https://open.spotify.com/playlist/2vxMHb9FvS4EUQRBrc9Ixb?si=CZI8aoGbTKWQ6bkLtv4pXg


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