sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Marcelo Gross mostra a força de sua música ao vivo

 

 Ricardo Alexandre – especial para o Combate Rock

 

 

Quando apareceu para o grande público no início dos anos 2000 a bordo da Cachorro Grande, Marcelo Gross emitia um sinal ao mesmo tempo de rápida assimilação e traiçoeiro: com seu terninho mod impecável, seu chapéu de pescador grego inspirado em John Lennon, e sua guitarra Rickenbacker perfeitamente timbrada, estávamos diante de uma banda retrô. Que grande engano!

 

 

Apesar do conhecimento enciclopédico dos garotos e do sem-fim de referências aos anos 60 e 70, o que estávamos assistindo era muito mais a construção de uma obra sólida, baseada não no passadismo, mas na autoridade sobre as diversas linguagens e subgêneros do rock, de todos os tempos, de todos os lugares.

 

 

Quase 25 anos depois da estreia da banda e mais de uma década de uma carreira solo musculosa “Grossroads – Marcelo Gross Ao Vivo” parece colocar as coisas em sua perspectiva correta.

 

O álbum foi gravado ao vivo no Teatro de Câmara Tulio Piva em Porto Alegre nos dias 21 e 22 de março de 2024, em duas noites que também renderam um explosivo registro audiovisual, com 10 músicas, das quais cinco já estão disponíveis no canal oficial do artista no Youtube.



Com Eduardo Barretto (baixo), Lucas Leão (bateria) e Jimmy Pappon (teclados), Gross defende suas mais de duas décadas de contribuição ao pop brasileiro como cantor, compositor e guitarrista de forma serena, espontânea e segura.

 

 

Em cima do palco, em ambiente aconchegante, emerge o óbvio: em sua música e performance, há rock beat, há baladas stoneanas, há britpop, há new wave of new wave, há ecos a Erasmo e Mutantes, mas Gross flutua por sobre tudo porque está claro que não estamos diante de um retransmissor, mas de um criador com cada versículo do grande livro do rock escorrendo misturado a seu suor.

 

 

 As duas músicas inéditas do repertório são como peças-chave para entender isso:  Linguagem dos Sinais” é um rock estradeiro de amor levemente surrealista que resume boa parte das aventuras musicais de Gross desde seus tempos na banda de Júpiter Maçã, em meados da década de 1990.

 

 

A versão para “Cosas Imposibles” intitulada “Coisas Impossíveis”, tributo ao gigante latino Gustavo Cerati (ex-Soda Stereo), uma referência autoexplicativa tanto a outro guitarrista-compositor que renovou seus horizontes em carreira solo, quanto às ligações do pop gaúcho com o pop argentino, fronteira poucas vezes cruzadas pelos brasileiros. Herbert Vianna (uma das exceções) costuma dizer que os argentinos tocam rock com tanta propriedade e confiança como se eles próprios tivessem inventado o estilo. 

 

 

Ouvindo o álbum fica difícil não aproveitar o trocadilho do título e imaginar Marcelo Gross em alguma encruzilhada do Mississipi inventando o rock, ou o folk-rock, a Swinging London, a psicodelia ou qualquer movimento desdobrado a partir daí.

 

A maior parte do repertório de GROSSROADS é pescado dos dois primeiros álbuns solo de Gross: Use o Assento Para Flutuar, de 2013 (“Eu Aqui e Você Nem Aí” e “A Hora de Levantar”) e Chumbo e Pluma, de 2017 (“Me Recuperar”, “Alô, Liguei”, “Quase Fui” e “Purpurina”).

 

 

Duas músicas são clássicos da Cachorro Grande: “Dia Perfeito” (de 2001) e “Sinceramente” (de 2005). É significativo como todas elas, no calor valvulado da performance ao vivo, revelam um corpo-de-trabalho coeso e arejado.

 

 

 “Grossroads” é projeto-irmão do recém-lançado livro “Grosswords”, uma reunião de uma centena de letras de toda a carreira do músico gaúcho. O álbum chega às plataformas digitais em 25 de outubro de 2024, em um lançamento da Imã Records.

As 10 canções do disco ao vivo:

1. Me Recuperar

2. Alô, liguei 

3. Eu Aqui e Você Nem Aí

4. Coisas Impossíveis

5. Dia Perfeito

6. Quase Fui

7. Linguagem dos Sinais

8. A Hora de Levantar

9. Sinceramente

10.           Purpurina

 

Ficha Técnica

Voz e guitarra: Marcelo Gross
Baixo: Eduardo Barreto
Teclados: Jimmy Pappon
Bateria: Lucas Leão
Gravação e mixagem: Fernando Dimenor
Assistente de gravação: Rafael Pacheco
Masterização: Marcos Abreu
Produção executiva: Antonio Meira

 

** Ricardo Alexandre é jornalista, escritor e criador do podcast “Discoteca Básica”

 

** Texto cedido gentilmente por Marcia Stival Assessoria

Nenhum comentário:

Postar um comentário