terça-feira, 30 de abril de 2024

Com menos rock e mais plural, Rock in Rio enfurece os puristas

 Sai AC/DC, entram Zeca Pagodinho e Chitãozinho e Xororó Se a ideia era irritar os apreciadores de rock, então os organizadores do Rock in Rio capricharam. O festival que se arvora no direito de dizer que é o maior do mundo do entretenimento atualmente reforça a tese de que a música ficou secundária e que é apenas um ingrediente, e importante, de um evento bilionário.

Tem sido assim em todas as edições desde 2011, quando o rock progressivamente espaço para artistas do pop, do rap, da música eletrônica e outros gêneros. Portanto, qual a surpresa com a escalação de sambistas e sertanejos no Rock in Rio 2024? Até que demorou...

A fritaria geral é porque o rock está reduzido a um dia, 15 de setembro, e com atrações que não despertam paixões.

Oos ingleses do Deep Purple, por exemplo, com 57 anos de carreira e integrantes quase octogenários, costumam visitar o  Brasil a cada dois anos, Não são novidade. A desfigurada banda Journey, à beira de seu cinquentenário, é desconhecida da atual geração de roqueiros. 

Evanescence? Esteve aqui no ano passado, com a vocalista Amy Lee viralizando por conta da simpatia e pelos passeios de ônibus urbano e trem de subúrbio em São Paulo.

Avvenged Sevenfold? Já foi grande e hoje perde em relevância para qualquer banda média que tocou no ótimo Smmer Breeze Brasil, em abril.

Para completar, os brasileiros Planet Hem,p,, Pitty, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso, todos "clássicos" e com no mínimo três participações em Rock in Rio.

A irritação se justifica, em parte, pelo fracasso em contratar o AC/DC, que também está desfigurado, mas é o AC/DC, que veio ao Brasil pela última vez há 15 anos. A banda australiana declinou do convite porque acertou outras data em sua turnê mundial para a mesa época.

O que ninguém esperava era que o dia do heavy metal, com isso, fosse substituído por algo do tipo "festa brasileira" em 21 de setembro, com o anúncio de uma profusão de sertanejos, pagodeiros e sambistas em um evento que deveria ser de rock

Abusando dos mesmos nomes de sempre - Guns N' Roses, Iron Maiden -, a curadoria foi perdendo a credibilidade até que ousou em 2017, quando conseguiu convencer The Who a tocar no hemisfério Sul, e em 2019, quando inovou ao escalar o King Crimson no palco Sunset. A mesmice voltaria a dar as caras em 2022.

É desagradável, mas o festival já dava indicações de que esse era o futuro: cada vez menos rock, cada vez mais artistas populares de qualquer gênero; Tem gente que não engole até hoje as presenças de Claudia Leitte, Ivete Sangalo, Anita e uma coleção de cantoras americanas artificiais e platsficadas nos últimos dez anos. geralmente a gritaria vem de gente que nunca foi ou jamais irá ao Rock in Rio.

Uma parte dos críticos nem reclama tanto da escalação de sertanejos e sambistas - afinal, desde 1985, com Alceu Valença e outras presenças da MPB, que o festival abre espaço para outros gêneros. A questão é que a música fica cada vez menos importante,

A descaracterização do festival, progressiva desde 2011, é só mais um sintoma da perda de relevância cultural em festival do entretenimento. 

O Rock in Rio virou um imenso parque de diversões onde é necessário chamar um sertanejo como Luan Santana para garantir algum público para a música além dos brinquedos diversos; O entretenimento solapou a cultura e a música.

outra constatação é que esse tipo de festival, cada vez mais monumental e grandioso e cheio de outras coisa além da música, está se tornando um evento para quem nem gosta tanto assim de música. É uma marca que começa a ser associada outro tipo de entretenimento, mais global e plural, só que cada vez mais distante da relevância cultural que já teve.

É triste, mas jamais nos esqueçamos: a importância histórica e cultural do Rock in Rio na vida brasileira é gigantesca. É um marco tão grande quando a Proclamação da República, as Revoluções de 1939 e 1932, a derrubada de Getúlio vargas, em 1945, a Revolução/Ditadura Militar de 1964 e a Redemocratização de 1965, só para citar alguns fatos importantes. 

Foi o Rock in Rio que mostrou ao país que existia uma cultura popular e jovem, e que esse jovem era um importante sujeito dentro do mercado consumidor.  Nada é para sempre, e o Rock in rio não está morrendo - ao contrário -, mas jamais será novamente o que nos acostumamos a curtir - um festival de música e de rock.


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