Marcelo Moreira
Golden Earring em 1974, no programa de TV 'Top of the Pops', da TV inglesa (FOTO: REPRODUÇÃO/WIKIPEDIA)
Uma banda de rock que completa 60 anos de carreira, e de forma ininterrupta. Não são os Rolling Stones, não é o Status Quo, e nem os Kinks (que pararam, em 1996). Não é inglesa e nem norte-americana e mantém a mesma formação por 50 anos.
Nem mesmo os integrantes do Golden Earring acreditam. Para o baixista Rinus Gerritsen, prestes a fazer 75 anos de idade, a banda que ele fundou em 1961 em Haia, na Holanda, deveria ser algo nem tão sério.
Em seis décadas de existência, por mais que o som do grupo tenha ficado restrito à Holanda, Inglaterra e Alemanha a partir dos naos 80, passearam pleo pop, pelo rock mais pesado, pelo progressivo e também pelo formato acústico, no qual viraram referência na Europa.
As comemorações dos 60 anos, no entanto, não poderão ser festivas, e o motivo não é a pandemia de covid-19, que paralisou o mercado de shows no mundo inteiro.
George Kooymans, guitarrista e fundador, foi diagnosticado com uma doença degenerativa (esclerose lateral amiotrófica) aos 72 anos e terá de parar de tocar. Com isso, a banda anunciou em 5 de fevereiro que encerrará suas atividades por conta disso.
Como pode uma banda seguir firme e enfrentar todas as crises de mercado por 60 anos? "Parece-me clichê, e é mesmo, mas tem muito de amizade, respeito e amor pela música. Tivemos a felicidade de ter uma carreira longa, bem conduzida e foco no que devíamos fazer e como deveríamos soar", disse Gerritsen à revista inglesa Classic Rock anos atrás.
Gerritsen e companheiro George Kooymans se conheceram ainda adolescentes em Haia e logo deixaram o futebol nas ruas de lado e começaram a curtir juntos os discos de vinil que ambas as famílias possuíam.
Naquele mesmo ano de 1961 fundaram o Golden Earrings (com s mesmo no final, só abandonado em 1970). Rinus tinha 15 anos e George, 13. Mal sabiam tocar guitarra e teclados, muito menos cantar, mas receberam apoio de um descobridor de talentos, Fred Haayen, da Polydor holandesa.
A banda começa tomar forma, mas só em 1965 recebem alguma alguma atenção e gravam o seu primeiro compacto - "Please Go" e "Chunck of Steel", canções em inglês, como o mercado holandês exigia, deixando a língua natal para as canções folclóricas locais.
Por algum tempo, nos anos 60, a formação contou com Kooymans na guitarra, Gerritsen no baixo, Frans Krassenburg nos vocais, Peter de Ronde na guitarra e Japp Eggermont na bateria.
Fizeram um sucesso moderado na segunda metade dos anos 60, enfrentando constantes viagens à Inglaterra para gravar, a saída de Krassenburg, os vocais sem muito entusiasmo de Kooymans e a chegada de um novo cantor, o carismático Barry Hay, nascido na Indonésia.
E foi no mítico ano de 1967 as começaram a acontecer, sendo que a formação clássica se estabilizou em 1970 com o baterista virtuoso Cesar Zuiderwijk substituindo Eggermont.
A banda decola e se torna um fenômeno europeu e bem aceita nos Estados Unidos. Foram pelo menos dez anos de estrelato e ocasionalmente recebendo um tecladista como um quinto elemento.
A banda em 2012, em foto promocional para o último disco lançado (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Um grande sucesso foi a canção "Radar Zone", que tocou bastante por aqui. Já nos anos 80, veio a bacana "Twilight Zone", que uniu a banda em 1982 em um momento de crise. A canção deveria sair no disco solo de estreia de Kooymans, mas os produtores o convenceram a adiar sua saída da banda e lançá-la como single. Deu certo e os plan os de separação foram arquivados.
Classic rock por excelência, o Golden Earring manteve certo cartaz na Europa durante os anos 80 se equilibrando entre o hard rock e pop mais sofisticado na linha Roxy Music.
Nos anos 90, a grande sacada foi aderir de cabeça ao formato acústico, o que agradou em cheio às plateias da Alemanha, Bélgica, Dinamarca e Suíça, que substituíram com sucesso os públicos inglês e norte-americano. Até hoje, todos os shows, fazem um set acústico e outro elétrico, e adoram essa formatação.
Dividem até hoje as honras de maior banda da Holanda como Focus, gigante do rock progressivo. São 33 álbuns desde 1965, além de outras 17 coletâneas, embora seu último álbum seja de 2012.
Embora pouco conhecida das atuais gerações, especialmente no Brasil, é uma banda que merece muita atenção pela qualidade de seu trabalho.
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