segunda-feira, 8 de março de 2021

Dia da Mulher: em tempos de pandemia, as mulheres dão tom no rock nacional

 Marcelo Moreira

Malvada (FOTO: PRI SECCO/DIVULGAÇÃO)

O segundo Dia Internacional da Mulher da pandemia de covid-19 vem carregado de melancolia e fúria. Um ano sem shows, sem atividade cultural que gere renda e dê algum tipo de perspectiva para o mundo colocou a faca mos dentes das "minas" e elas decidiram colocar para fora todo o peso que conseguiram acumular.

As garotas ainda precisam caminhar muito para atingir um patamar de igualdade no rock e no metal em relação a respeito. Machismo, sexismo e violências de todos os tipos são frequentes quando elas empunham guitarras e berram, frequentemente muito melhor do que a maioria dos roqueiros que se acham os melhores.

O show de baixaria que vimos e lemos quando da implosão do então trio Nervosa, no ano passado, mostra que o Brasil bolsonarista lixo demorará séculos para chegar a um grau mínimo de civilidade e de respeito os direitos humanos. O preconceito está na ordem do dia.

E é isso que destacam as bandas femininas que fazem o som pesado e violento para marcar posição e mostrar que elas mandam no pedaço, e mandam, muito bem.

Em tempo quase recorde, a Nervosa implodiu e renasceu como um quarteto internacional, com musicistas da Espanha, da Itália e da Grécia. Jà gravaram e lançaram o CD "Perpetual Chaos", uma pancadaria thrash metal moderna e batendo em todas as instituições corruptas e que abusam da violência e de vários tipo de preconceitos.

O trio The Damnnation, no EP "Parasite", segue na mesma linha ultraviolenta e extrema, demarcando territórios e colocando a faca na garganta dos incautos. É desgraça e porrada para escancarar diversos males de nossa vida moderna.

The Damnnation (FOTO: JESSICA MAR/DIVULGAÇÃO)

Menos extrema, mas também contundente, é a banda Malvada, um quarteto feminino que aposta no hard rock em português e estapear os preconceituosos e misóginos que  ainda insistem em "demarcar" os territórios femininos, "ditando" o que as minas podem ou não fazer, tocar ou cantar. AMalvada passas por cima como um rolo compressor.

A Crypta, em vias de terminar as gravações de sua estreia, promete estremecer os muros e edifícios com um death metal avassalador, com uma postura política e social mais afrontadora, como tem de ser nestes tempos obscuros e perigosos. Fernanda Lira (baixo e vocais) e Luana Dametto (bateria), as duas ex-Nervosa, são conhecidas por seus pensamentos e posturas pró-direitos humanos em todos os sentidos.

No exterior, vemos a ascensão de bandas importantes lideradas por mulheres, como Blues Pills e Pretty Reckless, que variam entre o blues e o som mais pesado. 

Nunca a proeminência das garotas no rock foi tão necessária como nestes tempos difíceis sem shows e cm confinamento social. É a hora de ocupar os espaços. 

Se o Dia Internacional da Mulher serve para alguma coisa, é para aproveitar e mandar recados contundentes sobre as mudanças mais do que bem-vindas. Mais do que resistir, é hora de avançar e tomar de assalto os palcos e as mentes

Abaixo, citamos algumas das bandas em que as garotas estão com tudo e fazendo rock dos bons:

– Sinaya – banda feminina com potencial para seguir os passos da Nervosa, mesmo com a saída recente da ótima guitarrista Renata Petrelli. Também faz um thrash metal poderoso, barulhento, desgracento, impossível de não ser notado. Grande surpresa da música extrema dos últimos anos.

– Melyra – quinteto feminino carioca que demorou para engatar uma sequência artística no rock pesado, mas que segue firme para se juntar a Nervosa e Sinaya mostrando que as meninas não estão para brincadeira. O som delas é uma porrada.

– Torture Squad – desde que Mayara Puertas assumiu os vocais do Torture Squad, esta banda paulistana voltou a ter grande destaque dentro do metal nacional trazendo novos elementos a sua música extrema. Com um desempenho avassalador, a moça ampliou as grandes possibilidades que o grupo sempre demonstrou.

– Pitty – a roqueira baiana chega aos 40 anos como referência dentro do pop rock brasileiro. Maior nome feminino dentro deste segmento, conseguiu amansar um pouco a fúria do antigo som pesado dos anos 90 e 2000, mas nunca deixou de incomodar com suas letras diferentes e reflexivas.

 

Freesome (FOTO: DIVULGAÇÃO)
 

– Freesome – banda paulista de hard rock que aborda temas picantes e, muitas vezes, de viés sexual, em suas letras. No entanto, é na voz de Juh Leidl que estão os maiores méritos do grupo. Artista plástica renomada e reconhecida, tem uma voz forte e faz de sua interpretação um trunfo importante para mostrar que a banda merece ser ouvida.

– Vox Ígnea – outra boa banda paulista de hard rock, desta vez cantando em português. Raquel Lopes, a vocalista, nem tem uma voz tão potente, mas compensa com muita intensidade na interpretação e pela boa noção de melodia. A banda por enquanto tem apenas um EP lançado.

Vox Ignea (FOTO: DIVULGAÇÃO)

 
– FlowerLeaf – banda poderosa que mistura rock sinfônico com metal progressivo, tem na voz de Vivs Takahashi um dos principais méritos. suas interpretações são notáveis, especialmente no mais recente trabalho da banda.

– Shadowside – Dani Nolden ainda é bem novinha, mas é veterana da cena metal do Brasil. ela sua banda já rodaram os Estados Unidos e a Europa, com excelentes resultados. Não tem o treinamento lírico de Vivs Takahashi, mas conquistou um espaço importante no cenário, tanto que ainda hoje é considerada a melhor cantora do heavy metal nacional.

– Blixten – Kelly Hipólito tem uma voz mais rasgada e lembra bastante cantoras com um timbre parecido com o de Leather Leone (ex-Chastain). A banda tem apenas um EP na praça, mas faz heavy tradicional vigoroso e interessante.

- Fábrica de Animais – banda que é uma das preferidas da turma do Combate Rock, faz rocn'n'roll vigoroso puxado para o blues, com um tempero mágico da atriz e produtora teatral Fernanda D'Umbra, que incorpora de forma estupenda os personagens das histórias urbanas que compõem o repertório da banda.

– Vandroya – Outra boa banda paulista de power-heavy metal tradicional. sua vocalista, Daísa Munhoz, é um a das vozes do projeto Soulspell e também uma das mais requisitadas para participações especiais em CDs e shows de outras bandas.
 
– Ignispace – banda novata de São Paulo que faz heavy tradicional na linha de Iron Maiden e bandas britânicas dos anos 80. A voz de Larissa Zambon é potente e melódica, com bom alcance de notas altas e versatilidade na busca de timbres mais pesados. 

– Bia Marchese – É a voz feminina do blues de maior destaque no Brasil desde o lançamento do álbum "Let Me In", há dois anos. De voz marcante e versátil, é capaz de ir do jazz mais tradicional à mais agitada e pesada soul music, passando pelo blues encarnado e envolvente.

– Gabi Gonzalez – é quase impossível rotular o som que a guitarrista paulista faz. Passeia com desenvoltura no jazz, no rock, no blues e na MPB, sempre ladeada pela banda Com Elas, que nomeia também o seu mais recente CD.

– Hard Blues Trio – Blues rock gaúcho de ótima qualidade, tem uma sonoridade muito parecida com a da banda americana Trample Under Foot, que está parada desde 2015. O destaque é a baixista e vocalista Dani Ela, uma instrumentista versátil e uma cantora espetacular, com voz rouca e curtida na estrada.

- Clandestinas - banda punk paulista que tem no engajamento sociopolítico uma de suas armas para enfrentar as hostilidades de um rock machista e sexista que ainda empesteia a nossa sociedade. Banda que promete marcar época no rock brasileiro.

The Mönic (FOTO: DIVULGAÇÃO)


- The Mönic - Outra banda radicada em São Paulo que tem engajamento em várias causas, embora com letras mais sutis e menos diretas. Já conquistou um público fiel no underground da capital paulista e seu primeiro álbum foi muito bem recebido.

- Far From Alaska - banda potiguar radicada em São Paulo e que ganhou notoriedade por participar de grandes festivais e lançar dois álbuns expressivos com uma sonoridade alternativa e moderna, A vocalista Emmily Barreto participou do último álbum do Sepultura.

- Time Bomb Girls - trio feminino que abusa de forma bem humorada de uma mistura de punk com rockabilly com ótimos resultados.

- Sacrificed - banda mineira de metal extremo com um som duro como aço e que corta como uma motosserra afiada. É um dos nomes emergentes do metal nacional, embora não seja novo. Os vocais da cantora Kell Hell estremecem as paredes.

- Hatefulmurder - outra veterana banda de metal, desta vez do Rio de Janeiro, que apostou nos vocais femininos recentemente. Angelica Burns tem uma agressividade e uma violência que lembram Angela Gossow, ex-cantora do Arch Enemy. 

- Ajna - capitaneado pela incansável Elizabeth Queiroz, lançou recentemente um novo álbum com mensagens fortes e duras de cunho sociopolítico. A cantora é uma militante pelos direitos humanos e tem atuação elogiável em várias outras áreas. É um dos grandes nomes do rock brasileiro atual.

Um comentário:

  1. A mulher pode ser o que quiser, viva as mina do Rock...e continuemos a luta por respeito, liberdade ...

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