segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Prêmio de Fernanda Torres é a redenção cultural de um país em processo de cura

 Marcelo Moreira

Fernanda Torres recebe o Globo de Ouro (FOTO: REPRODUÇÃO DE TV)


Não pode ser só coincidência. Tem de ser um sinal de que as coisas vão melhorar, ou de que, ao menos não vão piorar. A atriz Fernanda Torres venceu o prêmio do Globo de Ouro como Melhor Atriz de File Dramático por sua ótima atuação em “Ainda Estou Aqui”.

O prêmio foi anunciado no mesmo dia em que seres execráveis decidiram divulgar retrocessos pelo mundo. O lixo humano Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, anunciou que vai conceder perdão a todos os terroristas condenados por tentar invadir o Congresso e dar um golpe de Estado em 6 de janeiro de 2021, em Washington. O protofascista Trump seria o beneficiado.

Na Argentina, o deplorável presidente Javier Milei mandou fechar o Centro Haroldo Conti, um museu que relembrava os sete anos da ditadura militar assassina que matou 30 mil pessoas entre 1976 e 1983., Segundo o ministério ao qual estava vinculado, o museu passaria por completa “restruturação” porque tinha perdido o sentido de sua existência.

A vitória de Fernanda Torres é um bálsamo de esperança diante de um mundo cada vez mais perigoso e dominado por gente nojenta que fermenta e dissemina o ódio - gente fascista que relativiza e estimula racismo e todo o tipo de preconceito, entre outras coisas odiosas. O prêmio credencia a brasileira a sonhar com a estatueta do Oscar em fevereiro.

O Globo de Ouro é o segundo prêmio mais importante do cinema mundial, conferido pela imprensa estrangeira que cobre Hollywood. Tem o mesmo peso que as premiações dos festivais de Berlim, Cannes e Veneza. Por isso a vitória de Torres é uma porrada imensa no mundo fascista e da extrema-dreita do Brasil e do mundo.

O sucesso do filme e o troféu de Fernanda Torres incomodam tanto que u deputado federal da extrema-direita, o ex-ator Mario Frias (tão ruim em novelas que abandonou a profissão), do PL paulista, desancou a atriz e o diretor da fita Walter Salles, xingando-os de engajados e de mentirosos por promover um filme “mentiroso” a respeito do regime militar.

Criticou duramente políticos conservadores e de direita que assistiram ao filme e elogiaram a obra e a atriz. Essa pessoa lastimável foi secretário nacional de Cultura no governo péssimo do nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Ainda Estou Aqui” foi dirigido por Walter Salles, o mesmo de “Central do Brasil”, que ganhou o Globo de Ouro em 1999. Estrelam o filme Fernanda Torres, Fernanda Montenegro e Selton Mello. Baseado em três livros de Marcelo Rubens Paiva, um deles como mesmo nome do filme, narra a saga da família Paiva, encabeçada pelo engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva.

Em 1971, Rubens Paiva, um simpatizante da esquerda, é preso no Rio de Janeiro acusado d “subversão” e apoio à luta armada. Era o período mais duro da ditadura militar. Ele nunca mais foi visto e seu corpo nunca foi encontrado.




Sua mulher, Eunice, junto dos cinco filhos (Marcelo Rubens Paiva era um deles), lutou por Justiça e militou pelos direitos humanos, tornando-se depois uma importante advogada. Somente em 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso, a morte de Rubens Paiva foi reconhecida.

“Ainda Estou Aqui” ganhou sete prêmios internacionais e concorreu ao Globo de Ouro na categoria Melhor Filme Falado em Língua não inglesa. Perdeu para a produção francesa “Emilia Perez”. Está pré-selecionado para concorrer ao Oscar de melhor Filme Estrangeiro, enquanto que Fernanda Torres deve ser indicada como uma das finalistas ao Oscar d Melhor Atriz.

Por razões mais do que óbvias e evidentes, o sucesso do filme e da Fernanda Torres transcende a arte e a própria ida. Cresceu tanto que se tornou uma impressionante arma política em tempos perigosos, onde o fascismo está avançando em todos o mundo.

Com seus mais de 3 milhões de espectadores e sete prêmios importantes, “Ainda Estou Aqui” é uma ferramenta de afirmação da história verdadeira. Revela que a verdade e a realidade têm um peso gigante pelo fato de que colocam as coisas em seus devidos lugares.

Fez uma parcela relevante da população redescobrir a história do Brasil e perceber o horror que foi a ditadura militar e os perigos que corremos com qualquer louvação ao odioso regime autoritário. Não está erado quem diz que foi a melhor coisa que aconteceu na arte brasileira em muitos anos;

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