A performance da garota já "assustava" muito antes do "boom" de mulheres no rock pesado brasileiro a partir de 2019. Se ela não foi a pioneira das "meninas furiosas" do heavy metal extremo, teve papel fundamental na consolidação de uma cena que hoje reverencia nomes como Nervosa, Crypta, The Damnnation, Eskrota, Sinaya e a extraordinária Mayara Puertas, vocalista do Torture Squad.
A banda carioca Hatefulmurder é um nome indissociável dessa cena importante ao projetar sua vocalista, Angélica Burns, como destaque da música extrema nacional a partir de 2015.
Os bons ventos do período prolífico estimularam a banda a cometer um estupendo trabalho, "I Am That Power", recém-lançado pelaCanil Records e candidato a estar nas listas de melhores do ano.
Reunindo todas as características das bandas extremas brasileiras com ou formada por mulheres, "I Am That Power" chama a atenção pela violência e pela agressividade É impossível ficar indiferente com a sequência de pancadas sonoras.
A mistura de death e thrash metal ganha novas cores com a incorporação de elementos do heavy tradicional nos trabalhos de guitarra e de pitadas de blues e hard rock nas linhas insinuantes de baixo, que concilia perfeitamente agressividade e doses rítmicas de alta técnica.
"Atingimos um patamar diferente em nossa carreira com esse álbum. Creio que é um períoso glorioso para fazer som pesado e extremo, muitas coisas estão conspirando a favor", disse Angélica em conversa exclusiva com o Combate Rock.
É inegável que o Brasil e seu cotidiano repleto de mazelas e situações altamente complicadas favorecem a inspiração de bandas e artistas que têm o que falar, mas raramente tivemos uma safra tão prolífica de trabalhos diversificados e contundentes dentro do metal nacional.
E contundência é uma especialidade do Hatefulmurder, grupo veterano que sempre soube captar a essência do lado obscuro de um Rio de Janeiro assolado por corrupção e violência urbana, além da derrocada da cena política nacional; Quando Angélica berra e urra, o som poderoso de sua voz\ penetra na alma.
"Eye For An Eye" abre o trabalho e estremece tudo com riffs certeiros e solos cortantes. parece que o mundo está acabando, mesmo com um interlúdio interessante que remete a Metallica, E
a situação fica mais pesada na sequência, com "Call Out Your Sou", aprofundando o ambiente de devastação sonora, por mais que o início mais cadenciado engane. Como é bom escutar influências de Slayer e Sepultura bem aproveitadas.
O mesmo pode ser dito em relação a "Unshaken", rápida e fulminante, candidata a hino da banda. por conta do groove e dos arranjos mais elaborados. "Paywar" é brutal e insana, com guitarras estrondosas e demolidoras, clima se que segue em "The Roots of Fear"
É difícil imaginar que coisas ainda melhores possa, ter ficado para o final, mas é o que ocorre com o álbum. A faixa-título tem um ritmo marcante e o trabalho de guitarras mais bem realizado, principalmente nos riffs matadores,. O final é empolgante co uma canção em português, "Crime e Castigo", que é violentíssima.
"A receptividade tem sido excelente justamente por conta do peso", celebra Angélica. "A pandemia de covid-19 atrapalhou a divulgação do disco anterior, 'Reborn". Tivemos muito tempo para compor, o que nos proporcionou uma evolução evidente."
Ela destaca que a experimentação e procura por timbres foram importantes para que o som fosse incrementado. que se refletiu diretamente na produção de qualidade. "Se dá para enxergar algo positivo como consequência da pandemia foi o tempo que tivermos para burilar as canções."
Formada na cidade do Rio de Janeiro, a HatefulMurder já tem três álbuns de estúdio e dois EPs, além de duas turnês sul-americanas e quatro turnês brasileiras. A banda é composta por Angélica Burns (vocal), Renan Campos (guitarra), Felipe Modesto (baixo) e Thomás Martin (bateria).
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