A chuva fina e o frio congelante da noite paulistana convidavam a uma segunda-feira de clausura, mas o chamado do rock foi mais forte para pelo menos 3 il paulistanos que abarrotaram o Largo do Paissandu, no centro de São Paulo.
Era o pontapé inicial das comemorações do mês
do rock na cidade com shows gratuitos. Vanguart, Boofarins e Carne Doce
animaram o ambiente e fizeram do pop lisérgico a trilha diferente para celebrar
o gênero que tenta renascer diante da predominância do sertanejo e do funk do
tipo carioca.
A surpresa pelo grande público para ver
sobretudo os goianos dos Boogarins encheu de esperança aqueles que sonham com a
reocupação do centro como arte de lazer em todos os dias, e não só aos finais
de semana. O rock provou que isso é possível e que a área central é ideal para
grandes eventos de rua, assim como a avenida Paulista .
A reocupação é necessária para finalmente dar
uma cara para a revitalização do centro, projeto tentado por várias administrações
municipais. O fracasso foi a tônica, seja por falta de vontade política, seja
por dificuldades orçamentárias.
Mesmo com tempo ruim e sem muitos outros atrativos
da região, muita gente saiu de casa e do trabalho disposta a ficar na garoa
para ver um bom concerto de rock.
E os Boogarins, coo sempre, entregaram um
show de respeito, com qualidade e que fez a galera desfrutar de um programa
inusitado em uma noite fria de segunda-feira; Muitas crianças desafiaram a
insegurança e a chuva para escutar os Boogarins ao lado da igreja, em frente à
Galeria do Rock.
Foi bem interessante ver as canções dos
quarteto goiano cantadas por quase todos, já que estamos falando de uma banda
que ainda tem status dde alternativa e inderground, por mais prestigiosa que
seja em seus mais de dez anos de carreira.
Ficou evidente que a cultura é parte enorme
da solução para a reocupação do centro e sua revitalização, com políticas
sérias de acolhimento e restauração. A chegada do Sesc 24 de Maio e a
instalação de um posto da Polícia Militar em frente mudaram a paisagem das
imediações e apontam que é esse o caminho.
Por outro lado, de forma tristemente
contraditória, o rock de graça no Largo do Piassandu evidenciou o tamanho do
problema social que assola da região central paulistana. A menos de 200 metros
dali, na avenida Ipiranga e na Praça da República, quantidade de sem-teto era
ultrajante.
Amontoados em pequenas barracas e jogados
pelos cantos, descortinavam a desumanidade que toma conta de nossa cidade e
nossa população. Isso nem o rock é capaz de amenizar.
Se a reocupação do centro tem solução e é altamente
viável, a questão da desigualdade social e da miséria que insiste em nos
estapear indicam que a solução vai demandar muito esforço e uma mudança total
de atitude e postura dos habitantes da metrópole.
Não é sustentável fazer shows gratuitos de
qualquer coisa na área central para gente de todos os tipos disposta a se divertir
e consumir cultura ao lado de pessoas que dormem na rua, sob chuva e com fome.
. Moralmente, é inaceitável sob todos os aspectos.
Grupos de amigos cantavam aos berros as
músicas dos Boogarins e saboreavam cervejas em frente ao palco. Quando foram
embora, de metrô ou ônibus, foram interpelados ao menos três vezes, no caminho,
por gente maltrapilha implorando por uma moeda ou pedaço de comida. . Eu fui
abordado três vezes na caminhada de 300 metros.
Se o rock serve para escancarar a
desumanidade e a perversidade de uma cidade rica e gigante que maltrata sua
população vulnerável, não pode servir para simplesmente oferecer entretenimento
sem consciência social .
Que usemos com sabedoria esse acontecimento
da noite de segunda-feira, 8 de julho, no Largo do Paissandu, para discutir
seriamente as alternativas de revitalização do centro e alternativas viáveis e
imediatas para amenizar o problema social da desigualdade social, o que inclui
a solução do fim da Cracolândia.
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