segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Racismo, fascismo e a militância necessária de Napalm Death e Detonautas

Marcelo Moreira


Napalm Death: Barney Greenway está ao centro (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma comoção mundial por conta de dois fatos umbilicalmente relacionados: a dolorosa morte de um ator símbolo e a permissividade criminosa e assassina para que um adolescente não seja incomodado por policiais mesmo portanto um rifle automático de uso do Exército norte-americano.

Qualquer demonstração antifascista em qualquer lugar do mundo virou ofensa para a extrema direita assassina e asquerosa.

Várias demonstrações de antirracismo por conta de mais um ataque covarde de policiais brancos contra um negro em Wisconsin, nos Estados Unidos desencadearam uma série de protestos mundiais, mas a elite branca norte-americana decidiu revidar com tiros e jogando a Guarda Nacional contra os manifestantes.

Um moleque nojento de 17 anos aparece com um rifle a um dos protestos, mata duas pessoas e sequer é incomodado pelos policiais brancos igualmente asquerosos. Só mais tarde, identificado, é que foi preso - ou melhor, teve de ser preso diante da pressão contra uma polícia inerte e criminosa, que foi "obrigada" a detê-lo. Quer maior desprezo pela vida humana do que essa conduta?

Esse fato lamentável, infelizmente, divide as manchetes com vários protestos pelo mundo, com a lamentável convenção do Partido Republicano que escolheu Donald Trump como candidato à reeleição presidencial, e a a morte do ator Chadwick Boseman, o Pantera Negra das telas.

Boseman foi o primeiro herói negro das sagas de super-heróis da Marvel - ou de qualquer outra empresa/mito dos quadrinhos e HQs. Foi vítima de câncer no cólon e morreu aos 43 anos de idade.

Sua interpretação marcante do Pantera Negra representou uma quebra necessária de barreiras dentro do cinema mundial e acabou se tornando uma figura marcante para crianças e jovens negros em todo o mundo.

É óbvio que os racistas surtaram com as homenagens a Boseman - assim como me relação ao boicote dos jogadores negros norte-americanos de basquete. Nas redes sociais brasileiras, houve quem minimizasse a importância do ator norte-americano com críticas estúpidas e nojentas ao filme em questão.

Enquanto os lixos humanos que se dizem republicanos nos Estados Unidos ignoram as mortes de negros e os protestos, clamando pela "lei e a ordem" e ansiando por violência contra os manifestantes, algumas banda de rock não perdem a oportunidade de se posicionar.

Os metaleiros ingleses do Napalm Death acabam de lançar mais um álbum com pesadas críticas político-sociais e com um tom abertamente antifascista.

"Throes of Joy in the Jaws of Defeatism" é o nome do disco e parece ter sido feito sob medida pra enfrentar a onda autoritária, desumana e fascista que assola o mundo, mas especialmente os Estados Unidos.,

Em entrevista ao site MetalSucks, o vocalista Barney Creenway soltou o verbo contra o fascismo: "Procurei captar a atmosfera que o mundo está vivendo. Populismo, protecionismo, nacionalismo. E eu acho isso bastante inquietante, no mínimo. E com essas coisas que mencionei, há a separação das pessoas, há uma descriminação e desumanização de certas pessoas que é acentuado por conta do sentimento nacionalista, populista e protecionista".

Ele criticou as perseguições aos gays em muitos lugares do mundo e ataques contra imigrantes: "Isso é uma tática da… – serei bem cuidadoso para usar essa palavra porque acho que ela é usada de forma errada algumas vezes, onde não se reconhece os defensores da ideologia da mesma – mas é a ideologia fascista."

Em um exemplo bem didático do que critica, investe contra o comportamento nocivo que parece estar predominando atualmente: "Toda a ideia de usar pessoas como bode expiratório baseados em qualquer coisa que esteja acontecendo em suas vidas, e eles podem estar querendo escapar da tirania, da próprio sexualidade, da própria constituição biológica, é louco que coisas do tipo estejam sendo propagadas por governantes. E você deveria ficar inquieto com isso, porque se nos lembrarmos, essas são características de Franco (ditador espanhol), Mussolini, Hitler, isso é como começou, desumanizando minorias e dando fazendo grandes prêmios , que foi quando o genocídio começou".

 No Brasil, o posicionamento mais contundente, até agora, foi o da banda Detonautas Roque Clube, com uma pancada absurda e certeira contra o conservadorismo e o governo incompetente de extrema direita que nos governa.

Detonautas Roque Clube: Tico Santa Cruz é quarto da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)
"Carta ao Futuro" é uma canção-videoclipe sombrio em tons distópicos sobre a sociedade brasileira. A letra, de autoria do vocalista Tico Santa Cruz, explicita a desumanidade da atual administração e de seus apoiadores, ressaltando a extinção de direitos civis e trabalhistas, além de atentados contra os direitos humanos e a exacerbação da violência social.

Santa Cruz é um conhecido ativista dos direitos humanos dentro do meio artístico e se tornou um cronista social para denunciar as constantes violações de direitos sociais e ataques à democracia e à liberdade de expressão.

Cientista social por formação, o vocalista às vezes se incomoda ao ser identificado com a esquerda e suas ideias. Acredita que esses tripo de rótulo limita e até impede que se estabeleça um diálogo possível entre extremistas e pessoas que divergem profundamente.

Entretanto, em sua contas nas redes sociais, diante de constantes ataques e ameaças que sofre, vai lentamente percebendo que o diálogo é impossível com gente estúpida. A esmagadora maioria dos direitistas brasileiros é estúpida, sendo que os bolsonaristas, ou seja, a maioria, é totalmente burra.

"Carta ao Futuro" incomodou profundamente essa gente desonesta e asquerosa, o que, inevitavelmente, empurra Santa Cruz e os Detonautas para a oposição e pra a esquerda - que assim seja, já que são combatentes preciosos e pensadores artísticos necessários para conter a mediocridade direitista que chafurda no que de pior existe na religião e no fascismo.

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