domingo, 31 de julho de 2022

Uma Dorsal Atlântica diferente - pelo olhar dos fãs

 O underground proporciona situações inusitadas e uma interação com os fãs que vai além da música: eles viram parceiros, coautores e codiretores de muito eventos e iniciativas - como videoclipes e documentários.

A banda brasileira Dorsal Atlântica é a que mais se beneficia desse aspecto - é provavelmente a única banda de rock nacional com um cartel de minidocumentários que registram os principais shows e participações. 

O primeiro show da Dorsal Atlântica em 24 anos, em fevereiro de 2022, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, ganhou um tratamento profissional e narração do próprio vocalista e guitarrista, Carlos Lopes, a partir de vídeos enviados por fãs e amigos. Foi a abertura de um show do Sepultura, que escolheu o trio carioca para abrir o evento.

O show foi o que faltava para que a banda decidisse retornar aos palcos cm mais assiduidade, com direito a show em São Paulo depois de mais de 25 anos -  palco foi o Parque da Juventude Città di Maróstica, em São Bernardo do Campo (ABC Paulista), fechando um minifestival gratuito de que reuniu mais de 5 mil pessoas.

O show paulista também virou um minidocumentário cm material colaborativo, evidenciando a importância da banda nas celebrações dos 40 anos de seu surgimento. Lopes quase não conseguiu deixar o palco diante de tamanho assédio dos fãs de todo o ABC.

"É natural que utilizemos esse expediente, eu recebo mito material de amigos e apreciadores do trabalho da Dorsal Atlântica e temos tido sucesso e utilizar essas imagens, ainda que de forma urgente e sem grande tratamento", diz Lopes. "Deu certo quando fizemos de forma quase artesanal o documentário sobre as gravações de nosso último disco, 'Pandemia'."

Com uma infinidade de acessos, o filme sobre "Pandemia" serviu para aproximar ainda mais os fãs e foi o empurrão que faltava para que o trio decidisse por retornar, mesmo que de forma cautelosa, aos palcos. A receptividade calorosa no Circo Voador e em São Bernardo foram a melhor prova de que a decisão foi acertada.

Sentindo-se em casa e desfilando pancadas sonoras em pouco mais de uma hora, Carlos Lopes se sentiu à vontade para mandar muitos recados e ministrar "aulas" de história e realidade diante de uma plateia majoritariamente jovem no ABC. 

Em um, evento organizado pelo Coletivo Rock ABC e pela Prefeitura de São Bernardo (administrada pelo PSDB) e por um prefeito adversário ferrenho do PT, teve de se controlar, mas foi ovacionado e celebrado como uma das vozes mais ativas e engajadas politicamente do rock na atualidade, não deixando a desejar em relação a uma figura controversa, mas importante, como Tico Santa Cruz, dos Detonautas Roque Clube, que anda mais reservado ultimamente.

"Eu entendo o ponto de vista de quem organizou festival no ABC sei das implicações de se fazer 'campanha eleitoral antecipada', O foco principal é evitar a continuidade desse governo odioso e desumano", explicou o guitarrista, que foi acompanhado por Braulio Drumond na bateria e Alexandre Castellan no baixo, substituindo temporariamente Claudio Lopes, irmão de Carlos.

O evento foi histórico porque foi um respiro diante das trevas em que o país se encontra e um grande grito pela liberdade de expressão e em defesa da democracia. 

A série de minidocumentários retrata com fidelidade o underground d rock pesado no Brasil e deixou claro, também, que eventos gratuitos bem organizados podem cumprir amplamente seu papel de difundir cultura de qualidade, engajada e impactante. E que bom que a juventude compareceu em peso.

A seguir, assista ao minidocumentário sobre o show de São Bernardo. em seguida, os outros dois citados neste texto:


https://www.youtube.com/watch?v=Es6VW_Tvb7U

sábado, 30 de julho de 2022

Show em Santos é 'ensaio' para a volta do Charlie Brown Jr.



Aos poucos parece que o Charlie Brown Jr. retoma as atividades apesar da morte de seus dois principais integrantes, o vocalista Chorão e o guitarrista Champignon, há quase uma década. O que era para ser uma reunião-tributo aos 30 anos de criação da banda, na prática, é a volta da banda com ex-integrantes.

Em turnê de celebração pelos 30 anos, que restou do grupo toca no Arena Club neste sábado (6) com os maiores sucessos.

Este é o primeiro show com os membros que integraram o Charlie Brown Jr. (além do músico convidado Egypcio) em Santos após a morte de Chorão e Champignon em 2013.


O tributo é formado pelos guitarristas Marcão e Thiago, membros fundadores da banda, Heitor Gomes no baixo, André 'Pinguim' Ruas e Bruno Graveto na bateria e Egypcio (da banda Cali Rock) nos vocais. O objetivo, declaram os membros em publicação no Instagram, é celebrar o legado da banda, a amizade e os fãs.

"Tocar em Santos é sempre muito especial, é a cidade onde tudo começou, lugar que nos inspirou também. Vai ser um show emocionante, cheio de lembranças de momentos incríveis que vivemos aqui durante essas três décadas desde o início da banda. Santos está no DNA do Charlie Brown Jr. Vai ser uma noite histórica!", declaram Marcão e Thiago, membros fundadores do grupo.

O Charlie Brown Jr. foi fundado em 1992 em Santos e mesclou vários gêneros como o hardcore, skate punk, reggae, rock alternativo, hip hop e vários outros. Entre suas inspirações estavam os grupos norte-americanos Red Hot Chili Peppers, Suicidal Tendencies e Nirvana assim como também os brasileiros O Rappa, Planet Hemp, Raimundos, entre outros.

Entre os principais sucessos estão "Dias de Luta, Dias de Glória", "Só os Loucos Sabem", "Ela Vai Voltar", "Proibida Pra Mim", entre tantas outras canções. Em 2020, o grupo foi a única banda brasileira no Top 10 das músicas mais tocadas da década na plataforma de streaming Spotify.



Serviço

Charlie Brown Jr.



Data: 6 de agosto, sábado

Local: Arena Club

Endereço: Av. Senador Pinheiro Machado, 33 - Vila Matias, Santos - SP.

Horário de abertura da casa: 22h00

Ingressos: https://s2207.imxsnd06.com/link.php?code=bDpodHRwcyUzQSUyRiUyRmFydGlja2V0LmNvbS5iciUyRmUlMkY1MiUyRmNoYXJsaWUtYnJvd24tanItMzAtYW5vcy1lbS1zYW50b3M6MTU5MDczNzU3NDptYXJjZWxvQGNvbWJhdGVyb2NrLmNvbS5icjoxY2ZmNGU6MWQ=

Tecladista do Sons of Apollo erra totalmente ao questionar 'regras e regulamentos'

 De muitas maneiras, a burrice não é aceitável e nem tolerável. A pandemia de covid-19, que matou mais de 6 milhões de pessoas, 680mil no Brasil, parecia ter deixado isso bem claro.

 Artistas estúpidos que negam a ciência e se recusam a se vacinar sentiram na pele e no bolso as consequências de suas atitudes lamentáveis e irresponsáveis. 

Até mesmo aquele que pode vir a ser o tenista mis vencedor de todos os tempos sobre as sanções por não querer se vacinar - ficará de fora do torneio US Open, um dos quatro mais importantes do ano.

Gente como o guitarrista Eric Clapton e o cantor Van Morrison, notórios negacionistas e antivacinas, tiveram de engolir a burrice e se adequar às normas sanitárias de vários países para poderem se apresentar. Nada mais justo e natural, pois gente que se recusa a se vacinar é repugnante.

Mais de dois anos e meio depois do grande surto de cuvid-19 e de meses e meses de medidas de isolamento social, ainda temos de nos deparar com seres abjetos que ousam reclamar das "ditaduras dos regulamentos"...

A banda americana Sons of Apollo fará uma curta turnê pelo Brasil no começo de agosto, e depois visitará outros países da América Latina - um evento que foi adiado por um ano e meio.

No entanto, o baixista Billy Sheehan, um dos melhores dos últimos 30 anos no instrumento, astro do Mr. Big, não virá ao Brasil, sendo substituído temporariamente pelo brasileiro Felipe Andreoli (Angra). 

O motivo: "restrições de documentos e situação fora do alcance do músico". Seriam eufemismos para falta de condições sanitárias para entrar no país, segundo algumas especulações - ou seja, não se vacinou ou não tem a imunização completa exigida. Ninguém esclareceu a questão e, por enquanto, não dá para cravar que foi o esse o motivo da ausência.

Existe a suspeita de que Sheehan não tenha se vacinado de nenhuma forma, mas não obtivemos essa confirmação. Se o baixista for antivacina, como cravam algumas publicações norte-americanas, ele é  discreto sobre essa "opção sanitária". Não é novidade a aproximação dele da cientologia, uma espécie de seita controversa que questiona a ciência em vários aspectos.

Aparentemente, seus companheiros de banda - Derek Sherinian (teclados), Mike Portnoy (bateria), Jeff Scott Soto (vocais) e Ron "Bumblefoot" Thal (guitarra) estão em dia com as vacinas.

E não é que surpreende a atitude estúpida de um tonto como Sherinian, que vomitou lixo sobre vacinação e "excesso de regulamentos que atrapalham os trabalhos"?

Sem especificar a turnê brasileira e os motivos que tiraram Sheehan dos shows, o tecladista reclamou em entrevista a Stefan Adika, apresentador do programa Artists On Record Starring.

"É uma droga. Deixe-me dizer isso, vou apenas dizer isso… A situação não é boa (...). Billy é nosso irmão, e ele é um baixista incrível. Mas por causa das circunstâncias, ele não pode fazer essa parte [da turnê]. Temos que seguir em frente e honrar nossas obrigações. Eu só espero que no futuro não tenhamos esses problemas. E eu apoio Billy cem por cento", declarou Derek, segundo transcrição publicada pelo site Blabbermouth e reproduzida no Brasil pelo site Whiplash.

A lamentável declaração foi complementada com mais lixo: "Estou ansioso para um dia em que, como um todo, como sociedade, não tenhamos que lidar com todos esses regulamentos e loucuras porque é realmente confuso."

Ou seja, medidas tomadas para conter um vírus mortal são consideradas "loucuras" por Sherinian, para quem burlar as restrições sanitárias se justificam no caso de um show de rock e em relação a astros de rock. A vergonha é imensa.

Justamente no momento em que lança um ótimo disco solo, "Vortex", Sherinian decide causar polêmica - e em relação a um assunto que nunca comportou nenhuma polêmica.

Anos atrás, o tecladista acompanhava o guitarrista sueco Yngwie Malmsteen em turnê pelo Brasil e este resolveu entoar o hino americano na guitarra, como fazia costumeiramente. Em Porto Alegre, uma parte da plateia vaiou (possivelmente uma galera de esquerda ou extrema-esquerda) e poucos gritaram, como provocação, "Osama", em alusão ao terrorista Osama Bin Laden, líder dos ataques a World Trade Center em 2001 e assassinado em 2015.

Ofendido, Malmsteen encerrou a apresentação e não tocou mais o hino nas apresentações pelo continente. Nas redes socais, Sherinian, que é americano, generalizou e protestou contra as manifestações antiamericanas, detonando o público brasileiro e  Brasil com várias grosserias. 

Pegou tão mal que ele pediu desculpas alguns dias depois, certamente alertado por conta dos excessos e da importância do mercado brasileiro para shows de ock neste século.

Em horas como essas, já que o negacionism e a amizade com um suposto negacionista fala mais alto, deveria ter ficado quieto. As regras sanitárias brasileiras e de muitos outros países são conhecidas há muito tempo. A postura antivacina - notem bem, desde que realmente seja esse o motivo - deve ser cobrada da pessoa em questão, e não do país que impôs a restrição.

Curiosamente, Sherinian ataca as "restrições e regulamentos" que de países que impedem músicos de entrar e tocar, mas nada fala a respeito das regras americanas que provavelmente impedirão que o sérvio Novak Djokovic de disputar o US Open.

É triste perceber esse tipo de postura em uma das bandas mais legais dos último tempos. Cm dois álbuns de estúdio e um CD/DVD ao vivo, o Sons of Apollo é um supergrupo que reúne instrumentistas renomados que tiveram destaque em outras formações - Sheehan no Mr. Big, Portnoy e Sherinian no Dream Theater, Soto no Journey, Thal no Guns N' Roses.

Além de causar um transtorno, como ter de achar um substituto muito bom às pressas,  esse "problema de restrição em documentos" mancha a reputação do grupo, pois a especulação em torno dos motivos da ausência de Sheehan atiram n grupo a pecha, que talvez seja injusta, de negacionista e antivacina. Não deixa de ser um descuido inacreditável em se tratando de uma banda que está se tornando grande e pelos nomes que tocam nela. é uma grande decepção.

sexta-feira, 29 de julho de 2022

Krisiun e sua evolução constante: 'Mortem Solis' é seu melhor álbum

A arte extrema de transformar o insuportável e a destruição em... arte. Aos 32 anos de carreira e hoje a banda brasileira mais relevante no cenário internacional, o trio gaúcho Krisiun sofisticou, se é que é possível dizer isso, o seu death metal no recém-lançado álbum "Mortem Solis".

A violência é a de sempre, há a incorporação de elementos diferentes nas dez canções devastadoras e contundentes, assim como no anterior, "Scourge of the Enthroned", de 2018, até então melhor disco do trio. Curiosamente, há resistências para que este vire um clássico do grupo.

É um álbum excelente, mas "Mortem Solis" é melhor ainda. Para quem não é tão purista e "old school", a música está mais elaborada e agrega elementos de outras paradas, como  heavy tradicional.

A dupla "Dawn Sun Carnage"/"Temple of the Abattoir" é um exemplo: introdução que remete a temas orientais e árabes, com violões e guitarras semiacústicas pra depois desaguar em um heavy/doom metal à la Black Sabbath, tudo servindo de antessala para a devastação costumeira, com aguitarra de Moysés Kolesne soando cada vez melhor.

"Necronomical" começa cadenciada, com ecos de Iron Maiden e Black Sabbath, que vai crescendo até que a guitarra demole tudo em riffs bem pesados e solos muito bem, elaborados. É uma canção diferente da pancadaria costumeira. É a melhor do álbum.

Destacar outras canções é difícil e injusto diante de um álbum tão bom. Duas canções muito agressivas vão garantir  alegria dos apreciadores da música extrema: "War Blood Hammer" e "Serpent Messiah" estremecem os ambientes e acrescentam arranjos inusitados, como um certo ar "progressivo" e melódico, mas a uma velocidade altíssima, que chega a cansar.

Os irmãos Alex Camargo (baixo/vocal), Max Kolesne (bateria) e Moyses Kolesne (guitarra) nem pensam em aliviar. "Tivemos ideias realmente novas para o 'Mortem Solis'", diz Moyses Kolesne. "Talvez porque paramos por dois anos [devido à pandemia], mas também porque víamos a cena do metal se tornando mais comercial e falsa. Como uma banda mais antiga, nós mantemos o verdadeiro [Death Metal] e essa é a nossa missão agora: trazer o verdadeiro death metal de volta".

A trajetória do trio começou em Ijuí, município gaúcho, em 1990. O trio foi inspirado por uma gama diversificada do metal extremo, que inclui bandas como Slayer, Venom, Destruction, Motörhead, Morbid Angel e Sepultura.

Trabalhou duro por anos até assinar um contrato com a Dynamo Records, de São Paulo, para lançar o seu agora clássico álbum de estreia "Black Force Domain" em 1995. 

Em 1997 chegaram à Gun Records  para continuar o seu ataque por toda a Europa, que começou oficialmente com a primeira turnê da banda fora do Brasil chamada "Black Force Domain Tour".

Desde então, o seu brutal legado vem aparecendo em discos como "Apocalyptic Revelation" (1998), sua estreia mundial sob o selo Century Media Records, "Conquerors of Armageddon" (2000), "Works of Carnage" (2003), "Southern Storm" (2008) e "Scourge of the Enthroned" (2018). Então, não é de se estranhar que "Mortem Solis" continue a tradição de insanidade musical intransigente.

"Mortem Solis é mais direto", diz Moysés Kolesne. "Cortamos tudo o que consideramos desnecessário para torná-lo o mais brutal possível. Sem usar um computador ou um metrônomo, tudo sob o verdadeiro espírito do death metal."

Ele destaca o entrosamento perfeito para que os 32 anos de carreira fossem atingidos. "Nós três compartilhamos a mesma visão para o metal. Somos um exército de três. Claro, evoluímos como irmãos, pessoas e músicos. Nós nos divertimos muito juntos. Mas essa coesão nos deu o jeito Krisiun, o caminho em que estamos e continuamos a trilhar."

O músico acredita que é necessário evoluir para atrair novos fãs e manter acesa a chama da busca por inovação. No entanto, ainda se considera um purista e tradicionalista.

"Vemos uma cena cheia de posers", diz Kolesne. "O death metal está ficando mole. Não vamos participar de nada disso. Sabemos de onde viemos e o que o death metal significa para nós: ele é tudo! O ódio e a repulsa nos alimentaram. É por isso que Mortem Solis é despojado, a intensidade é ampliada e gravamos sem as muletas da modernidade."

Em vez de se aventurar no exterior, como aconteceu com os álbuns "Scourge of the Enthroned" e "Conquerors of Armageddon" que foram produzidos no renomado Stage One Studio de Andy Classen na Alemanha, os irmãos decidiram logisticamente que seria mais eficiente ficar no Brasil e gravaram "Mortem Solis" no Family Mob Studio em São Paulo. 

Hugo Silva (Sepultura, Nervosa) e Otavio Rossato (Crypta, Desalmado) foram contratados como engenheiros, enquanto Silva também foi o escolhido para codirigir a produção com o Krisiun. Quando tudo foi concluído no Brasil, as faixas foram enviadas para o especialista em mixagem e masterização Mark Lewis (Nile, Monstrosity) em Nashville, Tennessee.  

"As sessões de estúdio foram ótimas", diz Kolesne. "O Family Mob não fica muito longe de onde moramos e nos sentimos confortáveis ​​lá. Além disso, era ótimo ir para casa todas as noites e recarregar as baterias. Nós amamos Andy, mas era hora de mudar. Nós realmente gostamos do som que Mark conseguiu para outras bandas, então foi natural para nós escolhê-lo. Ele também gosta de Death Metal. Mark forneceu muita confiança para alcançar o som que queríamos".

Liricamente, "Mortem Solis" foi inspirado pela literatura e está impregnado de metáforas. Mas, não há como confundir a mensagem. Todas as coisas boas inevitavelmente chegam ao fim, às vezes de forma violenta e sem remorso. Essa narrativa é totalmente tecida através das letras, da ameaçadora capa de Marcelo Vasco (Slayer, 1349) e do som. Até mesmo o título do álbum "Mortem Solis", que significa "A morte do sol" em latim, é visivelmente fatalista.

"O sol, além de seus efeitos físicos e condição cósmica, representa algo significativo nas religiões, impérios, reinos, etc. A humanidade deu muita importância ao sol, como reino e salvação. Mas vivemos em um mundo moribundo. Impérios caem, reis caem, políticos mentem e a fé se perdeu ao longo da história. Então, a metáfora para 'Mortem Solis' é esta: tudo morre em todos os lugares e não há como escapar disso. Fiquei realmente impressionado que Marcelo conseguiu capturar tudo isso e muito mais com sua arte de capa", conclui o guitarrista.

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Documentário sobre metal finlandês de graça

Uma notícia interessante para quem se interessou pela história do heavy metal finlandês: o documentário "A Heavy Metal Civilization" será exibido gratuitamente em São Paulo até 14 de agosto.

O filme foi exibido em três sessões durante o In-Edit São Paulo 2022 o Festival Internacinal de Documentários Musicais - e teve a direção de duas jornalistas brasileiras: Cristina Ornelas e Maila-Kaarina Rantanen.

A iniciativa é resultado de um acordo colaborativo entre o In-Edit Brasil, Connecting the Dots e o projeto cultural "Come to Latin America", que vai liberar para transmissão gratuita em sua plataforma o documentário.

O jornalista Marcelo Moreira, do Combate Rock, foi apresentador e mediador de um dos debates do documentário durante o In-Edit, que ocorreu entre os dias 15 e 16 de junho.

"Foi uma honra participar do In-Edit e mergulhar na história do metal finlandês. Considerado um subgênero marginal e extremo no resto do mundo, é bastante popular na Finlândia, país de primeiro mundo onde o governo dá uma série de incentivos para projetos culturais, apoiando bandas ao bancar gravações, shows e videoclipes", diz o jornalista.

Marcelo Aliche, diretor artístico do In-Edit Brasil, é um dos juízes do concurso cultural "Come To Latin America", destaca a importância da parceria: "É sempre bom poder abrir portas em conjunto e a relação do In-Edit Brasil com o Come To Latin America vem nesta direção. Por um lado o festival de cinema dá espaço para que filmes como A Heavy Metal Civilization explique a importância do gênero na Finlândia e ajuda na divulgação da iniciativa e por outro o festival ganha projeção internacional."

A empresária Niina Fu, idealizadora do projeto "Come To Latin America", teve inspiração ao residir no  Chile e no Brasil e comparar as similaridades entre o países latino-americanos e a Finlândia: "Apesar da distância e diferenças culturais, existe uma cena metal muito forte e profunda em ambos os países. Isso me chamou muito a atenção e é por isso que tive a ideia de desenvolver este projeto".

Ela acrescenta que sua motivação é ampliar o impacto da cultura na sociedade moderna: "Acredito que atualmente o mundo é medido demais por conquistas e por indicadores financeiros. Ao estudar Administração de Empresas na Getúlio Vargas em São Paulo, Brasil, entendi que precisamos ampliar o espaço da cultura. O heavy metal é o presente da Finlândia para o grande e diversificado acervo cultural do Brasil, com o objetivo de aumentar a participação no cotidiano das pessoas deste lindo país".

Para Maila-Kaarina Rantanen, codiretora do documentário "A Heavy Metal Civilization" essa parceria vai além de uma realização profissional. Ela nasceu no Rio de Janeiro, filha de pai finlandês e mãe brasileira. Morou por anos em Penedo, no interior do estado do Rio de Janeiro, onde está a única colônia finlandesa no Brasil. 

"Eu me sinto genuinamente brasileira e finlandesa, meu coração bate igual por meus dois países e poder ver o filme que fizemos de maneira totalmente independente, parte de um projeto que une minhas raízes e minhas paixões [cinema e metal], me traz um sentimento de realização pessoal inexplicável", celebra a jornalista.
 
"A Heavy Metal Civilization" foi lançado na Finlândia em 2018; mais do que um filme sobre a cena do heavy metal finlandês, é também uma história contada pelas bandas que a formaram. 

Vários dos maiores representantes do gênero compartilharam no documentário seus pontos de vista sobre sociedade, religião, política e como uma subcultura underground se tornou um importante embaixador da cultura local. Dentre os vários protagonistas temos Marco Hietala (ex-Nightwish), Eicca Toppinen, Lauri Porra (Stratovarius), além astros internacionais como Kiko Loureiro (Megadeth) e Scott Ian (Anthrax).

O projeto "Come To Latin America" tem o objetivo de divulgar e disseminar aspectos da cultura finlandesa, e o heavy metal faz parte indissociável da sociedade do país. Envolveu centenas de bandas em um concurso que dará prêmios aos vencedores, como contratos para gravação de álbuns e videoclipes. O público latino-americano poderá votar em três bandas finlandesas finalistas.

Saiba mais sobre a competição "Come to Latin America" na página oficial https://www.cometolatinamerica.fi/pt/ e vote em uma das três bandas finalistas da competição: Luna Kills, Noira e Where's My Bible.

O filme está disponível para ser assistido gratuitamente na plataforma do In-Edit Brasil até o dia 14 de agosto. Assista A Heavy Metal Civilization na plataforma do In-Edit Brasil:
https://br.in-edit.org/filmes/a-heavy-metal-civilization/

Centro de São Paulo degradado condena a Galeria do Rock à decadência

 O Sesc 24 de Maio foi saudado como a salvação do centro velho de São Paulo por fazer aquilo que várias administrações da cidade prometeram fazer - revitalizar a região e transformá-la em um "organismo vivo", com vida noturna como o centro de Barcelona (Espanha), o Greenwich Village, em Nova York (Estados Unidos) ou o Soho, de Londres (Inglaterra) em seus bons tempos.

O tempo mostrou que um Sesc não resolve (quase) nada. Na pior administração desde Celso Pitta (antigo PFL, 1996 a 2000), o centro da cidade está mais abandonado do que nunca, à mercê de todo o tipo de criminoso barato e violento. 

O Sesc 20 de Maio vive vazio (exceto quando há algum show importante) e o medo predomina nas redondezas durante o dia. A atual administração é um consórcio PSDB-PMDB - João Doria (_SDB, 2016-2018), Bruno Covas (PSDB, 2018-2021) e Ricardo Nunes (PMDB, 2021 até agora).

Reportagem exibida pelo SPTV 2ª Edição/SP2, da TV Globo, é um escândalo: Praça da Sé, Pátio do Colégio, calçadões e Praça da República estão sujas, abandonadas e entregue a pequenos bandidos, que estão cada vez mais violentos. Na região da praça Princesa Isabel e avenida Duque de Caxias, o problema de sempre: a Cracolândia.

O efeito disso é imediato: a diminuição sensível do turismo fora de época na cidade, espantando gente que era assídua frequentadora dos programas guiados pelo centro histórico. 

É tão grave a falta de segurança que o sindicato dos guias turísticos de São Paulo desestimula a maioria dos passeios - mesmo que isso represente menos ganhos para os guias.

O prefeito, sem ter o que dizer, apelou para "problemas judiciais que "travaram a implantação de programas de intervenções urbanas" - programa este com vários pontos questionáveis, tanto que a Justiça agiu rapidamente e parou a execução. 

É a mesma administração que desde 2016 encerra u desidrata vários programas sociais criados em administrações anteriores.

Entre o equipamentos mis afetados por essas circunstâncias, está a Galeria do Rock, que fica no coração do centro velho e a menos de 50 metros do Sesc 24 de Maio - e da "feira do rolo" que ocorre em uma rua lateral.

Muitos lojistas não conseguem definir se a diminuição da frequência nos corredores da Galeria se deve a consequências da pandemia, da crise econômica permanente e aprofundada pelo péssimo governo Jair Bolsonaro ou pela constante falta de segurança do centro da cidade.

A segurança é uma reclamação que vem desde os anos 90, mas que se  agravou agora, pelas palavras de um comerciante que pediu para não ser identificado: "São duas décadas vendendo música aqui e nunca tinha sido assaltado a mão armada. Desde o fim da pandemia, com a retomada, foi roubado duas vezes perto do metrô Anhangabaú."

Outro que preferiu o anonimato diz não ter dúvidas de que os turistas estão passando longe da Galeria do Rock. "Vai fazer quase um ano que estamos em retomada plena depois da pandemia. Houve aumento na atividade econômica em vários segmentos, O público diminuiu aqui, pelo que percebo, e a galera de outras cidades praticamente desapareceu. Não somos mais um ponto turístico a ser visitado."

É difícil apontar apenas uma causa para a aparente diminuição público - ao menos para as lojas que vendem música e ainda resistem. Há a visível descaracterização do centro comercial como "comércio de música e de rock" e a crise econômica que só se agrava durante este governo amaldiçoado como fatores importantes para a degradação do local. 

"Mudou muita coisa por aqui, principalmente depois da pandemia", afirma Carlos Machado, um publicitário de 35 anos que finalmente atendeu ao pedido do filho Iago, de dez anos, para conhecer o local em um sábado, 23 de julho. "Fazia um ano que não saía da Campinas para vir à Galeria do Rock e muitas lojas fecharam. eu gostava da Cactus, antigona, mas ela não existe mais."

E a falta de segurança?  "Influenciou bastante na minha vinda. Adiei várias vezes a viagem por causa das notícias de crimes frequentes e crises na Cracolândia. Da mesma forma que eu, muita gente de outros lugares pensou e pensa duas vezes antes de encarar a Galeria do Rock. Aqui dentro é sossegado, mas n entorno é perigoso e não há lugares seguros para comer."

Como nenhum plano de revitalização do centro vinga e com o aumento da insegurança, muitos lojistas cogitam uma eventual mudança para a Galeria Nova Barão, na rua de trás - entre as ruas Sete de Abril e Barão de Itapetininga - hoje dominada por sebos e lojas de equipamentos vintage de som. Ao menos três comerciantes consultados disseram isso, sendo que outro já possui um imóvel alugado non endereço "concorrente" para e "eventualidades".

A Nova Barão pode representar um pouco mais de tranquilidade, mas não mais segurança, já que está no mesmo ambiente da Galeria do Rock, a uma distância de pouco mais de 100 metros. 

As reclamações são generalizadas de furtos, roubos e confrontos com a polícia por toda a região. Quem se afastou da Galeria do Rock pela insegurança não se animará a frequentar a Nova Barão, por mais que ali seja um ambiente mais "amigável" para quem gosta de música.

A imensa maioria dos comerciantes anseia por projetos de revitalização que saiam do papel e por mais policiamento, o que não significa mais segurança. 

Nenhum deles, no entanto, tem uma ideia clara d que é necessário e nenhum se lembra de ter participado de audiência pública ou reunião na Câmara Municipal e subprefeituras para discutir o tema. é claro que assim fica bem difícil.

Com o centro cada vez mais "inacessível", a Galeria do Rock e outros equipamentos sociais estão sendo asfixiados por problemas urbanos que outrora eram suas vantagens competitivas em relação à concorrência do resto da cidade. 

A facilidade de acesso por transporte público está sendo suplantada pelo crime; a variedade de produtos oferecidos é deixada de lado pela descaracterização do centro comercial; e a degradação do entorno impede que passeio seja completo e agradável pela falta de opções gastronômicas e culturais - nem mesmo a chegada do Sesc 24 de Maio foi o suficiente para alterar esse panorama.

Em texto anterior dissemos que a Galeria do rock pedia socorro por conta das mudanças quase irreversíveis que transformam definitivamente o centro comercial a ponto de perder dia após dia a conotação roqueira. 

A insegurança pública, ao que tudo indica, pode acelerar muito o processo de desintegração, sendo que, neste quesito, o condomínio empresarial pouco pode fazer para minimizar esse problema.

P.S.: Continuamos tentando um posicionamento do síndico da galeria, Antonio Souza Neto.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Uma visão diferente sobre a longevidade dos Titãs

Quarenta anos e roda não para. Reduzidos a um terço do que eram, os Titãs na maturidade ainda buscam fugir do óbvio, como na ópera-rock "12 Flores Amarelas", mas gostam bastante de beber em um passado glorioso, como no mais recente single, "Caos", onde misturam crítica política e muito bom humor. 

De alma leve e mostrando ainda grane carisma, a banda mantém a relevância e com uma estrutura que a diferencia de seus contemporâneos, É essa visão diferente que foi abordada em interessante texto do jornalista Julio Maria, publicada recentemente no jornal O Estado de São Paulo e em seu site - www.estadao.com.br.

"Mais do que um grupo proeminente do rock brasileiro, os Titãs são um fenômeno estrutural de 40 anos sem nenhuma referência parecida em outra organização grupal do rock no planeta. 

Nove integrantes eram uma ousadia quando trios e quartetos estavam em alta (aliás, isso nunca foi diferente): Paralamas do Sucesso, RPM, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaii, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Ira!, Plebe Rude. 

O rock nacional reproduzia o sistema da redução eletrificada do que um dia foi uma extensa big band. Aos poucos, o baixo acústico saiu dessa redução para o elétrico entrar e o piano foi substituído por duas guitarras, base e solo, para, algum tempo depois, voltar reencarnado em forma de teclados
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Mas os Titãs eram nove criaturas criativas, nove bandleaders colaboradores, nove caras prontos para assumirem a frente de qualquer projeto paralelo. Que outro grupo foi assim? 

O rock se fortaleceu com estruturas centralizadoras e lideranças, de preferência, messiânicas. Renato Russo, a maior delas por aqui, se foi para mostrar o outro lado dessa moeda. 

Um grupo escorado a uma figura central de tamanha força será imediatamente extinto assim que perder seu líder. Sem Nasi não existiria o Ira!; sem Marcelo Nova, não haveria Camisa de Vênus; sem Humberto Gessinger, os Engenheiros seriam inviáveis. 

Mas sem Arnaldo Antunes, sem Marcelo Fromer, sem Nando Reis, sem Paulo Miklos e sem Charles Gavin, os Titãs ainda pulsam Não como antes, assim como o Ira!, com os originais Nasi e Scandurra, não pulsam como antes, mas ainda pulsam.

Ao decidirem não corporativizar a marca, ou seja, não preencher suas vagas abertas pela evasão de talentos com músicos novos, os Titãs foram desidratados mas não se distanciaram de si mesmos. 

E o normal, mostra a história, não é esse: o Whitesnake, depois de um entra e sai danado, contabiliza 64 integrantes. O Iron Butterfly, também 64. O Guns N’ Roses, 23. O Fleetwood Mac, 18. 

Uma necessidade de palco e de dinheiro insana que, muitas vezes, os fizeram soar desfigurados. Mas o rock admite reinos bipartites, desde que seus agentes tenham funções bem definidas. Mick Jagger é o 1, Keith Richards, o 2. Axl Rose o 1, Slash, o 2. Paul o 1, John, e isso não poderia mesmo ir muito longe, outro 1. 

Cazuza era o 1, e o que salvou o Barão Vermelho do fim depois de sua saída foi ter um 2 tão competente quanto. Frejat assumiu e até melhorou a banda, mas nunca teve um 2, e o que aconteceu com o Barão depois de sua saída foi, apesar dos esforços de um vocalista substituto, algo parecido com o fim. A vida descentralizada dos Titãs até parecia uma festa, mas não era."

De maior festival do mundo a fracasso total: a derrocada do Metal Open Air

A América do Sul tinha construído larga reputação de realizar bons festivais de rock, principalmente n Brasil a partir de 1990. Hollywood Rock e Monsters of Rock era realizados quase anualmente e só depois é que o Rock in Rio virou bienal.

Por isso o mercado saudou o anúncio de um megafestival no Nordeste em 2011, supostamente respaldado por patrocinadores e dinheiro público de prefeitura e governo do Estado. Só o local é que causou estranheza: São Luís, no Maranhão, que exigiria esforço extra - e gastos maiores - com a logística de transporte de bandas e público. 

O público em geral gostou da ideia, mas quem era do meio desconfiou do sucesso do empreendimento desde o começo: promotores inexperientes, custos enormes, logística complicada, patrocinadores sem dar as caras e dinheiro público ainda não liberado.

Infelizmente s temores se confirmara; previsto para abril de 2012, o Metal Open Air, em São Luís, fracassou e deixou um rastro de raiva, acusações e muitos prejuízos.

Um empresário maranhense, Natanael Júnior, e outro paulista, Fabiano Negri, conseguiram promessas de receber dinheiro da Prefeitura de São Luís e do governo do Maranhão para promover um festival de metal. Tiveram inicialmente o apoio de algumas empresas e pensaram grande: vamos fazer uma edição do Wacken na América do Sul. Chegaram a usar o nome daquele evento, mas logo foram desautorizados.

Tudo muito amador, principalmente o esquema de venda de ingressos e pacotes. A coisa começou a desmoronar dois meses antes do evento, marcado para o começo de 2012. A logística também não funcionou a contento, principalmente em relação às bandas.

Artistas nacionais e estrangeiras começaram a cancelar meses antes suas participação por descumprimento de contrato e falta de pagamento antecipado. Muita coisa estava dando errado, mas ainda assim as atividades continuaram, 

Alguns artistas viajaram a São Luís, mas não tocaram. Na véspera do festival, os organizadores sabiam que não haveria verba pública para bancar o evento, mas as atividades prosseguiram - havia pelo 5 mil pessoas de outros Estados na cidade cm ingressos comprados. Até hoje não se sabe se realmente houve promessa de dinheiro público e, na última hora, a verba foi recusada.

Outros artistas, sem pagamento, tocaram mesmo assim, casos de Megadeth e Korzus, que suportaram a falta de estrutura e a retirada dos serviços contratados de som e infraestrutura - prestadores de serviço não foram pagos. 

O local escolhido para o festival, a quilômetros do centro de São Luís, era uma antiga estrebaria e fazenda de criação de gado sem a menor estrutura e condição de abrigar tamanho evento. Até hoje não se sabe ao certo o total do prejuízo gerado.

O fracasso do Metal Open Festival teve tamanha repercussão negativa no mundo que afetou por anos a credibilidade dos promotores sul-americanos de rock sérios. Tudo ficou mais caro e bandas que sempre tocaram por aqui, de uma hora para outra, começaram a fazer exigências que nunca tinha feito, mesmo sabendo que os contatos habituais eram de confiança.

Dívidas e processos

Dez anos depois, ainda há batalhas na Justiça por conta de pedidos de reparações. Reportagem do G1 Maranhão apurou que apesar de os organizadores terem sido condenados em 2018, as indenizações por danos morais seguem em suspenso. O valor destinado a cada pessoa que compareceu ao evento foi fixado em R$ 3.541,83.

De acordo com o texto, "a decisão foi resultado de ação civil pública movida pelo Ministério Público junto com o Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (IBEDEC). 

"O processo tem como réus as produtoras do evento Lamparina Produções Artísticas, Luiz Felipe Negri de Mello, Natanael Francisco Ferreira Júnior e Negri Produções Artísticas. A sentença foi proferida pelo juiz Douglas de Melo Martins, da Vara de Interesses Difusos e Coletivos da Comarca da Ilha. Ele também determinou aos organizadores o pagamento de R$ 200 mil por danos morais coletivos, acrescido de correção monetária e juros legais", informa o G1 Maranhão.

Leia a seguir as explicações dos advogados de defesa dos empresários Fabiano Negri e Natanael Júnior a respeito da situação judicial dos problemas envolvendo o Metal Open Aire. esses textos foram publicados pelo G1 Maranhão e pelo site www.igormiranda.com.

Defesa de Fabiano Negri:

“A Negri Produções foi uma das empresas que foram contratadas para prestação de serviço no evento, no caso, foi responsável por realizar a contratação de alguns artistas solicitados por Natanael, o que de fato ocorreu.

Todos os artistas contratados via Negri Produções compareceram no evento, porém como a estrutura fornecida pela organização local não era adequada e não cumpria os requisitos mínimos solicitados pelos artistas, alguns deles se recusaram a subir no palco, estrutura essa que era responsabilidade de quem promovia o evento. 

Toda a estrutura do evento era precária conforme observado, tanto para o público como para os artistas. A obrigação da estrutura do evento, como, palco, limpeza, segurança, alimentação, e demais para realização evento eram de total responsabilidade de seus realizadores Sr. Natanael e Marcelo Caio [Lamparina Produções], sendo a Negri Produções responsável apenas por contratar as bandas internacionais para tocar no evento, o que foi devidamente cumprida. 

No que tange ao processo de indenização, cabe esclarecer que a empresa Negri Produções, em síntese, como empresa contratada, consignou que sua responsabilidade era somente com o fornecimento dos artistas solicitados e que essa obrigação foi devidamente cumprida e entende que todos os consumidores que foram lesados podem e devem ser devidamente ressarcidos já que o evento possuía um seguro para dar cobertura a qualquer sinistro que por ventura viesse a ocorrer, o que foi informado e questionado diversas vezes durante o processo."

Defesa de Natanael Júnior:"

"Em 2020, fui inocentado no processo criminal movido pelo MP. Ficou provado que tudo que foi noticiado não correspondia ao que aconteceu de fato, além disso ficou comprovado nos autos do processo que paguei todas as atrações e todos os custos do festival. 

Quando soube que o processo movido pelo Dr. Douglas foi julgado à revelia, nossa defesa o procurou para termos a oportunidade de defesa. Em seguida teve uma audiência entre as partes. Estamos aguardando as partes seguintes do processo e na ocasião apresentamos o seguro do evento para ressarcimento dos dias que não aconteceram os shows. 

O evento já fez 10 anos no dia 22 de abril. Maiores detalhes vão estar em um documentário que está em produção para ser exibido nacionalmente.”


Metal Open Air, Maranhão, 10 anos: festival fracassado pode ressuscitar com outro nome

 A capital brasileira do reggae um dia sonhou em ser a capital mundial do heavy metal. Mas o sonho virou pesadelo, e a ideia de fazer uma versão sul-americana - e melhorada - do festival Wacken alemão se tornou um dos maiores desastres empresariais do entretenimento no continente.

Faz dez anos do fiasco monumental do Metal Open Air, em São Luís, no Maranhão, que pretendia levar para lá a nata do rock pesado nacional e internacional, como Saxon, Megadeth e Ratos de Porão. Deu tudo errado, em uma mistura de megalomania, inexperiência, incompetência e profundo desrespeito ao consumidor. 

Até hoje correm processos em todo país contra os organizadores por conta de prejuízos sofridos por artistas, espectadores, comerciantes e prestadores de serviço de todo os tipos.

Dez anos depois, os problemas causados pela "iniciativa" de fazer um festival em São Luís ainda estão bem vivos na memória de quem ainda se sente lesado. 

E não é que, uma década depois, aparece um site anunciando um tal "Maranhão Open Air" sugerindo que os "organizadores" do Metal Open Air estão por trás da nova empreitada como uma maneira de "reparar" erros do passado e promover um verdadeiro encontro de fãs da música.

O site www.moafestival.com está em construção, mas tem uma "carta de intenções" onde anuncia que pretende oferecer e organizar "Maranhão Open Air". Não há mais informações. Não se sabe quem está por trás do site, por trás da iniciativa e nem quem apoia o suposto evento.

O texto de apresentação, única coisa que há no site, é um primor de apagamento do passado - uma tremenda cara-de-pau:

"Passados 10 anos do Metal Open Air e da conjunção de fatores que comprometeram a produção do festival, estamos de energia renovada, mesmo depois de todos os tropeços, das acusações infundadas, perseguições, difamações, pré-julgamentos e principalmente depois de prestados todos os esclarecimentos à justiça maranhense e a sociedade em geral, temos a honra de anunciar o Maranhão Open Air – MOA.

Esse é um evento idealizado sobretudo em respeito ao público Headbanger e que busca reafirmar nosso compromisso com a cultura do Metal Pesado em suas várias vertentes musicais, cultura da qual orgulhosamente fazemos parte há décadas e acima de tudo temos consciência que entre erros e acertos trabalhamos para abrilhantar.

A nossa meta nesta retomada é aproveitar as lições com os erros do passado, assumindo a responsabilidade de entregar um evento com absoluto controle, somando forças a parceiros que estão há anos com atividades proativas no cenário. De forma transparente e profissional, o que outrora foi imprecisão, hoje estamos canalizando em força de trabalho para que tudo saia conforme anunciado em dois dias do mais puro Heavy Metal, experiência e diversão."

Para contextualizar: um empresário maranhense e outro paulista conseguiram promessas de receber dinheiro da Prefeitura de São Luís e do governo do Maranhão para promover um festival de metal. Tiveram inicialmente o apoio de algumas empresas e pensaram grande: vamos fazer uma edição do Wacken na América do Sul.

Era bom demais para ser verdade, e infelizmente as desconfianças eram muitas e se revelaram verdadeiras. A logística para São Luís era muito cara e a inexperiência dos promotores se revelou na hora de buscar os contratos com as bandas estrangeiras e na organização da logística local - hospedagem pra todo mundo, local do show, transporte adequado...

Tudo muito amador, principalmente o esquema de venda de ingressos e pacotes. A coisa começou a desmoronar dois meses antes do evento, marcado para o começo de 2012. 

Bandas nacionais e estrangeiras começaram a cancelar  participação por descumprimento de contrato e falta de pagamento antecipado. Alguns artistas viajaram a São Luís, mas não tocaram. 

Na véspera do festival, os organizadores sabiam que não haveria verba pública para bancar o evento e mesmo assim prosseguiram com atividades - havia pelo 5 mol pessoas de outros Estados na cidade cm ingressos comprados.

Outros, sem pagamento, tocaram mesmo assim, casos de Megadeth e Korzus, que suportaram a falta de estrutura e a retirada dos serviços contratados de som e infraestrutura - prestadores de serviço não foram pagos. 

O local escolhido para o festival, a quilômetros do centro de São Luís, era uma antiga estrebaria e fazenda de criação de gado sem a menor estrutura e condição de abrigar tamanho evento. Até hpje não se sabe ao certo o total do prejuízo gerado.

O fracasso do Metal Open Festival teve tamanha repercussão negativa no mundo que afetou por anos a credibilidade dos promotores sul-americanos de rock sérios. Tudo ficou mais caro e bandas que sempre tocaram por aqui, de uma hora para outra, começaram a fazer exigências que nunca tinha feito, mesmo sabendo que os contatos habituais eram de confiança.

Pode até ser injusto estabelecer "punição perpétua" para determinados tipos de "pisadas na bola", mas convém ficarmos muito, muito atentos para os "eventos" associados a qualquer organizador desse evento de heavy metal no Maranhão. 

Muitas pessoas e empresas que estiveram envolvidas com o Metal Open Air alegam que ainda brigam na Justiça por algum tipo de reparação na Justiça, o que justifica todo tipo de cautela e prevenção. Leia aqui sobre a situação de alguns processos e as alegações dos dois empresários responsáveis pelo festival e que são acusados de causar vários prejuízos. Que os órgãos de proteção ao consumidor fiquem muito atentos a essa movimentação.

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Precisamos resgatar o futuro, e 'cartas pela democracia' não ajudam muito



Quase 40 anos depois do fim das trevas, ainda buscamos um futuro - na verdade, qualquer futuro. Na encruzilhada das eleições, ainda se discute sobre "escolhas difíceis", como se fosse possível relevar a possibilidade de não haver democracia e assistir impassível ao ódio dominar todas as mentes.

"Num cemitério de ideias me vi sozinho/ Amanheceu o novo dia e tudo é sempre igual/ Um loop eterno de notícias tristes no jornal/ Mentiras e verdades que confundem o cidadão de bem/ Eu sei quem é quem, eu sei quem é quem/ Sua isenção que é o abrigo dos omissos", cantaram os Detonautas Roque Clube na profética canção "Carta ao Futuro". Mas que futuro?

No cotidiano coalhado de notas de repúdio e cartas bem-intencionadas, mas vazias de conteúdo e sem a contundência para fazer a diferença, só resta a hipocrisia de uma sociedade anestesiada e aniquilada em sua reação. 

Se nem mesmo a destruição da economia foi capaz de mover multidões, o que esperar de mais uma carta em "defesa da democracia? E pensar que em 2013 supostamente tudo foi por um reajuste de R$ 0,20 nas tarifas de ônibus...

Quando é necessário todos reafirmar a "crença na democracia e na sua força", é porque o jogo já está perdido. 

Quando é preciso que luminares do direito, juristas eméritos e importantes parlamentares escrevam e subscrevam uma carta aberta "apoiando a democracia e a sua manutenção", é porque a mesma democracia já está mais do que ameaçada - respira por aparelhos.

A tal "Carta em Defesa da Democracia" lançada pela Faculdade de Direito da USP, infelizmente, é tão falaciosa quanto todas as outras. Não será relevante e capaz de alterar o rumo perigoso de uma eleição á beira do ataque e do golpe fascista.

Até a note desta quarta-feira (27) a carta já tinha mais de 100 mil assinaturas. É capaz de ultrapassar as 500 mil até o domingo 31 de julho. 

Várias personalidades/celebridades aderiram, principalmente entre o pessoal das artes, do entretenimento e da ciência. O rock e a MPB mergulharam em peso, em um movimento letárgico e lento. Será que esse movimento não veio tarde demais?

Quando só restam notas de repúdio e cartas inúteis para defender a democracia é sinal de que perdemos, e logo no começo do jogo. 

Não há vozes capazes de mobilizar multidões contra as diárias medias inconstitucionais, como a nojeira migalha/esmola anunciada pelo governo federal a muita gente, em clara depredação da Constituição e da lei eleitoral - e com o apoio oportunista da oposição, em postura tão ou mais canalha que a do nojento governo fascista.

O vexame joga por terra qualquer efeito positivo da inútil carta da faculdade de direito, incapaz de sensibilizar nem mesmo o mundo sindical, outrora tão aguerrido - hoje não passa de um sistema frágil e falido, sem credibilidade entre o parcos trabalhadores minimamente conscientes e organizados.

E não adiante alardear a "adesão" de banqueiros e empresários graúdos, sócios e fiadores do desastre colossal que assola nossa sociedade e nosso país. Serviu apenas para confirmar que o governo é realmente fascista, a julgar pela manifestação de um ministro - "quem assina a carta está contra o presidente", ou seja, o presidente é contra a democracia...

Amanheceu o dia e é tudo sempre igual, como cravaram de forma certeira os Detonautas na música "Carta ao Futuro". São milhões de olhares perdidos em desespero, de muitos que sabem que serão abatidos, continuarão invisíveis e nada além.

E então temos mais uma carta, lida muitos e compreendida por ninguém, quando não desprezada por quase todos. Chega de cartas inúteis e notas esquálidas de repúdio desprovidas de sentido e relevância. Não dá mais para esperar que resgatemos o nosso futuro apenas nas eleições de outubro.

Santos Jazz Festival completa dez anos e terá Jefferson Gonçalves e Francisco El Hombre

 Eugenio Martins Jr. - do blog Mannish Blog


Após dois anos sendo realizado online o Santos Jazz Festival comemora seus 10 anos de vida de forma presencial, entre os dias 28 e 31 de julho, nos Arcos do Valongo.

Para quem não conhece o local, as estruturas são montadas em um espaço ao ar livre, na área portuária de Santos, onde antes funcionava um galpão que por algum tempo esteve desativado e hoje é usado principalmente para fins culturais.

Além do local que realça a histórica relação entre o porto e a cidade, o festival, que continua gratuito, realiza outras apresentações e oficinas no entorno do Centro Histórico.

A abertura será no Sesc Santos com os shows do Coletivo Querô – Homenagem aos 20 Anos do Instituto Arte no Dique e depois Izzy Gordon & Banda com participação especial da cantora Ana Cañas. Os ingressos serão distribuídos a partir das 10h no dia da apresentação na bilheteria do Sesc, na rua Conselheiro Ribas, 139.
 
No campo do Jazz, os destaques serão os shows do grupo Electric Miles e Jefferson Gonçalves e Duo Bittencourt.

Electric Miles recria a obra de um dos maiores músicos de jazz de todos os tempos, muito influenciada pelo blues do sul dos Estados Unidos, mas que soube inovar como poucos a música de seu tempo.
Esse “tributo” dedica-se à fase elétrica de sua trajetória, a partir do final dos anos 60 até sua morte, em 1991. E também aos desdobramentos dela, com temas de Weather Report, Mahavishnu Orquestra e Return To Forever.

O agrupamento desses jovens jazzistas de São Paulo foi aconteceu quando o baixista Stefano Moliner e o produtor Eugênio Martins Jr juntaram forças e interesses comuns. São eles, Felipe Aires (trompete), Igor Boulos (guitarra), Thomaz Souza (saxofone), Saulo Martins (piano), Ivan Lopes (bateria) e o próprio Stefano Moliner (baixo).

Jefferson Gonçalves somou a qualidade de suas gaitas às percussões e à guitarra híbrida dos irmãos Júlio e Luciano Bittencourt.
 
O tempero especial fica por conta da guitarra híbrida, instrumento desenvolvido pelo músico norte-americano Charlie Hunter, com sete cordas (três de contrabaixo e quatro de guitarra). 

Com essa formação, única no Brasil, o trio faz um som cheio de personalidade e muito groove.
Para o novo show, os músicos reinterpretam composições de Jefferson, que, além de grande instrumentista, é compositor de mão cheia. 

Seus temas instrumentais levam os ouvintes a viagens musicais nas quais as esquinas do Nordeste brasileiro, sopradas pelos foles de Gonzagão e de Dominguinhos e os pifes dos Irmãos Aniceto, se cruzam com as do Mississippi profundo, dedilhadas nas cordas de aço de Muddy Waters e agora com a sonoridade incomum da guitarra híbrida. 

No repertório: músicas autorais repletas de groove, melodias e ritmos, ingredientes perfeitos para um show alto-astral, contagiante e porque não, dançante.

O Santos Jazz festival é o maior festival de jazz gratuito de música da Baixada Santista, traz uma média de 20 shows por edição, com line-up que valoriza e homenageia os artistas locais e nacionais.

O festival também dialoga com as artes plásticas, dança, audiovisual e com os empreendedores criativos trazendo mais experiências ao público. Esse ano haverá espaço kids, espaço gastronômico, bar e bazar criativo.

No pilar social, os organizadores contratam mão de obra local (designers, comunicação, produtores, fornecedores, etc..) gerando trabalho e renda.
 
O palco do SJF também é aberto aos projetos sociais musicais da região, como o projeto Guri, Banda Querô, Banda do Lar das Moças Cegas, entre outros. 

Na edição de 2019, foi criada a Big Band LMC, composta por portadores de deficiência visual, do Lar das Moças Cegas, projeto temporariamente parado em função da pandemia, devendo ser retomado em 2023.


Confira a programação:


Abertura - 28 de Julho (quinta-feira) – SESC SANTOS – 20 horas


Dia 29/07 (sexta-feira) – ARCOS DO VALONGO
18h: VDJ Santos Jazz
19h: Elza Eterna! - Quizumba Latina & Gab Veneziani
20h30: Eletric Miles Sexteto – tributo a Miles Davis
22h: Samblues – João Suplicy & Banda
23h30: Francisco, El Hombre em tributo a Carlos Santana


Dia 30/07 (sábado) - ARCOS DO VALONGO
13h: VDJ Santos Jazz
14h: JAM Escola de Música Blackbird – Alunos e Professores
15h30: Kika Willcox & Banda – Jazz & Soul
17h: Wylmar Santos & Banda – Show “AfroLatino”
18h30: Conde Favela Sexteto
20h: Parabéns, Tânia! - Projeto Tânia Maria
22h: Mental Abstrato & Lou Piensa (França) - Jazz & Hip-hop
23h30: Tulipa Ruiz & Banda Pipoco das Galáxias
1h: Baile Afrika Jazz - Dj Mamuth convida DJ AfreeKassia – parceria com o produtor Orlando Rodrigues do Movimento Hip Hop de Santos


Dia 31/07 (domingo)- ARCOS DO VALONGO
13h: VDJ Santos Jazz
14h30: Orquestra de Metais e Percussão de Cubatão & Rafaella Laranja – Show “Elis”
16h: Mauro Hector toca Hendrix
17h30: Jefferson Gonçalves & Duo Bittencourt
19h: Filhos da Bahia in Jazz com os filhos dos cantores Saulo Fernandes (João Lucas), Reinaldinho do Terra Samba (Zaia) e Carlinhos Brown (Miguel Freitas)
Oficina-show para Crianças


Dia 28\07(quinta-feira) – 15 horas - Creche da Tia Egle – Zona Noroeste
“O Homem Sonoro” – Zero Beto (Arte Educador)


Dia 29\07 (sexta-feira) – 15 horas - Instituto Arte no Dique – Zona Noroeste
“O Homem Sonoro” – Zero Beto (Arte Educador)
Oficinas Teatro Guarany - (Músicos e Estudantes)*
Dia 31\07 – Domingo


13h30 – Oficina de Harmonia e Improvisação - Luciano Bittencourt (para guitarristas, baixistas e violonistas)
14h30 – Oficina de Gaita – Jefferson Gonçalves
* Obs: Inscrições para as oficinas no site www.santosjazzfestival.com.br
Todos os shows e oficinas do festival são de graça e livres para todos os públicos.

Rock ativista e engajado: contundente, Ratos de Porão atira em tudo e acerta em todos



A banda carioca de metal Dorsal Atlântica usou alegorias e metáforas para falar da tragédia sociopolítica brasileira dos tempos bolsonaros nefastos e suas consequências danosas para a vida e para a civilização. “Pandemia”, o mais recente disco, usou o formato ópera rock para mostrar um país fictício autoritário dominado por gorilas e toda uma classe política corrupta.

Os Ratos de Porão, banda tão importante quanto, decidiu empurrar pra longe toda sorte de sutilezas e ir direto ao ponto, como sempre fez, ao destroçar a classe política e o extremismo de direita em seu novo álbum, o primeiro de material inédito em sete anos.

“Necropolítica”, ou seja, a política que privilegia a morte e a destruição, foi totalmente inspirado no nojento e nefasto bolsonarismo e também na condução criminosa da pandemia por parte deste governo lamentável.

As duas primeiras músicas divulgadas – “Aglomeração” e “Necropolítica” – mostraram que a pancadaria seria intensa e que nada sobraria do mundo fascista representado por Jair Bolsonaro e políticos asquerosos que o apoiam, especialmente o lixo religioso que lhe dá suporte – quase todos evangélicos da pior espécie.

“Ninguém teve a intenção de profetizar nada, mas é assustador que os discos que gravamos nos anos 80 soem atuais e que o novo bem que poderia ter sido gravado lá atrás. As coisas pioraram muito e nunca estivemos tão perto do fascismo novamente”, disse o vocalista João Gordo recentemente em uma entrevista.

“Necropolítica” traz o grupo embarcando em uma sonoridade mais moderna e extrema, abraçando de vez o metal, como havia feito em “Século Sinistro”, o álbum anterior.

Mais moderno não quer dizer que a sonoridade esteja mais “limpa”, o que soaria como heresia para os Ratos de Porão. A sujeira de sempre está lá, entre a tosqueira e a brutalidade. A diferença é que os timbres estão mais nítidos e violentos, com alguns detalhes realçados.

"Necropolítica", a música, demole os pilares da fisiologia política que emporcalha as relações institucionais e destrói qualquer resquício de credibilidade que poderia restar a um governo federal de extrema-direita guiado pelo ódio e pela morte.

"Aglomeração" não deixa por menos e tem como alvos as seitas evangélicas mentirosas e farsantes e o negacionismo científico endossado por essas "entidades". "Jesus vai te salvar da aglomeração!", berra João Gordo, o vocalista iconoclasta.

"Alerta Antifascista" é autoexplicativa e ataca sem dó os inimigos da democracia e os disseminadores de ódio, assim como a pesadíssima "Nazi Gratiluz", enquanto que "Guilhotina em Cristo" desce mais pancadas na religião e nos praticantes de estelionato de todos os tipos.

"Bostanágua" pega no pé dos idiotas que empesteiam as nossas vidas cotidianas e traz guitarras típicas do heavy metal tradicional, em uma saudável variação que esbarra na audácia, indo além do hadcore.

Como não economizaram na violência e na brutalidade, a mensagem chega como um míssil destruidor. Em vez de privilegiar um hit, o quarteto paulistano investe pesado em um conteúdo uniforme e certeiro. Tolerar a intolerância é aniquilar o futuro e facilitar a vida dos fascistas. Quer mensagem mais clara do que essa?

O novo disco já nasce clássico e se torna o melhor da banda neste século, reacendendo a chama do protesto e do ativismo político que parecia ter desaparecido do cenário dos Ratos de Porão.

Assim como a Dorsal e a bandas punks, os Ratos de Porão resgatam o engajamento típico de momentos trágicos da história humana e não decepcionaram: pulverizam a “necropolítica” e investem com tudo contra as ameaças de sempre à democracia e à liberdade de expressão.

“Se por um lado o país nunca esteve perto de resolver seus problemas estruturais, estes últimos anos trouxeram de volta a fome, a inflação, as ameaças de rompimento com a democracia e, como se não bastasse, uma pandemia”, diz João Gordo.

Quem diria que os Ratos fariam álbum conceitual, e que o tema seria a era bolsonarista e a ascensão da extrema-direita no país. A parte musical por sua vez traz uma revisitação do período crossover da banda no final da década de 1980, época igualmente marcada pela crise e desilusão.

A visita do quarteto ao passado foi crucial para que o trabalho tomasse forma. A trilogia crossover, “Cada Dia Mais Sujo e Agressivo” (1987), “Brasil”(1989) e “Anarkophobia” (1990) representou a mais contundente crítica social dentro da música brasileira, com um série de ataques demolidores |ás instituições e ao caráter do povo. Era hardcore misturado com thrash metal violentíssimo, coisa que assustava até mesmo os mais radicais.

Portanto, “Necropolítica” não é um álbum de nostálgico ou retrô. É a reciclagem de um espírito que de repente volta a fazer sentido. A produção do disco ficou por conta da própria banda no estúdio Family Mob em São Paulo, durante outubro de 2021. A mixagem foi feita em janeiro de 2022 por Fernando Sanches no estúdio El Rocha.

terça-feira, 26 de julho de 2022

Rock ativista e engajado: a fúria de Dorsal Atlântica, Ratos de Porão, Surra, Ação Direta...

 Naquela nação infeliz chamada Brazilândia, o governo é chefiado por um jumento com o suporte de gorilas militares. Enquanto isso, não existe pandemia nem covid-19 já que, no Evangelistão, "Jesus te protege da aglomeração"...

Dorsal Atlântica e Ratos de Porão não aliviaram na crítica sociopolítica da época mais perigosa e de trevas da vida brasileira desde a Segunda Guerra Mundial. 

Se a ditadura militar implantada em 1964 não passou de uma "quartelada" de militares analfabetos -  Brasil era um país pouco acostumado à democracia -, hoje estamos à beira de um retrocesso medieval. E o rock extremo underground tem feito a sua parte com a contundência de sempre.

Assim, louvemos "Pandemia", grande disco da Dorsal Atlântica do ano passado que criou uma ópera metal fazendo uma analogia direta com o Brasil atual. Em clima de sátira, a banda narra o cotidiano da corrupta Brazilândia governada por um jumento - uma das canções é "Burro", autoexplicativa.

"Necropolítica", dos Ratos de Porão, é a mais feroz crítica aos tempos atuais, com ataques a parlamentares, presidente, governadores e a todo tipo de fascista e conservador. 

"Aglomeração", que bate firme no negacionismo científico e na religião, e "Alerta Antifascista" são as pancadas mais contundentes. Uma devastação que demole o mundo bolsonarista fascista.

No campo punk, mesmo sem canção nova, é sempre bom ouvir Ação Direta, cada vez mais hardcore e thrash metal batendo sempre nos inimigos da democracia e da liberdade. 

"Nunca Mais" e "Pesadelo" são hinos fortes que nos mostram que a vida sem luta não vale a pena ser vivida - e deixam claro que precisamos cada vez mais e mais lutar contra as trevas e os retrocessos.

Na mesma pegada temos os paulistanos dos Subalternos fazendo o punk rock tradicional com pegada política antifascista e de viés social. Estão apresentando em primeira mão o single "Injustiça" na Inglaterra percorrendo um circuito valorizado de festivais do subgênero.

Também na Europa excursiona outra banda paulista, a Asfixia Social, que transita na mesma praia dos Subalternos, cm muita crítica social e algum tipo de otimismo, ainda que cauteloso. "Opressor" e "Assassinos Sociais" pegam pesado e são algumas das canções amis recentes.

De Santos (SP) vem o Surra demolindo tudo em canções totalmente políticas e engajadas, misturando hardcore, thrash metal e grindcore com uma violência poucas vezes vista em palcos brasileiros. "Escorrendo Pelo Ralo" é seu melhor trabalho e destila ira em todos níveis.

"Parabéns aos Envolvidos" explode as cabeças e dá nomes a todos os bois, mas a mensagem da música mais recente, "Mísseis Democráticos", é certeira e tem tudo a ver com o que estamos vivendo, além de nos alertar para os perigos fascistas que nos espreitam. 

No mercado maistream, das grandes bandas artistas, não dá para não citar Anitta declarando oposição de forma explícita e voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao mesmo tempo que os Titãs, ainda que de forma tardia, aparece com uma ótima canção, "Caos", de inspiração anarquista. É uma música que remete aos melhores momentos dos anos 80 da banda, sarcástica, bem-humorada, mas direta e reta.

Depois de larga exposição política e explícita, os Detonautas Roque Clube deram um tempo e seu vocalista, o carismático e articulado Tico Santa Cruz, tem se dedicado mais a conversas de bastidores e formas de construir pontes com as parcelas possíveis de diálogo dentro da direita não raivosa.

Entretanto, entre 2019 e 2020 a banda enfileirou uma série de singles cáusticos e encharcados de sarcasmo explicitando como o governo incompetente e extremista de Jair Bolsonaro e seu entorno corrupto são lesivos e repugnantes. Todos foram reunidos em um álbum, que ganhou título de "Álbum Laranja".

Rock ativista e engajado: a raiva do Uganga e a mensagem direta dos Inocentes

 O rap deu a letra ainda lá nos anos 80: o buraco era bem embaixo, muito mais feroz do que se podia imaginar. E então Racionais MC's e Pavilhão 9 urgiram e mostraram que nenhuma banda de rock brasileira conseguiria ser tão contundente. Aquele rock branco, de classe média, nem chegaria perto...

E então os mineiros do Uganga, 35 anos depois, ousaram chutar a porta e colocar o dedo na cara, enquanto que os paulistanos Os Inocentes decidiram queimar tudo e resgatar a ferocidade punk e também colocar s punhos nos focinhos dos autoritários e inimigos da razão. 

São tempos difíceis e cruéis, mas a mesmo instigantes. Será que o combate pela liberdade justifica tanto entusiasmo? As duas bandas garantem que sim, para a redenção de quem espera muito mais do que o rock vem oferecendo na insurgência contra o fascismo e as ameaças à democracia. 

"Libre¹" e "Queima!" vêm na onda da pancadaria sonora e na contundência lírica que marcam o underground nacional desde o ano passado, quando os cariocas Detonautas Rque Clube ("Álbum Laranja") e Dorsal Atlântica ("Pandemia") assumiram a linha de frente para danificar o discurso autoritário e fascista do bolsonarista.

O Uganga parecia ter chegado ao ápice com "Servus", extraordinário álbum que recolocava as coisas nos lugares e chutavam muitas canelas. "Libre!" não é tão elaborado e rebuscado. É um EP que traz a urgência pesada com muita raiva e distribuição de pancadas para todos lados.

Se o som é cada vez mais thrash e hardcore, as letras estão ainda mais cortantes e bacanas, mais sofisticadas e mais desafiadoras, como em "Terra dos Ventos" e "Mal Vinda a Morte dos Teus Sonhos".  Guitarras pesadíssimas destroem os tímpanos em velocidades variadas, assim como em "IS 666", a melhor do EP.

"Libre", a faixa-título, flerta com o heavy tradicional enquanto os vocais de Manu Joker explodem nos falantes explicando didaticamente que ser livre é crucial, algo que também ocorre no rap pesado "Alguidar", a canção em que "alguém pensou em desistir, mas seguiu em frente e mudou tudo".

"Retrovisor" é uma homenagem aos "headbangers de Araxá" citados no rap, com sua ode à liberdade em um mar de riffs à la Anthrax com letra vociferada e cortante. 

Destoando do conjunto que pesa uma tonelada está "Depois do Dub", um reggae/dub que não acrescenta muito, por mais que ofereça uma chance ao ouvinte de saborear uma versatilidade que costuma ser bem-vinda em outras oportunidades. Não compromete, mas quebra o clima. De qualquer forma, "Libre!" é um trabalho primoroso.

Manu Joker não economizou nas palavras e aponta dedos em declarações n material de divulgação: "Apesar de ser um álbum curto, com pouco menos de meia hora, ‘Libre!’ deixa claras as várias referências da nossa música. Quem nos acompanha de forma atenta desde nosso início sabe que essa fusão de estilos sempre nos norteou e que a liberdade artística é algo que não abrimos mão."

Ele sabe que a posição de "vanguarda e de ousadia" trarão queixas principalmente do "fogo amigo", u seja, daqueles que deveriam se esforçar mais para entender os conceitos embutidos em uma bra importante no contexto atual. 

"Acredito que alguns puristas desinformados novamente vão se surpreender… Talvez sejam as mesmas pessoas que ficaram chocadas quando descobriram, 43 anos depois, que ‘The Wall’ do Pink Floyd é uma obra antifascista (risos)", afirmou o vocalista.

Os Inocentes decidiram manter o tradicionalismo do punk como todos se acostumaram. Não há peso, mas a urgência, a velocidade e a mensagem são as de sempre.

"Queima!" está sendo chamado de EP, mas na verdade são apenas duas músicas, o que antigamente era o compacto simples. Além da faixa em questão, tem também "Eu Quero Ouvir Ramones", que acaba sendo um equilíbrio em relação à contundência tão característica das letras do guitarrista e vocalista Clemente Nascimento.

As duas músicas foram (bem) gravadas no Wah Wah Studio, na cidade de São Paulo (SP), em 27 e 28 de abril deste ano de 2022, com eficiente produção musical de Michel Kuaker. A masterização foi feita por Carl Saff.

Mesmo sem nomear os bandidos de sempre, Os Inocentes se mostram antenados e atualizados, com um punk estilo 77 afinado estilisticamente com o que a banda sempre fez, mas com alguns detalhes que tornam "Queima!" uma canção contemporânea e no espírito do ativismo político que predomina nestes tempos difíceis.

Clemente e seus companheiros querem queimar a nova ordem mundial, conciliando o ativismo de sempre com  frescor de uma certa "inocência" que ainda perdura em muitos meios acadêmicos, estudantis  e políticos de esquerda. 

Que bom que isso ainda exista, ajudando a empurrar o ativismo para o que realmente importa em tempos onde o obscurantismo fascista nos espreita a cada dia. 

Os Inocentes nos lembram que o muno já foi mais simples e mais humano, ainda que as lutas nunca deixassem de ser encarniçadas contra as forças do atraso. 

É o tipo de saudosismo saudável, que no remete a trabalhos que marcaram época e que moldaram de alguma forma, o caráter e a trajetória de muita gente.

Nem, vale a pena ficar comparando o impacto que tais canções tiveram em cada época. "Panico em SP" é um clássico nacional, e "Queima!" começa a sua trajetória. 

Clemente não tem mais 20 ou 25 anos de idade - tem 59 e pensa de modo diferente, com mais maturidade e mais sabedoria, é óbvio. Mas a nova música exala frescor e contundência, nos lembrando sempre que contestar e questionar é fundamental para que consigamos suportar retrocessos e ignomínias. 

É bom lembrar para "essa gente" que prega o ódio, a morte e  preconceito que estamos aqui e que nunca seremos vencidos. Eles querem nos destruir, mas nós vamos queimar o "mundo novo" deles...

A excelência de Tony Babalu em três shows gratuitos em São Paulo

 Para ser um estilista na música, é preciso ter classe e uma intensa sensibilidade. E o guitarrista paulistano Tony Babalu tem muito das duas coisas. Dá para dizer que, entre os instrumentistas brasileiros de rock, jazz e blues, ninguém o supera.

Guitarristas excelentes temos aos montes, mas são raros aqueles que conseguem aquele acento próprio, reconhecível a distância, de olhos fechados. 

Babalu está inserido, obrigatoriamente, em um clube seleto ao lado de gente como Lanny Gordin, Heraldo do Monte, Edu Gomes, Mozart Mello, Nuno Mindelis, André Christóvam, Marcos Ottaviano...

Portanto, torna-se imperdível a volta aos palcos de Tony Babalu, que apresenta o show de seu novo álbum, o EP "No Quarto de Som...", produzido em seu apartamento durante o longo período de confinamento em que todo o planeta se viu imerso. A pandemia de covid-19 interrompeu uma série de trabalhos que o guitarrista pretendia fazer desde 2020.

O retorno conta com três datas já confirmadas, todas com entrada gratuita: 30 de julho (sábado) às 20h, no Centro Cultural Penha, encerrando o tradicional projeto Rock in Penha; 12 de agosto (sexta) às 19h no Centro Cultural Olido (Sala Olido); e 26 de agosto (sexta) às 21h, no Teatro Alfredo Mesquita.

Com repertório dedicado à popularização da música instrumental, tema ao qual o guitarrista tem se voltado nas duas últimas décadas, "No Quarto de Som..." engloba as diferentes escolas e linguagens do rock, blues e funk music, sem abrir mão do tempero brasileiro.

Na verdade, o grande diferencial de Babalu é justamente o tempero brasileiro que ele imprime em seus fraseados e riffs marcantes. Esbanjando feeling, vai do jazz à música instrumental brasileira com uma facilidade que chega a ser irritante.

As apresentações incluem ainda músicas do elogiado "Live Sessions at Mosh" (2014) e do premiado "Live Sessions II" (2017). 

A banda convocada por Tony Babalu conta com Adriano Augusto nos teclados, Leandro Gusman no baixo e Claudio Tchernev na bateria, todos experientes instrumentistas que oferecem momentos únicos de improviso e dinâmica, em um verdadeiro convite para viajar sem sair do lugar.

SERVIÇO

Centro Cultural Penha (ao ar livre, palco em frente ao local) – projeto Rock in Penha

Endereço: Largo do Rosário 20 – Penha – São Paulo/SP

Data: 30/07 (sábado) às 20h

Entrada: gratuita (não é necessário retirada de ingressos)

Classificação: livre

Duração: 60min

Informações: 2095-6480



Centro Cultural Olido (Sala Olido)

Endereço: Av. São João 473 – Centro – São Paulo/SP

Data: 12/08 (sexta) às 19h

Entrada: gratuita (não é necessário retirada de ingressos)

Classificação: livre

Duração: 80min



Teatro Alfredo Mesquita

Endereço: Av. Santos Dumont 1770 – Santana – São Paulo/SP

Data: 26/08 (sexta) às 21h

Entrada: gratuita (retirada de ingressos 1h antes)

Classificação: livre

Duração: 80min

Informações: 2221-3657

sábado, 23 de julho de 2022

Deep Purple, 55 anos: rock pesado, vigoroso e incandescente



Cinco jovens ávidos por fazer sucesso e transformar a sua banda em referência no rock inglês. Muitas tentativas e nomes sugeridos. Muita impaciência com as coisas que não aconteciam. E eis que, como mágica, surgiu o nome que mudaria a história do rock pesado e impulsionaria o quinteto, no futuro – já co outra formação. 

E foi assim que o Deep Purple começou a sua trajetória nos palcos em 20 de abril de 1968, na cidade de Tastrup, na Dinamarca – o nome foi tirado de uma canção dos anos 30 que era a preferida da avó de um dos integrantes, o guitarrista Ritchie Blackmore.

No entanto, a gênese da banda ocorreu no final do ano anterior, quando o tecladista Jon Lord e o 
baixista Nick Simper, que tinham tocado com um tal de Chris Curtis, guitarrista, na banda The Flowerpot  Men.

Os três começaram a bolar um novo projeto, que ganhou a adesão do cantor Rod Evans. Um belo dia, Curtis desapareceu levando a sua guitarra. 

A banda sem nome, que quase se chamou Orpheos, encontrou casualmente um guitarrista que conhecia Jon Lord de vista, e sugeriu que o baterista fosse um conhecido, Ian Paice. As coisas se encaixam e finalmente surge o Deep Purple, que sai em busca de shows a partir de fevereiro de 1968.

São 55 anos de história atribulada, brigas, hiatos e muita música de qualidade. Na banda, atualmente apenas o baterista Ian Paice permanece como integrante original e fundador.

O tecladista Jon Lord morreu em 2012, mas tinha se afastado em 2002; já Ritchie Blackmore, o guitarrista genial que moldou o som do grupo, deixou o grupo pela segunda vez em 1993 para nunca retornar. 

Depois de 20 anos deixando o rock de lado, investindo no Blackmore's Night – um projeto dedicado a músicas de inspiração medieval ao lado da esposa, a cantora norte-americana Candice Night -, Blackmore reativou o Rainbow em 2016 para apresentações esporádicas na Europa e nos Estados Unidos. Essa banda voltou a hibernar.

De vez em quando aparecem comentários na internet sobre uma possível reunião de integrantes e ex-integrantes, algo que é solenemente ignorado pelos atuais membros.

"Eu acho que seria ótimo fazer apenas um show. Pelos fãs, não por nós, para mostrar que nós não odiamos uns aos outros. Eu não preciso provar nada pra ninguém, nem os caras precisam", declarou certa vez Blackmore acenando a possibilidade de conversar sobre o assunto.

Foi em 2018, em depoimento a uma revista esécializada em guitarras. "Infelizmente, não se trata de ligar para alguns velhos amigos e perguntar se querem tocar juntos de novo. Isso tudo envolve empresários, contratos, promotores de shows. Muitos figurões que encheriam os bolsos de grana pelo fato de nos reunirmos… é aí que a coisa fica complicada. Acho que um show seria legal. Mas seria difícil."

Ele se referia, obviamente, a uma reunião da "mark II", a segunda formação – Blackmore, Paice, Ian Gillan (vocais) e Roger Glover (baixo), além de Don Airey, atual tecladista, substituindo Jon Lord.

Outros dois músicos, David Coverdale (vocais) e Glenn Hughes (baixo e vocais). que substituíram Gillan e Glover em em 1974 e integraram, a terceira formação, fizeram vários comentários a respeito de um grande show de comemoração reunindo os atuais e os ex-integrantes. Também foram ignorados por Ian Gillan (o cara que manda hoje, digamos assim), com quem dizem ter boas relações.

Diante do silêncio, os dois, a sua maneira, resolveram celebrar a importante marca e revisitaram o catálogo da banda de sua época. Coverdale gravou e lançou em 2016 "Purple Album" com o Whitesnake, com músicas do Deep Purple do período 1974-1976. Em seguida, a banda realizou uma turnê baseada no álbum, que rendeu um CD ao vivo. 

Já Glenn Hughes decidiu embarcar em uma turnê mundial com o mesmo repertório em 2018. Incluiu "Smoke on the Water" e "Highway Star", músicas da segunda formação. As duas fazem parte de seu repertório solo, mas sua prioridade é a banda Dead Daisies.

Reunião comemorativa com ex-integrantes? O vocalista Ian Gillan desconversou quando esteve pela última vez no Brasil, quatro anos atrás, e disse que a banda ainda tinha muito trabalho pela frente na então "atual turnê de despedida", que foi interrompida pela pandemia de covid-19.

Cinquenta E cinco anos depois da gênese da banda em Londres e daquela apresentação na Dinamarca, em que Lord, Blackmore, Paice, Nick Simper (baixo) e Rod Evans (vocais) esboçavam um rock progressivo-psicodélico, o Deep Purple atingiu o invejável patamar de "instituição", assim como os encerrados e imortais Black Sabbath e Led Zeppelin.

É um nome, poderoso, sinônimo de música forte, pesada e bem feita. Deep Purple é a essência do rock enérgico e vigoroso dos anos 70 e sinônimo do melhor rock produzido na melhor época da música popular em todos os tempos.

Como adendo, a banda voltou à estrada para terminar a antiga turnê emendar outra, que deve se estender até 2023.

Lamentavelmente, Steve Morse, o guitarrista americano que substituiu Blackmore em 1994, anunciou n fim de julho que estava deixando a banda após 28 anos - e 20 integrando a oitava formação - "mark VIII" para ficar ao lado da mulher, Janine, que trata um câncer complicado. 

Na retomada dos shows, já tinha se ausentado em março pelo mesmo motivo, mas acreditava que conseguiria retornar até agosto. O tratamento de saúde terá de ser prolongado, e Morse preferiu liberar a banda pra buscar um substituto definitivo diante da falta de perspectivas de voltar a tocar.

Quem está tocando guitarra no Deep Purple é sul-africano Simon McBride, conhecido músico de blues rock na Grã-Bretanha. Ele ainda não foi oficializado como membro permanente, mas isso é dado como centro nas revistas de rock inglesas e deve ocorrer ao final da turnê, em 2023.

Ozzy Osbourne libera a música ‘Degradation Rules’, que tem participação de Tony Iommi

 Do site Roque Reverso

Ozzy Osbourne liberou, para audição mais uma faixa do novo álbum que lançará em setembro. “Degradation Rules” é o nome da música, que conta com participação do mestre dos riffs Tony Iommi, eterno guitarrista do Black Sabbath.

A faixa faz parte do disco “Patient Number 9”, que tem o dia 9 de setembro como data oficial de lançamento.

É a segunda amostra do álbum liberada. A primeira havia sido a faixa-título, que contou com participação do guitarrista Jeff Beck e foi escrita pelo “Príncipe das Trevas”, em conjunto com o baixista do Metallica, Robert Trujillo, com o baterista do Red Hot Chili Peppers, Chad Smith, com a compositora Ali Tamposi e com o produtor do disco, Andrew Watt.

O disco de Ozzy, por sinal, traz uma série de participações de músicos renomados. Trujillo e Smith tocam na maioria das faixas, assim como o guitarrista Zakk Wylde.

Na guitarra, além de Jeff Beck e Tony Iommi, contribuições de Eric Clapton, Mike McCready, do Pearl Jam, são vistas.

No baixo, algumas faixas contam também com Duff McKagan, do Guns N’ Roses, e Chris Chaney, do Jane’s Addiction.

Na bateria, o falecido Taylor Hawkins do Foo Fighters também contribui em uma das músicas.

“Patient Number 9” é o 13º disco da carreira solo de Ozzy e sucederá o álbum  "Ordinary Man", lançado em fevereiro de 2020.

O novo trabalho de Ozzy Osbourne tem 13 faixas e a faixa-título foi lançada dias depois de Ozzy realizar uma cirurgia que, segundo sua esposa, Sharon Osbourne, “definiria o rumo da vida” do cantor, que tem 73 anos de idade e que sofreu um acidente de quadriciclo em 2003 que gerou sequelas que atrapalham Ozzy até os dias de hoje.

O sucesso da cirurgia pode dar esperança para que Ozzy, atualmente com uma série de problemas de saúde, ainda tenha condições de voltar aos palcos para shows.

A última passagem de Ozzy pelo Brasil foi em 2018, quando trouxe sua turnê de despedida. Em São Paulo, ele fez um grande show no Allianz Parque, a Arena do Palmeiras, com cobertura do Roque Reverso.

Slipknot lança clipe e anuncia novo álbum para setembro

 Flavio Leonel - do site Roque Reverso

O Slipknot lançou nesta terça-feira, 19 de julho, o clipe da música “The Dying Song (Time To Sing)”. Anunciou também que lançará um novo álbum ainda neste segundo semestre de 2022.

“The End, So Far”, cuja capa acompanha este texto, é o nome do disco novo do grupo norte-americano. A data oficial de lançamento é o dia 30 de setembro.

O novo álbum será o sétimo de estúdio da carreira da banda e sucederá o disco "We Are Not Your Kind", lançado em 2019.

Serão 12 faixas em “The End, So Far”, sendo que “The Dying Song (Time To Sing)” é a segunda já liberada.

A primeira faixa conhecida foi “The Chapeltown Rag”, lançada em novembro de 2021.

O clipe de “The Dying Song (Time To Sing)” contou com direção do percussionista e cofundador do Slipknot, M. Shawn Crahan. A produção do clipe é de Nic Neary.

O lançamento do novo álbum do Slipknot acontecerá meses antes de o grupo voltar a tocar no Brasil, desta vez no próprio festival, o Knotfest.

O evento virá pela primeira vez ao Brasil em dezembro de 2022, no Anhembi, em São Paulo.

Além do já conhecido headliner e criador do evento, o Slipknot, a escalação do Knotfest na capital paulista traz as bandas Bring Me The Horizon, Sepultura, Trivium, Mr. Bungle, Motionless in White, Vended e Project46.

Quem conhece o mínimo de Slipknot, sabe que os shows da banda dificilmente deixam de chamar a atenção. Desde sua criação em 2009, o Roque Reverso fez a cobertura de três vindas importantes do grupo ao Brasil.

A primeira e de experiência mais espetacular, foi a do show que o Slipknot realizou no Rock in Rio de 2011, quando tocou na Noite do Metal com o headliner Metallica e o grande Motörhead e deixou o Brasil inteiro impressionado com a apresentação mais brutal, insana e perturbadora daquele festival.

A segunda cobertura do Roque Reverso foi o grande show que o grupo realizou no Monster of Rock de 2013 em São Paulo

A terceira cobertura do Roque Reverso foi a vinda, em 2015, da banda para ser headliner do Rock in Rio de 2015 e para mais um show em São Paulo, desta vez sem ser num festival, em mais uma apresentação marc\ante na Arena Anhembi.

Jeff Beck dá uma forcinha para Johnny Depp no disco 'recreativo' '18'

Uma pequena ajudinha para os amigos. Essa é uma das especialidades do guitarrista inglês Jeff Beck, veterano da cena roqueira e um dos mais aclamados músicos da história. Mesmo com fama de irascível, o gênio da guitarra nunca se negou a estender a mão nas mais diversas situações.

A amizade com o ator Johnny Depp, astro de filmes como "Edward Mãos de Tesura", "Piratas do Caribe" e "A Fantástica Fábrica de Chocolate", não é tão antiga, mas se fortaleceu muito nos últimos  cinco anos, ao mesmo tempo em que a habilidade do astro do cinema crescia na guitarra a ponto de ser aceito nos palcos de Alice Cooper e Joe Perry (Aerosmith). Tornou-se figura importante na superbanda Hollywood Vampires.

A parceria também foi um alívio para o astro de cinema, que viveu uma fase turbulenta por conta do litigioso divórcio da atriz Amber Heard, estampado em todas as TVs e capas de jornais.

Apesar de ter gravado algumas coisas sem compromisso com algumas bandas, Depp alimentava o sonho de ser reconhecido como roqueiro e guitarrista competente, ainda que tocando de forma diletante. A oportunidade veio com o Hollywood Vampires, mas era só um entre vários astros.

Então surge Jeff Beck pra dar uma ajudinha ao nem tão novo amigo. "Isolation", uma canção não tão óbvia de John Lennon, foi o primeiro single lançado no começo do ano e, apesar de meio alternativo, meio esquisito, tinha a marca de Beck n guitarra maravilhosa. Os vocais de Depp, comuns e ultraprocessados, não chamaram muita a atenção.

"18", recém-lançado, é creditado a Jeff Beck e Johnny Depp. Deveria ser um disco importante porque é o primeiro do guitarrista inglês desde o maravilhoso "Loud Hailer, gravado em 2016 com a banda Bones como suporte - a cantora Rosie "Bones" Odded e a guitarrista Carmen Vandenberg.

 O melhor que se pode dizer do álbum é que ele é despretensioso, com ótimos momentos instrumentais e canções descartáveis oscilando entre o rock alternativo e grunge eletrônico.

Para Deep é um grande passo na música, mais pelo contexto do que pela obra em si; para Beck, não passa de algo sem grandes ambições.

Para várias publicações europeias, Jeff Beck encontrou uma "alma gêmea" em Johnny Depp quando os dois se conheceram em 2016. Eles se uniram rapidamente por causa de carros e guitarras

"18" foi gravado de forma bem lenta a partir de 2019 misturando de originais de Depp e uma variedade de versões (covers) que foram desconstgruídas, passando da Motown até Beach Boys e Killing Joke.

"Quando Johnny e eu começamos a tocar juntos, isso realmente acendeu nosso espírito jovem e criatividade. Nós brincávamos sobre como nos sentíamos aos 18 anos novamente, então isso se tornou o título do álbum também", comentou o guitarrista no material de divulgação. A capa apresenta uma ilustração de Beck e Depp com 18 anos, desenhada pela esposa de Beck, Sandra. 

Nos últimos 12 anos, Depp gravou e excursionou com o Hollywood Vampires, uma banda que ele começou com Alice Cooper e Joe Perry. O supergrupo lançou dois álbuns de estúdio que incluem participações especiais de alguns dos maiores nomes do rock, como Jeff Beck, Paul McCartney, Dave Grohl e Joe Walsh.

A parceria se solidificou quando o ator pediu a Beck para tocar o solo em uma música que ele havia escrito, o primeiro single do álbum “This Is A Song For Miss Hedy Lamarr”, uma homenagem à atriz/inventora.  

Os melhores momentos são as canções instrumentais. "Midnight Walker" (composição de Davy Spillane), que abre "18", lembra "Declan", canção de inspiração celta contida no disco "Who Else?", essencialmente melódica e com o DNA do guitarrista. 

"Caroline, No", dos Beach Boys, ganhou um toque "vintage", com a guitarra de Beck emulando o som da primeira metade dos anos 60, quase como uma "surf music". é um grande tributo a Brian Wilson.

Também dos Beach Boys é a balada "Don’t Talk (Put Your Head On My Shoulder)", mito reverente e com a melancolia destacada pela chorosa e pungente guitarra de Beck.

"Venus in Furs", do Velvet Underground, e "Let It Be Me" se salvam pela guitarra - uma obviedade -, enquanto que Depp se esforça para desconstruí-las com um vocal pós-punk e afetado.

No restante do disco, os vocais do ator aparecem ultraprocessados e repletos de efeitos, que as vezes funcionam, como em "Death and Ressurrection Show", vers]ão de clássico do Killing Joke, e às vezes não, como na composição de Depp "Sad Motherfuckin' Parade", que tenta soar futurista e experimental.

O mesmo ocorre em outra música do ator, "This Is A Song For Miss Hedy Lamarr", que soa cansativa e não aponta para nenhum lugar.

Por ser uma obra de caráter "diletante", digamos assim, serviu mais aos interesses de Johnny Depp do que aos de Jeff Beck. Irregular e pretensioso, soa mais como uma curiosidade musical do que realmente um disco relevante na discografia do guitarrista inglês.





quinta-feira, 21 de julho de 2022

Em estreia memorável, Guns N' Roses renovava o rock há 30 anos

Destrutivo. Irresponsável. Ofensivo. São adjetivos que podem perfeitamente ser usados para descrever várias das primeiras estrelas do rock: Elvis, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry eram grandes misóginos que viviam suas vidas e compunham suas músicas baseados na impetuosidade implacável de suas personas regadas a muita testosterona.

Estes ícones fundadores do rock ganharam projeção graças aos seus egos incontroláveis, cuja força libidinal era caudalosa demais para as frágeis barragens da civilização ocidental do pós-guerra, careta e recatada.

Jovens há décadas se fascinam pelo rock por reconhecerem nele os monstros que habitam nossas profundezas: o desejo, a violência, o ódio, o poder. Por isso podemos dizer, sem medo de errar, que "Appetite For Destruction" foi a última grande declaração do rock n' roll, sem sutilezas ou recalques — e muito menos sofisticação.

Jovens há décadas se fascinam pelo rock por reconhecerem nele os monstros que habitam nossas profundezas: o desejo, a violência, o ódio, o poder. Por isso podemos dizer, sem medo de errar, que "Appetite For Destruction" foi a última grande declaração do rock n' roll, sem sutilezas ou recalques — e muito menos sofisticação.

Em músicas como "It's So Easy", "Night Train" e "Anything Goes", não há medida para os delírios de sexo e drogas de Axl Rose. Não tem nada de sugestão ou sedução: ele vai submeter quem for à sua necessidade latejante por algo que possa inebriá-lo por algumas horas, até que o apetite se renove. Por outro lado, é um grande engano fechar os olhos para o lado animal do ser humano.

Ocasionalmente, Axl reflete sobre a futilidade de competir com outros milhões pelos sonhos de fama e dinheiro, e sobre a maneira fútil com que pessoas se corrompem apegando-se à ilusão de serem predestinadas à glória. 

Axl sabe do sacrifício que é jogar o jogo, mas aposta alto mesmo assim, como se sua vida não valesse nada. Esse niilismo e essa auto-rejeição são reforçados pelo rock n' roll nada refinado tocado por Izzy, Slash, Duff e Steven, que ao misturarem a crueza dos Sex Pistols com várias referências do hard rock americano, produziram uma versão "farofa" daquilo que o Motörhead havia criado dez anos antes.


Entre o lançamento em 1987 e o início da escalada nas paradas, "Appetite for Destruction" levou mais de um ano. Quando o público o descobriu, o efeito foi explosivo, tanto é que "Appetite" é até hoje o álbum de estreia mais vendido da história. 

Guns N' Roses foi a única banda de Hair Metal a sobreviver à onda grunge sem um arranhão, carregando apenas um álbum de inéditas debaixo do braço. Isso diz muito sobre seu caráter atemporal.

Estreia notável

O primeiro disco da banda californiana inspiraria, a partir de 1987, toda uma nova geração de roqueiros e prepararia o terreno para a última leva de que se tem notícia de grandes do rock surgindo a rodo, no início da década de 1990. 

"Appetite for Destruction" veio ao mundo em um daqueles momentos pouco raros, nos quais pseudo-sábios de todas as vertentes decretavam o rock como um estilo morto e sepultado. Estavam errados de novo! Já não era a primeira vez. E continuarão errados por muito tempo!

A morte do rock seria a morte da rebelião. Num mundo desigual como o nosso, é improvável que a rebelião saia de cena tão cedo, por mais sufocada que seja.

 Aos primeiros acordes de "Welcome to the Jungle", era possível saber estar diante de algo grandioso, mesmo tendo ainda apenas 12 ou 13 anos de idade na época. Vieram então "It's So Easy", a arrebatadora "Nightrain", "Out Ta Get Me" e "Mr.Brownstone". "Paradise City" encerrava o primeiro lado da fita.

Em seguida a vez de "My Michelle" e "Think About You", da pegajosíssima "Sweet Child O'Mine", da ensandecida "You're Crazy", da sacana "Anything Goes", da épica "Rocket Queen". Um disco envolvente, autêntico, genial. O rock se renovava, como acontece sempre.

Braia traz todos os seus mundos para São Paulo

Foi no meio da pandemia de covid-19 que surgiu uma das primeiras luzes ao fim do tenebroso túnel. Na improvável Varginha, no sul de Mina Gerais, um grupo de malucos que venera a música irlandesa decidiu que era hora de mudar o rumo das coisas e retomar a fusão entre o mundo celta e a música brasileira de raiz.

Braia tinha surgido em 2006 e surpreendido a todos, mas o projeto principal, Tuatha de Danann, heavy metal mineiro cm tempero irlandês e galês, tomava a maior parte do tempo. Foi necessário parar tudi por causa da pandemia para que Braia ressurgisse.

Braia pode ser considerado um acrônimo de Bruno Maia, cantor e multi-instrumentista que fundou o Tuatha e é o mentor do combo instrumental que realiza a inusitada fusão de estilos. A temporada longa que passou na Irlanda marcou-o de tal forma que o tornou a maior referência da música celta no Brasil.

O segundo disco do Braia, "...e o Mundo de Cá", foi lançado em 2021 e iluminou nossos caminhos de forma magistral. Transmitiu esperança e apontou caminhos. O disco nos redimiu, tanto pela qualidade como por ter sido um dos primeiros trabalhos autorais dignos de nota no período.

Músico de extraordinária sensibilidade, Bruno Maia traz o Braia a São Paulo depois de 12 anos. Com sua mistura de música brasileira, irlandesa e rock progressivo. o retorno será no palco do Sesc Belezinho - São Paulo, neste domingo (24), às 18h.

"A gente sempre procurou caminhos diferentes e o 'Braia' se mostrou bastante promissor e instigante", disse Maia ao Combate Rock quando do lançamento do segundo disco. "As influências da música brasileira, como o Clube da Esquina, ficaram evidentes, assim com o instrumental meio progressivo, que às vezes surgia nas canções do Tuatha de Danann."

O primeiro álbum, “...e o mundo de lá”, foi gravado no Brasil e na Irlanda e contou com a participação especial de Marcus Viana (Sagrado Coração da Terra), além de ter sido lançado na França. A turnê subsequente a seu lançamento gerou o DVD "Braia ao vivo", lançado em 2010.

"Os elementos de música celta, principalmente de origem irlandesa, surgiram de forma natural, seja nos arranjos, seja na própria concepção das músicas. Tudo se encaixou de forma extraordinária", contou o músico.  

O segundo trabalho, “...e o mundo de cá”, foi lançado em 2021, como já exposto, e aprofunda o mergulho na música regional brasileira, explorando ainda mais a riqueza dos ritmos nacionais, sem deixar as raízes irlandesas de lado. 

O diálogo entre a música irlandesa e a brasileira foi aprofundado no disco em ritmos como baião, samba, moda de viola, ijexá, além de muita instrumentação e acentos irlandeses. 

O disco faz referência a aspectos e a fatos que marcaram a história do Brasil, principalmente de Minas Gerais, como a Guerra dos Emboabas, a Inconfidência Mineira, o Quilombo do Campo Grande e a corrida do ouro. O álbum conta com a participações especiais de Felipe Andreoli (Angra) e Kiko Shred ( Viper).

O show deste domingo trará temas dos dois álbuns do Braia e promete algo do Tuatha de Danann, uma vez que quatro dos membros tocam nas duas bandas. A formação conta com Bruno Maia (vocais, viola caipira, bouzouki, banjo e flautas), Nathan Viana (violino e saxofone), Edgard Brito (teclados), Raphael Wagner (violão e guitarra), Guilherme Rosa (contrabaixo), Artur Gidugli (bateria) e Letícia Helena (vocais).

Serviço

Braia e o Mundo de Cá

Data: 24 de julho
Horário: 18h

Local: Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000 - São Paulo, SP
Ingressos: Sescsp
Valor: R$ 12 a R$40