Flavio Leonel - do site Roque Reverso
O disco “Countdown to Extinction”, do Megadeth, completou 30 anos nesta quinta-feira, 14 de julho de 2022. Quinto álbum de estúdio da carreira da banda norte-americana de thrash metal e segundo com a formação clássica, é considerado um dos melhores do grupo.
Com músicas que se transformaram obrigatórias nos repertórios de shows do Megadeth, “Countdown to Extinction” foi o maior sucesso comercial da banda até aquele período e ratificou um dos períodos mais criativos do grupo.
“Symphony of Destruction”, “Sweating Bullets” e “Skin o’ My Teeth”, todas com clipes famosos e que passaram exaustivamente nos programas de heavy metal da MTV e de outros canais musicais de TV, são os maiores sucessos do álbum e fundamentais para alavancar as vendas.
Tudo isso num período que não existia YouTube e no qual a internet engatinhava.
Sucessor do elogiadíssimo “Rust in Peace”, “Countdown to Extinction” gerou aquela responsabilidade natural ao Megadeth criada para bandas que estouram com álbuns que marcam uma época.
Após “Rust in Peace” entrar na lista de 10 entre 10 fãs do Megadeth como o melhor da história da banda, não seria fácil para o grupo manter o nível elevadíssimo alcançado no quarto álbum da carreira.
Entretanto, a chave para este sucesso continuar passava pela estabilidade do grupo, algo não muito normal na história do Megadeth.
Com a formação com Dave Mustaine (voz e guitarra), David Ellefson (baixo), Marty Friedman (guitarra) e Nick Menza (bateria), o grupo gerou sua trinca sagrada de álbuns dentro do heavy metal, com “Rust in Peace” (1990), “Countdown to Extinction” (1992) e “Youthanasia”, de 1994, além de completar o período desta formação clássica com bom disco “Cryptic Writings”, de 1997.
A diferença sonora entre “Rust in Peace” e “Countdown to Extinction” acontece na melodia, na rapidez e no peso. Por mais que jamais seja possível afirmar que o disco de 1992 não seja pesado, ele é ligeiramente mais leve e menos rápido que o anterior.
A melodia, por sua vez, sempre presente nas ideias do talentoso Mustaine, ganha uma dose a mais e é fundamental para aproveitar o período favorável que o heavy metal estava vivendo.
Este período favorável está ligado diretamente ao sucesso do Metallica com o “Black Album”. Por mais que tenha existido uma rixa histórica entre as bandas depois que Mustaine criou o Megadeth para dar uma resposta à sua expulsão do Metallica nos primórdios do grupo, é inegável que o disco mais popular do Metallica abriu as portas para várias bandas do heavy metal ligadas ao thrash buscarem um público maior.
Sem perder totalmente o peso, mas com uma rapidez menor e melodia mais acessível, vários grupos, como o Megadeth, o Anthrax e o Testament, entre vários outros do thrash, surfaram nesta onda do “Black Album” e foram bem sucedidos em vendas e ampliação de público.
Melodias e rapidez à parte, o disco “Countdown to Extinction” começa com uma paulada, puxada pelo saudoso e excelente baterista Nick Menza. Com um clipe ao vivo que consegue captar um grande momento do Megadeth, a música “Skin o’ My Teeth” é a mais curta do álbum, mas consegue servir muito bem de cartão de visitas, mostrando que o legado do “Rust in Peace” continuaria.
Com um dos riffs mais populares do heavy metal, “Symphony of Destruction” é a faixa seguinte e de maior sucesso e exposição do disco. Foi, sem dúvida, o carro-chefe do álbum e seu clipe angariou muitos novos fãs ao Megadeth.
Vale destacar que o disco traz o Megadeth apontando o dedo para várias questões políticas e sociais e que, diferente de muitos outros álbuns da banda, conta com uma colaboração não totalmente centralizada no líder Dave Mustaine.
Desde a letra até o clipe, “Symphony of Destruction” conseguiu passar a mensagem e ganhou elogios diversos da crítica, até mesmo de quem sempre considerou Mustaine um grande representante da ala política conservadora no heavy metal.
“Architecture of Aggression” e “Foreclosure of a Dream”, que também ganhou um clipe menos badalado, são menos populares que a faixa anterior, mas mantém o Megadeth com um som coeso e de respeito.
As bandas de thrash metal haviam entrado definitivamente na onda dos clipes no início dos Anos 1990 e as produções daquele período marcaram uma época que permanece até hoje nas mentes dos fãs do estilo.
O clipe de “Sweating Bullets”, por exemplo, é um dos melhores do Megadeth e um dos melhores da história do heavy metal. Com uma letra perturbadora que revela o interior da mente de Mustaine, o vídeo foi fundamental para popularizar a música e deixá-la como item obrigatória no repertório de shows do grupo nos quais o público costuma cantar cada sílaba da canção.
A faixa que fecha o então Lado A do álbum é a ótima “This Was My Life”. Rica em mudanças de andamento e com riffs bem trabalhados, é daquelas músicas que mereciam melhor repercussão. Quem já teve a oportunidade de presenciá-la ao vivo, com certeza, percebeu que ela fica ainda melhor e exige todo um entrosamento do grupo.
Em tempos nos quais o CD ainda brigava em popularidade com os discos em vinil, a escolhida para abrir o Lado B é simplesmente a faixa-título, outra daquelas que mereciam maior repercussão.
“Countdown to Extinction” é a mais melodiosa do álbum, traz uma letra super consciente sobre o futuro do planeta e ainda ganha um dos solos mais bacanas da carreira do Megadeth, com Mustaine e Friedman dando verdadeiras aulas de guitarra.
As faixas seguintes ganham peso maior e riffs de thrash metal e entregam aquilo que o fã do estilo gosta de ouvir. “High Speed Dirt”, “Psychotron”, “Captive Honour” e “Ashes in Your Mouth” são músicas para contemplar e reparar a qualidade dos músicos do Megadeth.
Os riffs de Mustaine e Freedman, o baixo marcante de David Ellefson e a bateria de primeira de Nick Menza são muito bem captados numa produção liderada por Max Norman que salta aos olhos, tamanha a qualidade.
O sucesso de “Countdown to Extinction” não aconteceu por acaso, a ponto de o disco ter sido indicado em 1993 para o Grammy de Melhor Performance de Metal. A categoria, que mistura álbuns e músicas, acabou tendo como vencedora a canção “Wish”, do álbum “Broken”, de 1992, do Nine Inch Nails.
Em 2012, quando “Countdown to Extinction” completou 20 anos de existência, o público brasileiro, que já havia recebido a banda em inúmeras oportunidades, teve a oportunidade de escutar o disco executado ao vivo na íntegra. Para um Via Funchal completamente lotado, o Megadeth, já sem Freedman e Menza, fez um show grandioso e histórico na capital paulista.
O álbum, agora com 3 décadas de existência, é item obrigatório para qualquer fã amante do thrash metal.
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