quinta-feira, 7 de julho de 2022

'Images and Words', a verdadeira estreia do Dream Theater, faz 30 anos

 O que fazer quando o segundo álbum de uma banda iniciante é tão impactante que "apaga" a história anterior? É justo isso acontecer? Os fãs do Dream Theater acham que sim.

Foram efusivas as celebrações nas redes socais neste mês de julho a respeito dos 30 anos de "Images and Words", o segundo trabalho da banda norte-americana de metal progressivo que virou praticamente sinônimo deste subgênero do heavy metal.

O que aconteceu então com os sete anos anteriores, quando se chamou Majesty nos tempos de escola de música em Berklee? E o primeiro disco, "When Dream and Day Unite", de 1989? E o vocalista Charlie Domenici, que cantou neste álbum?

Convenientemente, todos esquecem deliberadamente, inclusive a banda. Para todos efeitos, o Dream Theater só existe a partir da entrada do vocalista James LaBrie (bem melhor) e d álbum "Images and Words", dem 1992. 

Se considerarmos como uma verdadeira "estreia", então foi uma baita estreia, jogando as cartas na mesa e estabelecendo uma dinastia, ultrapassando as influências, como Fates Warning e Queensryche.

Se não fosse o furacão grunge, a banda teria subido mais alto naquela primeira metade dos anos 90 - e aí não teria Nirvana ou Pearl Jam e seus draminhas para segurar força da melhor banda de metal progressivo.

"Images and Words" é um disco equilibrado e muito bem produzido, mesmo com os exagerados teclados de Kevin Moore, à la Rick Wakeman. A guitarra insinuante e virtuosa de John Petrucci compensou os excessos, e o baixo de John Myung seguia a tradição de John Entwistle (The Who) de fazê-lo soar tão alto como se fosse uma guitarra base.

Por ser uma "estreia", não dá para dizer que se trata de uma quase "coletânea". Só tem um hit  - o maior de todos da banda, "Pull Me Under" -, mas não tem música ruim. 

"Pull Me Under" é destruidora, agressiva e cativante, com seus riffs cadenciados e pesados, além dos solos magistrais de Petrucci, o garnde condutor da longa canção.

"Take the Time" é uma canção até certo ponto simples, mas cativa pelo peso e pelo refrão grudento. "Metropolis part I" já era uma obra-prima de quase dez minutos, uma miniópera metal que originou o maravilhoso álbum duplo "Metropolis: Scenes From a Memory", lançado oito anos depois. É a essência do metal progressivo, com suítes, atos e uma história de arrepiar.

A balada Another Day" é extraordinária e, inexplicavelmente, só é hit entre os fãs. Merecia uma atenção melhor do público em geral, em que pesem os gritos exagerados de LaBrie. "Wait For Sleep" é outra canção lenta cm melodia excepcional, mas é bem mais simples.

"Surrounded" é outra candidata a hit, mas que ficou n caminho porque era muito pesada para os sensíveis "ouvidos comuns", como ionizou certa vez o então baterista Mike Portnoy, que faz um trabalho estupendo nesta canção.

Ele também brilha na densa e dramática "Under a Glass Moon", em uma condução rítmica impecável empurrando a guitarra de Petrucci para além de vários limites. Se é que dá para falar isso, "Learning to Live" é a música menos exuberante, embora LaBrie faça um trabalho que merece ser destacado.

Se o grunge deu uma "freada" o metal, não conseguiu apagar a trajetória de um disco memorável nos dois anos seguintes, com vendas surpreendentes por ser uma banda nova e ainda sofrendo a forte concorrência dos "flanelados melancólicos".

A ótima receptividade de "Images and Words" jogou uma pressão enorme para cima dos então garotos. Como fazer um disco seguinte no mínimo tão bom?

Não conseguiram, mas quase... "Awake" é ótimo, seguindo a mesma fórmula, mas então a novidade não era mais novidade, já que o mercado esperava uma verdadeira obra-prima, do tipo "Empire", do Queensryche. 

Ela não veio, mas "Awake" cumpriu a missão de manter a qualidade. Seria a despedida de Kevin Moore nos teclados, considerado espalhafatoso e nem tão comprometido. 

Derek Sherinian o substituiu, sendo mais sóbrio e mais técnico, embora mais "encrenqueiro" - queria participar das composições e dos destinos do Dream Theater, irritando Portnoy e Petrucci. Só durou cinco anos e saiu em 2000, dando lugar ao gênio Jordan Rudess, que tinha passagens por diversas bandas de rock progressivo e uma expressiva carreira solo no rock e na música erudita.


Nenhum comentário:

Postar um comentário